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Dia: 17 de fevereiro de 2021

Dom Leonardo: “O diálogo é muito importante neste momento de um vírus de violência, de agressão, de ideologias que não ajudam”

  A Quarta-feira de Cinzas tem sido oportunidade para o lançamento da Campanha da Fraternidade Ecuménica 2021, organizada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC. Como tem acontecido em muitos locais no Brasil, a Arquidiocese de Manaus lançava a campanha na frente da Catedral Metropolitana. O tema deste ano, como lembrava o padre Geraldo Bendaham, é “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”, e o lema “Cristo é a nossa Paz, do que era dividido, fez uma unidade”.   “O diálogo é muito importante, estarmos à escuta do outro, neste momento tão difícil, neste momento não só pandémico, mas neste momento também de um vírus de violência, de agressão, de ideologias que não ajudam na construção”, afirmava Dom Leonardo Steiner, no início de sua intervenção diante dos presentes, sobretudo jornalistas. O Arcebispo de Manaus pedia que a Campanha da Fraternidade possa nos ajudar a nos unir e nos levar ao encontro de Jesus Cristo Crucificado, Ressuscitado. Dom Leonardo destacava a importância da palavra, “que nos faz dialogar, que nos dá o dom da escuta”. Fazia isso no momento reservado ao pastor Marcos Antônio Rodrigues, da Comunidade Luterana em Manaus, ausente diante da suspeita de ter sido contagiado pela Covid-19. Ao comentar a passagem dos discípulos de Emaús, elo da Campanha da Fraternidade Ecuménica 2021, o Arcebispo de Manaus afirmava que “enquanto caminhamos temos as diatribes da vida, as dificuldades”, mostrando que “como os discípulos de Emaús, nós vamos dialogando e vamos compreendendo essas dificuldades”. Se faz necessário, “no diálogo mútuo, estar à escuta, em profundidade, para que nós possamos compreender o fundo das ideologias”, afirmava o arcebispo. Ele se questionava sobre o fundo que sustenta a violência, o por que do feminicídio ou do desprezo aos nossos irmãos negros. Dom Leonardo fazia um chamado a buscar o fundo e a partir da escuta que é diálogo, construir a fraternidade. Segundo ele, “sem escuta não existe palavra, a palavra continua agressiva, a palavra continua separativa, a palavra não é capaz de criar comunhão, familiaridade, fraternidade”. O Arcebispo de Manaus afirmava que “onde existem ideologias, onde existem separações, não existe partilha, porque existe incapacidade de partilhar, porque no existe o amor”. Ele destacava que “a Palavra de Deus nos desarma, a Palavra de Deus, porque é conforto, porque é proximidade, é capaz de criar novas relações apesar de nossas diferenças”. Dom Leonardo fazia um chamado a viver a Campanha da Fraternidade como um tempo de conversão e transformação, que vai possibilitar “um tempo de fraternidade, um tempo de amor comprometido”. Não podemos esquecer que a Campanha da Fraternidade acontece na Quaresma, “para nos convocar a esse espírito de conversão, de mudança”, segundo Dom José Albuquerque. Ele frisava a necessidade de “dialogar em todas as esferas da vida”, que nos leve ao respeito, ao reconhecimento e valor do outro, “a estar sempre em uma atitude de aprendizado”, afirmava o bispo auxiliar de Manaus. Ele espera que a campanha “nos ajude e nos ensine a refletir, a saber escutar mais, a saber valorizar aquilo que nos une”. Na apresentação do Texto Base da Campanha da Fraternidade Ecuménica 2021, Francisco Lima afirmava a que “estamos em um tempo difícil, complicado, esse tempo de pandemia, que nos inquieta, que nos tira o sossego”. O Secretário Executivo do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, denunciava “quanta gente que conhecemos está morrendo por falta de atendimento, por falta de oxigênio, falta de leitos nos hospitais. Quanta gente sem o alimento necessário, sem emprego, sem nenhuma fonte de renda”. Por isso, ele definia este tempo como “um tempo que nos faz pensar e refletir: será que realmente estamos vivendo em paz?”. Nessa perspectiva, Francisco Lima pedia que “este tempo quaresmal nos inquiete com uma paz que luta pela paz, a paz que sacode com a urgência do Reino, a paz que invade como vento do Espírito a rotina e o medo, a paz conquistada sem armas, a paz que se faz nossa, sem cercas, sem fronteiras”. Ele fazia um apelo ao compromisso “com o diálogo, com a solidariedade, como amor ao próximo”, e à conversão ao diálogo com o diferente e com esta ao nosso lado, que as vezes a gente exclui.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1    

Papa Francisco convida o povo brasileiro a “encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida”

