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Dia: 28 de junho de 2021

CEAMA e REPAM refletem sobre o Processo de Escuta, que “deve ser mútuo, recíproco e transformador”

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) convocaram esta segunda-feira, 28 de junho, um seminário virtual no qual, no âmbito do processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, pretendiam dar passos nesta caminhada continental a partir de uma perspectiva amazônica. Mediado por Daniela Cannavina, secretária geral da Confederação Latino-americana de Religiosos (CLAR), contou com a presença de Patrícia Gualinga, do Cardeal Pedro Barreto, Francisco Lima, Mauricio López e Francisco Campos. Queria ser um momento para “exercitarmo-nos na arte de escutar, que é muito mais do que ouvir”, de acordo com a secretária da CLAR. Segundo a religiosa, “a escuta ajuda-nos a encontrar o gesto e a palavra oportuna, que nos separa da condição dos espectadores, ajudando-nos a desenvolver o melhor que Deus desenvolveu na nossa própria vida“. O Cardeal Pedro Barreto partiu da ideia de que “quando falamos de uma Igreja com um rosto amazónico, estamos falando de elementos fundamentais da Igreja, porque estamos falando do cuidado da vida, das culturas e da casa comum”. O cardeal peruano referiu-se aos sonhos do Papa Francisco na Querida Amazónia e à sinodalidade, que “não é uma invenção do Papa Francisco, mas um regresso às origens“. O presidente da REPAM recordou as palavras do Papa Francisco nas quais diz que “a sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja para o terceiro milénio”, algo que é desenvolvido na Episcopalis Communio. O Arcebispo de Huancayo, insistiu na necessidade de difundir a ideia de sinodalidade, de descobrir a importância do “sensus fidei”. Segundo o Cardeal, “a sinodalidade faz parte da experiência de um Povo de Deus caminhando na história“, que ele definiu como “um processo de escuta de Deus, de discernimento e de atuação como o Povo de Deus a caminho”. Nas suas palavras, mostrou a sua alegria por ser a Amazónia e os seus povos a ajudar a Igreja a pôr-se a caminho. Depois de mostrar a importância de estarmos conscientes de que estamos no processo de escuta, salientou que “com a Assembleia Eclesial estamos perante um elemento fundamental para o processo de reforma da Igreja Católica“, uma Igreja que escuta e que é um passo prévio para o momento mais importante, que será o Sínodo sobre a Sinodalidade. Finalmente, insistiu que “todos temos de ser atores na Igreja, não há espectadores”.  “Com o Sínodo, a Igreja deixou claro de que lado está, do lado dos mais fracos, dos mais distantes, daqueles de nós que estão no território“, afirmou Patrícia Gualinga, que insistiu que “isto tem sido o fruto da escuta dos sentimentos das comunidades”. A líder indígena insistiu na necessidade de ter um impacto noutros espaços eclesiais, de nos ouvir, também fora da Amazônia. Para Patrícia, “tudo tem de ir na chave da interculturalidade, o que leva à compreensão das expressões positivas, que podem ser uma contribuição num mundo caótico”, algo que tem de ser uma realidade em unidade. A representante dos povos indígenas na Conferência Eclesial da Amazónia (Ceama), sublinhou que este espaço de escuta nos dá muita esperança, “é uma relação de aliados, deixando para trás as imposições do passado, para construir um presente que pode contribuir dentro do mundo espiritual”. Para a indígenaa Kichwa de Sarayaku, “Deus esteve sempre presente no pensamento espiritual dos povos indígenas, que tem de ser acoplado pela Igreja a partir de chaves interculturais”. Ela mostrou a sua confiança no Espírito para que outros espaços possam ser criados na Amazônia, onde a caminhada como irmãos e irmãs é algo presente na vida da Igreja. Ao falar sobre o contexto da Amazônia no Brasil, Francisco Lima insistia em que “a vida da Amazônia está constantemente ameaçada”, uma realidade que intensificou com o atual governo, que age “sem nenhum respeito aos povos amazônicos, que veem reduzidos ou retirados seus direitos conquistados a duras penas”. Na Amazônia, “a Igreja Católica tem procurado estar sempre com um olhar atento a esta realidade”, segundo o secretário executivo da CNBB Norte 1. Ele destaca que “a Igreja da Amazônia foi buscando seu rosto próprio, deu ênfase na formação do clero autóctone, mas também procurou trabalhar a formação das milhares de lideranças leigas espalhadas por tantas comunidades nesta imensa Amazônia”, relatando o trabalho que vem sendo feito. Francisco Lima destacou o ânimo dado pelo Papa Francisco neste caminho desde a Conferência de Aparecida, insistindo na necessidade da presença da Igreja na região. Ele lembrava os caminhos indicados pela Laudato Sí, e convocava o Sínodo para a Amazônia, um chamado a buscar “novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”, que “nos abriu novas possibilidades, reafirmou alguns caminhos já trilhados, mais que precisa ser fortalecido, e exigiu de nós muito mais ousadia”. Estamos diante de um processo que tem fortalecido as comunidades, que tem dado espaço para que as comunidades possam ser escutadas. Também destacava que isso possibilita ecoar a voz dos povos da Amazônia para fora da Amazônia. Francisco Lima chamava a aproveitar este tempo para afirmar que “somos todos Povo de Deus, e que devemos estar em comunhão”. “A escuta deve ser mútua, recíproca e transformadora“, insistiu Mauricio Lopez, uma escuta que “se transforma em reformas e mudanças, como tem acontecido na Amazônia desde o Sínodo. Para o diretor do Centro de Ação Pastoral e Redes do Celam, “escutar, no sentido do discernimento da vontade de Deus, produz mudanças, que esperamos sejam irreversíveis na lógica do Povo de Deus”. Maurício vê a escuta como uma forma de alcançar as periferias geográficas e existenciais, o maior número de pessoas possível. Daí pediu à REPAM que continuasse sendo essa ponte para aqueles que nunca foram ouvidos, ainda mais numa situação que mudou em resultado da pandemia de Covid-19. Segundo Maurício Lopez, que conhece a realidade amazónica a partir do seu trabalho como secretário executivo da REPAM, “os povos indígenas sempre pediram coerência e mudanças fundamentais, para poderem agir, algo que é a Assembleia Eclesial, que quer tornar-se uma porta aberta para aspirar a uma Igreja mais sinodal, algo nascido no…
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Dom Ionilton: “Deus não quer a morte dos 510 mil brasileiros e brasileiras que perderam a vida por causa da Covid”

