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Dia: 21 de setembro de 2021

Missão, Palavra, Serviço e cuidado da Criação: novos caminhos do Regional Norte 1

Construir novos caminhos se torna muitas vezes uma missão árdua na Igreja. Desde outubro de 2017, em que o Papa Francisco convocou o Sínodo para a Amazônia, a Igreja da região foi desafiada a buscar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. O Regional Norte 1 assumiu esse desafio, iniciado com o processo de escuta, e quer agora concretizar na realidade das igrejas locais tudo o que foi debatido ao longo do processo sinodal. A 48ª Assembleia do Regional Norte 1, que acontece de 20 a 22 de setembro em Manaus, quer construir em comum esses novos caminhos, tendo como base as reflexões do Sínodo para a Amazônia e as Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas sem esquecer uma nova realidade social e eclesial determinada pela pandemia da Covid-19. Esses novos caminhos têm que nascer a partir da realidade local, da vida das comunidades, dos documentos que fazem parte da vida da Igreja da Amazônia após o Concílio Vaticano II. A Igreja do Regional Norte 1 se entende a si mesma como uma Igreja Discípula Missionária, uma Igreja Discípula da Palavra, uma Igreja servidora da vida, uma Igreja irmã da Criação. Isso responde a cada um dos quatro sonhos do Papa Francisco em Querida Amazônia e cada um dos quatro pilares das Diretrizes para a Ação Evangelizadora da CNBB. A missionariedade é fundamento do ser da Igreja, um aspecto que tem sido construído nas igrejas da Amazônia, marcadas pela sua identidade missionária, algo que faz parte da própria dinâmica e jeito de ser da comunidade, recolhido nos planos de pastoral, onde se insiste na presença na vida do povo, se propõem as comunidades eclesiais como opção e o caminho sinodal, na escuta, formação e articulação, como proposta, tendo a ministerialidade, com ministérios conferidos pelo bispo, como modo de ser Igreja, sustentada na figura do catequista e no protagonismo das mulheres. A Palavra tem um papel fundamental na vida da Igreja da Amazônia, na Iniciação à Vida Cristã, na liturgia e sacramentos. Daí a importância de fomentar processos formativos, da inculturação como caminho para a interculturalidade, sendo uma Igreja anunciadora da Palavra que se faz ouvinte da riqueza cultural dos povos da Amazônia, do mundo urbano, uma Igreja que caminha em busca de um rito amazônico e assume os direitos dos povos. A caridade na Igreja da Amazônia se traduz em denúncia profética, em solidariedade, em compromisso com os vulneráveis e descartados, também durante o tempo de pandemia. Uma Igreja servidora e defensora da vida, que escuta os clamores e dá atenção às lutas existenciais dos povos ameaçados, mulheres e jovens, que se compromete na defesa e proteção da natureza. Isso faz com que a Igreja sinta a necessidade de se comprometer com os povos indígenas, as populações ribeirinhas, os migrantes e vítimas do tráfico de pessoas e o enfrentamento do feminicídio, extermínio da juventude e violência institucional. É uma Igreja irmã da Criação, comprometida a través das pastorais e da participação em momentos de luta comum. Mas que também se questiona sobre como se fazer presente nas comunidades mais distantes a partir da criatividade. O sonho ecológico do Papa Francisco em Querida Amazônia, desafia a Igreja da região a integrar meio ambiente e espiritualidade, a fomentar a transversalidade da questão socioambiental como paradigma em toda a ação evangelizadora pautada pela mística do cuidado, a garantir a Eucaristia na vida das comunidades.      Mesmo na dificuldade, quando a escuta é o ponto de partida e o discernimento é assumido como modo de ser e caminhar na Igreja, os passos vão sendo dados e os novos caminhos vão sendo concretizados. Nessa dinâmica está caminhando a 48ª Assembleia do Regional Norte 1 da CNBB. Com ousadia e parresia, o kairós, o tempo de Deus, se faz presente, Ele vai conduzindo a vida do povo que peregrina na Amazônia. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Assembleia Regional: Ousadia para inculturar a fé e a espiritualidade

