Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Dia: 4 de março de 2023

Escola Bunecü: A Missão Central Franciscana ajuda crianças e jovens ticuna a estudar em Enepü, sua comunidade

O Papa Francisco na Querida Amazônia, ele afirma que “é preciso garantir, para os indígenas e os mais pobres, uma educação adequada que desenvolva as suas capacidades e empoderamento”. Quando o Santo Padre fala do sonho cultural na exortação pós-sinodal do Sínodo para a Amazônia, ele coloca que o sentido da melhor obra educativa é “cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade, promover sem invadir. Assim como há potencialidades na natureza que se poderiam perder para sempre, o mesmo pode acontecer com culturas portadoras duma mensagem ainda não escutada e que estão ameaçadas hoje mais do que nunca”. A Igreja da Amazônia tem se empenhado ao longo dos anos em fazer realidade processos educativos com os povos da Amazônia. Em Enepü, uma comunidade indígena da Diocese do Alto Solimões, “crianças e alguns jovens ticuna nunca puderam entrar na escola para receber educação”, segundo recolhe o Blog Povo Ticuna de Belém do Solimões. Uma realidade que está mudando pelo Projeto “Escola em prol da Vida e Ecologia Indígena”, que fez com que no dia 02 de março de 2023, a comunidade toda participasse junto à Paróquia São Francisco de Assis de Belém do Solimões e aos Frades Menores Capuchinhos, da benção da nova Escola Municipal Indígena Bunecü. Esta escola é de extrema importância pois a “comunidade não será mais obrigada a abandonar sua terra para buscar educação em outras comunidades ou na cidade”, uma realidade que tem acompanhado a vida desta comunidade durante muito tempo. Agora as crianças e os jovens poderão permanecer e assim cuidar desta terra sagrada e reserva natural da qual este povo ticuna é o verdadeiro guardião. Sem dúvida, um motivo de imensa alegria para todos, mas, de modo especial, para as crianças e jovens indígenas que moram nesta comunidade. A escola tem sido realizada com a ajuda da Missão Central Franciscana (MZF), que, com sua rede de benfeitores e benfeitoras, enviou os recursos necessários para fazer realidade este sonho. Uma escola que contará com a parceria da Prefeitura Municipal de São Paulo de Olivença, que vai enviar o primeiro professor e o material escolar o para o início das aulas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Com informaçãoes do Blog Povo Ticuna de Belém do Solimões

Dom Edson Damian: “Com os Povos Indígenas aprendi a viver com sobriedade, com o estritamente necessário”

Todos os Bispos, ao completar 75 anos tem que apresentar sua renúncia ao Papa, que depois dessa data é aceita no momento que ele considera mais oportuno. Dom Edson Damian, Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira completou essa idade neste 04 de março de 2023. Nesta entrevista, Dom Edson faz um repasse de sua caminhada episcopal, sempre na mesma Diocese, iniciada em 24 de maio de 2009. Ele diz apresentar sua renúncia “com o humilde sentimento do dever cumprido”, após vivenciar seu ministério na Diocese mais extensa e com maior porcentagem de população indígena do Brasil. No dia 04 de março o senhor completa 75 anos, idade em que todos os Bispos têm que apresentar sua renúncia ao Papa. O que representa em sua vida como Bispo este momento? O primeiro sentimento que me vem neste momento é de gratidão a Deus por me permitir chegar aos 75 anos.  Agradeço mais ainda por ter me concedido a graça do ministério presbiteral, recebido das mãos de Dom Ivo Lorscheiter, um autêntico Padre da Igreja, no dia 20 de dezembro de 1975. Com maior gratidão e também redobrado temor, aceitei também o múnus episcopal, atendendo ao chamado do Papa Bento XVI para ser bispo missionário no coração da Amazônia desde o dia 24 de maio de 2009.  “Com Jesus amar e servir” é o lema episcopal que me orientou nesta caminhada. À luz do carisma São Charles de Foucuald, procurei “gritar o Evangelho com a vida”, a partir dos últimos lugares que me exigiam a missão para chegar às comunidades ribeirinhas mais distantes e abandonadas. Em todas as atividades missionárias contei sempre com a colaboração generosa dos presbíteros, das religiosas, dos cristãos leigos e leigas que exercem gratuitamente vários ministérios nas comunidades. Por isso, no momento de apresentar minha renúncia, faço-o com o humilde sentimento do dever cumprido. Se não fiz mais, devo à minha limitação humana e os meus pecados. Porém, em tudo o que realizai sempre acreditei que o “amor supplet”, pois Deus é amor e misericórdia. “A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia” (MV 10). Assumiu a Diocese de São Gabriel da Cachoeira em 24 de maio de 2009, uma diocese com um rosto indígena. Depois de quase 14 anos o que o senhor aprendeu dos povos originários? São Gabriel de Cachoeira é a diocese mais extensa do Brasil: tem 294.000 quilômetros quadrados. É também a mais indígena, pois 90% da população é constituída por Povos Indígenas de vinte e três etnias e ainda são faladas dezoito línguas. Tive a graça de conferir a ordenação presbiteral a treze jovens indígenas de diferentes etnias. Quando o Núncio Apostólico me chamou para comunicar a nomeação, além do susto, apresentei vários motivos pelos quais julgava que não deveria aceitar, mas ele refutou a todos. Por fim, deu-me uma semana para conversar com pessoas que me conheciam. O primeiro bispo que consultei, tinha sido meu orientador espiritual. Simplesmente ofereceu-me um báculo, uma cruz peitoral, rezou por mim e disse que a ordenação deveria ser em São Gabriel. Além do estímulo de todos, encontrei vários motivos para aceitar: em primeiro lugar, temos uma dívida social imensa com os povos indígenas que sofrem tantas violências e injustiças; segundo, o que sou hoje devo à Igreja que me acolheu e me formou desde os 12 anos, por isso seria injusto se fugisse desta missão; terceiro, o amor a Jesus, o seguimento do Evangelho e o testemunho de São Charles de Foucauld, sempre me levaram a servir os pobres, a buscar o último lugar. Como sinal de amor aos Povos Indígenas fui ordenado bispo no meio deles, inclusive com alguns ritos e símbolos próprios da sua cultura.   O Padre Justino Rezende SDB, indígena Tuyuka, primeiro padre desta Diocese, escreveu um texto que me inspirou muito: “A boa nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”. As sementes do Verbo estão presentes em todos os povos e culturas. É a partir delas que cada povo realiza a enculturação do Evangelho. Desde as primeiras visitas às comunidades fiquei encantado com alegria da vida comunitária, a partilha dos alimentos como prolongamento da celebração eucarística, a sobriedade das casas, a acolhida fraterna aos visitantes. Os Povos Indígenas são também mestres em ecologia, verdadeiros guardiões da floresta. Menos de 3% da mata foi destruída nesta região. “Os povos originários vão salvar a Amazônia”, disse-nos o Papa Francisco”, na visita ad limina. O jeito indígena de cultivar as roças no Alto Rio Negro, em 2010, foi declarado patrimônio cultural do Brasil pelo IPHAN. Há duas instituições que prestam imensos benefícios aos rionegrinos: a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e o ISA (Instituto Sócio-Ambiental). Apoio e, na medida do possível, também participo de algumas das muitas atividades que realizam. O Sínodo para a Amazônia pode ser considerado um momento importante em sua caminhada episcopal. Como o senhor vivenciou esse processo sinodal e em que lhe tem ajudado em sua missão como Bispo? O Sínodo foi um verdadeiro kairós para a Amazônia. Convidado do Cardeal Hummes, que era presidente da REPAM, participei desde o primeiro momento quando o Papa Francisco visitou Puerto Maldonado, no Peru. Lá acompanhei a primeira reunião para indicar os temas que deveriam ser abordados e também sugerir os assessores. O processo de escuta realizado nas comunidades indígenas apresentou excelentes propostas que foram sintetizadas pelo Pe Justino Rezende, escolhido para participar da comissão de peritos do Sínodo. A etapa final realizada em outubro de 2019, em Roma, foi um acontecimento inesquecível: a convivência com representantes de 09 países da Pan-Amazônia, a presença do Papa Francisco em todos os momentos, as sessões iniciais quando cada participante, em quatro minutos, apresentava um tema que considerava fundamental para as conclusões do Sínodo. Falei sobre a importância da Teologia Índia no processo de enculturação do Evangelho. Evento histórico foi também o “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum” que grande número de participantes do Sínodo assinamos nas Catacumbas de Santa Domitila. Finalmente, a alegria…
Leia mais

2º Domingo da Quaresma: “Transfigurarmos nossas vidas, comunidades e mentalidades”

A liturgia deste 2º Domingo da Quaresma “nos provoca a transfigurarmos nossas vidas, comunidades e mentalidades, a acolher a novidade que a Palavra de Deus nos revela”, segundo a Ir. Michele Silva. Na primeira leitura do Livro de Gênesis, a religiosa destaca que “temos o chamado vocacional de Abraão, que é desafiado a sair do seu lugar de conforto, deixar sua terra, família e seguir para onde Deus indicar, confiando na Palavra de Deus que promete formar um grande povo abençoado!”. Em relação ao Salmo, ele disso que “o Salmista nos convida a confiar esperando no amor de Deus que é gratuidade, justiça, que salva e liberta toda a vida de forma integral!”. Já na segunda leitura da segunda carta de São Paulo a Timóteo, a Ir. Michele faz ver que “Paulo nos enche de esperança ao dizer que Deus nos salvou e chamou a vocação, por meio da graça manifestada por Jesus Cristo – que destruiu a morte e faz brilhar a vida eterna, que já acontece aqui, por meio das experiências da ressurreição no cotidiano da vida!”. Na passagem do Evangelho segundo Mateus, “nos convida a transfigurarmos nossas vidas, em conformidade ao seguimento de Jesus”, segundo a religiosa. Ela convida a se perguntar “O que preciso transfigurar?”, dizendo que “a quaresma nos propõe a mudança de vida, a sermos novas mulheres e homens, e também transformar a Igreja e a sociedade. A construirmos novas relações e revisar os processos da caminhada cristã”. Por isso, a religiosa questiona: “Como estamos vivenciando a dimensão da ministerialidade com relação as Mulheres e as lideranças leigas? A sinodalidade tem acontecido em nossas comunidades? Estamos nos desafiando a mudança?”. Se referindo às palavras de Pedro no Evangelho: “é bom estar aqui”, ela insiste em que “o lugar do conforto é bom e seguro, temos a tentação de manter tudo como está, a ‘montanha’ é tranquila, estar em oração nos fortalece, mas precisamos descer e seguir lutando pela transformação! Essa profunda experiência com Jesus precisa nos levar a ‘descer a montanha’ – enfrentar os desafios, assumir a construção do Reino de Deus!”. Daí, a Ir. Michele Silva faz um chamado a “sair da nossa zona de conforto para assumir o compromisso com a superação da fome, proposta da Campanha da Fraternidade 2023! Transformar as realidades de morte causadas pela ganância e indiferença: em nossa volta temos o povo Yanomami, a escravidão de seres humanos, a destruição de nossa casa comum, as guerras e todas as formas de desigualdades sociais, isso precisa nos sensibilizar. Para sermos transfiguradas precisamos reconhecer no irmão e irmã alguém que precisa ter dignidade!”. Finalmente, ela deseja “que essa caminhada quaresmal nos transfigure em pessoas mais humanizadas e cuidadoras da Casa comum de forma integral e que o clamor de nossas irmãs e irmãos, ressoe como um compromisso permanente da construção de uma nova Igreja e sociedade!”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1