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Dia: 28 de janeiro de 2023

Dom Evaristo Spengler: Vou para Roraima “em espírito de serviço e de prontidão para aquilo que Deus quer”

Nomeado Bispo da Diocese de Roraima num momento em que “estava pronto para continuar essa missão por muito tempo aqui no Marajó”. Mas em obediência à Igreja e com alegria, Dom Evaristo Spengler se dispõe para assumir sua nova missão. Essa nova caminhada, ele quer fazer de modo sinodal, enfrentando os desafios que fazem parte da realidade local, migrantes, indígenas, mas sabendo que “são desafios muito grandes, que não se podem enfrentar apenas a nível de Igreja, mas em comunhão com todos”. Em Roraima, Dom Evaristo chega “com grande espírito de escuta, com os olhos abertos, com os ouvidos atentos”, querendo se integrar numa Igreja marcada por um “espírito de descoberta do que Deus quer de nós a cada momento”. Sempre caminhando juntos, em unidade, buscando “o fortalecimento das nossas comunidades”. O senhor acaba de ser nomeado Bispo da Diocese de Roraima. Em sua primeira mensagem ao povo de Deus da sua nova Diocese o senhor mostra sua surpresa diante dessa nomeação. Como está vivenciando este momento em sua vida pessoal, mas também em sua vida como Bispo? Eu estou apenas seis anos aqui no Marajó e quando fui nomeado para a Amazônia vim com muita alegria. Nós iniciamos um processo sinodal na Prelazia no início do ano 2020 para preparar uma assembleia do povo de Deus que acontece a cada quatro anos, e fomos interrompidos pela pandemia, e só conseguimos após uma longa escuta nas comunidades fazer a assembleia agora em julho de 2022, e aí começamos a fazer o Plano de Pastoral, que foi aprovado em janeiro de 2023, há poucos dias. Haviam sido feitas novas nomeações para coordenações pastorais e estava pronto para continuar essa missão por muito tempo aqui no Marajó. Mas Deus apresenta suas surpresas, e quando o Núncio disse que o Papa Francisco havia me nomeado para a Diocese de Roraima, eu acolhi com muita disponibilidade e apertura de coração e com atitude de serviço. Eu sou franciscano e sempre quero ter essa obediência à Igreja, e vou com alegria a acolher esses novos irmãos que Deus me dá na Diocese de Roraima. Uma diocese que tem uma história, da qual o senhor é consciente. Como o senhor valoriza o que já foi vivido na Igreja de Roraima ao longo de mais de um século de prelazia e diocese e de mais de três séculos de evangelização? Eu sou muito grato a todo o trabalho realizado por todos os bispos, padres, religiosas, lideranças das comunidades e vou agora a me integrar nessa caminhada. Não vamos começar uma nova história, mas vamos continuar a história que já tem mais de cem anos e eu quero aprender com o povo, com os padres, aprender da realidade, estar atento ao que Deus quer para essa missão na Diocese de Roraima. É a soma dos dons, a soma dos valores, sempre na escuta dos sinais que Deus nos dá é que nós vamos fazer uma caminhada sinodal, caminhar juntos como povo de Deus. Uma diocese marcada por uma realidade social às vezes conflituosa, às vezes complicada, garimpo, povos indígenas, migrantes, desafios grandes para alguém que está chegando. Como o senhor pensa que podem ser enfrentados esses desafios? Eu já teria feito uma visita a Roraima, juntamente com a Comissão de Enfrentamento ao Tráfico Humano, em 2018. Infelizmente não pude estar lá, porque naquele período faleceu uma irmã minha e fui para o funeral. Mas sempre tive um acompanhamento próximo de toda a migração venezuelana que chega até Roraima, o trabalho feito na diocese, um trabalho grandioso, um trabalho competente, um trabalho que merece todo o nosso respeito e a nossa consideração. Também tenho acompanhado de muitos anos a questão dos indígenas yanomami. Eu lembro que a primeira vez que me chamou a atenção, estava fazendo um curso de seis messes no Chile e lá a gente ouvia muito poucas notícias do Brasil. Naquele tempo ainda não tinha a facilidade da internet e dos meios de comunicação como temos hoje. Eu assistia o principal jornal do país e durante seis messes só teve três notícias do Brasil, uma delas foi o massacre dos indígenas yanomami. A partir daquilo começou a me chamar a atenção a história desse povo, comecei a estudar mais, comecei a conhecer melhor. Agora recentemente essa tragédia humanitária que se desenvolve em relação a esse povo yanomami, pelo qual tenho grande respeito. A Igreja sempre esteve ao lado desse povo, e também eu chegando quero me colocar ao lado deles para estar resgatando cada vez mais junto com todos a dignidade, o respeito, ao nosso povo yanomami. A própria CNBB me fez uma comunicação de que está fazendo uma doação de cestas básicas, alimentação para o povo yanomami através da Diocese de Roraima. A Igreja está muito atenta, são desafios muito grandes, que não se podem enfrentar apenas a nível de Igreja, mas em comunhão com todos os homens e mulheres de boa vontade e também com todos os organismos institucionais poderemos ajudar o nosso povo a ter mais vida e vida em abundância. Pastoralmente, a Diocese de Roraima sempre foi uma Igreja viva, comprometida, com grande presença missionária. Dentro da dinâmica da sinodalidade que a Igreja está vivendo hoje, como o senhor pensa que pode ser continuado esse trabalho evangelizador? Eu vou com grande espírito de escuta, com os olhos abertos, com os ouvidos atentos, a toda a realidade do povo, à história já construída, a todas as forças que ajudam a esta Igreja a ser mais viva, e eu quero me integrar. Então vamos trabalhar com certeza com um espírito de sinodalidade, e é nesse espírito de descoberta do que Deus quer de nós a cada momento que vamos fazendo nosso caminho conjunto para frente. Caminhar juntos é muito importante, caminhar na unidade, caminhar de fato na busca do projeto de Deus. Caminhar na unidade não significa que todos pensem da mesma forma, mas com pensamentos diferentes. Com atitudes que convivem, o Deus que nos chama nos envia em missão para dar uma…
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Nazaré Silva: Desafiados a “ter um olhar humano para com a dor do outro”

