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Dia: 12 de abril de 2021

Sofrimento com a doença e a fome e Sinodalidade marcam Análise de Conjuntura da 58ª Assembleia Geral da CNBB

Um momento importante do primeiro dia da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB tem sido a Análise de Conjuntura social e eclesial, elaboradas por uma equipe de assessores e assessoras, que destacam que não representa a opinião da Conferência. “O Povo de Deus sofre com a doença e a fome”. O título da análise de conjuntura social apresentada aos bispos do Brasil, que nos mostra a realidade de um país profundamente atingido pela pandemia da Covid-19, que oficialmente está próximo de 13,5 milhões de casos e já superou os 353 mil mortos. Estamos diante de uma crise com muitas faces, consequência da primazia do dinheiro e das finanças, que tem provocado “uma gravíssima pandemia” que coloca a prova a sobrevivência da humanidade está colocada à prova, e que ameaça com repetir de modo ainda mais grave. A crise sanitária tem impactado nas diversas dimensões da sociedade, provocando um mundo em mudança. A análise relata como tem ido se desenvolvendo o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, com longas filas de espera, trabalhadores com uma carga excessiva de trabalho. Diante dessa realidade o texto destaca “a importância da vacina e do distanciamento social para a superação da pandemia”, junto com o uso de máscaras. A vacinação está “muito aquém do necessário”, o distanciamento social “nunca foi feito de forma plena e organizada em todo o país”. No Brasil a crise econômica e a crise sanitária estão fundamentalmente correlacionadas. Se faz necessário investimentos públicos e fomento à economia, para assim evitar um colapso económico cada vez mais próximo, que vai se traduzir em fome, miséria e desesperança, uma realidade presente nas periferias das grandes cidades. No campo da economia também tem se dado uma grave desvalorização do real, consequência do fato de que nos últimos meses o Brasil se tornou o epicentro da pandemia. Isso favorece as exportações, principalmente do agronegócio, mas tem elevado o preço dos produtos importados, dos itens mais presentes na vida dos mais pobres, a inflação e os juros. A pergunta que surge na análise é o efeito das medidas económicas que estão sendo tomadas no campo económico, mas também os efeitos no meio ambiente. Junto com isso o desemprego bateu recordes ao final de 2020 na maioria dos estados brasileiros. Esse “terrível quadro econômico do ano passado não foi pior, em parte, por conta da política fiscal adotada para mitigar os efeitos da pandemia”, mas o PIB e a dívida externa estão numa situação muito complicada. Uma das mais graves consequências disso é a fome, que atinge a 19,1 milhões de brasileiros, com mais da metade da população sem segurança alimentar. As perspectivas, após “a catastrófica gestão da pandemia e da economia”, são pouco alentadoras, com “ausência de crescimento econômico (exceto para alguns setores), junto com considerável inflação ao consumidor”. O texto entregue aos bispos afirma que o Brasil mudou, algo que se faz visível na conjuntura política, no aumento das possibilidades de comunicação, surgindo o fenómeno da psicopolítica, que “o fluxo contínuo da comunicação, a instabilidade da emoção, não permitindo a reflexão, o racionalismo”. Isso se traduz numa difícil relação entre política e cultura e as dificuldades enfrentadas pelo sistema democrático, cimentado em “relações de mando e subserviência”, se fazendo cada vez mais evidente o que texto chama de “uma paixão pela ignorância”, também chamado de “ódio à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao esclarecimento, ao discernimento”, se fazendo um “uso elitista do conhecimento”. A educação, junto com a cultura, também se tornou uma dificuldade no Brasil. Tem aparecido distintos universos culturais, que tem motivado “uma perda do respeito pelo mundo da cultura e da educação, o maior alicerce da esfera pública”. Essa realidade, que já estava em crise, piorou muito com a pandemia. O texto analise a figura do atual presidente, Bolsonaro, que denomina como “um entrave para a superação da crise”, fez realidade uma política marcada pela militarização, por querer fazer a vontade do povo, o messianismo, a hostilidade à ciência e o anticomunismo. Frente a ele está o fator Lula, que tem retornado para a corrida eleitoral, e tem provocado “a notória a mudança política do governo federal”.  Junto com isso, a análise destaca a grande presença militar no atual governo. O texto conclui relatando a postura do governo federal e do presidente diante da pandemia, que o levou a minimizar a doença e desrespeitar as vítimas; descumprir o isolamento social, o uso de máscaras e incentivou o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada; realizar uma má gestão da área da saúde; criar desavenças com governadores, prefeitos e instituições da sociedade civil. A análise afirma que “muitas mortes e sofrimento de famílias poderiam ter sido evitados”. Diante disso, as propostas são: vacinas e vacinação com a maior velocidade possível; distanciamento social; auxílio emergencial. Diante de um quadro “de fome, doença e de desgovernos” a proposta é de “mais unidade e uma profunda e resistente união do coro dos lúcidos”, construindo pontes e diálogos, “tarefa dos cristãos e de todos de boa-fé”. A análise de conjuntura eclesial teve como ponto central a sinodalidade, que promove uma experiência de comunhão e participação. De fato, pode ser considerada como uma reflexão teológica sobre essa dimensão. O ponto de partida tem sido o Magistério do Papa Francisco, para quem esse é “o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, uma proposta de “caminhar juntos”, em chave missionária, que tem como fundamento teológico a infalibilidade in credendo de todo o povo de Deus, o sensus fidei e o consensus fidelium, o que faz de cada batizado um “sujeito ativo da evangelização”.   O Santo Padre vê a sinodalidade como “dimensão constitutiva da Igreja”, de onde surge o “dinamismo de comunhão que inspira todas as decisões eclesiais”, que tem como base a escuta e a decisão de entrar num processo. A realização da sinodalidade começa nas igrejas particulares e continua nas regiões eclesiásticas e conferências episcopais, chegando finalmente ao âmbito da Igreja universal. A teologia da…
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Dá início a 58ª Assembleia Geral da CNBB centrada na Palavra de Deus e 100% virtual

