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Dia: 7 de junho de 2022

Dom Leonardo: “Como estamos hoje como Igreja na Amazônia?”

Pedindo à Virgem e Mãe Maria: “Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga”, começava Dom Leonardo Steiner a análise de conjuntura eclesial no IV Encontro da Igreja católica na Amazônia Legal que acontece em Santarém de 6 a 9 de junho. Análise de conjuntura que o Arcebispo de Manaus definiu como “a tentativa de visualizar a dinâmica do acontecer eclesial”. Fazer isso, tentando “visibilizar o Povo de Deus que está a caminho”, tendo como base o Documento de Santarém e Querida Amazônia, provocando os presentes a participar desse momento e assim tentar “nos situarmos como o fizeram os irmãos há 50 anos”. Isso em uma Igreja que existe para evangelizar, lembrando as palavras do Papa Bento XVI, uma ideia presente em um Documento que busca evangelizar melhor, segundo o Arcebispo. Analisando o Documento de Santarém partiu das linhas prioritárias: Encarnação na realidade e Evangelização libertadora, que definiu como “o horizonte a partir do qual se busca evangelização e o modo da evangelização”. Para bem evangelizar se faz necessária a formação do Povo de Deus, buscando comunidades vivas, algo que se concretizou depois de Santarém nas comunidades cristãs de base, na tentativa de descentralizar e ser fermento e ser comunidades mais amazônidas. Santarém mudou a relação da evangelização com os povos indígenas, lembrou o Arcebispo de Manaus, assim como as problemáticas que iam surgindo. O Documento também destacou a necessidade de formar os missionários e missionárias para a realidade local, e dos Institutos de Pastoral. Daí Dom Leonardo se perguntou: “Como estamos hoje como Igreja na Amazônia?”, chamando a uma maior encarnação, uma maior formação dos leigos e acompanhamento dos missionários que chegam. Ser presença entre os povos indígenas sem proselitismo, levando em consideração sua cultura. Se fazer presente nas comunidades da periferia, posicionar-se diante do agronegócio e o garimpo. Em relação com Querida Amazônia insistiu em que os sonhos são dimensões de uma única realidade, de um todo, um chamado à Igreja a ser presença em cada uma das realidades, a inculturar cada uma das realidades, chamando a ir ao encontro para descobrir o que é mais significativo. Dom Leonardo insistiu na necessidade de aprofundar na Palavra, nos Documentos da Igreja, na presença estável de responsáveis leigos, grupos missionários itinerantes, vida religiosa feminina. Daí chamou a ser crísticos, a descobrir a importância dos ministérios laicais, que garantem a estabilidade, maior protagonismo das mulheres, das comunidades de base, de formar cristãos comprometidos com a sua fé, maior presença e cuidado nas comunidades urbanas periféricas. Dom Leonardo destacou que as igrejas da Amazônia são pobres, onde seus agentes vivem de modo simples, chamando a uma ajuda maior entre as igrejas da região. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Francisco pelos 50 anos de Santarém: “Sejam corajosos e audaciosos, abrindo-se confiadamente à ação de Deus”

A Igreja da Amazônia brasileira está comemorando os 50 anos de Santarém, um Documento decisivo para entender os caminhos trilhados na região ao longo desse tempo. Um “motivo de especial alento” para o Papa Francisco. Em uma mensagem enviada aos 100 participantes do IV Encontro da Igreja católica na Amazônia Legal, o Santo Padre afirma que o motivo do seu especial alento está no fato de “saber que sonhamos juntos ‘com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos’”, lembrando as palavras da Querida Amazônia. O Papa Francisco destaca que a importância deste encontro está no fazer “memória daquele ocorrido nesse mesmo local”, o que “é ocasião de intensa ação de graças ao Altíssimo pelos frutos da ação do Divino Espírito Santo na Igreja que está na Amazônia – durante estas últimas 5 décadas – e por quanto a mesma inspira”. Um encontro importante, que “propôs linhas de evangelização que marcaram a ação missionária das comunidades amazônicas e que auxiliaram na formação de uma sólida consciência eclesial”. Sua importância é tal que o próprio Papa Francisco reconhece que “as intuições daquele encontro serviram também para iluminar as reflexões dos padres sinodais, no recente Sínodo para a região Pan-Amazônica”, palavras recolhidas no número 61 da Querida Amazônia. O Papa Francisco chega afirmar que as “linhas prioritárias” de Santarém esboçaram os sonhos para a Amazônia recolhidos no número 7 da exortação pós-sinodal. O Santo Padre diz, também, alegrar-se “pelo empenho das Igrejas Particulares da Amazônia Brasileira, por meio de suas comunidades, em levar adiante as indicações da última Assembleia Sinodal”, destacando a importância da “bela tradição dos encontros das Igrejas Locais, a vivência da sinodalidade – como expressão de comunhão, participação e missão – à qual toda a Igreja é chamada”. Do mesmo modo recorda com carinho e com gratidão a participação intensa dos representantes do Brasil no último Sínodo, “trazendo vitalidade, força e esperança”. Com palavras costumeiras em suas mensagens, o Papa Francisco faz um chamado aos participantes do IV Encontro da Igreja católica na Amazônia Legal a que “sejam corajosos e audaciosos, abrindo-se confiadamente à ação de Deus”, e através do Espírito, “anunciar o Evangelho com novo empenho e a contemplar a beleza da criação”. Depositando seus votos aos pés de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia, o Papa enviou a Benção Apostólica aos participantes do encontro, pedindo, como já é costume, que “continuem a rezar por mim e pela missão que o Senhor me confiou”. Mensagem do Papa Francisco Queridos irmãos e irmãs, Com o coração repleto de alegria e esperança, dirijo-me a todos os participantes do IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, pois é motivo de especial alento para mim saber que sonhamos juntos “com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos” (QA, 7). Ao mesmo tempo, saber que esse encontro faz memória daquele ocorrido nesse mesmo local há 50 anos atrás, é ocasião de intensa ação de graças ao Altíssimo pelos frutos da ação do Divino Espírito Santo na Igreja que está na Amazônia – durante estas últimas 5 décadas – e por quanto a mesma inspira. Aquele “Encontro de Santarém” propôs linhas de evangelização que marcaram a ação missionária das comunidades amazônicas e que auxiliaram na formação de uma sólida consciência eclesial. As intuições daquele encontro serviram também para iluminar as reflexões dos padres sinodais, no recente Sínodo para a região Pan-Amazônica, como recordei na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, ao descrevê-lo como uma das “expressões privilegiadas” do caminhar da Igreja com os povos da Amazônia (cf. QA, 61). De fato, nas conhecidas “linhas prioritárias”, frutos do recordado encontro, encontram-se esboçados os sonhos para a Amazônia que foram reafirmados no último sínodo (cf. QA, 7). Alegro-me igualmente pelo empenho das Igrejas Particulares da Amazônia Brasileira, por meio de suas comunidades, em levar adiante as indicações da última Assembleia Sinodal, testemunhando ao mesmo tempo, pela já enraizada e bela tradição dos encontros das Igrejas Locais, a vivência da sinodalidade – como expressão de comunhão, participação e missão – à qual toda a Igreja é chamada. Recordo com carinho e com gratidão a participação intensa dos que vieram do Brasil à Roma trazendo vitalidade, força e esperança para as sessões do Sínodo de 2019. Sejam corajosos e audaciosos, abrindo-se confiadamente à ação de Deus que tudo criou, nos deu a si mesmo em Jesus Cristo (cf. QA, 41), e nos inspira através do Espírito a anunciar o Evangelho com novo empenho e a contemplar a beleza da criação, ainda mais exuberante nessas terras amazônicas, onde se experimenta a presença luminosa do Ressuscitado (cf. QA, 57). Ao depositar tais votos aos pés de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia – que jamais nos abandona nas horas escuras (cf. QA, 111) – envio-lhes, queridos irmãos e irmãs, de todo o coração, a Benção Apostólica, pedindo também que, por favor, continuem a rezar por mim e pela missão que o Senhor me confiou. Roma, São João de Latrão, 31 de maio 2022

50 anos de Santarém: “Igreja com vitalidade e posicionamento profético e solidário”

