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Dia: 3 de junho de 2021

Eucaristia, vida partilhada no cotidiano

Corpus Christi é a festa da Eucaristia, do Corpo e Sangre entregado como alimento para todos. Celebrar a Eucaristia tem que nos levar a entender a necessidade de assumir a partilha como modo conatural de ser e de entender a própria vida e nosso relacionamento com os outros, fundamentado na caridade, na misericórdia, na samaritaneidade. A Eucaristia não acontece só dentro do templo e não pode ser reduzida ao marco temporal em que acontecem os ritos próprios da celebração. O grande desafio é levar a Eucaristia para a vida do dia-a-dia, e isso acontece quando a gente vive aquilo que a gente celebra, um Deus que em Jesus se doa, se entrega por completo e alimenta a vida de quem tem fome dele. A pandemia da Covid-19 tem mostrado a presença de uma Igreja que tem sido testemunho de partilha. Diante do descaso do poder público, pouco ou nada preocupado com o sofrimento provocado pela morte, a fome, o desemprego, e tantas outras realidades já presentes, mas que tem aumentado ao longo do último ano, podemos dizer que as atitudes próprias daqueles que sustentam sua vida na Eucaristia tem se espalhado na nossa sociedade. A Eucaristia é alimento que nos fortalece e nos dá a capacidade de ter maior disposição para ir além, para chegar em situações e pessoas que precisam de nossa ajuda e solidariedade. Estar ao lado daqueles que sofrem deveria ser um sentimento humano, mas tem que ser uma atitude inadiável na vida daqueles que se alimentam da Eucaristia. Não podemos esquecer que o propósito de Jesus foi fazer realidade um mundo melhor para todos e todas, onde o sentimento comunitário, o sentimento de fraternidade fosse assumido como atitude que supera o individualismo e o egoísmo, elementos presentes na condição humana. Ser discípulos e discípulas, um chamado recebido pelo nosso batismo e alimentado cotidianamente na Eucaristia, nos leva a ser Igreja em saída, que vai ao encontro dos mais vulneráveis, daqueles que sofrem as consequências de um sistema injusto e desigual. É tempo de refletir para poder entender, para poder assumir as atitudes que tem que estar presentes em nossa vida, colocando o outro, especialmente aqueles que sofrem, no foco do nosso olhar. A Eucaristia tem que nos levar a sair de nós, a superar posturas intimistas, que nos fecham dentro de nós, dos nossos problemas e preocupações. Aproveitemos a festa do Corpo e Sangue de Cristo, a festa da Eucaristia, para entender seu sentido e significado, para assumir as consequências que esse alimento provoca na nossa vida. Estamos diante de uma realidade que nos transforma e faz de nós homens e mulheres com um olhar diferente, próprio daquele que nos alimenta e fortalece, que nos ajuda a entender a vida como testemunho de partilha e doação.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar

Mauricio López: “REPAM e CEAMA são dois rios que se encontram, novos caminhos sinodais para a Igreja e para a Amazônia”

Mauricio Lopez tem vindo a encerrar nos últimos meses o seu serviço em favor da Igreja e dos povos da Amazônia, onde durante mais de seis anos foi secretário executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica e nos primeiros meses da sua caminhada serviu como secretário interino da Conferência Eclesial da Amazônia. Para o atual coordenador do Centro de Programas de Ação Pastoral e Redes do Conselho Episcopal Latino-americano – CELAM, “o sentido de pertença à Igreja vai muito além dos serviços que prestamos ou dos cargos que ocupamos”. Na sua opinião, foram “anos de uma experiência muito profunda da missão da Igreja neste território”, quase 10 anos desde a abordagem inicial com a Caritas Equador, onde começou um processo de intercâmbio e aprendizagem mútua com o território amazónico. Foram plantadas “as primeiras sementes de uma rede territorial a nível do país (Equador) que incluía seis vicariatos, que se expandiram gradualmente numa perspectiva Pan-Amazônica”. Isto foi ajudado por diferentes testemunhos, “como a Equipe Itinerante, casos como o CIMI no Brasil, CAAAP no Peru, e outros”, afirma Mauricio. Segundo ele, “os serviços e a própria forma de acompanhamento foram gerados de acordo com as necessidades pastorais que estávamos descobrindo juntamente com o território e os povos que ali viviam, tanto com o povo como com a Igreja”. Nisto, Mauricio López descobre sobre a sua própria missão que “estes são serviços que têm necessariamente um ciclo“, e que não é possível estar nestes serviços para sempre. É por isso que insiste que “a validade das intuições do nosso discernimento e a qualidade dos nossos serviços é confirmada quando cumprimos ciclos razoáveis, somos capazes de nos mover para que outros tons, outros sinais venham, porque a Igreja é muito rica em diversidade, e também deve ser multicolorida, tal como os carismas, por isso é necessário saber quando é o momento certo para fechar um ciclo e abrir um novo. Este é o próprio processo da vida”. Aquele que foi seu secretário durante os seus primeiros anos de vida, recorda que “a REPAM nasceu de intuições muito marginais que se tornaram germinais, e em pedagogias que tinham sido consideradas periféricas, que se tornaram fundamentais para este momento, não só para a Igreja na Amazônia, mas talvez para a Igreja em maior escala”. Neste sentido, quando lhe perguntam o que aconteceria se um dia a REPAM terminasse por qualquer razão externa ou interna, ele tem consciência de que “nada aconteceria no sentido de perder a missão, uma vez que a intuição foi do Espírito, e isto produziria, como no início desta caminhada, a procura de novos caminhos, novas formas, respondendo às experiências encarnadas, para acompanhar aqueles que vivem estas realidades encarnadas”. Por esta razão, afirma que “uma situação de conclusão, ou a necessidade de encerrar um processo, chamar-nos-ia sempre a encontrar outro novo caminho, como aconteceu com o nascimento da REPAM, ou outras instâncias que são meios para a construção do Reino, nunca fins em si mesmas”. “Não devemos ter medo de assumir serviços que são gerados a partir da própria experiência de acompanhamento territorial e partilha da caminhada com presenças encarnadas da Igreja”, de acordo com Mauricio Lopez. Na sua opinião, “os problemas que temos hoje nas várias redes, que são fortes, acontecem com base num caminho já percorrido, numa estrutura e num serviço já existentes, em prioridades definidas, numa grande legitimidade, em relações institucionais, e mesmo no acesso aos recursos”. Pode-se dizer, nas palavras de Maurício, que “os desafios atuais da REPAM fazem parte do seu ciclo de vida, mas já existem numa expressão viva de um serviço eclesial relevante e significativo”, e isto significa que com “o tipo de problemas atuais, estamos sempre a perguntar-nos, dia após dia, como continuar a ser fiéis ao discernimento permanente e à realidade concreta que dos gritos dos pobres e da Irmã Mãe Terra nos desafia”. O objetivo sempre foi claro para o primeiro secretário executivo da REPAM, “ir a esses lugares complexos, onde talvez tenhamos de começar a tecer, sempre com muitas mãos e muitos corações, sem muitas certezas, para ir pouco a pouco avançando e abrindo novos caminhos. Às vezes dando passos em frente e outras vezes para trás, sempre numa certa incerteza institucional, insegurança no orgânico, mas que torna mais forte a fidelidade ao discernimento no essencial, no pequeno, na encarnação que acontece na fragilidade”. Ao analisar a CEAMA, vê-a como mais um processo vivo, porque “na realidade as primeiras conversas sobre a necessidade de um organismo eclesial pan-amazônico surgiram na escuta do Sínodo, ou seja, meses antes da Assembleia de Outubro de 2019″, algo que era claro, forte, evidente, segundo Maurício, tendo em vista uma estrutura “que respondesse às necessidades de uma outra dimensão, e que superasse a perspectiva da identidade da rede”. Na sua opinião, “a institucionalização da REPAM não era a saída, no seu discernimento e apelo fundacional deveria permanecer como uma rede com ligação direta ao território, e não institucionalizada. Portanto, dados os mandatos do Sínodo Amazónico, que vieram das vozes do próprio território na escuta do Sínodo, era evidente a necessidade de criar um organismo amplo em chave sinodal, mas certamente institucional para enfrentar alguns dos desafios mais complexos a longo prazo e com uma necessidade mais estrutural que a Igreja no território, e que as vozes do povo, tinham afirmado”. Neste caminho, recorda conversas com os Cardeais Hummes e Barreto e o fórum temático em preparação do Sínodo com o CELAM, onde foram dados os primeiros passos sobre a necessidade essencial de uma nova estrutura eclesial Pan-Amazônica com um papel de articulação. “Aí descobrimos também a forma de nomear esta proposta e a necessidade de a levar adiante com base no que ouvimos, pois precisava de ser confirmada e respondida pelo próprio Sínodo”. Nas suas palavras, Mauricio recorda as propostas que apareceram durante a escuta e no Sínodo, como o rito amazónico, algo “de tal complexidade, de tão longo prazo, que necessita de uma estrutura de substância, legitimada pela própria Santa Sé para poder levar a cabo este…
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