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Dia: 22 de junho de 2021

Agenor Brighenti: o Sínodo “vai exigir que a gente repense as estruturas da Igreja”

O Sínodo sobre a sinodalidade se apresenta como “uma experiência única para a Igreja como um todo”, segundo Agenor Brighenti. O teólogo brasileiro foi nomeado recentemente membro da Comissão teológica do Sínodo, um serviço que ele diz acolher com muita alegria. O exercício da sinodalidade tem sido uma dificuldade na Igreja pós-conciliar, e “o Papa Francisco, ele está dando passos muito decisivos e consequentes na implementação dessa sinodalidade”, segundo Agenor. Na entrevista ele vai refletindo sobre os passos dados e as dificuldades enfrentadas na vivência da sinodalidade na América Latina. A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, um claro exemplo de sinodalidade, é vista pelo teólogo como um bom aprendizado para o próximo Sínodo. As consequências desse Sínodo, “vai depender muito do processo de escuta”, segundo o padre Brighenti. Na medida em que “escuta o clamor, as demandas, os desafios, a Igreja também se converte à realidade, que a gente abre a possiblidade de uma conversão aos ideais do Evangelho”. Tudo isso “vai exigir que a gente repense as estruturas da Igreja”. Acaba de ser nomeado membro da Comissão teológica do Sínodo sobre a Sinodalidade. O que representa essa nomeação em seu trabalho como teólogo? É um serviço que a gente acolhe com muita alegria, a pesar do grande desafio e das dificuldades que se vá encontrar, mas é um momento único na Igreja. A gente nunca tinha pensado que a sinolalidade pudesse ser uma realidade estrutural, porque vai ter um momento nas igrejas locais. A partir dali vai ter um momento continental, nos cinco continentes, para desembocar numa assembleia geral. Nós podemos dizer que vai ser uma experiência única para a Igreja como um todo, porque nós teremos o Sínodo dos Bispos naquela perspectiva da Constituição Episcopalis Communio, que quer fazer da assembleia do Sínodo uma assembleia do Povo de Deus, onde a Igreja se configura como uma Igreja de igrejas, uma comunhão de igrejas locais. A sinodalidade, ela é expressiva realmente quando ela é expressão da voz do Povo de Deus a través das Igrejas locais. É um fato inusitado de Francisco que a gente acolhe com muita alegria e que a gente vai tentar colaborar na medida do possível. Fala sobre sinodalidade como uma dimensão estrutural da Igreja, que na verdade não é algo novo e sim uma proposta que surgiu do Concilio Vaticano II. Por que aconteceram tantas dificuldades para só depois de quase 60 anos assumir essa dimensão estruturante que o Concilio marcava como um elemento fundamental? Nós estamos num processo de recepção do Concilio Vaticano II, que é um processo de renovação da Igreja em grandes proporções, e um dos aspectos em que se teve grande dificuldade de avançar foi justamente no exercício da sinodalidade. Como fazer que o “sensus fidei” pudesse ser expressão da Igreja como um todo, desde as igrejas locais, as instâncias intermediárias, como são as conferências episcopais nacionais e continentais, e sobretudo a questão da Cúria Romana. O Papa Francisco, ele está dando passos muito decisivos e consequentes na implementação dessa sinodalidade, que teologicamente já está na reflexão do Vaticano II, mas que do ponto de vista da sua operacionalidade, se caminhou muito pouco. O grande desafio era situar a episcopalidade ou a colegialidade episcopal no seio da sinodalidade eclesial. Sempre foi algo difícil na Igreja isso, situar o bispo como membro do Povo de Deus, não como condutor do Povo de Deus, não como mestre do Povo de Deus, não como alguém que comanda o Povo de Deus, mas como membro do Povo de Deus. Aparecida, e isso é muito interessante nesse sentido, ela situa os bispos como membros do Povo de Deus, e Francisco, ele tem insistido que os bispos não podem ser uma espécie de elite na Igreja, eles precisam ser inseridos dentro do Povo de Deus. Mesmo quando há um organismo como uma conferência episcopal ou como um sínodo, que é de bispos, ele não pode ser expressão simplesmente de um setor da Igreja. Se há uma reunião de um segmento da Igreja, ele deve ser porta voz de todo esse sentir comum do Povo de Deus. Nesse sentido, na atualidade, a renovação do Vaticano II dá um passo substancial, como vai ser também a reforma da Cúria, como vai se pensar, certamente, o estatuto das conferências episcopais nacionais, para que sejam expressão de uma assembleia eclesial e não simplesmente de bispos. Como se vai repensar também certamente o papel do bispo nas dioceses, por que canonicamente os bispos, dentro da Igreja local, eles são muito pouco sinodais do ponto de vista do Direito Canónico, tanto que conselhos e assembleias são facultativos. Certamente, com esse sínodo vai se sentir necessidade de fazer com que esses organismos de comunhão, que hoje na Igreja existem mais ou menos funcionando, mas que eles precisam ser não facultativos, mas obrigatórios. Como a Igreja vai ser Povo de Deus, sinodal, o Povo de Deus vai exercer o “sensus fidei” se não há organismos estáveis que assegurem essa participação efetiva de todos no discernimento e na tomada de decisões daquilo que é relativo à vida pastoral. Mesmo aos trancos e barrancos, a gente pode dizer que América Latina tem sido o continente onde tem se realizado maiores esforços nessa tentativa de viver a sinodalidade. O que pode aportar a Igreja da América Latina e do Caribe ao próximo Sínodo sobre a Sinodalidade? A Igreja na América Latina, ela tem sido muito pioneira em muitos aspectos da recepção do Vaticano II, tanto que se diz que aqui houve uma recepção criativa do Concilio. Não no sentido de simplesmente repetir ou implementar a letra de um texto, mas aqui se fez uma recepção dentro do nosso contexto latino-americano. Por exemplo, categorias como nova evangelização, conversão pastoral, e essa renovação com relação a organismos eclesiais mais de comunhão e participação e mais sinodais, tem sido também a Igreja da América Latina uma pioneira. Medellín, enquanto conferência continental, já tinha havido em 1955 em Rio de Janeiro, são conferências pioneiras. Que um continente…
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Corpo de Dom Alcimar chega em Tabatinga a será sepultado na quarta-feira

Após as homenagens em Manaus, onde foi velado na Igreja de São Sebastião, o corpo de Dom Alcimar Caldas Magalhães, bispo emérito da diocese de Alto Solimões, chegou na manhã desta terça-feira, 22 de junho, no aeroporto Internacional de Tabatinga, onde foi recebido pelo bispo local, Dom Adolfo Zon, e representantes da diocese e da sociedade civil. Em Manaus, na Igreja de São Sebastião foram celebradas duas missas, uma presidida por Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e outra concelebrada por Dom José Albuquerque, bispo auxiliar de Manaus, Dom Gutemberg Regis Freire, bispo emértio de Coari, e Dom Mário Pasqualotto, bispo auxiliar emérito de Manaus. Nas duas teve a presença dos freis capuchinhos e dos familiares e amigo se de Dom Alcimar.  Acompanhando o corpo do bispo falecido viajou Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, Frei Carlo Maria Chistolini, custódio dos Capuchinhos do Amazonas e Roraima, alguns freis capuchinhos e familiares de Dom Alcimar. Após as homenagens da banda de música do CFSol 8º.bis, e a carreata pelas ruas da cidade, o corpo do bispo chegou na catedral do Perpétuo Socorro, onde será velado até seu sepultamento na tarde da quarta-feira. A vida religiosa, o clero, as comunidades e pastorais da diocese, têm organizado momentos de oração e serão celebradas três missas para evitar aglomerações. Num comunicado, o bispo local pede aos fiéis “que participem das celebrações conforme a programação para não juntar muitas pessoas na celebração de quarta-feira às 16:00hs”. O comunicado também diz que “durante á tarde do dia 22 e durante a manhã do dia 23 fica disponível para as diversas homenagens que queiram realizar em honra ao nosso bispo emérito Dom Alcimar Caldas Magalhães OFMCap”. Dom Adolfo Zon, que recebeu uma mensagem de condolências do Papa Francisco nesta segunda-feira pelo falecimento de Dom Alcimar Caldas Magalhães, lembra no comunicado que “ainda estamos em tempo de pandemia, e seguiremos os protocolos de segurança orientados pela ANVISA (uso obrigatório de máscara, álcool em gel, distanciamento social)”. Finalmente, ele pede “que todos possam participar com espirito de gratidão, sustentados pela graça de Deus, e fortalecidos em nossa fé”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Leonardo: “Queremos recordar a irresponsabilidade das autoridades no cuidado do tempo pandêmico”