50 anos de Santarém, 50 anos de caminhada de uma Igreja, a Igreja da Amazônia, marcada por uma evangelização inculturada e libertadora. Para fazer memória do Documento surgido no encontro realizado no Seminário São Pio X em maio de 1972, 100 pessoas, cardeais, bispos, presbíteros, Vida Religiosa, leigos e leigas, dentre eles entre representantes dos povos indígenas e comunidades tradicionais, se reúnem no mesmo local de 6 a 9 de junho de 2022. Um encontro que começou com uma celebração eucarística, presidida pelo último bispo ordenado na Amazônia brasileira, Dom Raimundo Possidônio Carrera da Mata. Ele confiou a Maria “a intercessão materna por todos nós, por toda a Igreja desta Amazônia, onde residem tantas realidades que ainda precisam verdadeiramente de Ressurreição”. O Bispo coadjutor da Diocese de Bragança lembro que “a Cruz para muitos de nossos irmãos ainda é uma realidade todos os dias, em todos os momentos nosso povo caminha carregando uma Cruz por estas vias, por estes caminhos, por estas terras, por estas águas de uma Amazônia que ainda precisa de plenificar a sua Redenção”. Ele destacou a importância da mística, “que é expressão de uma fé comprometida que não arreda o pé diante das dificuldades”. O Encontro conta com a presença maternal da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia, aquela que quer iluminar uns dias chamados a ser momento para estreitar a comunhão entre as igrejas particulares da Amazônia, como Povo de Deus espalhado na grande Amazônia. Momento para lembrar um encontro que levou à Igreja da Amazônia a tomar uma face e se lançar à evangelização encarnada e libertadora. Uma história construída por rostos concretos, por testemunhas, que desafiam à Igreja da Amazônia a construir o futuro. Os participantes do IV Encontro da Igreja católica na Amazônia Legal foram acolhidos pelo arcebispo local, Dom Irineu Roman, e pelo presidente do Regional Norte2 da CNBB, Dom Bernardo Bahlmann, que destacou a importância do encontro realizado 50 anos atrás e do Documento produzido, “uma grande luz para a caminhada na Amazônia”. Um encontro que é “um momento para avançar para águas mais profundas”, segundo a Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, que chamou a continuar um processo de uma Igreja que cada vez mais se apresenta do jeito de Jesus. Felício Pontes se considera fruto Documento de Santarém, que o levou a “ver a propaganda oficial da Ditadura Militar com olhar crítico, a partir dos injustiçados”, refletindo sobre os grandes projetos impostos pela Ditadura aos amazônidas, o que influenciou na sua vocação como advogado e posteriormente como Procurador da República. O Espírito de Pentecostes deve marcar o decorrer do encontro, segundo a Ir. Maria Irene Lopes, que quer “gestar cada vez mais a colegialidade dos bispos da Amazônia e estreitar a comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”, objetivo da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, da qual ela é assessora. No encontro está presente o cardeal Pedro Barreto, que mostrou sua alegria por poder participar do encontro, realizado em uma terra sagrada, a Amazônia, ecoando as palavras do Papa Francisco em Puerto Maldonado. Um encontro que “é uma oportunidade para nos encontrarmos”, insistindo em duas palavras: “obrigado, porque há 50 anos se reuniram os bispos em nome da Igreja amazônica no Brasil, recolhendo Medellín e recolhendo o Concílio Vaticano II, ilusão, sonhos, que começam a se fazer realidade nos quatro sonhos que o Papa Francisco nos fala em Querida Amazônia”. Junto com isso, “o compromisso, o compromisso de caminhar juntos”, chamando a cuidar do bioma amazônico para a vida da humanidade. Dom Raimundo Possidônio fez um Memorial do Encontro de Santarém e do percurso posterior da Igreja da Amazônia. Dos bispos de Santarém, o Bispo coadjutor de Bragança, destacou sua “consciência muito grande de ser Igreja e da realidade”, analisando os documentos elaborados nos encontros de Manaus (1997) e Santarém (2012). Como aspectos fundantes da Igreja da Amazônia, ele destacou “a paixão pelo Cristo vivo e pelo Reino”. Junto com isso o espírito de colegialidade, de sinodalidade, de comunhão e participação, a profecia e o martírio, a encarnação na realidade e a evangelização libertadora. Santarém foi precedido por uma caminhada prévia, apresentada pelo bispo, por documentos que foram vistos como uma toma de postura, em atitude profética, dos bispos da região. Tudo isso influenciou em um documento “que criou o rosto da Igreja amazônica”, que foi se definindo ao longo dos anos, se preocupando, dentre outras, com a questão ecológica, sendo a da Amazônia uma das Igrejas que abordou essa questão. Também outras experiências vividas, contempladas em diferentes documentos, o que Dom Possidônio resumiu dizendo que “ao longo de seis décadas, a Igreja tem mostrado sua vitalidade e posicionamento profético e solidário”. Alguém que tem percorrido essa caminhada de 50 anos é Dom Gutemberg Freire Regis, eleito prelado da naquele tempo Prelazia de Coari em 1974, mas que desde 1969 vive “o desafio de ser um padre missionário aqui na Amazônia”. Em Santarém, ele descobriu o incentivo para “estruturar uma Igreja local”, com uma destacada presença de leigos na elaboração dos planos de pastoral, junto com a preocupação em formar comunidades, em formar padres diocesanos, em se preocupar com os problemas do povo, com a dimensão social da evangelização. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1