Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Dia: 2 de setembro de 2022

Cardeal Leonardo Steiner chama a “voltarmos nosso olhar para a Amazônia que nos ensina e sempre nos acolhe”

A 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi encerrada nesta sexta-feira, 2 de setembro com uma celebração eucarística no Santuário Nacional de Aparecida, Padroeira do Brasil, presidida pelo Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, que definiu a celebração como momento para louvar e agradecer a Deus que acompanhou o caminhar da CNBB ao longo de 70 anos. Refletindo sobre as leituras da liturgia do dia, Dom Leonardo, criado cardeal pelo Papa Francisco no consistório celebrado na Basílica de São Pedro no dia 27 de agosto, afirmou que “somos sempre novos surpreendidos pelo amor com que somos amados, amadas, um amor redentor, libertador, gratuito”. Segundo o Arcebispo da capital do Amazonas, “somos todos participantes do verdadeiro banquete onde fomos conquistados, atraídos pelo amor que nos amou primeiro”. Dom Leonardo questionou sobre a possibilidade de que “nos tenhamos descuidado e entrado na sonolência, no distanciamento, da relação, do convívio”. Segundo o cardeal, “perdemos o cuidado e o cultivo da proximidade, da maturação, de uma relação de amor”. Desde a presença do esposo, ele fez ver que isso “exige maior maturidade, despojamento, liberdade, sintonia, pois é uma relação santificadora onde somos sempre mais revestidos do esposo”. Recordando as palavras de São Paulo, onde diz “já não eu vivo, mas Cristo vive em mim”, Dom Leonardo lembrou que quando vivemos na proximidade do Esposo, “somos sempre alimentados pela sua presença, mas também dos apareceres do caminho”. Nessa perspectiva, falando sobre o jejum, o cardeal afirmou que “jejuar por jejuar não desperta para a grandeza e a nobreza do seu seguimento”, definindo o jejum como “o exercício do vazio, do esvaziamento, uma abertura de receptividade, uma espera, uma saudade. Jejum, abrir espaço, ser receptividade do mistério que transforma”, referindo esse jejum ao Mistério da Cruz. No jejum da relação, afirmou Dom Leonardo, “há possibilidade de uma intimidade transformativa, vida nova, Ressurreição”, ressaltando que “no esvaziamento de nós mesmos nasce a possibilidade da fecundação da vida nova, pela suavidade da gratuidade Cruz-Ressurreição, isto é amor”. Aprofundando na reflexão sobre o jejum, o purpurado se referiu à ausência do esposo, que “nos leva â saudade, saudade do tempo da graça, saudade do tempo do amor”. O cardeal questionou: “as intempéries da vida que cobrem às vezes a nossa cotidianidade, a nossa nobreza e dignidade, justiça, fraternidade, paz, democracia, ética, estão a nos despertar para um jejum?”. Uma questão que cada vez mais cobra uma resposta da sociedade brasileira diante da atual situação pela qual o país está passando, como foi recolhido na Mensagem ao Povo Brasileiro sobre o Momento Atual. Dom Leonardo chamou a “despertamos para a necessidade da ética, da democracia, da justiça, da dignidade”. A ausência de democracia, de paz, “começamos a perceber a importância de todos esses elementos”, enfatizou Dom Leonardo, pois “caso contrário perderemos os olhos, o olfato, as cores, os sabores da nossa convivência social”. Um jejum que na parábola do Pai misericordioso “trona-se caminho de retorno”, recebendo o filho “beijos e abraços que o devolvem ao banquete do amor”. Por isso, ele chamou a “sermos fiéis e não abandonarmos o convívio”, e junto com isso a “permanecermos fielmente no aconchego da graça do amor”. Falando sobre a Assembleia presencial, Dom Leonardo vê isso, depois de 3 anos de ausência de encontro entre os bispos em consequência da pandemia, como oportunidade para “estarmos na comunhão, na colegialidade”, como momento “para percebermos as graças e as belezas das nossas igrejas particulares”. O novo cardeal da Amazônia, citando Querida Amazônia, disse que “expressamos uma Igreja que busca uma hermenêutica da totalidade”, afirmando que “todas as realidades necessitam de transformação, dignificação, santificação”, insistindo mais uma vez em “como nos fez bem estarmos juntos, na mesma comunhão, com as nossas diferenças, com os nossos sonhos”. O Arcebispo de Manaus chamou a “voltarmos nosso olhar para a Amazônia, a Querida Amazônia, os povos, as culturas, a prodigalidade na natureza, a força suave das águas, a solidariedade, o acolhimento do nosso povo, a alma religiosa dos pequeninos, a pobreza e os pobres, a originalidade dos povos, a Amazônia que nos ensina e sempre nos acolhe”. Uma região onde “essa Igreja missionária que navega nas contrariedades e que constitui comunidades de base com a força dos leigos, uma verdadeira presença viva, com a força e a presença da Vida Religiosa e de tantos missionários presbíteros”. Uma Igreja, citando palavras do Documento de Santarém, “encarnada e libertadora”. Isso, “numa Amazônia de mil rostos e mil sonhos, sempre mais delapidada, destruída, poluída, violentada, no entanto sempre mais amada”. Por isso, o cardeal fez ver que “não necessitemos jejuar por ter perdido a poesia, os lares, as culturas, as criaturas, tudo o que abriga e deixa ser”. Mas também que “não necessitemos jejuar, sentir saudades do tempo em que tínhamos uma casa para a qual sempre podíamos voltar, uma casa para todos”. Palavras que Dom Leonardo encerrou pedindo que “permaneçamos sempre com o Esposo, permaneçamos sempre a caminho”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Em Mensagem ao Povo Brasileiro, bispos denunciam corrupção que “subtrai o que pertence aos mais pobres”

No final da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em Aparecida de 28 de agosto a 2 de setembro, os bispos tem lançado uma Mensagem ao Povo sobre o Momento Atual, um costume nas últimas assembleias do episcopado brasileiro. O texto começa afirmando ter presente “a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência”, dizendo assumir as alegrias e esperanças do povo. Os bispos insistem na necessidade de traduzir a fé “em compaixão e solidariedade concretas”. Daí “o compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até o seu término natural”, incluindo aí a família, a ecologia integral e o estado democrático. Os bispos mostram preocupação diante do “tempo difícil em que vivemos”, que aparece na situação de “complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira”. Nessa perspectiva, os bispos denunciam “os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas”, algo motivado pelo desemprego, a falta de acesso à educação de qualidade para todos, a fome. A Mensagem faz um firme chamado a proteger a jovem democracia brasileira, chamando a um amplo pacto nacional. Ainda mais no ano em que o Brasil comemora o bicentenário de sua Independência, que deve levar a “ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável”. Junto com isso, se faz o chamado ao “compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra”. Tudo isso desde a cultura do encontro e do diálogo, em busca de “ser uma nação realmente independente e soberana”. Os bispos mostram suas preocupações: a manipulação religiosa e a disseminação de fake News. Também denunciam “a corrupção, histórica, contínua e persistente”, que “subtrai o que pertence aos mais pobres”. Junto com isso insiste na promoção da Lei da Ficha Limpa, em vista do processo eleitoral que o Brasil está vivendo, ameaçado por tentativas de ruptura da ordem institucional. Diante dessa conjuntura, os bispos do Brasil reiteram “nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”, chamando à participação no processo eleitoral e escolher candidatos “que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum”. Leia na íntegra a Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Papa Francisco acolhe com empatia os novos Estatutos da Conferência Eclesial da Amazónia

