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Dia: 4 de novembro de 2021

Alternativas a uma economia que mata: uma urgente mudança de paradigma

A economia é uma questão constantemente abordada pelo Papa Francisco em seu Magistério, fazendo uma proposta que aos poucos está sendo assumida, sobretudo pelos mais jovens, como caminho de futuro: “A economia de Francisco”, que no Brasil recebe o nome de “Economia de Francisco e Clara”. Refletir sobre esse tema foi a proposta de um convite que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz toda primeira quinta-feira de cada mês na live “Igreja no Brasil Painel”, um espaço conduzido por Dom Joaquim Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB. Desta vez o tema foi: “Cristãos, esta economia mata!”, e contou com a presença da presidenta do Instituto Casa Comum, Silvana Bragatto, e seu esposo, o historiador, escritor e consultor em políticas públicas Célio Turino. Segundo Dom Mol, “o Papa Francisco é contundente contra tudo o que fere a dignidade humana e o que fere o meio ambiente, a nossa casa comum”, insistindo em que “ele é forte e implacável contra o sistema econômico que globalizou a miséria de grande parte da população mundial e favoreceu a riqueza de uma pequena parte da população mundial”. Como proposta alternativa o Papa fez a proposta da Economia de Francisco, “pacto intergeracional que visa mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã, para que esta seja justa, inclusiva e sustentável”, segundo o bispo auxiliar de Belo Horizonte. Comentando as propostas do Papa Francisco, Dom Mol refletia sobre a necessidade de uma mudança de paradigma, um aspecto presenta na reflexão do Papa Francisco diante de um sistema econômico que é injusto em sua raiz, onde o mercado por si só não resolve tudo. Daí nasce o dever moral de fazer a justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano, devolver aos pobres o que lhes pertence. Em sua reflexão, Silvana Bragatto partia da ideia de que o mundo atualmente está cada vez mais desigual, mostrando a necessidade de uma economia que proporcione qualidade de vida para as pessoas. Nos deparamos com uma economia baseada no egoísmo, na competitividade, no lucro, com crianças educadas para a competitividade. Frente a isso, ela propõe uma economia de confiança, de afeto, de respeito. A professora destaca a necessidade de realmar a economia, de conhecer experiências de novas economias, algo que quer mostrar a Articulação Brasileira de Francisco e Clara.   Segundo Célio Turino, “o sistema mais ilógico que a humanidade já produziu é o sistema chamado capitalista, porque ele é baseado na acumulação e no crescimento continuo”. Ele se questiona “Como apostar nesse sistema num planeta que é finito?”. Frente à globalização atual, Turino diz pensar numa globalização poliédrica, que mantem a especificidade de cada um. Junto com isso uma economia do Cuidado, da dádiva, da festa, do bem viver, do suficiente, que promove a harmonia do individuo com ele mesmo, a harmonia do individuo com a comunidade, a harmonia da comunidade humana com a coletividade da vida, com os outros seres. O historiador vê a Economia de Francisco como “o grande guarda-chuva para essas outras práticas econômicas que existem, que muitas vezes são invisibilizadas, desrespeitadas e desprezadas”. Ele relatava experiências de economia circular, destacando a importância de mostrar realidades e possibilidades diferentes. Para Silvana, a Economia proposta pelo Papa Francisco é uma economia do cuidado, do afetivo, do respeito, da vizinhança. São realidades que querem ser trabalhadas nas Casas de Francisco e Clara, definidas por Célio Turino como “incubadoras dessas novas economias, espaços de discussão de vida comunitária”. Tudo isso para combater uma realidade histórica presente no Brasil e na América Latina, que tem como fundamento, segundo Turino, a desumanização dos povos que viviam no continente, o desrespeito aos conhecimentos desses povos. Isso criou uma mentalidade, sustentada pela elite, que gerou racismo e uma mentalidade de tudo voltado para fora, uma elite que sempre viveu de costas para o povo, que criou um ódio aos pobres, algo presente em toda América Latina. Existem propostas alternativas, segundo Silvana Bragatto, sustentadas numa economia circular, que favorece o acordo entre vizinhança, a partilha, o aproveitar o que já se tem, um novo conceito de produção que abaixa o preço e contribui com o meio ambiente, o reparo dos produtos. Nesse ponto, ela refletia sobre a renda básica universal, proposta pelo Papa Francisco, que definia como “combustível para fazer a criatividade aflorar e criar economias circulares”. Tudo isso, em vista de “estimular o desenvolvimento da economia que protege a vida, que estimula a vida, ao contrário daquela que mata”, segundo refletia Dom Mol no final de um encontro virtual que colocou em foco, mais uma vez, elementos muito presentes na vida do povo, que sofre as consequências dessa economia que mata e favorece exclusivamente às elites.

Comunhão: caminho e necessidade

Nunca podemos esquecer que juntos somos mais, que o individualismo não pode tomar conta da vida da gente. Diante daqueles que querem colocar na cabeça da gente que somos mais do que os outros, que podemos nos virar sozinhos, temos que mostrar que devemos nos preocupar em caminhar junto com os outros. Na Igreja católica a gente fala de comunhão, um elemento indispensável para ser Igreja. Podemos dizer que quando quebramos a comunhão, a gente deixa de ser Igreja. Nossa Arquidiocese de Manaus vivenciava no último domingo, 31 de outubro, um momento de comunhão com a entrega do Pálio ao Arcebispo Metropolitano. Tanto Dom Giambattista Diquattro, Núncio Apostólico no Brasil, quanto Dom Leonardo Steiner, insistiam na importância da comunhão. O representante do Papa Francisco no Brasil insistiu em que “o Pálio significa também comunhão com Pedro, com o Santo Padre, o Papa Francisco, e significa ser pastores pela unidade e na unidade”. Dom Leonardo também ressaltou que o Pálio é “sinal e símbolo da comunhão com o Santo Padre, o Papa Francisco”. Mas também uma comunhão que se vive na colegialidade, segundo Dom Giambattista: “o Pálio também expressa a colegialidade dos bispos, a sinodalidade da Igreja. Ninguém é pastor sozinho, somos pastores na sucessão dos apóstolos, pastores na comunhão da colegialidade, na comunhão diacrónica e sincrónica, no kairós da comunhão unitária e eclesial”. No mesmo sentido, o Arcebispo de Manaus disse ver o Pálio como “sinal e símbolo de unidade entre as nossas igrejas particulares que formam nossa província eclesiástica de Manaus”. Uma atitude presente na história da Igreja na região, “uma unidade que na história sempre esteve presente como caminho de evangelização, como cuidado mutuo, como pertença à Igreja na Amazônia. Unidade entre os bispos e por isso unidade entre as nossas igrejas nas diferenças necessárias”. Infelizmente, essa não é uma atitude assumida por todos na Igreja, onde a falta de comunhão, especialmente com o Papa Francisco, mas também com uma Igreja sinodal, em saída, que se faz presente nas periferias geográficas e existências, está se tornando uma realidade. Nos deparamos com cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas que fazem questão de quebrar a comunhão, que se posicionam claramente contra aquilo que é fundamental para ser Igreja, se colocando como modelo de católico, quando na verdade são exemplos do contrário. É hora de parar e pensar, de encontrar caminhos de comunhão, também numa sociedade e num país onde muitos se empenham em gerar divisão e enfrentamento. Reflitamos juntos para encontrar caminhos que nos ajudem a assumir atitudes diferentes, mais humanas, mais cristãs, mais de Deus, pois Ele é comunhão de pessoas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Radio Rio Mar