  A Campanha da Fraternidade, que ao longo da Quaresma acompanha a vida da Igreja do Brasil desde o início da década de 1960, tem neste ano um caráter ecumênico, algo que começou no ano 2000 e que “representa uma das experiências mais valiosas de missão evangelizadora em nosso país”, segundo a pastora luterana Romi Márcia Bencke, Secretária-Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC. Por ocasião da Campanha da Fraternidade, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao povo brasileiro. O Papa definiu a Quaresma como “um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas“, um convite a caminhar com o Senhor Jesus, que “faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia“, a rezar pelos que morreram, a bendizer pelos profissionais de saúde e estimular a solidariedade, “a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros“. Nas suas palavras, adverte que iremos superar a pandemia, “à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida“.  O Papa Francisco vê a Campanha da Fraternidade como um convite “para ‘sentar-se a escutar o outro’ e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes ‘um mundo surdo’“. A mensagem apela à promoção de uma cultura de diálogo, lembrando que “são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico“. De fato, insiste que “a fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial, a vida dos mais vulneráveis“.  Estamos ante um chamado a afirmar que “a fraternidade e o diálogo são compromissos de amor, porque Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido”, como recolhe o hino da campanha. A Campanha da Fraternidade Ecuménica de 2021 é um desafio “para o diálogo e a construção de pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio”, mostrando que é possível “viver em comunhão”, superando “as polarizações e violências através do diálogo amoroso”, o que é expressado nos objetivos da campanha.  A Campanha, que foi organizada quase que inteiramente on-line, ela faz a proposta de conversão ao diálogo e ao compromisso de amor, afirmando que “a conversão é um processo permanente e diário”, que nos leva a “repensarmos cotidianamente nossa forma de estar no mundo”. Daí nasce “a possibilidade de novas formas de relações humanas e sociais”, de assumir “um jejum que agrada a Deus e que conduz à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos”.  El Texto Base da Campanha tem como elo a história dos discípulos de Emaús, fazendo um chamado a refletir a partir de quatro paradas: ver, julgar, agir e celebrar, uma metodologia que acompanha a vida da Igreja latino-americana nas últimas décadas.  A pandemia da Covid-19 e suas consequências é o ponto de partida do ver, afirmando que, no Brasil, onde tem morrido um 10% das vítimas mundiais, “a pandemia dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”. O texto reflete sobre “a incerteza, a insegurança, o descaso político para com as pessoas, a desestruturação repentina de nosso modo de vida”, provocando sensação de medo e impotência. Também aparecem relatos sobre diferentes reações diante da pandemia nas igrejas.  A reflexão em torno da Campanha, denuncia que “no Brasil, a pandemia escancarou as desigualdades e a estratificação racial, econômica e social”, refletindo sobre a resistência ao isolamento, o negacionismo, a volta da fome, a continuação da violência policial, doméstica e do racismo. Também aparece a análise das tensões e conflitos, das reformas, do aumento do desemprego, da pobreza, das desigualdades os das notícias falsas nos últimos anos. O Brasil se tornou uma sociedade cheia de muros, com muitas crises que afetam a todos, também àqueles que fazem parte das Igrejas.  Diante disso, a Campanha chama a interpretar a realidade, em uma sociedade onde “ainda permanecem as estruturas racistas e excludentes”, que beneficia os poderosos e ignora as políticas públicas. Isso gera insatisfação, que se transforma em ódio contra o diferente, relações injustas, destruição da Casa Comum, novas cruzes que não são respostas para a paz, “necropolítica”, onde o Estado se julga soberano para escolher quem morre e quem vive. Isso é algo que se faz presente de diferentes modos no Brasil, através da violência, que nunca será a saída, e de leis que acabam com direitos históricos conquistados.  A reflexão sobre a catástrofe ambiental, uma realidade muito presente no Brasil, que atinge especialmente os povos tradicionais, grandemente afetados pela pandemia da Covid-19, também está presente na Campanha da Fraternidade de 2021. O Texto Base denuncia que “a violência contra a terra e os povos originários é, muitas vezes, legitimada por um discurso religioso reativo”, que manipula a religião. Também é colocada a reflexão sobre o racismo contra negros e indígenas, que se traduz em intolerância religiosa, algo que tem uma raiz histórica e que se perpetua, criando muros que demandam “rever a forma como vivemos a nossa fé”.  A segunda parada, identificada com o julgar, faz uma análise desde a perspectiva bíblica. O texto afirma que “a fé é diretriz de conduta, tanto para o bem quanto para o mal”. Nesse sentido, as origens do cristianismo nos mostram que “a opção pelo Evangelho trazia consigo a busca pela compreensão mútua e um processo de conversão”, algo recolhido nas cartas paulinas. Isso levava a derrubar “o muro da separação” e construir “um mundo de comunhão na gratuidade do amor de Deus, que acolhe e perdoa”. Eram comunidades diversas, mas que procuravam a unidade, a partir da fé em Jesus Cristo, “vínculo que une a comunidade e garante que experimentemos os sinais do Reino de Deus”.  Isso é recolhido no lema da Campanha da Fraternidade Ecuménica de 2021: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. O apóstolo Paulo faz um testemunho conciliador e promotor da unidade na diversidade, que não é razão para conflitos. Tudo em vista da…
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