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Dia: 31 de março de 2022

1º Ajuri de Ecologia Indígena: novos compromissos para o cuidado da Casa Comum no Alto Solimões

Uma Igreja com rosto amazônico é construída em sinodalidade, caminhando junto com os povos indígenas. Belém do Solimões, na Diocese de Alto Solimões tem se tornado uma referência de Igreja inculturada, que acompanha as comunidades do povo Ticuna, o mais numeroso da Amazônia, espalhado na Tríplice Fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Perú, mas também outros povos indígenas da região. Nessa caminhada, aconteceu de 27 a 30 de março de 2022 o 1º Ajurí de Ecologia Indígena, organizado pela Associação de Desenvolvimento Artístico e Cultural da Aldeia Indígena de Belém do Solimões (ADACAIBS) e a Associação de Mulheres Indígenas MAPANA, com a participação de mais de 300 indígenas, de mais de 30 comunidades das Terras Indígenas Eware I e Eware II, entre caciques e lideranças, com grande participação de jovens e mulheres, dos povos Ticuna, Kokama e Kambeba. O objetivo era “buscar juntos soluções possíveis, abraçar novos compromissos e projetos para os problemas urgentes, crescentes e comuns das comunidades participantes”, tendo como lema: Ngi’ã tadaugü torü ĩpata ya guanearü! (Vamos cuidar de nossa Casa Comum!). Nos encontros, onde a língua indígena é a forma de se comunicar, também se fazem presentes outras expressões culturais da região, que mostram a mística que acompanha a vida dos povos originários, o que facilita a compreensão aos indígenas de diversas etnias e línguas presentes nos encontros. Nesta ocasião foi apresentado em forma de teatro diferentes realidades que atingem aos povos: diminuição e falta de peixes, diminuição e falta de madeira, aumento do lixo, falta de saneamento básico, alcoolismo, drogas, violência… O fato de se reunir as comunidades indígenas, de caminhar juntos, em prol do cuidado da Casa Comum, se torna um elemento importante, também para a vida da região e de uma Amazônia constantemente ameaçada. O encontro foi momento para socializar experiências que ajudam entender que é possível mudar a realidade, também nas comunidades indígenas. Nesse sentido, os participantes do encontro conheceram o Projeto Guardiões ecológicos, da REPAM-Brasil; o Projeto Agrovida  (REJICARS); o Projeto Vida, das irmãs Cordimarianas, financiado por MISEREOR/FUCAI; a Eco Cooperativa Manaus; projetos de Avicultura/Agricultura da MAPANA (IDAM). Mas também escutaram os gritos que vem das comunidades, o que levou a buscar possibilidades de somar entre as diferentes instituições que trabalham na região, dentre elas a Paróquia São Francisco de Assis de Belém do Solimões, os Frades Menores Capuchinhos de Belém do Solimões, a Diocese de Alto Solimões, a Caritas, o CIMI, a REPAM-Brasil, e as comunidades indígenas. A voz das mulheres e jovens indígenas tem iluminado os participantes do encontro para “compreender aonde precisamos avançar para amadurecer como povos indígenas das terras Eware I e Eware II, com protagonismo e reponsabilidade para com a nossa Mãe Terra e as futuras gerações”. Tudo o que foi vivenciado no encontro foi recolhido no Documento Final, onde são relatadas as ações que devem ser realizadas a curto, médio e longo prazo, nascidas “de uma atenta escuta e de uma maior conscientização de todos”, e apoiadas por unanimidade. A curto prazo serão realizadas oficinas sobre cada uma das temáticas, no mês de junho, para professores e estudantes indígenas; a preparação do 9º Festival de Cultura Indígena do Eware, a ser realizado de 4 a 9 de julho de 2022, com a temática da Ecologia; prosseguimento do 1º AJURI de Ecologia Indígena, envolvendo também as comunidades que não se fizeram presentes. A médio e longo prazo, os participantes decidiram elaborar o projeto de um centro cultural de formação; realizar, durante o 9º Festival de Cultura Indígena, o próximo Encontro Geral das comunidades do Eware I e II, com a presença dos caciques, para dar vida oficial ao Centro Cultural e planejar os próximos passos; projeto para um centro de triagem de materiais recicláveis para comercialização; projeto para abertura de uma delegacia indígena em Belém de Solimões. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1  Com informações dos Frades Menores Capuchinhos de Belém do Solimões

Grita pela Vida na esperança de um mundo melhor

Deus ouviu o clamor de seu povo no Egito e enviou um libertador. Acreditamos em um Deus que não é alheio ao sofrimento do povo, que não olha para o outro lado diante das injustiças, que acolhe, abraça e cuida das vítimas, mas que faz isso através da gente. 15 anos atrás nasceu a Rede um Grito pela Vida, uma iniciativa da Vida Religiosa no Brasil para acompanhar as vítimas de um crime ignorado secularmente: o tráfico de pessoas e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Tem sido uma caminhada nem sempre fácil, que desde 2011 também está presente na Amazônia, rota de tráfico de pessoas e local de exploração sexual de crianças e adolescentes, muitas vezes disfarçada, provocando situações gritantes que tem como consequência o sofrimento de muitas vítimas inocentes. “No Grito da Vida nasce a Esperança”, foi o lema escolhido pela Rede um Grito pela Vida para comemorar seus 15 anos de caminhada. São palavras que devem nos levar a tomarmos consciência da necessidade de não ficarmos calados diante de situações que geram morte, que acabam com os sonhos de tanta gente. Um grito que tem que ser coletivo e que deve ser assumido como consequência da nossa condição de cidadãos e cidadãs, mas também da nossa fé, do nosso compromisso com um Deus libertador, solidário, compassivo, misericordioso. A fé nos ajuda a ir além, a superar os medos que muitas vezes nos acomodam e nos impedem assumir as causas do povo que sofre. A fé no Deus de Jesus Cristo nos leva a sair de nós e nos colocarmos no lugar do outro, dos invisibilizados, dos descartados por uma sociedade construída em base da exploração dos pequenos. O Evangelho nos leva a gritar, a anunciar a Boa Nova, que se traduz em gestos e atitudes concretas em favor da vida plena para todos e todas, também para aqueles que sempre foram colocados na margem da história. O que é que está apagando nossa voz? O que está nos impedindo de nos comprometermos na defesa da vida? Por que aos poucos a gente vai perdendo a esperança de lutar por um mundo melhor para todos e todas? O que faz com que a gente se encerre dentro de si e esqueça que bem próximo de nós tem pessoas que são vítimas da exploração sexual e do tráfico humano? As comemorações tem que ser momentos para nos impulsionar e nos fortalecer, para colher forças que nos ajudem a continuar na luta. A vida continua nos chamando e nos desafiando a ir além, a olhar as vítimas e dizer para elas que estamos dispostos a ficar do seu lado, a acompanhar seu sofrimento e continuar apostando na vida. Esse é um chamado para a gente, para mim, para você, para todos e todas nós. Não olhe para o outro lado, não pense que não tem nada a ver com a gente. Tem sim, se convença disso, assuma seu compromisso e se torne um libertador, uma libertadora, que tire do sofrimento as pessoas que hoje continuam sendo escravizadas por uma sociedade cruel, sem sentimentos, que olha para as pessoas como objetos e não como portadoras de vida plena. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar