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Dia: 29 de março de 2022

Mercúrio: a ameaça que mata aos poucos a população da Amazônia

A contaminação por mercúrio dos rios da Amazônia tem se tornado manchete nas últimas semanas, mas na verdade estamos falando de uma problemática que vem de longe. Além disso, a contaminação das águas é só a ponta do iceberg dentre as consequências da mineração ilegal de ouro, que afeta às populações tradicionais de diferente maneira. “Os problemas começam com a devastação da floresta, afugentando a caça, com escassez de alimentos para as populações tradicionais, também de plantas que são utilizadas como medicamentos, provoca um desequilíbrio do ecossistema local, altera a população de mosquitos com aumento da malária, inclusive em suas variantes mais letais, e outras doenças transmitidas por mosquitos”, afirma Paulo Cesar Basta. A chegada de trabalhadores estranhos ao local do garimpo provoca o desequilíbrio da organização social, segundo o pesquisador da Fiocruz. “O garimpo coopta as comunidades pagando para se manter presente no território, e coopta homens jovens que deixam suas famílias e vão em busca de dinheiro fácil”, provocando desassistência das famílias. Estamos diante de uma realidade sem regulamentação ambiental, nem regulamentação trabalhista, onde acaba se criando regímenes de trabalho análogos à escravidão. Junto com isso tudo o que está em volta: alimentos enlatados de baixa qualidade, álcool, droga, redes de prostituição, violência sexual contra mulheres, contra crianças, espalhamento de doenças sexualmente transmissíveis, uma rede de problemas associados ao garimpo, insiste o epidemiologista. O mercúrio é utilizado desde a antiguidade, uma técnica simples e relativamente barata. Mesmo no garimpo mecanizado, o mercúrio continua sendo usado. Quanto mais rudimentar mais desperdício de mercúrio, sendo usado entre dois e oito quilos de mercúrio por cada quilo de ouro, que posteriormente é queimado até virar vapor, provocando uma pneumonites química e outras graves lesões em diferentes partes do corpo. O mercúrio excedente é jogado no leito do rio sem nenhum cuidado. “Sendo mais pesado do que a água sedimenta no leito do rio onde passa por um processo de transformação mediado por microrganismos e se transforma em metil mercúrio ou mercúrio orgânico, que entra na cadeia alimentar, sendo contaminados todos os animais do rio e todos os que se alimentam de produtos do rio, também o ser humano”, segundo Paulo Basta. Isso faz com que a ingesta de peixe, principal fonte de proteína alimentar na Amazônia, faça com que a pessoa possa se contaminar, ficando no corpo por muito tempo, pudendo provocar lesões graves. Recentemente a mídia informou que 75 por cento da população de Santarém está contaminada por mercúrio, algo que Paulo Basta, que participou da pesquisa considera exagerado. Na verdade, foi um estudo onde foram avaliadas 472 pessoas, das que 75 por cento presentaram elevados índices de contaminação. Isso mostra que o problema da contaminação da população da Amazônia pelo mercúrio, ele não se restringe a povos indígenas e povos tradicionais, mas atinge a todos aqueles que consomem pescado, que vem de áreas atingidas pelo garimpo. No meio ambiente, o mercúrio fica até cem anos, segundo pesquisador, provocando doenças em adultos e crianças, ainda mais graves. No caso dos adultos pode provocar alucinação, convulsões, perder a sensibilidade das mãos, dos pés, ter dificuldades para caminhar, passar a depender de cadeira de rodas, perder a visão, a audição. Além desses sintomas graves, existem outros que podem se confundir com qualquer uma outra doença, como dor de cabeça crónica, zumbido no ouvido, dificuldade para enxergar, sentir gosto metálico permanente na boca, ansiedade, dificuldades para dormir. Com as crianças as doenças podem começar no feto, com casos em que a criança morre durante a gestação, ter paralisia cerebral, malformação congénita. Também manifestações subclínicas, que não são de fácil detecção, e podem comprometer a criança para o resto da vida. Quando a criança é submetida a altos índices de mercúrio durante a gestação, pode ter dificuldade em seu desenvolvimento, demorando para se sentar, engatinhar, dar os primeiros passos, falar, não brinca da mesma maneira, tem dificuldade de aprendizado na escola. Isso vai arrastar para toda sua vida, dadas as limitações cognitivas, que são atribuídas ao mercúrio. Tudo isso leva a perpetuar o ciclo de pobreza, de miséria, de desigualdade, insiste Paulo Basta.  Desde a realidade local, Valdeci Oliveira, do Conselho Pastoral de Pescadores da Arquidiocese de Santarém, afirma que os impactos são evidentes, sobretudo no município de Aveiro, no Rio Tapajós, próximo da região de garimpo, com mudança na coloração da água e impactos na saúde dos moradores. Ela participou da pesquisa realizada em Santarém, afirmando que nas comunidades indígenas e ribeirinhas a contaminação por mercúrio pode chegar a atingir 90 por cento da população. Diante disso, ela mostra preocupação por como as pessoas vão sobreviver em relação a essa realidade. Isso vai atingindo a saúde das pessoas, inclusive psicologicamente. Diante disso, a Pastoral dos Pescadores está acompanhando o povo, especialmente os mais idosos, que tem o peixe como um alimento saudável e recomendável, como fonte de proteína, e agora veem essa realidade mudada. Também estão sendo promovidos encontros com o Ministério Público tentando buscar alternativas, “mas só falar e não ter uma resposta dos governantes, o que é de direito, é algo que não muda a realidade”, insiste Valdeci Oliveira. Ela relata que é comum ver dragas passando em frente de Santarém rumo a Itaituba e nada é feito, mesmo com o sofrimento que está sendo provocado. Cuidar do povo, daqueles que cuidam do povo, é importante neste momento, trabalhar com as lideranças para que possam ser multiplicadores nas bases, afirma a membro do Conselho Pastoral de Pescadores. Ela vê necessário “tentar um debate maior, num seminário, para tratar dessas mazelas que estão acontecendo e tentar cobrar do poder público e dos órgãos ambientais o cumprimento da lei”. Por isso, “não pode se esperar uma grande tragedia em forma de uma doença coletiva, algo que por outra parte já está acontecendo”. Junto com isso destaca a presença no Conselho Municipal de Saúde, buscando implementar nas Unidades Básicas de Saúde esse cuidado maior e esse acompanhamento a toda a população. Também buscar como trabalhar com as pessoas que estão contaminadas, como é…
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15 anos da Rede um Grito pela Vida: “Tecida por muitas mãos, por muitas vidas, por muitos rostos”

