“O Sínodo representa uma esperança para a vida das comunidades e da Igreja da Amazônia”
Francisco Lima, auditor sinodal. (Foto: enviada por Luis Miguel Modino) Por Luis Miguel Modino. O Sínodo para Amazônia que neste mês de outubro completa um ano de sua Assembleia Sinodal, foi um momento marcante na vida da Igreja da Amazônia, mas também na vida de quem participou desse momento. Um dos auditores foi Francisco Lima, Secretário Executivo do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que o define como “algo que marcou muito a minha vida”. Na Igreja da Amazônia, ao longo do processo de preparação, o Sínodo “criou uma expectativa muito grande”, resgatando elementos presentes desde o encontro de Santarém, em 1972, e trazendo “um sinal de esperança muito grande para as nossas comunidades, para as nossas igrejas particulares”, em palavras do diácono permanente. Segundo ele, o Sínodo evidenciou o rosto dos povos da Amazônia e a presença muito forte que as mulheres têm nas comunidades, sendo importante “continuar esse processo de valorização dos povos da Amazônia, de valorização das mulheres que estão nas comunidades da Amazônia”. O propósito é envolver as dioceses e prelazias “para que assumam essa continuidade do Sínodo para a Amazônia”, insistindo na questão da presença nas comunidades como o grande desafio. Para alguém que é diácono permanente, que o Documento Final apresentou como uma possibilidade de presença nas comunidades, esse “é um caminho longo que ainda precisaremos avançar na reflexão, no discernimento”, mas ele considera que ele “é um caminho provável”. Eis a entrevista. Estamos comemorando um ano da celebração da Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia. O que significou na sua vida participar de um Sínodo da Igreja? É um momento histórico na vida da gente, nunca eu imaginaria de poder participar de um momento desses na Igreja. Foi algo que marcou muito a minha vida, o fato de estar lá, em Roma, naqueles dias, exatamente um ano atrás, poder viver aquele tempo, que na verdade foi todo um processo que culminou naquela Assembleia Sinodal lá em Roma. Isso de fato marca muito a vida da gente, tanto no âmbito mais pessoal como também de atuação junto às comunidades, no serviço que a gente exerce. Participar de algo assim, muda completamente até a visão que a gente tem de Igreja. Isso a gente vai revisando depois de um momento tão significativo, que não terminou com a conclusão do Sínodo, mas que começou toda uma nova missão dentro desse contexto da Igreja da Amazônia. Para alguém que nasceu na Amazônia, que conhece a realidade da Igreja da Amazônia, especialmente do Regional Norte 1, que compreende grande parte do estado do Amazonas e o estado de Roraima, onde trabalha como secretário executivo, o que tem representado o Sínodo para a Amazônia para a Igreja local? A Igreja do Regional Norte 1, o processo que nós fizemos no Sínodo, criou uma expectativa muito grande. Representa uma esperança para a vida das comunidades e da Igreja, apesar de que o Sínodo vem, também por outro lado, resgatar muitos aspectos que essa Igreja da Amazônia já vem construindo, e que talvez por um tempo ficou meio que esquecido. Se a gente retoma, por exemplo, o encontro de Santarém, em 1972, e a gente pega o documento Querida Amazônia, a gente vai perceber que tem muitos elementos que vêm de ali, que é um processo que essa Igreja caminhou, que foi se perdendo no caminho, e que o Sínodo resgata. O Sínodo para a Amazônia, ele traz um sinal de esperança muito grande para as nossas comunidades, para as nossas igrejas particulares aqui do Regional Norte 1. O próprio Sínodo, ele reforça esse rosto dessa Igreja amazônica, que é um rosto de uma Igreja de leigos e leigas, um rosto de uma Igreja constituída por muitas mulheres que ao longo do tempo mantiveram a fé dessas comunidades. Então, o Sínodo traz de fato essa esperança dessa Igreja viva que está no meio das comunidades, e que precisa acordar, que as vezes a gente percebe que em algum momento, ela esteve adormecida. O Sínodo vem para mexer com essa estrutura e fazer com que essa Igreja retome esse caminho. Por outro lado, o Sínodo, desde seu processo inicial, ele fez com que surgissem também novos olhares, novos caminhos, uma nova proposta. O Papa Francisco já tinha lançado a Laudato Si’, isso também trouxe novos elementos para essa Igreja da Amazônia. Apesar de, como eu disse, trazer essa esperança, de trazer esse acordar dessa Igreja, também aponta novos rumos, novos caminhos. Você fala sobre as mulheres, e de fato a presença das mulheres e dos povos indígenas foi considerada por muitos dos participantes da Assembleia Sinodal como algo importante, inclusive determinante. O Documento Final do Sínodo e Querida Amazônia impulsionam o papel das mulheres na Igreja da Amazônia. Como trazer para a vida das comunidades, onde muitas vezes são as mulheres as que estão na frente, como reconhece Querida Amazônia, toda essa reflexão do processo sinodal? O Sínodo, ele nos traz um processo diferente de construção. A Amazônia, eu sempre tenho dito isso, ao longo da sua história, mesmo a Igreja, em muitos momentos, ela foi muito pensada de fora para dentro. Esse rosto da Amazônia, esse rosto dos povos da Amazônia, nunca foi tão evidenciado quanto no Sínodo para a Amazônia. Desde o momento inicial, quando o Papa Francisco convoca a Igreja da Amazônia para um processo de escuta, e ele diz que é preciso ouvir esses povos, que é preciso valorizar o que esses povos pensam, o que esses povos dizem, e que é preciso dar voz a esses povos. O Sínodo vem e reforça tudo isso, e a presença de tantas mulheres, de tantos indígenas, de tanta gente que foi da Amazônia para Roma, para participar daquele Sínodo, evidencia isso com muita força. Acho que é um momento histórico que a gente está vivendo e que a gente conseguiu, de certa forma, conquistar, que é os povos da Amazônia ganhando voz, ganhando vez, ganhando visibilidade. Isso o Sínodo conseguiu concretizar, e nós…
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