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Dia: 4 de junho de 2021

“Precisamos de leigos que consigam entender a sua missão enquanto sujeito eclesial”. Entrevista com a presidenta do CNLB

O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) celebra de modo virtual, de 3 a 5 de junho, sua 39ª Assembleia Geral Ordinária. O tema escolhido é “Cristãos leigos e leigas em missão: respondendo aos novos desafios”. Tentando refletir sobre o papel do laicato na Igreja do Brasil, especialmente neste tempo de pandemia, entrevistamos sua presidenta, Sônia Gomes de Oliveira. Ela nos ajuda a refletir sobre elementos presentes na vida da Igreja, especialmente na América Latina e no Caribe, como é a Igreja em saída, a Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe, seu processo de escuta e os desafios de uma Igreja sinodal, tema que vai estar presente na vida da Igreja ao longo dos dois próximos anos, em consequência do Sínodo sobre a Sinodalidade. O Conselho Nacional do Laicato do Brasil está celebrando mais uma Assembleia Geral, qual a realidade do laicato no Brasil num tempo em que a vida da Igreja está muito marcada pela pandemia e a Igreja foi obrigada a reinventar seu trabalho pastoral? O tema da nossa assembleia vem trazendo justamente isso, respondendo aos novos desafios. E que desafios são esses? O documento 105 da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele já apresentava alguns desafios, o desafio do clericalismo, de uma Igreja de leigos que ficam muito no interno da Igreja, não consegue perceber a realidade social, um laicato desligado das questões sociai, um laicato que fica muito voltado para o ministério interno da Igreja, um laicato que não insere na questão política. Aí é que vai prejudicando essa tomada de consciência, que é muito importante, e o que nós queremos para os cristãos leigos e leigas. Com a pandemia, acabou que revelou muito isso, as igrejas que acabam se fechando e o laicato, em si toda a Igreja, todas as pessoas, acabam tendo que ir para dentro de casa, o laicato teve que se adaptar. Aquele cristão leigo que não estava acostumado com uma vivência comunitária, em família, da vivência da Palavra de Deus, que não estava acostumado com essa vivência da inserção social, para ir para uma solidariedade, para pensar na questão social, ele teve uma certa dificuldade para assumir esses desafios nesse tempo de pandemia. Haja visto que nesse tempo de pandemia, uma grande parcela dos leigos ficou brigando para abrir as igrejas, não pensando na defesa da vida, acreditando, e isso é interessante à luz da festa de Corpus Christi, que só a comunhão eucarística tem validade, e não valorizando a comunhão com a Palavra de Deus, a grande força que nós cristãos leigos e leigas temos que valorizar. Eu penso que são esses desafios que nós precisamos enquanto leigos vencermos, um laico que consiga entender a sua vocação, a sua missão enquanto sujeito eclesial, que nós precisamos estar nos nossos ministérios dentro da Igreja, mas que nós precisamos estar inseridos na nossa missão na sociedade. Você fala de muitos elementos que fazem parte daquilo que o Papa Francisco chama de Igreja em saída, uma Igreja que vai ao encontro do povo, onde o laicato tem um papel fundamental. Diante dos desafios e das novas realidades, como isso deveria ser concretizado no futuro da Igreja do Brasil? Eu penso que o primeiro passo é o próprio leigo se reconhecer como sujeito pastoral, não como objeto de cura pastoral, não como um tarefeiro na Igreja. Porque enquanto nós estivermos nos vendo desta forma, nós não vamos conseguir sair para essa Igreja em saída que o Papa Francisco tanto nos pede. Nós vamos sair para fazer tarefas, porque o padre pediu, porque alguém pediu. Depois, eu penso que a Igreja tem que se abrir para esses ministérios, garantir a ministerialidade ao cristão leigo, e aí o Sínodo para a Amazônia nos revelou muito isso, que é preciso ter um leigo que consiga não sei se realizar tantos sacramentos, mas ter uma certa autonomia para que possam realizar muitos ministérios que hoje dependem muito da presença do padre. Quando a Igreja começar se abrindo para isso, entendendo a mulher, também no seu papel forte na Igreja, como grande colaboradora, como grande contribuidora dentro da Igreja, e tantos leigos e leigas, nós conseguiríamos estar assumindo isso. Também o processo de formação, que nós precisamos entender que ao nos formarmos, e aí falo enquanto assistente social, que eu no meu papel de profissional do Serviço Social, eu entendo meu batismo, que aonde eu estiver como assistente social, eu vou poder dar também um testemunho de garantia de política pública, de garantia de vida, de protagonismo, e a efetivação de políticas públicas que defendam a vida das pessoas. Porque não basta estar nesses espaços e garantir políticas que são de morte, e muitas vezes temos encontrado leigos que fazem isso. Nós temos que ter leigos com capacidade e com uma formação de sujeitos eclesiais. Nesse protagonismo dos leigos, podemos dizer que a Igreja da América Latina e do Caribe está vivendo uma grande novidade, que é a I Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe. Na apresentação da Assembleia, o Papa Francisco insistiu muito para que não fosse algo reduzido a um pequeno grupo, a uma elite, e sim para que envolvesse todos aqueles que fazem parte da Igreja, onde os leigos e leigas são a grande maioria e os grandes protagonistas. Qual a importância que essa assembleia pode ter no futuro, nos novos caminhos para a Igreja latino-americana e caribenha? A primeira importância deve começar por nós leigos, tentando fazer com que esta assembleia possa chegar ao mais longe, ao leigo que está mais distante, ao leigo que está mais na periferia, para ser ouvido. É justamente quando naquela carta de convocação desta assembleia, o Papa Francisco vai dizer que a Igreja se dá no partir do pão, a Igreja se dá sem exclusão, a Igreja se dá a partir desta participação de todos e todas. Se nós queremos uma resposta que vai conseguir sair de dentro das paredes da Igreja, é nós leigos que temos que sair para escutar…
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Jesus Eucarístico percorre as ruas alagadas de Manaus, denunciando realidades que provocam sofrimento e morte

