Dom Luiz Fernando Lisboa: “A missiologia é um tema transversal que deve perpassar toda a Teologia”
A missão é algo intrínseco a dom Luiz Fernando Lisboa, missionário em Moçambique durante 20 anos. O atual Bispo da Diocese de Cachoeiro do Itapemirim (ES) participa da I Experiência Vocacional Missionária que reúne 280 missionários e missionárias, a grande maioria seminaristas, de 5 a 17 de janeiro de 2023 na Arquidiocese de Manaus, a Diocese de Coari e a Prelazia de Itacoatiara. Aos poucos a Igreja do Brasil vai crescendo em consciência missionária, incentivando a missionariedade entre os seminaristas. Dom Luiz Fernando faz um chamado a promover a ajuda entre as igrejas locais, uma Igreja mais ministerial, com maior protagonismo do laicato, especialmente das mulheres. O senhor foi durante 20 anos missionário em Moçambique, onde foi Bispo da Diocese de Pemba. Desde sua experiência como missionário na África, como definiria a vida missionária da Igreja do Brasil? Nós já demos vários passos. Até um tempo atrás havia ainda muito choro, nós somos poucos, nós temos necessidades, nós não temos condições de ajudar… Ainda hoje encontramos pessoas que usam esse tipo de terminologias, somos poucos, temos muitas paróquias, temos muito trabalho aqui, mas já há de uns anos para cá uma abertura para uma consciência maior da missão. Dioceses que se abrem, regionais que se abrem para assumir trabalhos em outras áreas, em outras partes do mundo. Em Moçambique por exemplo, nesse momento, o maior grupo de missionários estrangeiros é o de brasileiros. Uma presença bastante forte de missionários brasileiros, entre leigos, religiosas e religiosos, padres. A Igreja do Brasil já cresceu um pouco em consciência missionária. O senhor participa da Experiência Vocacional Missionária onde tem mais ou menos 240 seminaristas entre religiosos e diocesanos, chegados de uma terceira parte das dioceses do Brasil. Isso pode ser visto como um sinal de esperança para que a Igreja do Brasil seja mais missionária no futuro? Com certeza, não só esse encontro, que é o primeiro, mas a própria organização dos COMISEs nos regionais e nas dioceses estão ajudando a despertar nos seminaristas a partir de dentro do seminário essa consciência da missão. Essa primeira experiência missionária vem ajudar porque é uma experiência nacional que envolve seminaristas de um terço das dioceses do Brasil, 94 dioceses, e vai ajudando a criar consciência nos seminários e também nos formadores, porque alguns formadores estão aqui, essa consciência da missão. A Igreja é missão, e todos nós participamos da missão da Igreja, que é continuação da missão de Jesus. Se o seminarista na sua formação adquire essa consciência, é muito mais fácil depois nós termos pessoas que se propõe ajudar outras igrejas irmãs, ajudar igrejas que têm mais necessidades e preparar pessoas para a missão ad gentes. Quando estava em Pemba como bispo, recebi um jovem missionário que adquiriu essa consciência da missão participando do COMISE quando era seminarista. Depois foi ordenado e propôs-se a ir para a missão ad gentes e fez um excelente trabalho. Ele voltou por problema de saúde e agora já se dispôs a retornar para lá uma vez que já está melhor. Uma experiência missionária que está acontecendo na Amazônia, vista muitas vezes no Brasil, inclusive dentro da Igreja, como uma região exótica. Como esta missão pode ajudar a ter uma visão diferente da Amazônia e da realidade da missão na Amazônia? Pode ajudar em primeiro lugar porque é aqui que se realiza essa experiência. Dois terços daqueles que estão presentes aqui estão vindo pela primeira vez para o Norte, não conhecem Manaus, inclusive eu não conhecia, e olha que já tenho quase 40 anos de padre, não conhecia Manaus. Já fiquei na África muitos anos, mas nunca tinha vindo para cá, não tinha feito uma experiência aqui. Isso pode ajudar muito, tomar consciência da realidade, conhecer a Igreja daqui que é uma Igreja bastante ministerial, com envolvimento grande dos leigos e leigas. E ter o contato com a realidade pode ajudar a que muitos futuramente venham para cá. Não só dentro daquele projeto de igrejas irmãs, mas que nós nos proponhamos a ser missionários para a Igreja, não num determinado lugar, mas onde a Igreja precisar. Eu conheci dioceses onde o Bispo não sabe onde colocar os padres de tantos padres que tem. Os padres já estão morando em 3 ou 4 e cada ano ordena 5, 6, 7. Por que não repartir com a Amazônia, por que não disponibilizar, independentemente de ser igreja irmã ou não? Nós temos os encontros anuais dos bispos, e seria bonito que um bispo chegasse para o outro e dissesse, olha eu vou te enviar 2, 3 padres para que você os coloque onde você está precisando. Quem sabe isso vai criando uma maior consciência para todos nós entendermos que a Igreja é uma só, que o Bispo, ele não fica circunscrito a uma diocese, ele não é Bispo de uma diocese, ele é Bispo da Igreja. Cada Bispo tem responsabilidade com as outras igrejas, não só olhando dentro do seu território, dentro da sua diocese, mas ter uma visão mais alargada da Igreja como um todo. O senhor disse que dois terços dos missionários, inclusive o senhor, é a primeira vez que vem na Amazônia. O que o senhor espera encontrar na Igreja de Manaus, nas comunidades que ao longo dos dias está visitando nessa experiência missionária? Eu tenho a mente e o coração aberto para aquilo que eu vou encontrar. Eu faço parte de uma equipe itinerante, estou visitando várias realidades, eu com meu grupo. Eu espero aprender bastante, ter os olhos, os ouvidos e o coração bem abertos para aquilo que eles vão partilhar conosco, e se houver oportunidade nós também vamos partilhar. Essa troca de informações, de ser igreja, cada um desde a sua realidade pode nos enriquecer a todos. Mas eu tenho certeza de que vamos sair daqui todos muito mais enriquecidos, conhecendo melhor a Igreja no Brasil. E como ajudar os bispos a incentivar em suas dioceses essa vida missionária, não só entre os padres, mas também entre os seminaristas? Cada bispo em primeiro lugar deveria…
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