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Dia: 19 de janeiro de 2023

Dom Maurício Jardim: “Se fala muito de missão, mas precisamos crescer nas práticas, nos envios missionários”

  Um dos participantes da I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada de 5 a 17 de janeiro, foi Dom Maurício da Silva Jardim. O Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, partilha o vivido nesses dias em que acompanhado de outros missionários e missionárias visitou as comunidades da Área Missionária do Cacau Pirera, na Arquidiocese de Manaus, “uma experiência de estar muito próximo das pessoas”. Dom Maurício, que foi Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias por 6 anos analisa a realidade da missão na Igreja do Brasil, os desafios que devem ser enfrentados. Mas também reconhece que participar dessa experiência coloca desafios na sua missão como Bispo recentemente iniciada. A missão sempre foi fundamental em sua vida, foi missionário na África, durante 6 anos foi Diretor da Pontifícias Obras Missionárias no Brasil antes de ser nomeado Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga. Como o senhor vê a realidade missionária na Igreja do Brasil? Na minha experiência pessoal foi crescendo a própria compreensão de missão, que não se reduz apenas em atividades, em um projeto ou outro, mas percebendo e entendendo que missão é a própria natureza, a própria identidade da Igreja. A Igreja existe para a missão, para ser uma Igreja em saída, missionária. Sendo seminarista participei no Congresso Missionário Latino-americano em Belo Horizonte, e ali foi despertando cada vez mais que eu como eu como batizado devia assumir ser missionário, estar próximo do povo. E fui entendendo que missão é proximidade, é criar aquilo que o Papa diz uma cultura do encontro, sair de nós mesmos, ir às periferias, se aproximar do povo. E isso eu estou vivenciando aqui na Arquidiocese de Manaus, uma experiência de estar muito próximo das pessoas, entrar nas casas, sentar-se com as pessoas sem pressa, ouvir o que o povo aqui sofre muito, tem muitas dificuldades sociais, uma realidade muito violenta nas periferias. Isso vai nos ajudando a não ficar só na reflexão, mas para a prática. Senti isso na minha vida, na minha vocação, tanto na minha diocese de origem, que é Porto Alegre, depois enviado pelo Sul 3 da CNBB para uma experiência de três anos e meio em Moçambique, na África, e voltando de Moçambique assumi uma paróquia, depois na direção das Pontifícias Obras Missionárias. Tudo isso é uma graça de Deus, Deus vai dando essa força da gente não ficar parado, acomodado. Essa é a tendência nossa, pessoal, e da própria Igreja, ir-se acomodando, numa zona de conforto, achando que tudo está bem. Mas a missão nos provoca ver que não está bem, que as comunidades foram diminuindo, que a realidade da Igreja do Brasil, em momentos da história foi perdendo esse ardor, esse coração missionário. Eu vejo uma retomada, vejo que está crescendo essa consciência missionária. O senhor diz que está crescendo essa consciência missionária. O Brasil foi um país que durante muitos anos foi evangelizado por missionários chegados sobretudo da Europa. A realidade foi mudando e o Brasil é um país que começa a enviar missionários para outros países e também para a Amazônia. Até que ponto a I Experiência Vocacional Missionária pode ajudar a que os futuros padres possam incentivar em sua vida e na vida de suas Igrejas locais essa consciência missionária? Eu tenho essa consciência de que o Brasil já recebeu muito, em toda sua história de evangelização muitos missionários ad gentes. E a gente respira, tanto na Amazônia, no Nordeste, e em outras regiões do Brasil, que teve muita contribuição de missionários que vieram de fora. Eu vendo isso, me senti interpelado a colocar-me a disposição para também sair, por isso eu fui a Moçambique. E nas Pontifícias Obras Missionárias, que tem como objetivo promover o espírito missionário universal, eu foquei muito nessa questão da missão ad gentes, que nisso eu penso que a Igreja do Brasil pode crescer muito ainda. Ela que recebeu, ela pode dar da sua pobreza, como diz o Documento de Puebla, não esperar a que aqui no Brasil tenha um número suficiente de missionários, mas enviar, não tem missão sem envio, sem saída. Tem uma expressão interessante de um padre que trabalho nas Pontifícias Obras Missionárias, que dizia que inventaram refrigerante light, os doces diet, cigarros sem nicotina, café descafeinado, e agora inventaram uma missão sem saída. Se fala muito de missão, também na Igreja do Brasil, mas precisamos crescer nas práticas, nos envios missionários. Por isso que nesses últimos anos se está insistindo muito no tema da missão ad gentes. O tema do Congresso Missionário Nacional aqui em Manaus vai ser esse: “Ide da Igreja local aos confins do mundo”. O sujeito da missão é a Igreja local, é a diocese, e abrir-se à universalidade da missão. Nisso estamos dando alguns passos e os futuros padres, nessa experiência missionária também, eles que saíram de todas as partes do Brasil, a Amazônia é considerada também um tipo de missão ad gentes. Ela é um território universal da missão, que reúne várias culturas, vários povos, e os seminaristas vindo aqui, eu acredito que vai despertar neles também essa consciência missionária. E eles voltando para suas dioceses, na Universidade, na academia, na formação, levando tudo o que eles experimentaram aqui na Arquidiocese de Manaus. Essas experiências missionárias, quando uma Igreja local envia missionários para outras regiões, outros países, sem dúvida enriquece a vida da própria Igreja. Em que podem enriquecer essas experiências missionárias a realidade das Igrejas locais, daquelas que enviaram seminaristas para esta experiência, daquelas que enviam missionários para a Amazônia ou para outros países? A Igreja que envia alguém é uma Igreja que se enriquece, porque o envio, eu o vejo como a expressão de uma Igreja missionária. Se a diocese não envia ninguém, se não tem projetos de igrejas irmãs, se não tem nenhum projeto ad gentes, ela vai perdendo seu ardor, seu fervor missionário. A Igreja se enriquece na medida que envia, que dá da sua pobreza. No Brasil são mais de 60 projetos que tem de igrejas irmãs e é uma contribuição muito grande. Eu vejo que missão…
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A Igreja da Amazônia não defrauda aos missionários

A missão alegra o coração de todo batizado, uma alegria que brota do povo, que ao acolher o Evangelho expressa alegria e gratidão, sentimentos que quem vai em missão agradece. A I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada na Arquidiocese de Manaus, na Prelazia de Itacoatiara e na Diocese de Coari, acolheu 280 missionários e missionárias de todos os cantos do Brasil, uma mistura de sotaques, de raças, de modos de viver a fé. O que foi expresso no final dos dias de missão pela grande maioria dos participantes mostra que foi uma experiência que superou suas expectativas, que os missionários e missionárias não se sentiram defraudados. De fato, as avaliações dizem que foram dias de encontro, sustentando na interculturalidade, a escuta, o anúncio, o aprendizado. Uma experiência que tem provocado admiração, encantamento, gratidão, superando assim o cansaço de chegar até lugares de difícil acesso. Conhecer a realidade nos ajuda a superar preconceitos, muitas vezes presentes na mente da gente, também em relação à Amazônia, uma região e um povo desconhecido para muitos brasileiros e brasileiras, influenciados pelo que ouviram dizer. Chegar nos lugares com os sentidos atentos nos ajuda a abrir o coração e sentir com o espaço e as pessoas, com tudo o que faz parte daquele habitat. A Amazônia encanta pela sua beleza, mas acima de tudo encanta pelas pessoas que nela vivem, sinal de uma acolhida generosa. Uma experiência de vida partilhada que nos ajuda a crescer, a olhar para o outro como sinal de fraternidade. Um território que encanta pelo modo de ser do povo, por uma religiosidade que brota do chão, da vida das pessoas mais simples, que desde a fé superam as dificuldades, testemunhando a presença de um Deus encarnado. Como não sentir o desejo de ir em missão, de ir ao encontro diante dessa realidade? Como não querer partilhar a vida e a fé com pessoas que tanto nos enriquecem com seu jeito de entender a vida e de experimentar a presença de Deus no meio deles? Um povo aberto e receptivo, solidário diante da necessidade alheia. Um povo que faz realidade uma Igreja que concretiza aqui e agora a Boa Nova de Evangelho. A missão parte da encarnação, o testemunho missionário só é válido quando se tem os pés no chão, fincados na vida concreta, quando não esquece o lugar, o momento e os destinatários desse testemunho, que nasce de Deus e que quer conduzir até Deus àqueles que sentem necessidade dele em suas vidas. Sempre desde o serviço, um serviço gratuito, a exemplo do próprio Deus que dá tudo em troca de nada. É tempo de sair de nós, dos nossos lugares de conforto, das realidades que controlamos, para ir ao encontro daqueles que esperam essa palavra, esse testemunho que os faça enxergar esse Deus que está no meio de nós, no meio deles. Não tenhamos medo, nossa vida é missão e é nela que vamos encontrar esse Deus que nos faz plenamente felizes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar