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Dia: 17 de fevereiro de 2022

Rede Clamor aprova o Documento de Identidade e os Estatutos “para prestar um melhor serviço aos migrantes”

  A Rede Clamor encerrou sua Assembleia, realizada em Bogotá de 15 a 17 de fevereiro, em clima de alegria, conforme expresso por seu presidente, Dom Gustavo Rodríguez Vega. Uma das razões é que “nosso documento de identidade foi aprovado, nossos estatutos e fizemos a eleição dos vários cargos da Rede Clamor”, destacando a reeleição de Elvy Monzant como secretário executivo para os próximos 4 anos. Esta rede existe oficialmente desde 2017, “mas agora tivemos a oportunidade de repensar-nos como rede e assim fazer este documento de identidade e estatutos“, de acordo com seu presidente. O arcebispo mexicano insistiu que “isto nos fortalece como uma rede para prestar um melhor serviço a nossos irmãos migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano”. Uma das representantes do Brasil na Assembleia foi a irmã Rose Bertoldo, coordenadora da Rede Um Grito pela Vida no Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A religiosa do Imaculado Coração de Maria foi eleita coordenadora da Comissão de Articulação e Serviços para os próximos 4 anos. A sinodalidade marca a vida da Igreja neste momento, uma reflexão que tem estado presente na Assembleia da Rede Clamor. Neste contexto, o padre Fabio Baggio levou os participantes a se perguntarem como passar de uma pastoral de assistência para uma pastoral que procura compartilhar oportunidades. Tudo isso em uma época de mudanças que exige uma visão proativa e não reativa da Igreja. De acordo com o subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, devemos procurar ser fermento no mundo, vendo a sinodalidade como um processo comprometido com a transformação. A partir daí ele refletiu sobre o que é o Sínodo, que ele definiu como um momento eclesial, como caminhar juntos na mesma direção, rumo à unidade, uma necessidade diante das ameaças de divisão, que aumentaram com a pandemia.  Padre Baggio refletiu sobre as três palavras-chave do Sínodo: comunhão, participação e missão. O religioso scalabriniano vê o Sínodo como uma oportunidade para uma conversão pastoral em chave missionária e ecumênica, chamando a entender que não se trata de fazer outra Igreja, mas uma Igreja diferente. Neste sentido, ele alertou sobre três riscos: o formalismo, que reduz o Sínodo a um acontecimento, o intelectualismo, que separa a reflexão da realidade, e o imobilismo, que permanece no “sempre foi assim”, um veneno na vida da Igreja. É necessário, portanto, aprender a sonhar juntos, insistiu ele. Esta dimensão de sinodalidade também foi abordada por Maurício López, que partiu da experiência da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, perguntando: “Como fomos transformados pela experiência concreta que vivemos no processo de escuta em preparação à Assembleia Eclesial? O que a experiência da Assembleia Eclesial produziu em nós? Como vamos responder às interpelações do Espírito? O coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), insistiu na necessidade de uma escuta recíproca para que ela seja verdadeira. Partindo da ideia de conversão pastoral, nascida em Aparecida, Maurício questionou como o que ouvimos nos transforma, convidando a Rede Clamor a continuar sendo, e a ser ainda mais, uma presença de escuta e diálogo, para contribuir com os processos de formação e incidência. Em seu discurso, ele insistiu que os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, integrados, vistos como uma oportunidade e não como uma ameaça, algo que pode ser visto na crescente falta de hospitalidade. Ele enfatizou a necessidade de responder à dor e ao sofrimento dos migrantes e das vítimas do tráfico de pessoas. Analisando a Assembleia Eclesial, ele a vê como um evento único, ainda mais porque ocorreu em meio a uma pandemia, uma oportunidade de avançar como Igreja na América Latina e no Caribe, destacando a grande participação no processo de escuta e em uma assembleia presencial e virtual, que mostrou testemunhos que tornaram visíveis as muitas realidades diferentes do continente. Uma assembleia que desafia os batizados a passar do “eu” para o “você”, a superar o clericalismo, a ser uma Igreja inclusiva, que apresentou 12 urgências e 41 desafios, que “são essenciais para nossa Igreja”, e também para a Rede Clamor. Alguns migrantes participaram da Assembleia da Rede Clamor, como Jaqueline González, que pode ser considerada uma migrante por partida dupla. Nascida no departamento colombiano de La Guajira, ela emigrou para a Venezuela aos 15 anos de idade, de onde retornou ao seu país depois de trinta e poucos anos. No entanto, ela se sente como uma migrante em sua própria terra, por causa de seu sotaque, sua dificuldade de adaptação ao seu país, problemas de moradia e trabalho. Na verdade, ela é formada em enfermagem e não conseguiu um emprego porque não tem dinheiro para reconhecer seu diploma. Ela define sua participação na Assembleia como “uma prancha para aqueles que estão naufragados, como uma luz na escuridão, saber que a Igreja Católica, juntamente com outras instituições, está cuidando de seu bem-estar e para que todos os países possam aceitar e oferecer-lhes a dignidade que todo ser humano deve ter como um filho de Deus“. Ela insiste na necessidade de aceitar os migrantes, “que não importa de que país eles venham, o que eles devem ter em mente é que nós também somos seres humanos e também estamos passando por algum tipo de trauma, dor ou tragédia para deixar tudo para trás e nos jogarmos num abismo sem saber o que vai acontecer com nossas vidas”. Dom Jorge Eduardo Lozano, enviou saudações à Assembleia da Rede Clamor. Depois de definir o tráfico como “uma realidade criminosa que nos envergonha como seres humanos“, e “um drama muito sério que nos mostra a baixeza em que conseguimos cair”, ele contou situações presentes na vida das vítimas, enganadas, sequestradas, forçadas a vícios, prostituídas, entre outras situações que provocam traumas dos quais é difícil escapar para aqueles que são libertados das redes de tráfico. Estes não são crimes casuais ou isolados, mas “o resultado da operação de estruturas pecaminosas que se consolidam através de organizações criminosas cujo objetivo é explorar outros irmãos…
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Estar no meio do povo, requisito necessário para ser Igreja que evangeliza