A celebração dos 15 anos da Rede um Grito pela Vida, que acontece no dia 30 de março de 2022, é momento para “poder fazer memória de um caminho percorrido”, segundo a Ir. Rose Bertoldo, que coordena o Núcleo de Manaus da Rede um Grito pela Vida junto com Diana Fernandes. A Rede um Grito pela Vida, nascida em 30 de março de 2007, iniciou sua caminhada no Regional Norte 1 em 2011, momento em que foi criado o Núcleo de Manaus. Posteriormente foram criados os núcleos de Itacoatiara, Roraima, Tefé e Anori. A Rede um Grito pela Vida também contribuiu na criação da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que trabalha no Brasil, na Colômbia e no Peru. No Regional Norte 1 da CNBB, uma das causas permanentes é: “migrantes e vítimas do abuso e exploração sexual e do tráfico de pessoas”, reafirmando a importância do trabalho da Rede um Grito pela Vida. Para a secretária executiva do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos de Brasil, se trata de “uma rede que ao longo desses 15 anos foi tecida por muitas mãos, por muitas vidas, por muitos rostos“. No momento em que a Rede um Grito pela Vida completa 15 anos, a Ir. Rose Bertoldo afirma que “queremos agradecer por cada pessoa, homem e mulher, que fez parte da Rede um Grito pela Vida, que faz parte, e tem contribuído nesse processo de prevenção às violências, do abuso, da exploração sexual e do tráfico de pessoas”. A Ir. Rose Bertoldo disse que “guardamos em nossos corpos o rosto de muitas crianças, meninas, mulheres e homens, as quais fizeram parte desse processo de formação”. A religiosa do Imaculado Coração de Maria, destacou que “com o coração agradecido celebramos esta festa da Rede um Grito pela Vida”. “Nesses 15 anos não podemos esquecer de promover o sentimento maior, que é de gratidão”, segundo Diana Fernandes. Ela destaca “como somos gratas”, afirmando que “sabemos que passamos por muitas escutas difíceis, por cada rosto de criança e de adolescente ao relatar um abuso, uma exploração sexual, como também de mulheres de tráfico de pessoas”. As coordenadoras do Núcleo da Rede um Grito pela Vida de Manaus, lembraram o lema da celebração dos 15 anos: “15 anos, no Grito da Vida nasce a Esperança”. O Núcleo Manaus faz memória dos 15 anos com uma celebração na sede da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil, às 14 horas do dia 30 de março, que será transmitida pelo Facebook do Regional Norte 1 da CNBB. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1