“Deus não quer a morte dos 510 mil brasileiros e brasileiras que perderam a vida por causa da Covid”. As palavras de Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo de Itacoatira na homilia deste domingo, 13º do Tempo Comum, são uma atualização do texto do Livro da Sabedoria na primeira leitura da Liturgia da Palavra: “Deus não fez a morte e nem tem prazer com a destruição dos vivos”. O bispo criticou algumas expressões proferidas desde o início da pandemia, dizendo que “com certeza nosso Deus não disse, não diz e nem dirá: e daí? é uma grepezinha, brasileiro é atleta, todo mundo vai morrer mesmo…”, insistindo em que “quem se alegra com a morte das pessoas, quem podia ter ajudado a não ter tantas mortes e nada fez, não está em comunhão com Deus, é um ateu prático, perdeu a sua humanidade, colabora com a ‘inveja do diabo’, por quem a morte entrou no mundo”. As palavras do salmo “Salvastes-me quando estava já morrendo”, são vistas pelo bispo como “a nossa oração por quem já foi vacinado as duas doses e até com uma dose”. Dom Ionilton pede que “hoje possamos dar graças a Deus pela inteligência dada aos cientistas que descobriram a vacina que nos salva da morte”, e junto com isso que “rendamos graças ao Senhor pelos profissionais da saúde, que bravamente e muitas vezes sem os recursos adequados, empenham-se para salvar vidas”. O bispo da Prelazia de Itacoatiara, seguindo as palavras da segunda carta aos Coríntios, faz um apelo para desejar enquanto cristãos, “que haja igualdade: que todas as pessoas sejam tratadas da mesma forma, tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres”. Essa igualdade se concretiza em “terra, moradia, trabalho, salário, previdência social, aposentadoria, saúde, vacina, educação, saneamento”, afirma o bispo, insistindo em que “a igualdade, derruba a acumulação e faz acontecer a partilha”. Ao elo das palavras do Evangelho de Marcos, Dom Ionilton se perguntava: “quem são os Jairos de hoje que nos procuram e gritam pedindo socorro, ajuda?” Ele mesmo respondia identificando-os com “os que passam fome, os atingidos pelas enchentes, os enfermos e seus familiares, quem perdeu algum ente querido atingido pela Covid, os desempregados, pessoas e famílias marcadas por alguma dependência, as mulheres que sofrem violência doméstica, os povos indígenas ameaçados de perderem suas terras e territórios por causa de leis aprovadas no Congresso Nacional…”. Vendo como Jesus acompanhou Jairo, Dom Ionilton perguntou: “E nós fazemos como Jesus, acompanhamos quem nos procura e buscamos ajudar a diminuir seus sofrimentos? O que temos feito pelos pobres, excluídos e marginalizados? Temos apoiado e participado de alguma Pastoral Social, da Caritas, da Rede um Grito pela Vida? Temos feito alguma doação em alimento ou água para a Caritas (Puxirum pela Vida) ou para a CPT?”. Também refletia sobre o outro personagem que aparece na passagem do Evangelho, “uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia”. O bispo da Prelazia de Itacoatiara a identificou seu sofrimento com “o drama que muitos de nós já vivemos: a crise na saúde pela falta de compromisso do governo; a medicina apenas como fonte de riqueza; a espera pela vacina que demora de chegar…”. Diante disso, mais uma vez perguntou, “Quais ‘meninas’ esperam ouvir de nós este convite para levantar-se?”, e junto com isso, fazia um chamado a obedecer ao mandato de Jesus e “dar de comer a quem está com fome”, lembrando que isso pode ser realizado através da Campanha Puxirum pela Vida. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1