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Dia: 26 de janeiro de 2023

Mensagem de Dom Evaristo à Diocese de Roraima: “uma Igreja que tem clareza da sua opção de estar ao lado dos povos indígenas, migrantes e vulneráveis”

Após uma nomeação inesperada, Dom Evaristo Pascoal Spengler tem se dirigido ao Povo de Deus da Diocese de Roraima. Em suas primeiras palavras diz ter se encantado “com a fé do povo simples e com os grandes apelos missionários” da Prelazia do Marajó, que ele vê como “porta de entrada para a Amazônia com suas belezas e seus encantos, mas também seus dramas, seus desafios sociais e evangelizadores”. No Marajó, Dom Evaristo diz ter descoberto “a abertura missionária para toda a querida Amazônia, e a importância da Amazônia para a Igreja e para o mundo”. Diante da nomeação do Papa Francisco, o Bispo eleito da Diocese de Roraima diz tê-la recebido “com muita disponibilidade e abertura de coração para acolher a nova realidade e seus desafios como um apelo de Deus”. Seu novo Bispo agradece a “todos os que desde o início contribuíram no trabalho evangelizador” na Diocese de Roraima, dizendo chegar “em uma Igreja adulta e experiente”. Em Roraima ele chega “com espírito franciscano”, esperando encontrar irmãos, que “são sempre um dom, um presente de Deus”. Um Bispo que diz chegar “para somar, juntamente com os presbíteros, religiosos e religiosas e todos os batizados e batizadas que vivem sua vida de fé em comunidades, movimentos e paróquias, e servem nas pastorais, organismos eclesiais, equipes e conselhos”. Da nova realidade reconhece seus desafios: “povos indígenas, migração, garimpo ilegal, violência, conflito de terras e territórios e o desafio da evangelização nessa realidade”. Mas também sabe “que a Igreja local é missionária, servidora e profética”, destacando “o serviço prestado pela Diocese aos migrantes venezuelanos”. Uma Igreja que segundo seu novo Bispo, “pauta as suas opções iluminada pelo Evangelho e não por aplausos ou críticas. É uma Igreja que tem clareza da sua opção de estar ao lado dos povos indígenas, migrantes e vulneráveis”. Dom Evaristo é consciente de chegar num momento marcado pela tragédia humanitária que enfrenta o povo Yanomami, que define como “um escândalo da sociedade brasileira com repercussões internacionais”. Diante disso ele quer “somar com todos os de boa vontade, no esforço do resgate pelo respeito e dignidade deste povo, que vive a paixão de Cristo diante dos nossos olhos. Quero estar ao lado e apoiar a todos aqueles que defendem a vida, promovem a paz, e desenvolvem o cuidado da Casa Comum”. Se sabendo limitado, o Bispo eleito da Diocese de Roraima afirma que “é necessário contar mais com a misericórdia de Deus e a ação do Espírito, do que com as nossas forças, e caminhar sempre com os irmãos em espírito de sinodalidade”. Ele lembra seu lema presbiteral, que é a promessa de Deus a Moisés: “Vai, eu estou contigo”. Por isso reconhece que “nossa única segurança é a presença do Deus que nos chama e nos envia através do seu Filho Jesus Cristo”. Igualmente lembra seu lema episcopal: “Avança para Águas Profundas”, que segundo Dom Evaristo, “não permite que eu me acomode”. Finalmente, o Bispo agradece as mensagens de boas-vindas recebidas e “a acolhida e a fraternidade manifestada pelos bispos do Regional Norte 1 da CNBB”. Para sua nova missão pede a oração de todos e a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, enviando sua benção. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Se não enxerga o genocídio yanomami você deixou de ser humano e ainda mais cristão

Negar aquilo que nos incomoda, as situações desumanas, os graves pecados contra os descartados, não minora o que eles representam. O sofrimento dos povos indígenas é uma constante no Brasil desde que em 1500 Pedro Alvares Cabral chegou na chamada Costa do Descobrimento. Mais de 500 anos de cenas que muitos consideram normais, como algo que faz parte da vida e da história, mas que outros consideram ou consideramos vergonhosas, situações que colocam em questão a própria condição humana, que nos animalizam, deixando para trás uma atitude que pode ser considerada o elemento primeiro para considerar que alguém é humano: a compaixão. Também é a compaixão aquilo que define o Deus cristão, Ele é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor. Por isso podemos dizer que só quem vive a compaixão com aquele que está jogado na beira da estrada é cristão. Se alguém não faz isso pode ser chamado de fariseu, de mestre da Lei, mesmo que se empenhe em dizer que Deus está acima de tudo. Não é a primeira vez que o Povo Yanomami sofre as consequências daquilo que o Papa Francisco chama uma economia que mata, uma realidade muito presente na querida Amazônia. Mas o acontecido recentemente clama aos céus, saber que ao menos 570 crianças menores de 5 anos morreram nos últimos 4 anos só pode ser definido com uma palavra: genocídio. Numa população de 38 mil pessoas, essas 570 crianças representam uma porcentagem elevadíssima, colocando em risco a sobrevivência desse povo no futuro. Ainda mais quando essa situação é consequência do descaso de um governo empenhado em matar os índios, em acabar com eles para poder dispor daquilo que seus ancestrais guardaram secularmente, a casa comum. O lucro de uns poucos colocado acima de uma sociedade e uma cultura ancestral para beneficiar quem nunca se preocupou com o cuidado da vida. A gente fica estarrecido com as reações de pessoas que se dizem gente, inclusive de cristãos, de católicos, que na verdade nunca entenderam o que significa a fé no Deus encarnado, no Deus que está no meio de nós, naquele que está doente, que está nu, que está com fome e com sede, naquele que sofre, que se tornou vítima pela falta de humanidade e de ser cristão dos outros. É tempo de parar e pensar, de nos questionarmos como sociedade e definir os caminhos a seguir. Será que vamos escolher a vida ou vamos ficar com o lucro? Será que vamos defender os descartados ou vamos nos somar ao grupo dos que defendem o lucro acima de tudo? Aprendamos com aqueles que realmente nos ensinam o que vale a pena: ser humanos e acreditar no Deus encarnado. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi: Com os yanomami aprendi “a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar”