Movido por seu Amor, Jesus deu sua vida, morreu e ressuscitou, algo que é atualizado na Eucaristia. Esse amor é expressado em gestos concretos de acolhida e solidariedade, “uma exigência em um mundo extremamente agitado por tantas vozes e sons que nos dizem que, em primeiro lugar, deve ser feita a nossa vontade”. Com essas palavras iniciava a celebração de Corpus Christi na Catedral Metropolitana de Manaus, um momento que quis mostrar a necessidade de que fique “longe de nós a indiferença, a omissão e a negligência diante da dor e do sofrimento de nossos irmãos e irmãs, em especial, dos mais sofridos e empobrecidos”. A festa da Eucaristia é a festa do banquete, o banquete do Amor, ao qual somos convidados, segundo lembrava Dom Leonardo Steiner na homilia, que definia a Eucaristia como “encontro de amor”. Jesus está “desejoso de que todos participem da plenitude do banquete da vida”, afirmava o arcebispo de Manaus. Ele lembrava que “os frágeis, pecadores aceitam a participação no banquete. A Eucaristia é para os frágeis, para os pecadores como nós”. Somos chamados a entender que Jesus é “amor gratuito, sempre disponível a cada pessoa com fome e necessitada de revigorar suas forças”, dizia Dom Leonardo, citando as palavras do Papa Francisco. Por isso, a Eucaristia, mais do que os ritos “é antes de mais nada entrar em comunhão com aquele que deseja ardentemente estar conosco”. Essa comunhão, segundo o arcebispo, se estende a toda a Criação, como diz o Papa Francisco em Laudato Si´, onde afirma que “a Criação encontra sua maior elevação na Eucaristia”. Tudo isso foi recolhido na procissão em volta da Catedral de Manaus após a missa. No percurso foram realizadas cinco paradas, onde foi rezado por realidades que provocam sofrimento e morte: pelos doentes, pela saúde de todos e o fim da pandemia; pelos povos indígenas, comunidades tradicionais e as questões ambientais; pelos que sofrem por conta das enchentes; pelos empobrecidos, desempregados e os que passam fome; pela vida comunitária nas Paróquias e Áreas Missionárias. Um pequeno grupo, acompanhou Jesus sacramentado, indo ao encontro da realidade, muito marcada nos últimos dias pela maior enchente que Manaus já conheceu desde que este fenômeno é controlado na cidade. Um Jesus que percorreu as marombas instaladas no centro de uma cidade muito castigada no último ano, pela pandemia, pela fome, pela falta de emprego e moradia e agora pela água que provoca estragos na vida da população, especialmente dos ribeirinhos, que sofrem com a inundação de suas casas e lavouras. Com mais de 465 mil mortos no país, foi pedido pelo fim da pandemia, lembrando os profissionais da saúde e aqueles que cuidam dos doentes onde quer que estejam. Também foi pedido maior responsabilidade dos governantes na contenção da pandemia. A oração também lembrou daqueles que derramaram seu sangue, “banhando as terras amazônicas, pelo bem de seus habitantes e do território”. Foi pedido que as vidas dos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, “sejam dignificadas pelo reconhecimento, valorização de suas culturas”, mas também “pela garantia e promoção de seus direitos fundamentais”. Junto com isso, era solicitada “consciência e respeito para com o meio ambiente”.   400 mil pessoas sofrem por conta das enchentes no Estado do Amazonas, consequência dos desastres ambientais e das mudanças climáticas. Diante disso, se implorava a Deus, que olhe “com compaixão pelo nosso povo sofrido por conta das consequências das enchentes”, pedindo aos governantes, “sabedoria, criatividade, zelo e responsabilidade”, para promover o saneamento básico e o cuidado com os igarapés e rios, por “políticas públicas consistentes e por menos ações interventivas paliativas”. O sofrimento, a marginalização, o desemprego estão cada vez mais presentes no Brasil. Por isso, a necessidade de “dirigir o olhar, a fim de escutar os seus clamores, reconhecer suas necessidades, saciar sua fome e socorrê-los a partir do amor que Jesus nos ensinou”. Se faz indispensável, “instituir uma economia que almeje o bem comum, ao invés das tiranas leis de mercado que apenas visam o lucro”. Também foi lembrado, tendo o olhar nas paróquias e áreas missionárias da Arquidiocese, a necessidade de entender que “evangelizar implica comprometer-se com nossos irmãos e irmãs, melhorar a vida comunitária, e assim tornar o Reino de Deus presente no mundo, promovendo por e para todo o mundo não uma caridade por receita, senão um verdadeiro desenvolvimento humano integral, para todas as pessoas e para a pessoa toda”. Por isso era pedido a ajuda de Deus para “fortalecermos nossas comunidades e nossa vivência comunitária”, superando o egoísmo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1