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Dia: 1 de fevereiro de 2023

Cardeal Steiner: “Sem a retirada do garimpo, sem a reestruturação da saúde, o Povo Yanomami não terá futuro”

Neste momento tão difícil do Povo Yanomami, O Cardeal da Amazônia se fez presente para visitar os indígenas e impulsar caminhos que já estão sendo trilhados pelas organizações indígenas e pela Igreja católica. Uma voz firme e profética, que deixou claro que “sem a retirada do garimpo, sem a reestruturação da parte da saúde, o Povo Yanomami não terá futuro”. Uma agenda apertada, mas que foi oportunidade para visitar os doentes, se encontrar com as lideranças indígenas, cada vez mais organizadas, com representantes da Diocese de Roraima, sempre presente na defesa dos povos originários, e com a imprensa local, nem sempre interessada na pauta indígena, mas que segundo o Cardeal Leonardo Steiner tem um papel decisivo na construção de uma sociedade justa e fraterna. A todos chamou a se dar as mãos e trabalhar juntos, para assim ajudar que não morram mais crianças indígenas, que são a riqueza e o futuro dos povos. Na Diocese de Roraima moram mais ou menos 120 mil indígenas, deles 80 mil vivem nas 32 terras indígenas homologadas, segundo informou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ao Cardeal Steiner. Uma população que é vítima de uma situação muito complexa, mas que não é nova e que tem sido denunciada inúmeras vezes. As causas estão no garimpo, sustentado na violência, que levou a se tornar algo comum o farto de ver corpos boiando nos rios, e no abandono da Saúde Indígena, aumentando exponencialmente os casos de malária e desnutrição. Junto com isso, a exploração sexual no garimpo, inclusive de menores, e a morte violenta de mulheres indígenas, visando a desaparição dos povos originários e suas culturas, uma realidade que denunciada pelos próprios indígenas, tem impactado fortemente a Dom Leonardo. De fato, as estatísticas dizem que 70% das mulheres assassinadas em Roraima nos últimos anos morreram no garimpo, uma realidade forjada na violência e controlado pelo crime organizado chegado de outras regiões. Uma violência que é reproduzida na cidade de Boa Vista, que tem como consequência uma sociedade cada vez mais dividida e omissa. Conhecer essa realidade foi agradecido pelo Cardeal Steiner, que destacou a importância de juntar a documentação em vista da abertura de um processo. Dom Leonardo chamou a viver este momento difícil e desafiante desde uma experiência de fé e com um sentimento de esperança, que o Cardeal vê numa Igreja atenta e disposta ajudar os indígenas, que se faz presente no fato de hoje contar com os indígenas, algo que ele considera um passo enorme e que se faz presente no fato de que hoje existe o Ministério dos Povos Indígenas, dirigido pelos próprios indígenas, e a FUNAI também está dirigida por indígenas. Dom Leonardo chamou os membros do CIMI e das Pastorais Sociais, para quem pediu que Deus lhes dê ousadia e coragem, a se juntar aos indígenas e dá-los o protagonismo, a contar com sua cultura e modo de ser, buscando junto com eles saídas, também em diálogo com o novo governo, mas sabendo que o governo não faz tudo. Nesse sentido, a Igreja é desafiada a fazer pressão em favor dos povos indígenas como testemunho do Evangelho, desde uma atitude samaritana. Uma Igreja que crê na forças dos pequenos e que em Roraima sempre viveu em tensão por estar ao lado dos pequenos, uma Igreja que lembrando as palavras de Dom Pedro Casaldáliga é chamada a viver esperançada. Uma visita para comprovar a extrema dificuldade do Povo Yanomami, que sofre com a desnutrição, segundo o Cardeal pode ver, mas também é vítima do garimpo que invadiu suas terras e da falta de saúde. Tudo isso consequência de um governo que não cumpriu com sua responsabilidade diante dos povos indígenas, fechado ao diálogo e que tentou invisibilizar aos povos indígenas, provocando um verdadeiro desespero, um verdadeiro genocídio, insistiu Dom Leonardo. Algo que representa um chamado para o governo, as organizações indígenas e a Igreja, desde uma sensibilidade evangélica, a poder “levar alento, mas também ajudar no futuro”, que passa pela retirada do garimpo, e a reestruturação da Saúde. Sempre em vista de que “nós não possamos no futuro passar por uma catástrofe tão grande em relação aos povos originários como está a acontecer com o Povo Yanomami”. Para isso se faz necessário “abrir os olhos para perceber a necessidade de estar mais próximos como Igreja”, uma proximidade que também deve fazer parte da agenda do governo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Proximidade e solidariedade do Cardeal Steiner em visita ao Povo Yanomami em nome do Papa Francisco e da Presidência da CNBB

