Seminários sobre o Tráfico Humano são celebrados na Amazônia
Por Pe. Luis Miguel Modino O combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas tem se tornado uma das prioridades da Igreja católica nos últimos anos, uma bandeira que tem no Papa Francisco um dos seus principais portadores. Com motivo do Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, que acontece todo 23 de setembro, tem acontecido diferentes seminários ao longo deste final de semana na Amazônia brasileira. Dentre eles cabe destacar o celebrado em Tabatinga e Manaus. Muitas vezes essa problemática é vista como algo distante, mas devemos nos questionar, se fosse alguém que você ama? uma pergunta que tem sido ponto de partida do 4º Seminário de Enfrentamento ao Tráfico de Mulheres e Crianças para fins de Exploração Sexual, organizado pela Arquidiocese de Manaus e a Rede um Grito pela Vida, com o apoio da Caritas Manaus, que contou com mais de cem participantes. Isso deve nos levar a assumir as palavras de Dom José de Albuquerque, bispo auxiliar de Manaus, que insistia em que “não podemos ficar indiferentes, temos que nos sensibilizarmos”. Para isso, o bispo fazia a proposta de que esses assuntos estejam “entrem nas pautas de nossas instituições e paróquias, são coisas que acontecem bem perto de nós”. No mesmo sentido, o coordenador de Pastoral da Arquidiocese, Padre Geraldo Bendaham, via a necessidade de “não tornar as pessoas mercadoria”, numa sociedade que não respeita a dignidade da pessoa. Por isso, se faz necessário segundo o padre, a importância de “descobrir os esquemas de exploração para denuncia-los”. Nessa luta, a Rede um Grito pela Vida, tem um papel em destaque. Dela faz parte a vida religiosa e, cada vez mais, um bom número de leigos e leigas, como afirmava a Ir. Rosineuda Rocha, que faz parte da coordenação do núcleo de Manaus. Falar de tráfico é dizer que essa é uma problemática além fronteiras, por isso a importância do Seminário da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Tríplice Fronteira, que reuniu mais de 50 participantes do Peru, a Colômbia e o Brasil, os dias 20 e 21 de setembro, em Tabatinga – AM. Como também foi reconhecido em Manaus, Verónica Rubi, uma das coordenadoras da rede, mostrava aos presentes o que é o tráfico humano e como essa é uma realidade oculta, mas que merece nossa atenção, pois “se fechamos os olhos nos tornamos cúmplices”, o que levou os participantes a identificar as situações de morte presentes na região. Como entender uma sociedade de gente vendendo gente, perguntava a Ir. Eurides Alves de Oliveira na contextualização da realidade do tráfico humano. A religiosa definia o tráfico de mulheres e crianças com fins de exploração sexual como uma “mercantilização dos corpos e da dignidade”, afirmando que a pessoa se tornou mercadoria de consumo. Desde o ponto de vista histórico, numa perspectiva amazônica, a professora Iraildes Caldas Torres, enraizava essa realidade no tempo da conquista portuguesa, um tempo em que a exploração sexual das mulheres indígenas se tornou instrumento de dominação, assumido pelos próprios nativos, relatando situações de homens que oferecia suas filhas e inclusive suas esposas aos portugueses. Isso foi criando uma consciência de que a mulher não existe e que elas eram as culpadas da situação, o que desembocou em que atualmente muitas mulheres, vítimas dessa situação, não denunciem. A Igreja está desenvolvendo tanto em nível mundial como local o combate dessa realidade. A Seção Migrantes e Refugiados, que faz parte do Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, publicou Orientações Pastorais sobre o Tráfico de Pessoas, como apresentava a Irmã Rose Bertoldo, que em abril participou em Roma de um seminário sobre essa temática e que, coincidindo com a data deste seminário, tem sido nomeada auditora do Sínodo para a Amazônia pelo Papa Francisco, em consequência de seu trabalho e conhecimentos sobre o tráfico humano. Ela dizia que “nós mulheres somos quem mais cuidamos da vida na Amazônia, da vida humana e do meio ambiente”, questionando aos presentes com a pergunta: como é que o ser humano pode se satisfazer a partir da dor de outra pessoa? Ela denunciava que “muitas vítimas não confiam nas autoridades, na polícia, que muitas vezes acusa em vez de defender”. A religiosa fazia referência ao encontro que vai ser celebrado em Roma nesta semana em ocasião dos 10 anos da Rede Talitha Kum uma das muitas redes eclesiais que favorecem o trabalho de prevenção, se referindo ao trabalho da vida religiosa e da Cáritas nos programas de reintegração das vítimas do tráfico humano. Em nível local, a Igreja católica na região vem desenvolvendo um importante trabalho, como reconhecia Dom Edson Damian, presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e bispo de São Gabriel da Cachoeira, destacando o grande trabalho da Rede um Grito pela Vida. Ele parabenizava as muitas mulheres presentes no seminário, de quem destacava sua coragem, que etimologicamente significa agir com o coração. O bispo falava da sua diocese, “uma região de fronteira onde tudo é permitido, onde tudo é possível”, recordando muitas palavras do Papa Francisco em referência ao tráfico e destacando um grande número de mulheres que estarão presentes na assembleia do Sínodo para a Amazônia, dentre elas várias representantes do combate a essa problemática. Nesse trabalho local, o Padre Geraldo Bendaham, destacava a importância da Campanha da Fraternidade de 2014, com o tema: Fraternidade e Tráfico Humano, que provocou um ampla ressonância dentro e fora da Igreja. Algumas consequências dessa campanha foi o Seminário Internacional celebrado em Manaus em 2015 ou o conteúdo da X Assembleia Pastoral da Arquidiocese, em 2018, que faz um planejamento para quatro anos, onde aborda essa questão ao falar sobre a superação da violência. Desde a Cáritas Arquidiocesana de Manaus estão se desenvolvendo, em parceria com a Rede um Grito pela Vida, ações de prevenção, sensibilização e combate ao tráfico humano, como relatava Rosivane Souza dos Anjos, psicóloga da instituição, especialmente a través do projeto Iça. Esse fenómeno “reveste-se de…
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