O sangue dos povos indígenas, o sangue dos yanomami corre nas veias da Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi. Bem é verdade que a missionária da Consolata nasceu no Quênia, mas desde que no ano 2000 chegou no Brasil, ela sempre permaneceu na missão Catrimani, lugar de presença dos missionários e missionárias da Consolata no meio de um dos povos mais atacados ao longo do último século no Brasil. Uma missão que a religiosa vê como “uma presença de consolação, uma presença de defesa da vida, de promoção da vida”. Segundo ela, “tem sido também uma presença de ser mulher entre as mulheres”, algo que tem se concretizado no trabalho com as mulheres, nos encontros em diferentes regiões no território Yanomami. Neste tempo de convivência a Ir. Mary Agnes, que foi auditora na Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, diz ter aprendido “a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar, porque a vida é muito atropelada aqui, em alguns momentos há surtos de epidemiologia, invasão do território”. A religiosa insiste em que “aprendi a sempre a recomeçar, quando a vida parece que não existe, sempre tem a mão de Deus que vem ao encontro e recomeçamos. Aprendi muito esse modo de sempre estar disposta a recomeçar, construir, a fazer algo novo, a superar, a estar calma, a constância e o amor na convivência”. Isso numa região que tem passado momentos muito difíceis e onde se vive o momento atual com preocupação. Na missão Catrimani muitos indígenas não são conscientes do que está acontecendo em outras regiões do território. Lá não chegam meios de comunicação, o povo não tem acesso a ver as imagens, só se informam com que o que falam na radiofonia, relata a missionária da Consolata. Diante da situação que o Povo Yanomami vive, a Ir. Mary Agnes insiste em que “falta realmente presença, presença em muitas regiões yanomami, pessoas que podem estar com eles, conversar, compartilhar, isso faz falta, essa presença de pessoas inseridas, que podem também dialogar com o povo neste momento, que podem escutar qual é o problema e acompanhar o povo no dia a dia. O povo está vivendo nesse momento essa situação de desamparo, de estar só”. As missionárias da Consolata estão acompanhando algumas comunidades, mas como acontece em muitas regiões da Amazônia, essa é uma região de difícil acesso, “são viagens longas, a pé, de barco”, relata a religiosa. Os problemas maiores, aqueles que estão aparecendo na mídia, acontecem em regiões distantes da missão Catrimani, onde elas não conseguem chegar. “E mesmo se nós conseguíssemos chegar seria destampar um buraco aqui para ir tampar outro buraco em uma outra realidade”, afirma a religiosa. Diante disso, a Ir. Mary Agnes lança um grito de socorro, “o povo vive nessa ausência de pessoas que possam realmente doar a vida e estar junto com eles. Estar tempo, não é só ir e voltar, mas ficar na região como presença”. Um tempo de dor do povo que a missionária diz estar vivendo como uma experiência em que “o Senhor está animando a minha vocação e também essa opção das missionárias da Consolata, ficar junto ao povo, as missionárias e os missionários”. Ela insiste na importância de “estar sempre presente, junto ao povo e colaborar naquilo que podemos”. À Igreja a religiosa faz um apelo para poder ter uma presença maior. Ela lembra da missão do Xirei, uma das regiões mais atingidas atualmente, onde havia uma comunidade religiosa até 2006, e essa comunidade deixou por falta de pessoas que podiam dar continuidade. Uma experiência que começou nos anos 90, quando havia outra situação grave quanto está hoje. A religiosa disse que “hoje está pior, mas agora não tem essa presença, eu sinto que o Senhor me pede, oxalá seja verdade, que a Igreja procure outras religiosas e religiosos que possam atuar em outros frentes na área yanomami, porque aqui é a única presença da Diocese. Eu sinto esse chamado do Senhor, primeiro a afirmação da minha opção, da nossa opção como Consolata, missionários e missionárias de continuar aqui, mas também esse apelo à Igreja do Brasil e do mundo para tentar abrir outras frentes nessas realidades”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1