A questão indígena, migração forçada e tráfico humano e do meio ambiente são temas comuns no Regional Norte 1

Um dos aspectos que ajudam a fazer realidade uma Igreja com rosto amazônico é assumir as causas que nascem do chão amazônico. Nesse sentido, o Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que compreende nove prelazias, dioceses e arquidioceses dos estados de Roraima e Amazonas, tem assumido desde há anos compromissos com realidades presentes na região: questão indígena, migração forçada e tráfico humano e as questões relacionadas ao meio ambiente, à Casa Comum. A Igreja tem realizado seminários nos últimos anos sobre essas temáticas, no propósito de assumir “novos compromissos à luz das ameaças e daquilo que nos interpela, à luz daquilo que já temos feito e estamos também celebrando”, como reconhece Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima e Presidente do Regional Norte 1. Ele insiste em que “em tudo isso, o que está em causa são os povos da Amazônia, a vida humana, que queremos que seja defendida em todas as suas fases e lugares, libertando a vida humana de toda e qualquer ameaça que destrói a possibilidade de felicidade e de bem-estar”. O reitor de Seminário São José, Padre Zenildo Lima, participante da assembléia, destaca o fato de que “nós fizemos destas questões uma pauta, a gente percebeu que a realidade é gritante, que ela existe e que começam alguns sinais de articulação”. Nesse sentido, tem-se dado uma atenção pastoral mais sistemática, embora com muitas lacunas, para com as populações indígenas presentes, seja nasaldeias como também da grande população indígena presente e dispersa no centro urbano que é a nossa capital. A pastoral indigenista, ou ações pastorais com os indígenas têm sido um passo mais expressivo além de ter retomado essa pauta”. Junto com isso, no diz respeito ao meio ambiente, o Padre Zenildo Lima, destaca a importância dos “seminários sobre a Laudato Sí e os desdobramentos desses seminários em nossas Igrejas locais e nos nossos organismos”. Mas o grande desafio é o tráfico de pessoas, uma questão que “é bem mais discutida e percebida aqui na nossa Igreja do regional”. Nesse sentido, destaca o seminário realizado recentemente como uma conquista. Em comunhão com o Papa Francisco, recolhido na Laudato Sí, e com o Sínodo da Pan-Amazônia, Dom Mário Antônio reconhece que “assumimos o Evangelho da criação, o cuidado da Casa Comum, e de maneira muito especial a ecologia integral, que prioriza o ser humano, as comunidades e povos originários, para que tenham vida e vida em abundancia”. Por isso, continua o bispo, “a preparação para o Sínodo da Amazônia, convocado pelo Papa Francisco, nos coloca com muita alegria na perspectiva, neste momento, de uma escuta, escuta das bases, das comunidades, especial dos povos indígenas e também de outras comunidades e povos originários da nossa Amazônia, não somente da Amazônia brasileira mas de toda a Pan-Amazônia”. Esse processo sinodal “está sendo um processo que está nos unindo bastante e está nos dando a sensibilidade de poder escutar os sujeitos da Amazônia, que são os povos e comunidades tradicionais. A nossa expectativa é que essa escuta nos motive para a vivência do Sínodo em outubro de 2019 com muito vigor e esperança de realmente, para a Amazônia, novos caminhos de evangelização e uma ecologia integral séria, profunda para a Amazônia e para o mundo”. Ao falar do Sínodo, o Padre Zenildo Lima, reconhece sua preocupação, “porque parece que boa parte de nós, agentes locais, estamos esquecendo que nós somos os grandes agentes do Sínodo. Tenho escutado muitos discursos ao respeito da expectativa do que o Sínodo vai dizer para nós e me parece que o que nós temos a dizer para o Sínodo, escutando partilhas nesta assembléia, a gente percebe como existe muita coisa bonita acontecendo, que tem avançado também”. O reitor do Seminário São José  vê o Sínodo como “uma ferramenta muito importante porque tem-nos possibilitado a um olhar mais atencioso para nós mesmos, a nos perceber como Igreja e a nos perceber como sujeitos”. Para o Padre Zenildo, “em tempos de Sínodo, o importante é que estas causas vão sendo cada vez mais assumidas como uma temática pastoral. A evangelização na Amazônia tem um rosto muito concreto, é cuidado das populações locais, da diversidade da vida e com a vida das pessoas que são machucadas e são desrespeitadas, traficadas, aqui na nossa região. Acho que o Sínodo escancarou as portas para essa problemática e está nos ajudando a reconhecer que o sujeito do enfrentamento a essas questões somos nós mesmos”. Na assembléia do Regional Norte 1 estão tendo um papel em destaque os povos indígenas. Trinho Paiva, do povo baniwa, destaca a grande importância da terra, aspecto em que também insiste Messias Miranda da Silva, do povo muragwa. Segundo Trinho, essa importância da terra, faz que “nós valorizamos muito a questão da terra, das florestas, as montanhas, que são lugares sagrados para nós, porque nós acreditamos que a vida espiritual se faz presente, por isso valorizamos muito as águas, os igarapés”. Nessa mesma direção, o representante do povo muragwa, destaca a importância da luta pela terra. A mãe que conheço é a Mãe Terra, que me dá o alimento e uma garantia de tudo aquilo que a gente precisa”. Os indígenas criticam o decorrer da história da humanidade, sobretudo o que faz referencia à privatização da terra, atitude própria do capitalismo, que trouxe o individualismo. Trinho Paiva, voltando às origens, enfatiza que “segundo nosso Deus Criador a terra é um patrimônio universal, todo mundo tem que ter acesso à terra”. Por isso, ele insiste em que “para nós indígenas a floresta é liberada, pode caçar, pode tirar frutas, nós não temos fronteiras. O homem branco chega e começa a dividir”. Mesmo reconhecendo o apoio que hoje recebem os povos indígenas da Igreja, o indígena do povo baniwa, denuncia que “em São Gabriel, a chegada das missões foi um choque bastante grande, pois diziam que nossa cultura era diabólica. A gente perdeu parte do conhecimento que nós tínhamos, muitos rituais não foram mais praticados por isso. Depois entrou a religião evangélica,…
Leia mais