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Dia: 20 de setembro de 2021

Caderno de Conflitos na Amazônia: Trazer a verdade do que acontece no campo

Os conflitos no campo têm se tornado causa de violência e morte no Brasil, especialmente na região amazônica, foco principal desses conflitos. Já se tornou costume que a Comissão Pastoral da Terra (CPT), elabore o Caderno de Conflitos, que nesta segunda-feira, 20 de setembro, foi lançado no Seminário São José de Manaus, focando na realidade da Amazônia, que concentrou o 62,4% dos conflitos por terra em 2020. Tem sido momento para fazer memória daqueles que tem construído a história da CPT, daqueles que doaram e doam sua vida na defesa dos mais pobres, segundo lembrava Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira. O presidente da CPT denunciava que são violências que ficam escondidas, que não são divulgadas pela grande imprensa, também não pela mídia de inspiração católica. O bispo da Prelazia de Itacoatiara lembrou a importância que tem os dados recolhidos no Caderno de Conflitos como fonte de pesquisa de muitos estudiosos, mostrando vários exemplos disso. Dom Leonardo Steiner destacou que o Caderno de Conflitos é “uma maneira de guardar a memória do conflito, das mortes, mas também trazer sempre de novo a verdade do que acontece no campo”. Segundo o arcebispo de Manaus, “o que acontece por trás das mortes e dos conflitos, existem sempre interesses, que não são interesses justos, são interesses apenas econômicos e que vão lançando as pessoas numa situação cada vez mais difícil”. Dom Leonardo lembrou que “a CPT tem sido uma presença pacificadora, mas também uma presença denunciadora, uma presença profética, uma presença do direito que as pessoas tem, e o direito de ter uma vida digna”. O arcebispo fez um chamado a que “nós possamos sempre caminhar, com coragem e esperança, sem nos desanimar demais”. Ele afirmou que “a pesar do conflito ter crescido muito, e estarmos em uma situação política difícil, não podemos perder a esperança”. A CPT e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), segundo lembrou Dom Edson Damian, nasceram na Ditadura, sempre andaram demãos dadas e sempre mantiveram a sua postura profética. São duas pastorais que “nasceram para defender os mais pobres, os mais massacrados do nosso país, os povos indígenas e os trabalhadores do campo”, segundo o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, que mostrou seu apoio ao trabalho da CPT. O coordenador de pastoral da Arquidiocese de Manaus denunciou a impunidade no Brasil, que é grande, também naquilo que faz referência à questão da terra, e que tem provocado a instalação de políticas de morte. O padre Geraldo Bendaham destacou a importância de a apresentação do Caderno de Conflitos acontecer lá onde são formados os futuros presbíteros do Regional Norte 1, e que eles tenham sensibilidade para perceber as dores da Amazônia e de seus povos. Finalmente, ele insistiu em manter a alegria que nos leva a não desistir da luta. O deputado federal José Ricardo Wendling ressaltou a importância do Caderno de Conflitos como fonte de pesquisa, inclusive para muitos parlamentares na Câmara dos Deputados em Brasília. O deputado, que faz parte do Conselho de Leigos da Arquidiocese de Manaus, destacou a importância das políticas públicas para garantir direitos em todos os campos. Ele denunciou alguns projetos no Congresso Nacional, tramitados com grande rapidez, que visam a retirada de direitos dos povos tradicionais e os indígenas. A Amazônia é uma região com grande quantidade de terra em disputa, segundo relatou Zezinho Iborra, da Articulação da CPT na Amazônia. Os indígenas e as comunidades tradicionais são os mais atingidos por esses projetos, consequência do avanço da fronteira agrícola. Quem provoca mais conflitos é o Governo Federal, os fazendeiros e os grileiros. São conflitos que tem atrás questões antropológicas, segundo Willas Dias, quem destacou a importância de que o mundo possa olhar para a Amazônia como caminho para resolver os conflitos que estão acontecendo. São conflitos presentes na Amazônia, em todos os cantos, como foi testemunhado em exemplos concretos: no Rio Abacaxis, em Parintins, Lábrea, Itacoatiara, Rio Preto da Eva, Careiro, que mostram as ameaças que sofrem os povos e um bioma cada vez mais decisivo para garantir o futuro do Brasil e do Planeta. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dom Ionilton: “O caminho de nossa fé cristã, passa, necessariamente, pelo serviço”

Uma história que se repete, assim pode ser vista a Palavra de Deus, segundo lembrava Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira na homilia do 25º Domingo do Tempo Comum, ao comentar o texto do Livro da Sabedoria, onde diz: “Os ímpios dizem: Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda”. Segundo o bispo da Prelazia de Itacoatiara, “alguém que trabalha pelo bem comum, pela justiça, pela paz, pela defesa da natureza, pela defesa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos, dos pobres, excluídos, marginalizados, incomoda e se arquitetam planos para fazerem calar quem age assim”. Uma situação relatada no Salmo: “Contra mim orgulhosos se insurgem e violentos perseguem-me a vida”. Dom Ionilton lembrava “quantos cristãos e cristãs, lideranças de comunidades, pastorais, organismos, movimentos populares, ONGs, Sindicatos viveram e vivem experiências assim como o Salmista reza”. O Salmo diz: “quem me protege e me ampara é meu Deus”, algo que segundo o bispo é “verdade, mas Deus quer se utilizar de nós para ampara estas pessoas”. Daí, ele questionava “o que estamos fazendo ou o que poderemos fazer? Vamos nos dispor a ajudar a Deus?”. Ele fazia um convite: “doe um pouco de seu tempo às pastorais sociais, carcerária, saúde, criança, aids, pessoa idosa, pastoral da terra e organismos caritas, rede um grito pela vida!” Comentando a Carta de Tiago, o bispo questionava se “estamos promovendo a paz, fruto da justiça?”, afirmando que “a política existe para promover o bem comum, o bem de todas as pessoas”. Ele lembrava o chamado do Papa Francisco à melhor política no capítulo V da encíclica Fratelli Tutti. Isso nos compromete a “viver esta melhor política, promover o bem comum e jamais ser ou ajudar a fazer da política um espaço meramente de busca do poder, de disputa de cargos e empregos, de favorecimento a grupos de pessoas, família, partido, empresários, banqueiros”. No Evangelho de Marcos, Jesus, “leva os discípulos para serem andantes e missionários”, algo que deve nos questionar hoje. Em vista do Mês Missionário, a ser celebrado em outubro, lembrava o que vai ser realizado na Prelazia nesse tempo. Ele se perguntou se “ficamos calados, com medo, como os discípulos ou buscamos ajuda da Igreja para compreendermos mais e melhor aos ensinamentos de Jesus?”. Partindo da briga pelo poder entre os discípulos, Dom Ionilton insistiu em que “Jesus ensina de forma aberta e firme que o caminho de nossa fé cristã, passa, necessariamente, pelo serviço”, algo que ele mesmo assumiu. Por isso, perguntou: “Estamos servindo? Como estamos servindo? A quem estamos servindo?”. Jesus indica a quem devemos servir: famintos, sedentos, nus, presos, enfermos, estrangeiros…, segundo o bispo. Ele disse que “esta lista precisa ser atualizada sempre dentro do contexto que vivemos”. Se referindo ao Documento de Aparecida, Dom Ionilton relatou que lá se faz uma lista nova: “Comunidades indígenas e afro-americanas, mulheres excluídas, jovens, quem sobrevive na economia informal, meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, pessoas e famílias que vivem na miséria, dependentes químicos, pessoas com limitações físicas, portadores de enfermidades graves, sequestrados, vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da insegurança na cidade, anciãos que, excluídos do sistema produtivo, recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1