A Igreja da Amazônia foi mais uma vez ao encontro dos povos indígenas, eternas vítimas de um sistema que não duvida em colocar o lucro acima da vida das pessoas. Dom Leonardo Steiner, o Cardeal da Amazônia, chegou em Boa Vista, capital do Estado de Roraima, para mostrar em nome do Papa Francisco e da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sua solidariedade com o Povo Yanomami. O Cardeal da Amazônia, que foi acompanhado pelo Padre Lúcio Nicoletto, administrador diocesano de Roraima, e o Padre Corrado Dalmonego, um dos grandes conhecedores do mundo yanomami, afirmou vir a Boa Vista “para me encontrar com lideranças indígenas para um diálogo, para uma escuta, para assim podermos como Igreja ainda estarmos mais presentes”. Depois de visitar doentes na Casa de Saúde Indígena Yanomami em Boa Vista, o Arcebispo de Manaus insistiu em que “a Igreja católica sempre se fez muito presente junto aos povos indígenas, e nesse momento de dificuldade aqui no Estado de Roraima, especialmente junto ao Povo Yanomami, nós queremos marcar essa presença”. Sua visita na SESAI, foi momento em que ele esteve “conversando, dialogando, vendo as necessidades e realmente a situação de desnutrição é muito grande, é preocupante”. Segundo o Cardeal Steiner, “os motivos todos nós já sabemos, o por que da desnutrição, mas em diálogo agora com algumas lideranças, nós percebemos que existem diversos elementos onde nós podemos dar a nossa contribuição, ajudar”. Ele ressaltou que de parte da Igreja católica, “nós queremos ser solidários, são filhos e filhas de Deus, são pessoas que vivem em regiões distantes, que são povos desassistidos pelo governo nos últimos anos e nós sabemos que a dificuldades que estamos a ver não é nova”. O Arcebispo de Manaus destacou o trabalho de denúncia realizado pela Igreja nos últimos anos, sobretudo através do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que “durante muito tempo tem denunciado, tem falado, tem publicado inclusive relatórios e nós queremos neste momento mostrar a nossa proximidade, nossa solidariedade e vermos com os governos o que podemos fazer para que esses povos possam continuar a viver, mas possam especialmente viver e viver bem”. A visita de Dom Leonardo em Boa Vista continuou com um encontro com lideranças indígenas na sede do Conselho Indígena de Roraima (CIR). O Cardeal, que recebeu o informe “Yanomami sob ataque”, um relatório sobre a violência contra o Povo Yanomami, entregue em abril de 2022 aos 3 poderes, executivo, legislativo e judiciário, onde são recolhidos depoimentos e dados que mostram os efeitos devastadores do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, enfatizou a necessidade de articulação das organizações indígenas, que na atualidade contam com pessoas muito bem-preparadas e altamente organizadas. Dom Leonardo fez saber às lideranças indígenas o apoio do Papa Francisco, a quem enviará um relatório de sua visita, e da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Posteriormente foi escutando as dores do Povo Yanomami, que segundo as lideranças se resumem em quatro elementos: garimpo, desnutrição, fome emergencial e malária. Eles reconhecem o apoio histórico da Igreja de Roraima aos povos indígenas, insistindo em que não é novidade o que está acontecendo. Diante desse cenário alarmante, as organizações indígenas, que se reconhecem mais estruturadas para enfrentar, denunciam a tentativa da mídia de esconder a realidade e afirmam que a maior bandeira é defender a vida dos povos. Segundo as organizações indígenas, boa parte do Povo Yanomami está morto espiritualmente pela destruição da floresta, pelos assassinatos e ataques de todo tipo que sofrem, humilhações, estupros, roubo de crianças, suicídios, todos eles consequência do garimpo, que tem levado 120 comunidades Yanomami a estar em situação de grave calamidade. As lideranças não duvidam em dizer que “quem está matando é o garimpo, que está na Terra Indígena e na cidade”, insistindo em que “o garimpo está banhado de sangue”, algo que acontece à vista de todos em Roraima. Por isso, eles pedem, como tem pedido em todas as instâncias, inclusive governamentais, a retirada imediata dos garimpeiros, a proteção do território e das lideranças indígenas. Um desafio a longo prazo, que pode provocar muita dor no povo, e que tem que começar com a identificação e punição dos verdadeiros culpados, dentre eles os membros dos diferentes poderes e as redes de criminosos que apoiam e financiam o garimpo, o que demanda estratégias de proteção e segurança. De fato, as pessoas que denunciam são ameaçadas e cada vez são mais os jovens yanomami que envolvidos em atividades ilícitas apoiam os criminosos. As lideranças indígenas agradeceram ao Cardeal Steiner sua presença na região em um momento muito difícil para os povos indígenas de Roraima. Eles insistiram em que não foi por falta de aviso, suplicando que “nos ajudem, não nos deixem passar mais por essa situação. Vocês agora têm conhecimento do que nós estamos passando”. Um pedido que encontrou eco no Cardeal da Amazônia, que reconhecendo que as exposições das lideranças tinham lhe ajudado muito, lhes mostrou o desejo da Igreja de caminhar junto aos povos indígenas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1