No último sábado 12 de fevereiro, Querida Amazônia, a exortação pós-sinodal do Sínodo para a Amazônia completou dois anos, uma boa oportunidade para refletir sobre os desafios que esse momento histórico na vida da Igreja da Amazônia, mas também na vida da Igreja universal, nos deixou. O texto do Papa Francisco tem ajudado a ir marcando o caminho a seguir, uma Igreja que escuta, que se faz presente no meio do povo, que abre espaços para que o povo possa dizer como deveríamos caminhar como Igreja católica e os passos a serem dados nos diferentes âmbitos que fazem parte da vida da nossa Igreja. Querida Amazônia nos invita a sonhar, a olhar em frente, a entrar em um caminho de conversão que faça possível responder aos anseios do povo, especialmente daqueles que surcam os rios da Amazônia, que se aglomeram nas periferias de cidades onde os direitos dos mais pobres não são respeitados, que lutam por direitos que a Constituição garante para os povos indígenas e comunidades tradicionais, que são deixados de lado pela sociedade, e muitas vezes, infelizmente, também pela Igreja. É por isso que estarmos presente como Igreja nas comunidades da periferia, nas comunidades indígenas, nas comunidades ribeirinhas, deve ser um esforço cada vez maior, uma reflexão que Dom Leonardo Steiner fazia recentemente. Segundo o arcebispo de Manaus, “as comunidades deveriam perceber que pertencem à Igreja, à Arquidiocese. Um elemento importante é que elas sintam que a Arquidiocese está com elas; elas são Igreja, Arquidiocese, e não tenham a percepção de que foram abandonadas. Estar com elas! ajudar e apoiar na criação e organização de novas comunidades. Elas percebam a solidariedade entre todas as comunidades”. Os questionamentos de Dom Leonardo devem nos levar a olhar a realidade de um modo diferente, a nos fazermos presentes na atenção e no diálogo, mas também a descobrir as riquezas que encerram, levando em consideração tudo o que faz parte da sua vida, descobrindo que “tudo deveria ser transformado pela força do Evangelho”, segundo nos lembra o arcebispo de Manaus. A presença nas comunidades, mesmo limitada, é sempre motivo de felicidade para um povo que acolhe de coração e sente-se contemplado com essas visitas que alegram a caminhada das comunidades. Mesmo diante das dificuldades motivadas pelas distâncias, o custo e uma agenda cheia de compromissos, essa presença, esse estar no meio do povo, se faz requisito necessário para ser Igreja que evangeliza. Sonhar nos leva a encontrar forças para descobrir caminhos que nos ajudam a superar dificuldades, a deixar para trás obstáculos que pareciam insuperáveis. Sonhemos com uma Igreja mais presente, mais companheira de caminho, mais preocupada em construir juntos, mesmo que devagar, aquilo que pode ajudar a fazer carne o Evangelho da Vida. Ver o sorriso com que aqueles que sempre ficaram do lado de fora da história recebem a gente é algo que faz esquecer as dificuldades que a gente enfrenta para chegar até lá. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar