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Dia: 8 de outubro de 2021

“Muita religião, pouca fé?”: necessidade de um cristianismo que incide na realidade

Existem perguntas comas quais muita gente se incomoda, mas não podemos esquecer que nos questionar é o jeito de crescer. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dentre as muitas propostas que vem fazendo, organiza toda primeira quinta-feira de cada mês uma live onde aborda questões atuais, conduzida por Dom Joaquim Mol Guimarães, presidente da Comissão de Comunicação da CNBB. Desta vez o debate teve como ponto de partida, uma pergunta: “Muita religião, pouca fé?”, tendo como convidadas Lucimara Trevisan e Majo Centurión. Diante dessa questão o bispo auxiliar de Belo Horizonte, afirmava que posso ser uma pessoa religiosa e ao mesmo tempo distante de Jesus Cristo e de seu projeto do Reino de Deus. Segundo ele, o centro da fé cristã é a adesão e o seguimento a Jesus Cristo. Dom Mol insistiu na necessidade de uma fé em Jesus Cristo que incide na realidade, afirmando que “o cristianismo passa a ter significado na medida em que incide na realidade”. O bispo advertiu sobre o perigo de pessoas religiosas, mas que não explicitam bem a fé em Jesus Cristo e no Reino de Deus que Ele anunciou para todos nós. Também sobre o investimento em manifestações religiosas, sem cuidar do núcleo fundamental e estruturante. O presidente da Comissão de Comunicação da CNBB se perguntava se as práticas religiosas estão levando à centralidade da nossa fé, que é a adesão a Jesus Cristo, a desenvolver uma fé comprometida. Nesse ponto lembrava as palavras do padre Libânio, um dos grandes teólogos brasileiros do pós-concílio, que falava de pessoas dentro do cristianismo que acreditavam, mas não tinham sinal de pertença. Trazendo esse pensamento para a realidade atual, o bispo afirmou que hoje muitos pertencem, mas não tem uma fé centrada verdadeiramente na pessoa de Jesus. No Brasil, existem muitas pessoas de tradição católica, mas que não fizeram uma experiência de fé, são adultos que não foram evangelizados, segundo Lucimara Trevisan. A Coordenadora da Comissão Bíblico-catequética do Regional Leste 2 da CNBB, falou de uma experiência exterior da fé, uma fé desligada da vida, uma fé formal, pessoas que se autonomeiam mais católicos do que os outros, inclusive do que o Papa, que ficaram no passado, com dificuldade na vivência da fé. Frente a eles, relatava a presença de pessoas com uma fé encarnada na existência, que sustenta sua vida. Também existem no Brasil, segundo a coordenadora do Centro Loiola de Belo Horizonte, pessoas que se dizem sem fé, marcadas por um catolicismo tradicional que as levou a se afastar da comunidade, mas que são pessoas com sede da verdade, do amor, com uma vida comprometida com os que mais sofrem e buscam constantemente um sentido para sua vida. Ela relatava aspectos que atrapalham a vivência da fé, dentre eles a falta de testemunho da comunidade cristã, muitas vezes centrada em se próprio, desvinculada da realidade, e a falta de cuidado de um bom processo de amadurecimento da fé, sem itinerários ao longo de toda a vida. Do Paraguai, Majo Centurión falou da realidade do país com a maior porcentagem de católicos na América Latina, algo que não se traduz em uma realidade onde há muitos Cristos crucificados, com 40% da população vivendo na pobreza e 20% na extrema pobreza, com uma brecha social alarmante, com grande corrupção. Para a Vice-Presidente de SIGNIS América Latina, o Paraguai é um país marcado por um clericalismo e fundamentalismo que aliena, com muita religiosidade e pouca espiritualidade, muito sacramentalismo, doutrinalismo, muitas regras, uma Igreja que deveria ser mais humana. Por esta razão, ele denunciou uma fé desligada da realidade e do sofrimento dos outros, uma fé que exclui e oprime. De acordo com Majo Centurión, fé e vida não são unidas, uma fé que faz de você uma pessoa melhor não é vivida. É verdade que também existem pessoas concretas que promovem ações para gerar mais justiça, com uma espiritualidade encarnada, que não param de fazer perguntas. Daí ela vê a necessidade de uma Igreja em saída, que seja inclusiva, que faça justiça, que seja intercultural, ecumênica, seguindo o exemplo de Jesus, que promoveu o Reino de Deus, uma Igreja que gera vida em abundância, que promove a Boa Vida. Para conseguir isso, devemos amadurecer nossa fé, não permanecer em uma fé infantil como adultos, mas avançar para ter um impacto na vida. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Ir. Rose Bertoldo recebe o Prêmio Nacional Medalha Zilda Arns

