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Dia: 7 de junho de 2021

Ministros da Eucaristia Ticuna e Kokama, um passo a mais numa Igreja com rosto indígena

Uma das propostas do Sínodo para a Amazônia foi a criação de uma Igreja com rosto indígena. A Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), criada em junho de 2020, tem esse como um dos seus objetivos, motivando a reflexão sobre o rito amazônico. A igreja de Belém do Solimões acolhia no último domingo, 6 de junho, uma celebração onde 11 indígenas dos povos ticuna e kokama, 7 homens e 4 mulheres, foram instituídos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística. A celebração, presidida pelo bispo de Alto Solimões, foi concelebrada pelo pároco, frei Paulo Maria Braghini, e contou com a presença dos diáconos Frei Marcos Marlan, ordenado recentemente, e Antelmo Pereira Ângelo, o primeiro diácono permanente do povo ticuna, ordenado em março de 2020. Dom Adolfo Zon destacou a importância dos ministérios e serviços para o crescimento da comunidade. Em referência ao ministério extraordinário da comunhão eucarística, o bispo local disse que “consiste não somente num serviço na hora da distribuição da comunhão eucarística, mas uma presença eucarística junto àqueles que se encontram impedidos por diversas dificuldades (grandes distâncias, doença, etc…), e deste jeito ter acesso à comunhão sacramental”. Os novos ministros vão possibilitar que nas comunidades onde eles atuam, durante a Celebração Dominical da Palavra, possa ser distribuída a comunhão eucarística. 9 ministros irão atuar nas comunidades da paróquia de São Francisco de Assis de Belém do Solimões, um na comunidade Cidade Nova da Paróquia de Benjamin Constant e um na Comunidade de Umariaçu I da paroquia de Tabatinga. Trata-se de um passo a mais na inculturação dos ministérios nas comunidades indígenas da diocese da Alto Solimões. Esse é um trabalho que se vem realizando desde há vários anos e que faz possível que cada comunidade conte com os ministérios e serviços necessários para o seu crescimento. Iniciou-se formando os Catequistas e os Ministros da Palavra para as comunidades e agora se está formando e conferindo o ministério extraordinário da Eucaristia. Além da instituição do ministério extraordinário da Comunhão Eucarística, Dom Adolfo Zon administrou o Sacramento da Confirmação a 6 indígenas do povo Kokama, que fizeram o itinerário da Iniciação a Vida Cristã ajudados pela equipe de formação da paróquia composta pelos freis capuchinhos e a missionária da Imaculada Ir Dora Scorpione. Aos poucos, vai se amadurecendo uma Igreja com rosto amazônico. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Uma Igreja samaritana que chega nos recantos mais afastados

A fome tem se tornado uma realidade cada vez mais presente na vida do povo brasileiro, também na Amazônia. A pandemia da Covid-19 tem provocado que outras pandemias, muitas vezes ocultas, apareçam de forma explícita. O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem sido uma das regiões mais atingidas em número de óbitos provocados pela pandemia. Até 31 de maio, segundo dados coletados pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o número de casos era de 447.733, com 14.112 mortes, números muito elevados se levarmos em conta que a população é em torno de 4,5 milhões. A situação mais trágica no Regional foi vivida com o início da segunda onda, o que fez com que no dia 15 de janeiro, diante da crise de saúde pública vivida pelo Estado do Amazonas, e da situação delicada pela qual também passava o Estado de Roraima, o Regional Norte 1 da CNBB, que cobre os dois Estados, lançou a “Campanha Amazonas e Roraima contam com a sua Solidariedade”. Isso despertou uma grande solidariedade em nível brasileiro e mundial, até o Papa Francisco enviou um donativo. Com as abundantes doações foram adquiridos, segundo informa Francisco Lima, secretário executivo do Regional Norte 1, materiais de saúde (cilindros de oxigênio, BIPAPs, concentradores de oxigênio, oxímetros, EPIs…) que foram doados aos hospitais da região. Uma vez superado o pico da segunda onda, logo veio também a necessidade de ajudar na segurança alimentar. Junto com a crise da Covid-19, o Estado do Amazonas está passando por uma grande enchente nos últimos dias, que atinge 400 mil pessoas, a maior já registrada desde 1902, ano em que começou a ser medido o nível do Rio Negro em Manaus. Os Bispos do Regional, sempre atentos a esta realidade, foram buscando alternativas para amenizar o sofrimento das comunidades. Assim novas doações foram chegando. A Conferência Episcopal Italiana enviou uma ajuda, através da Arquidiocese de Manaus, que foi dividida entre todas as dioceses e prelazias do Regional. Essa importante doação está permitindo atender as famílias mais vulneráveis com cestas básicas, assim como outras ações no campo da saúde. A CNBB também enviou uma ajuda do Fundo Nacional de Solidariedade, o que possibilitou através das Pastorais Sociais, o atendendo famílias com cestas básicas e material de higiene e limpeza. Segundo seu secretário executivo, “o Regional continua atento às necessidades das nossas Igrejas Particulares no cuidado com a vida”. Um exemplo disso, como sucede em outras dioceses e prelazias, é o trabalho que está sendo realizado na diocese de Alto Solimões, que está encerrando a primeira remessa das cestas básicas que estão sendo distribuídas com a ajuda do Regional Norte 1. A previsão é de realizar três remessas, segundo Dom Adolfo Zon, bispo diocesano. Até o momento foram distribuídas 675 cestas básicas nos 7 municípios que fazem parte da diocese. As ajudas estão chegando nas cidades e nas comunidades indígenas e ribeirinhas. Dom Adolfo, em nome da diocese de Alto Solimões, agradece a solidariedade da Igreja do Regional e da Arquidiocese de Manaus. Segundo o bispo é de grande importância “a proximidade e solidariedade com nosso povo neste tempo de grande necessidade provocada pela pandemia”. O bispo de Alto Solimões destaca o empenho em “ir ao encontro das pessoas que não conseguem satisfazer sus necessidades básicas de subsistência”. Mais uma vez, estamos diante de um exemplo de “uma Igreja samaritana que chega nos recantos mais afastados”, segundo Dom Adolfo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