Na manhã de sexta-feira, 2 de setembro, o Papa Francisco recebeu a Presidência da Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA). O objetivo da reunião foi o de lhe apresentar os novos estatutos modificados que explicitam a identidade eclesial e amazónica da CEAMA. Uma audiência que o Cardeal Pedro Barreto definiu como “uma experiência de grande empatia com o Sumo Pontífice. Empatia porque vimos claramente que ele aceitou este processo sinodal que levou à Conferência Eclesial da Amazónia”. O Santo Padre e a CEAMA viveram desde o início uma grande comunhão, como o seu presidente assinala. Os novos estatutos baseiam-se, sublinha o cardeal peruano, “na orientação do Vaticano II, especialmente na sua eclesiologia do Povo de Deus com a Constituição Dogmática Lumen Gentium, e os novos estatutos também assumem a missão da Igreja que o Vaticano II inclui na Constituição Pastoral Gaudium et Spes“. O Cardeal Barreto sublinha também que “de uma forma muito particular, os estatutos incorporam o Documento Final do Sínodo para a Amazónia e a exortação apostólica Querida Amazónia, em que o Papa Francisco assume o Documento Final”. O presidente da CEAMA destaca “a sabedoria do Santo Padre, que vem de um profundo discernimento que ele experimentou como Bispo de Roma e que ele nos transmite, encorajando-nos a viver uma experiência sem precedentes, mas que ele confirmou: a criação pública, canónica e jurídica desta Conferência Eclesiástica da Amazônia, motivo de alegria perante uma realidade irreversível na história da Igreja, por ser a primeira Conferência Eclesiástica de uma região, um bioma com uma grande biodiversidade e uma grande diversidade cultural, que, como diz o próprio Papa Francisco, são os guardiões da natureza”. Finalmente, o Cardeal Barreto quis reafirmar que “o Papa Francisco, com uma lucidez impressionante aos 85 anos de idade, e que está a viver a experiência de um processo sinodal que está em curso e que é definitivamente um sinal de esperança para a Igreja universal“. A partir daí vê este momento como algo muito importante, sublinhando que é motivo de “muita alegria, muita esperança porque a CEAMA é uma realidade na vida da Igreja e da missão evangelizadora na Amazónia”. Os estatutos, como o Papa Francisco salientou, podem não ser perfeitos, dada a novidade da CEAMA e o seu sentido eclesial, mas não pode haver razão para se preocupar em cometer erros, porque o importante é “avançar, como uma planta que temos de regar“, disse o Padre Alfredo Ferro, SJ. Durante a audiência, o Papa Francisco foi informado sobre diferentes aspectos. Dom Eugenio Coter, falou-lhe sobre o encontro realizado com o Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos sobre o Rito Amazónico, que teve lugar a 1 de setembro. Pela sua parte, o secretário executivo falou-lhe do trabalho dos núcleos em que a CEAMA está dividida: pastoral intercultural, formação, ministério da mulher. Segundo o Padre Ferro, o Papa salientou a importância de se avançar na questão do ministério das mulheres, reconhecendo a sua liderança e apelando a uma reflexão teológica muito mais profunda sobre este ministério. Do mesmo modo, o Santo Padre foi informado por Mauricio López sobre o progresso do programa universitário amazónico, uma universidade desde a Amazónia, desde os territórios, desde as proposta das comunidades e das necessidades concretas. Neste sentido, foi-lhe falado da inauguração da Cátedra Cardeal Claudio Hummes, que teve lugar na semana passada em Quito durante uma reunião em que se discutiu a Universidade Amazónica. A figura do Cardeal Hummes esteve muito presente no diálogo com o Papa, de acordo com Alfredo Ferro. Quanto àquele que foi o primeiro presidente da CEAMA, o Papa Francisco recordou que durante a sua visita ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude em 2013, o Cardeal Hummes fez-lhe ver que a América Latina não poderia ser compreendida sem a Amazónia e o planeta não poderia ser compreendido sem a Amazónia, algo que ressoava com o Papa. Uma audiência na qual o Papa Francisco recebeu vários presentes, incluindo uma virgem de barro feita por uma camponesa, ou vários objetos feitos de pau Brasil, lembranças oferecidas pela REPAM e CEAMA ao Santo Padre. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1