A Dra. Zilda Arns é uma das grandes defensoras da vida na história do Brasil, especialmente das crianças. A fundadora da Pastoral da Criança, falecida em 2010 no Haiti, vítima do terremoto que assolou o país, é lembrada desde há pela Prefeitura Municipal de Forquilhinha (SC), sua terra natal, com o Prêmio Nacional Medalha Zilda Arns, de Boas Práticas para a Primeira Infância. A entrega do reconhecimento, dado em 2020, mas adiado em consequência da pandemia da Covid-19, aconteceu durante o “Seminário Nacional e Internacional de Políticas Públicas para a Primeira Infância – Um Tributo a Zilda Arns”, realizado os dias 6 e 7 de outubro na cidade do sul do Estado de Santa Catarina. Doze personalidades e entidades foram homenageadas com a medalha “Zilda Arns Neumann”, por se destacarem no seu trabalho em favor de crianças e adolescentes, dentre elas a Irmã Rose Bertoldo, missionária em Manaus desde 2012. A integrante da Rede um Grito pela Vida tem realizado ao longo de quase dez anos um trabalho de combate ao abuso e exploração sexual e tráfico de crianças e adolescentes nas dioceses e prelazias que fazem parte do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Segundo recolhe a placa de homenagem, o reconhecimento foi outorgado “pela valiosa contribuição em prol da humanidade através de trabalhos, ações e projetos sociais voltados ao atendimento de crianças, adolescentes e idosos, desenvolvidos sob os princípios da solidariedade, do amor ao próximo e em defesa da vida em todas as etapas”. A religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria foi auditora no Sínodo para a Amazônia, que está completando dois anos de sua Assembleia Sinodal, aportando seu conhecimento e experiência aos participantes de um evento que abordou diferentes questões, dentre elas o cuidado com a vida das crianças. Um Sínodo que tem marcado o caminhar da Igreja da Amazônia e se tornou semente de mudança para a Igreja universal. Durante o seminário, a missionária no Regional Norte 1 da CNBB, contribuiu com uma reflexão sobre o “Papel da Sociedade Civil na Proteção à Infância”, momento em que foi apresentado o trabalho da Rede Um Grito Pela Vida no combate ao tráfico de crianças. Na sua intervenção, a religiosa denunciou o desmonte das políticas públicas no Brasil, o que está provocando o recorte de recursos públicos dedicados ao combate de um crime que o Papa Francisco considera “uma ferida no corpo da humanidade”. Segundo a Ir. Rose, “receber a Medalha Zilda Arns tem uma dimensão muito significativa”. Segundo a religiosa, “não é uma homenagem, recompensa, pelo trabalho, mas é uma homenagem cheia de inspiração, a qual Zilda Arns transmite a cada uma de nós, inspiração por levar adiante um trabalho de cuidado, de defesa da vida das crianças e dos adolescentes, da infância e da juventude, a qual ela tanto lutou”. A religiosa do Imaculado Coração de Maria diz dedicar a homenagem “a todas as crianças, adolescentes que a Rede um Grito pela Vida tem atendido. A todas as mulheres, principalmente aquelas que de tantas formas defendem a vida. Cada uma que faz a Rede um Grito pela Vida, cada uma que defende os direitos sem medir esforços”. A Irmã Rose Bertoldo também agradece “a minha congregação, a qual nos possibilita realizar essa missão no chão da Amazônia”. Também tem lembrado em suas palavras de “todos os promotores de direitos da Pan-Amazônia, que lutam na defesa da vida”. A Irmã Rose tem destacado que “receber a medalha no dia em que celebramos o segundo aniversário do Sínodo, tem significado muito profundo, pois a gente levou para o Sínodo da Amazônia essa temática do abuso, da exploração e do tráfico de pessoas, onde a vida é tão ferida neste chão sagrado da Amazônia”. A religiosa diz que “me ajudou a fazer memória desse processo, dessa construção sinodal que a gente continua com mais força, com mais esperança de conseguir formular políticas públicas voltadas para a infância e a adolescência”. No final do Seminário aconteceu a inauguração de um monumento em homenagem à Dra. Zilda Arns, algo que a Irma Rose considera “muito significativo, pois é um marco na história, não só de Forquilhinha, mas de todo o Brasil, um legado muito grande para toda a humanidade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1