Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Dia: 5 de julho de 2022

Comissão Episcopal para a Amazônia: a missão que marcou a vida do “Prefeito do Clero Emérito”

A partida física das pessoas faz com que as reações apareçam, ainda mais quando estamos diante de alguém que marcou a vida da sociedade e da Igreja. Sobre Dom Cláudio tem se falado muitas coisas após sua morte, mas a gente quer lembrar daquilo que marcou sua vida nos últimos anos. Em 2010, o Cardeal Hummes deixou a Congregação do Clero, onde era prefeito desde 2006, e voltou para o Brasil. Aos 76 anos de idade, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o “cardeal aposentado” assumiu a Comissão Episcopal para a Amazônia em 2011, e começou visitar as igrejas da Amazônia. Mesmo idoso, ele não hesitou em se deslocar até os lugares mais distantes para escutar, para conhecer a vida dos povos e assumir como próprias as causas da Amazônia, das gentes que a habitam. Lembro o relato de Dom Edson Damian sobre uma vista de Dom Cláudio à comunidade indígena de Iauraté, no Rio Uaupés, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Segundo o Bispo de São Gabriel da Cachoeira, o cardeal embarcou na voadeira, navegou durante horas, e sentou-se com paciência para escutar o povo, para descobrir a riqueza de sua vida, mas também os clamores nascidos das ameaças que atingem os povos da Amazônia. Dom Cláudio será lembrado por ter sido presidente da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), relator geral do Sínodo para a Amazônia, mas tudo isso foi consequência da missão assumida como presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, uma missão que fez com ele pudesse fazer realidade um sonho que ele sempre teve: ser missionário na Amazônia. Em Dom Cláudio podemos dizer que se tornaram realidade as palavras de alguém que pode ser considerado uma referência para a vida da Igreja na Amazônia no pós Concílio Vaticano, Dom Pedro Casaldáliga. Que foi Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, disse que “minhas causas valem mais do que minha vida”. Mesmo com a saúde debilitada, o Cardeal Hummes continuou doando sua vida pela Amazônia até o fim. Aos poucos, as águas da Amazônia foram inundando sua vida, alimentando sua existência, até fazer transbordar ao mundo aquilo que aos poucos ia descobrindo. Sempre pensando na vida em plenitude, dos povos e de um bioma cada vez mais ameaçado. A voz profética de Dom Cláudio foi chegando mais longe e foi ficando mais forte, mais firme, ajudando muitas pessoas, na Igreja e na sociedade, a não ficar indiferentes diante do necessário cuidado de uma região e dos povos cada dia mais ameaçados. Uma voz que denunciou o avanço do garimpo, do desmatamento, do agronegócio, e de tantas realidades que foram degradando o bioma amazônico. Uma voz que sempre chamou a estar atentos à destruição da Amazônia, para daí “nos engajar na luta pela preservação e no cuidado com a Amazônia e com a Casa Comum”, segundo lembrou na comemoração do Dia da Amazônia, em 5 de setembro de 2021. Podemos dizer que o legado de Dom Cláudio deve nos levar a olhar o futuro desde aquilo que ele falou naquele 5 de setembro de 2021: “há que se ter esperança, e há também que se enveredar na construção de modelos sustentáveis de produção, consumo e economia”. Isso vai se tornar realidade concreta na medida em que consigamos realizar “pequenos gestos simbólicos, como plantar uma árvore, revitalizar o jardim de casa ou buscar informações sobre como e onde são produzidos os alimentos que compartilhamos nas mesas de nossas casas”. Ainda na Capela Sistina, no momento em que o Cardeal Bergoglio passou a ser o Papa Francisco, Dom Cláudio lhe disse uma frase lembrada muitas vezes desde aquele momento: “Não esqueça dos pobres”. Francisco nunca esqueceu dos pobres, mas também não esqueceu da Amazônia, duas causas partilhadas por dois grandes amigos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Giuliano Frigenni: “A Amazônia me ensinou a obedecer a um ritmo que não é o meu”

No dia 1º de julho, Dom Giuliano Frigenni completou 75 anos, idade canônica em que os bispos tem que apresentar sua renúncia ao governo pastoral da diocese. O Bispo de Parintins afirma que é “um momento de muitos sentimentos, primeiro de gratidão por ter chegado até o fim desta estação da minha vida”. Ele vê seus últimos 23 anos como bispo como “os mais cheios de responsabilidades, de dons, de alegrias, de sofrimento”. “Um tempo de comunhão com os outros bispos”, segundo Dom Giuliano, vivido desde a responsabilidade de “fazer apaixonar o Povo de Deus pelo Reino de Deus, sentir que o Reino de Deus é algo a ser acrescentado à vida”. Missionário na Amazônia há 43 anos, ele considera a região como “um mundo cheio de mistério, um mistério que se revela porem nas pessoas”. Aos 75 anos, o Bispo da Diocese de Parintins diz se sentir “como quando entrei na sala de aula para começar a aprender a escrever”. Depois de entregar sua renúncia ao Santo Padre, ele quer viver este momento desde o desejo imenso “de falar menos, de meditar mais, de agradecer mais, e de acompanhar o crescimento da Igreja no Brasil”, lembrando momentos importantes vividos ao longo dos últimos anos, insistindo em que “toda esta vida tão rica não tem ponto final”. Dom Giuliano quer aproveitar o futuro para “silenciar, um silencio cheio de vida”, querendo “ecoar dentro da minha vida a grandeza de ter nascido, de ter sido batizado, de ter encontrado uma paróquia que me iniciou à vida, de ter começado trabalhar nas fábricas, lá que senti a vocação, porque sentia na fábrica onde eu trabalhava o ódio contra Cristo e a Igreja”.  Ele afirma nunca ter se arrependido de entrar no PIME, e também de ter obedecido ao Papa João Paulo II, “mesmo não sabendo quase nada daquilo que é o trabalho do bispo”. O que pede para o futuro é um tempo para “me arrepender e permitir que o meu coração se torne mais grato do que presunçoso, mais silencioso do que falador”. Junto com isso, que “a amizade que nasceu entre mim e muitos padres da Diocese de Parintins, padres que eu tive a graça de consagrar padres”, destacando a familiaridade com eles, mas também “a paternidade de um pai que vê os filhos crescer mais sábios, mais inteligentes, mais atuantes do que ele”, padres com a capacidade de “olhar a realidade, amando-a e querer que ela não seja o lugar de exploração, de violência, de pretensão ou de luta pelo poder”. O bispo chama a “viver o presente tendo no coração a presença de Cristo”, lembrando a Christus vivit, onde o Papa faz ver que é pela presença de Cristo, que “a nossa vida se torna vida”. Na Amazônia, Dom Giuliano Frigenni diz ter aprendido, “primeiro a não correr”, insistindo em que “na Amazônia, a primeira coisa importante é a pessoa, escutar as pessoas, gastar tempo, que não é gastar, é se admirar de como Deus chegou primeiro na vida dessas pessoas, chegou com uma bondade, com uma sabedoria, e também chegou com sofrimentos que encontrei”. O bispo afirma que “aprendi a ver aquilo que no mundo se tenta esconder”, dizendo que “na Amazônia fui obrigado a estar com as pessoas”. Ele insiste em que a Amazônia ensina o método da missão, da encarnação e a inculturação, de encontrar amigos, reconhecer nestes amigos aqueles com quem partilhar a missão. Dom Giuliano lembra de padres e bispos que marcaram sua vida, que segundo ele, junto com seu pai, “me transmitiram o sentido da vida”. Ele afirma que “a Amazônia tem esta mágica de colocar em primeiro lugar a própria realidade que determina o ritmo das pessoas”. Segundo o bispo, “quase, quase, o homem não tem que fazer nenhuma violência, até quando tem que cortar uma árvore, o faz porque é necessário, para construir a casa, a canoa ou o cabo do machado ou um remo, mas tudo é feito para a vida”. O Bispo da Diocese de Parintins insiste em que o homem da Amazônia não procura o lucro acima de tudo, o que leva alguns a questionar sobre a falta de desenvolvimento. Nesse sentido, ele se pergunta sobre o que é o desenvolvimento e o progresso “que passa por cima de milhares, às vezes de milhões de pessoas”. Dom Giuliano afirma que “a Amazônia me colocou diante daquilo que é o tesouro aos olhos de Deus, cada pessoa, cada família, cada povo, cada língua, cada rio tem os réus ritmos. A Amazônia me ensinou a obedecer a um ritmo que não é o meu”. Ele vê os 43 anos vividos no Amazonas como “um tempo para começar a se apaixonar por Deus, que nos deu a vida, me deu a graça da vocação missionária, e de ter encontrado rapazes e moças, homens e mulheres que partilharam esta fé e que crescemos juntos”. Uma história sólida, segundo o bispo, “construída por um Outro, o Espírito Santo, que me permite conhecer o Cristo e revelar o Pai”, o que leva a destacar, vendo como isso ajudou a crescer às pessoas, que “a vida não passou inutilmente”, pois fez com que hoje homens e mulheres “tenham no coração a presença de Cristo e através desta presença aprendam a amar”. Olhando para o presente e o futuro, Dom Giuliano não diz “missão cumprida”, e sim diz a Deus, “me ajuda a continuar, a te agradecer e a te encontrar”. Ele insiste em que “se tiver saúde, gostaria muito de continuar, até em outras dioceses que a gente visitou nestes 23 anos”, falando da possibilidade de dar um tempo em outras igrejas do Regional Norte1. Neste tempo de espera, até que o Papa Francisco aceite a renúncia de Dom Giuliano e seja nomeado um novo bispo, ele gostaria que a Igreja de Parintins “viva este momento com desejo de crescer cada vez mais”. Ele define a diocese onde tem sido bispo nos últimos 23 anos como “uma Igreja, como diz o Papa Francisco,…
Leia mais