A pandemia da Covid-19 marcou a vida da Igreja desde há um ano e meio, também no Regional Norte 1. Depois de perder muita gente, homenageada em uma celebração neste primeiro dia, aos poucos, as atividades estão sendo retomadas, nas comunidades, nas paróquias, nas dioceses e prelazias, também no Regional Norte 1, que nesta segunda-feira, 20 de setembro, começou sua 48ª Assembleia. O tema da assembleia, que será encerrada na quarta-feira, com a presença dos bispos, também alguns bispos eméritos, e representantes das 9 igrejas particulares, é “Construindo Novos Caminhos”. Após dois anos sem assembleia, o Regional Norte 1 quer construir esses novos caminhos para a Igreja da Amazônia desde o Magistério do Papa Francisco, especialmente a Querida Amazônia, surgida do Sínodo para a Amazônia, um momento de grande importância para o Regional Norte 1, da encíclica Fratelli tutti e das Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Esses documentos fizeram parte das palavras de acolhida do presidente do Regional Norte 1, Dom Edson Damian. O bispo de São Gabriel da Cachoeira ressaltou a importância dos documentos do Papa Francisco na vida da Igreja do Regional. No relatório das atividades, realizado pelo secretário executivo do Regional Norte 1, o diácono Francisco Lima, foi mostrada a vida da Igreja, marcada pela pandemia, destacando as muitas ações de solidariedade que as igrejas do Regional têm realizado neste tempo. Tudo isso é consequência da atual conjuntura social e eclesial, analisada por Dom Leonardo Steiner. O arcebispo de Manaus constatou que na sociedade se vive uma ideologia fechada, e na Igreja, a fé hoje em vários ambientes, se tornou ideologia. Ele relatou situações hoje presentes na sociedade, notícias falsas, agressão nas palavras e nos gestos, agressão às instituições, desrespeito à Constituição, linguagem de baixo calão, gestos de descivilizados, modos de exercer o poder que pretendem se sustentar na violência. Dom Leonardo denunciou que “o governo federal governa de costas para os pobres, ataca os povos indígenas”, e junto com isso a condução da pandemia no país, que tem provocado “o momento mais dramático dos últimos tempos na história do Brasil”, mostrando seu assombro diante do fato de que pouca gente se revolta diante dessa situação. Brasil é um país onde os evangélicos e as milícias chegaram ao Planalto, onde os meios de comunicação dão cobertura ao modo de desgoverno. O arcebispo refletiu sobre a política, cada vez mais fragilizada, sobre o meio ambiente, vítima de ataques violentos e do desmonte das instituições responsáveis pelo meio ambiente, sobre a desestruturação da sociedade como um todo, sobre o desmonte do Estado. Dom Leonardo denunciou que estamos diante da crise da ética, sendo imposta a economia como aquilo que determina a sociedade, fazendo com que “neste momento, tudo se torna uma questão de produção e de consumo”. Ao falar sobre a conjuntura eclesial, Dom Leonardo destacou a maior “consciência de uma Igreja em saída, uma Igreja encontro, uma Igreja esperança”. Ao mesmo tempo, fez ver que “o papa é contestado, o bispo é contestado, a liturgia é contestada, a eclesialidade é contestada”. Junto com isso, o fato de que “estamos ausentes nas periferias, nas comunidades ribeirinhas; a nossa Igreja poderia ser mais inculturada na sua espiritualidade e na sua liturgia”. Também questionava a participação da igreja na política, de refletir sobre “a importância da política dentro de uma sociedade apolítica”, a participação nos meios de comunicação, a falta de conhecimento da doutrina social da Igreja. Nesse ponto se referia a Fratelli tutti como grande instrumento para entender uma política voltada para o bem comum. Segundo o arcebispo, a proposta de uma Igreja sinodal, ainda que com dificuldades, caminha, insistindo na necessidade de “receber uma maior participação dos leigos”, de descobrir as expressões profundas de religiosidade nas comunidades indígenas, de avançar numa Igreja mais amazônica, algo que “exigirá ousadia para podermos realmente inculturar a fé, inculturar a espiritualidade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1