“Não tenhamos medo destes que falam mal da Igreja, dos que colocam-se a serviço da vida, da verdade e da paz”. Homilia de Dom Ionilton

Tendo como ponto de partida a pergunta do Senhor a Adão, quando ele diz: “onde estás?”, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da prelazia de Itacoatiara refletia na homilia deste 10º domingo do Tempo Comum. Dom Ionilton trazia essa pergunta para a vida de cada um, colocando diferentes respostas: “Em casa com a família, no trabalho, na Igreja, contemplando a natureza, ajudando alguém que precisa, participando de uma atividade de conquista de direitos? Ou fazendo aglomeração, sujando as ruas e as águas, derrubando árvores, desrespeitando as leis de trânsito, enviando fake News?”. O bispo advertia sobre o jogo de empurra entre Adão, Eva e a serpente, levando a refletir sobre “como isto se repete na história; como é difícil a gente assumir nosso erro; como faz parte de nossa natureza transferir a responsabilidade do que não deu certo para outras pessoas”. Esse pensamento o levava a denunciar que “no caso da epidemia da Covid-19, a CPI tem mostrado como tem depoentes e senadores que não aceitam que houve um erro do governo em não criar um projeto estratégico de combate à expansão do vírus, que houve um incentivo para se usar medicações que não serviam para combater o vírus, que não se acreditou na importância da vacina e por isto houve uma omissão na compra dela”. Em suas palavras, Dom Ionilton insistia em “como se transferiu a crise gerada pelo vírus para os prefeitos e governadores que acreditaram na ciência e implantaram o sistema de isolamento social, de uso de máscaras, de higienização das mãos; a culpa é de Deus, afirmando-se que o vírus é um castigo dele; a culpa é da China que inventou o vírus para o comunismo dominar o mundo”. Diante disso se perguntava: “somos capazes de assumir nossos erros? Ou procuramos jogar a culpa nos outros?” Segundo o bispo da prelazia de Itacoatiara, “no Brasil temos um mal costume quando se troca os governantes no nível federal, estadual e municipal, passarmos meses e até anos jogando a culpa nos governantes anteriores e não assumimos nossa missão, aquela que eu me ofereci para exercer, concorrendo a uma eleição”. Inclusive, segundo ele, essa é uma realidade também presente na Igreja. À luz da passagem do Evangelho, o bispo se questionava sobre a prática da acolhida, da escuta, da solidariedade/caridade. Junto com isso, diante das acusações contra Jesus, ele lembrava “quantos cristãos e cristãs na história da Igreja foram e são acusados das coisas mais absurdas por causa de sua fidelidade a Jesus e ao Evangelho”, algo que segundo Dom Ionilton também sofre o Papa Francisco, “acusado de comunista somente porque vive e ensina o amor aos pobres e a defesa da natureza, nossa casa comum”, ou a CNBB porque “nos ensina a viver a opção preferencial evangélica pelos pobres e a trabalharmos para que possa surgir uma sociedade justa e solidária”. Inclusive, o bispo lembrava de situações acontecidas na prelazia de Itacoatiara, onde “os Missionários de Scarboro foram acusados de insufladores do povo, porque ajudavam o povo a se organizar para conquistar os seus direitos e defender suas terras, seus rios e seus peixes”. Diante disso afirmava: “Não tenhamos medo destes que falam mal da Igreja, falam mal dos que movidos pela fé e pelo seguimento de Jesus, colocam-se a serviço da vida, da verdade e da paz”. Finalmente, Dom Ionilton convidava a refletir sobre nossas atitudes de condena “antes de se aceitar ou fazer uma acusação contra qualquer pessoa que faz o bem, serve aos pobres, defende a vida e o meio ambiente, fala profeticamente contra as injustiças e os crimes”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1