A Arquidiocese de Manaus, como tem acontecido nos últimos dias em muitas Igrejas do Brasil, realizou nesta segunda-feira um momento celebrativo de memória e Justiça, 500 velas por 500 mil vidas ceifadas. Com os últimos raios de sol começou uma celebração onde foi lembrado que cada pessoa é uma história, uma rede de relações, uma fonte de muitas lembranças. Como foi enfatizado nos primeiros momentos do ato, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o nome “Toda Vida importa”, nossa dor é coletiva, insistindo em que a solidariedade supera o isolamento. No ato, presidido por Dom Leonardo Steiner, estavam presentes algumas lideranças da diocese, padres, vida religiosa, leigos e leigas das paróquias, áreas missionárias, pastorais e movimentos que fazem parte da vida da arquidiocese de Manaus. Segundo o arcebispo, foi “um momento celebrativo de grande significação, pois desejamos fazer memória”. Ele insistiu em que “memória não é apenas recordar, memória é guardar, é trazer a luz”, tanto “o caminho da nossa sociedade, mas também o caminho da nossa Igreja”. Mas o arcebispo de Manaus também enfatizou que aquele era “um momento também de justiça, justiça porque quando falarmos de justiça estamos falando daquilo que é equânime, aquilo que pertence a todos”. Segundo Dom Leonardo, “neste momento, a dor pertence a todos nós, a separação pertence a todos nós, a morte está pertencendo a todos nós, porque nós os vivos desejamos recordar os mortos”. Mas também, é justiça “porque neste momento queremos recordar a irresponsabilidade das autoridades no cuidado do tempo pandêmico”. Segundo Dom Leonardo, “queremos fazer deste momento luz”. Acender 500 velas diante da Catedral, que o arcebispo lembrava que é “nossa Igreja mãe da arquidiocese de Manaus”, quis simbolizar a presença de todos aqueles que vieram a óbito em Manaus, na arquidiocese, mas também no Estado do Amazonas, donde o número de falecidos já supera os 13.200, e no Brasil. Refletindo sobre as mortes provocadas pela pandemia, o arcebispo afirmava que “a partir da fé, nós sabemos que participamos de uma mesma comunhão, de uma mesma vida. Eles nos acompanhem e nos ajudem a trilhar os passos, a fazer o caminho neste tempo de pandemia”. Por isso ele insistia em “que cada vela acessa seja um pequeno sinal da nossa esperança, esperança de um Brasil melhor, esperança de que nós estamos dispostos a lutar, esperança de um Brasil mais justo, esperança de um Brasil onde todas as pessoas tenham mais oportunidade”. E junto com isso pedia “que este momento celebrativo, de justiça e de memória, nos ajude a sermos pessoas ativas na nossa sociedade e também na nossa Igreja”. Durante o ato foram lidos nomes de pessoas falecidas diante da falta de assistência, de oxigênio, de uma coordenação nacional de medidas sanitárias. Pessoas conhecidas, dado que como foi lembrado “em Manaus vivemos os piores dias das nossas vidas, nos picos da primeira e da segunda onda”. Por isso foi denunciado que “nós amazonenses não somos cobaias, merecemos respeito”. A partir daí, mais uma vez, como sempre tem feito a Igreja de Manaus, foi reforçado o chamado a todos a se vacinar. Não podemos esquecer que nosso Deus é um Deus da Vida, toda vida importa. Somos desafiados a apontar soluções, apontar caminhos a serem seguidos para superar essa catástrofe, como foi sublinhado no ato. Também se insistiu no papel fundamental da CPI no Senado para buscar responsáveis pela catástrofe. Num estado que foi laboratório, segundo foi lembrado, há a necessidade de os políticos fazer seu trabalho fiscalizatório para que as vidas que se foram não sejam em vão. Também foi pedido pelos profissionais da saúde, verdadeiros heróis neste tempo de pandemia. Após rezar juntos a oração elaborada pela CNBB para este momento, Dom Leonardo Steiner destacava a necessidade de “continuar muito unidos e muito solidários para podermos continuar a enfrentar este tempo pandémico, mas também para podermos enfrentar este momento em que temos que exigir das autoridades maior cuidado e maior entrega de vacinas”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1