Foto: CNBB Da grandiosidade do Santuário Nacional de Aparecida à simplicidade da Capela da sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, também sob a invocação da padroeira do Brasil. Do grande encontro anual no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida à tela do computador ou do celular. Assim iniciava nesta segunda-feira, 12 de abril, a 58ª Assembleia Geral da CNBB. A Eucaristia, presidida por Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, transmitida pelos canais católicos de TV do Brasil e pelas redes sociais da CNBB. contou com a participação de convidados e assessores da entidade. O bispo auxiliar do Rio de Janeiro fez um chamado a “nascer de novo”, e assim adquirir “essa coragem para anunciar a Palavra em meio a todas as dificuldades”. Com a celebração iniciou-se a primeira assembleia em formato totalmente remoto, onde são convidados os 475 bispos titulares e eméritos, além de representantes de organismos e pastorais. O tema central será a Palavra de Deus, seguindo a proposta das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023). Além disso, os bispos vão aprofundar também outros 30 assuntos previstos estatutariamente sobre a vida da Igreja e a evangelização no Brasil. Seguindo os estatutos da CNBB, será realizada uma Assembleia sem votações que impliquem alterações ou consequências de natureza legislativa para a Conferência. Só irão acontecer as votações de natureza pastoral. Após um momento de oração e as solenidades de abertura a cargo do presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, onde acolheu os presentes, especialmente os bispos nomeados nos dois últimos anos e lembrou as vítimas da pandemia, pedindo um momento de silêncio em homenagem, o novo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, dirigia-se pela primeira vez ao episcopado brasileiro reunido em Assembleia, destacando a importância da tecnologia “a serviço da proclamação corajosa da Palavra de Deus”. A primeira sessão tem sido momento para apresentar o relatório bienal 2019-2020. Além disso, também foram apresentados o relatório econômico e o tema central. Os destaques do período da tarde ficam por conta das análises de conjuntura eclesial e social e a programação de atividades dos anos Amoris Laetitia e Josefino, em 2021. Todos os dias acontecerá uma coletiva de imprensa, onde serão tratados os temas mais relevantes de cada jornada. Falar da Palavra não é novo, segundo Dom José Antônio Peruzzo. Ele enfatizava que “na tradição bíblica, palavra também é pessoa”. Estamos diante de um tema que nunca será suficientemente esgotado, insistindo em que a palavra cria proximidade entre quem escreveu e quem lê, o que mostra a importância da Palavra de Deus, de partilhar aquilo que é fonte de vida. Dom Paulo Jackson destacava o “belíssimo movimento de leitura popular da Bíblia, no Brasil e América Latina” surgido da Dei Verbum, destacando a importância do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Trata-se de fazer com que “a vida inteira da pessoa e das comunidades eclesiais missionarias, e também da própria pastoral e da missionariedade, tudo isso animado pela força da Palavra de Deus“. O bispo de Garanhuns falava sobre os desafios para semear a Palavra de Deus, destacando a necessidade de descobrir a Bíblia como fonte de mudanças estruturais. O objetivo é que “o povo tenha mais desejo da Palavra de Deus”, segundo Dom Armando Bucciol, que falava sobre os diferentes terrenos em que a Palavra de Deus deve ser semeada: na liturgia, destacando a importância da homilia, na ação missionária, na Iniciação Cristã- Catequese, na Piedade Popular, na família, nas juventudes, no diálogo ecumênico e inter-religioso, nos meios de comunicação, nos processos formativos, na presença nas periferias, dentre outros. Nas perguntas dos jornalistas surgiram algumas reflexões dos bispos. Um deles, cada vez mais presente na sociedade, é a polarização, que leva a refletir sobre os fundamentalismos, fruto das debilidades, visto por alguns como refúgio seguro e que pode ser considerado irmão do fanatismo, segundo o Arcebispo de Curitiba. Ele insistia em que os fanáticos não dialogam, destacando o papel da religião como poderoso meio de fundamentalismo. Por isso, insistia na necessidade de despojar-se de convicções, na diferença entre experiência religiosa e experiência de fé. Segundo Dom Peruzzo, as agressões entre católicos têm como causa que eles ouvem pouco a Palavra e não se deixam inspirar nela. Dom Paulo Jackson vê a polarização como fruto da resistência aos valores da modernidade. Ele denunciava o esfriamento do trabalho bíblico no Brasil, tendo se deixado de realizar o Mês da Bíblia em muitos lugares. Diante disso, afirmava que a Palavra pode ajudar a formar comunidades eclesiais missionárias vivas, animadas, entusiasmadas. A partir da experiência pessoal, acrescentada durante a pandemia, insistia na necessidade dos bispos e a Igreja fazer mais presente a Palavra na internet. O abuso e mal uso da Palavra está muito presente na Igreja, segundo Dom Armando, que refletia sobre a homilia, que não é palestra. O bispo de Livramento de Nossa Senhora refletia sobre os pregadores que ignoram a Palavra, inclusive nas TVs católicas, insistindo para que o povo seja franco com os padres e bispos para dizer que não é por aí. O bispo dava um conselho não exagerar no tempo e preparar durante várias horas de reflexão. Junto com a Palavra, destacava a importância da Pastoral da Escuta, de multiplicar mentes e corações que saibam de verdade escutar. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1