O Evangelho é sempre atual, Palavra viva, que se concretiza no tempo atual. Daí as palavras da jovem Nazaré Silva ao comentar a passagem das Bem-aventuranças no Evangelho de Mateus, que a Liturgia da Palavra deste 4º Domingo do Tempo Comum nos apresenta: “Bem aventurados os povos indígenas, em especial os Yanomami; Bem Aventurados os povos do campo; Bem Aventurados os ribeirinhos; Bem aventurados os roraimenses;  Bem aventurados os Amazonenses; Bem aventurados os migrantes; Bem Aventurados todos os fiéis que compõem o Regional Norte I; Bem aventurados todos os de puro coração, que se dirigem ao senhor Jesus Cristo”. A jovem da Diocese de Roraima, nos faz ver que “a liturgia do 4º domingo do Tempo Comum nos interpela a uma ação concreta: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus“. Em suas palavras, Nazaré faz memória “de todas as pastorais e movimentos que atuam diretamente com os grupos vulneráveis: Pastoral da Criança, Pastoral Indigenista, Pastoral do Migrante,  Pastoral do Menor, Cáritas, CPT (Comissão Pastoral da Terra), dentre outras”. Também nos lembra que “no ano que a Igreja do Brasil nos convida a refletir sobre a Fome a partir da Campanha da Fraternidade, que tem por lema ‘Dai-lhes vós mesmos de comer!’, nos apresenta como inquietação o enfrentamento da fome: como podemos nos calar em um país como o Brasil, líder mundial na produção de alimentos, dadas pessoas sem alimento na mesa? Como podemos admitir que pessoas, famílias e até comunidades inteiras passem fome?”. Nazaré lembra do acontecido na última semana em Roraima, destacando que “nesta semana, em que nossos olhares se voltam aos povos Yanomami, que sofrem com a fome a doença, decorrente do garimpo ilegal em terras indígenas, crianças, mulheres, homens e idosos encontram-se em estado de dor, somos convidados e convidadas, para que nos espaços que ocupamos (trabalho, escola, universidade, pastoral, catequese, dentre outros),  a provocar reflexão a respeito das estruturas injustas da sociedade, a ter um olhar humano para com a dor do outro, a necessidade de boas práticas como a Economia de Francisco e Clara”. Um texto que nos ajuda a ter certeza de que “quando cuido do outro, estou cuidado de mim”, nos convidando a que “sejamos sal e luz nos espaços que ocupamos”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1