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Dia: 10 de março de 2023

Celam conclui Encontros Regionais da Etapa Continental: “Uma experiência de aprendizagem de uma nova forma de ser Igreja”

Após quatro semanas de intenso trabalho, conversa espiritual e discernimento comunitário, as Assembleias Regionais da Etapa Continental do Sínodo 2021-2024 foram concluídas com a Assembleia do Cone Sul, realizada em Brasília, de 6 a 10 de março. Trata-se de um processo que está a ser levado a cabo em todo o mundo, como recordou o Dom Jorge Lozano, que lembrou que a participação nas Assembleias da América Latina e do Caribe se baseou no número de habitantes e dioceses de cada país, procurando reunir o que tornará possível produzir a Síntese Continental a ser enviada à Secretaria do Sínodo antes de 31 de março. O Arcebispo de San Juan de Cuyo (Argentina), e Secretário-Geral do Celam, participou desta vez como delegado, envolvendo-se nas comunidades de discernimento, uma experiência muito agradável pelo fato de poder aprofundar a escuta, aprofundar o discernimento, pensar em propostas em conjunto com outros irmãos. Por esta razão, disse que viveu este momento com um coração agradecido a Deus e ao Santo Padre por esta convocação, agradecendo também a Dom Joel Portella, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pelo acolhimento fraterno. O Brasil teve uma grande participação neste processo sinodal, salientou Dom Joel Portella, que insistiu que o processo continua e que o encontro foi uma sala de aula de sinodalidade, algo que se aprende fazendo. Um processo que, no caso do Paraguai, como salientou a Blanca Patricia Palacios, responsável pelo processo sinodal no país, foi levado a cabo em continuidade com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e no contexto do Ano do Laicato, com trabalhos nas diferentes dioceses que criaram as suas equipes sinodais, acompanhadas pela Conferência Episcopal, que desenvolveu ferramentas e realizou duas reuniões para partilhar estas experiências. A secretária da Comissão Pastoral Episcopal da Conferência Episcopal Paraguaia disse que se sentia reforçada como leiga pelo fato de “reconhecer o nosso papel como leigos e agentes pastorais”. Estes são processos que ajudam no crescimento da fé e permitem “ajudar os outros a crescer para que todos tenham uma voz e um lugar na Igreja“, tendo sempre presente que “o objetivo é ser discípulos missionários de Jesus”. Uma realidade também vivida por Sonia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Leigos do Brasil, que definiu este momento como uma oportunidade para o Espírito indicar caminhos e ajudar os leigos, especialmente no Ano Vocacional que o Brasil está a viver, a retomar a sua vocação de responsabilidade na Igreja a partir da eclesiologia do Concílio Vaticano II. Estas assembleias regionais são vistas pelo Padre Pedro Brassesco como “uma experiência de aprendizagem de uma nova forma de ser Igreja“, reaprendendo a ser uma Igreja mais participativa que pode entrar em comunhão com o objetivo da missão de chegar a todos, especialmente aos mais pobres. O Secretário-Geral Adjunto do Celam enfatizou o método, a atitude de escuta, algo fundamental, mas a que não estamos habituados, porque na Igreja se procura mais falar, e aqui a escuta tem sido reforçada. Sublinhou também a importância da oração, porque “não foi um encontro programático, mas um encontro baseado na presença de Deus no nosso meio, que fala através dos nossos irmãos e irmãs”. Ao falar dos resultados do processo, estes aparecerão na elaboração de uma síntese continental, que juntamente com a síntese dos outros continentes permitirá a elaboração de um Documento de Trabalho para a Assembleia Sinodal em outubro de 2023. Destacou também a boa recepção do Documento para a Etapa Continental, “a partir das nuances nas diferentes formas de viver a Igreja em cada uma das regiões”. O Padre Brassesco disse estar agradavelmente surpreendido com o envolvimento e entusiasmo dos 400 participantes nas 4 assembleias da Etapa Continental na América Latina e Caribe, metade dos quais leigos e leigas, procurando ser uma Igreja missionária que leva a atender às diversas realidades. Não podemos esquecer que este é um processo de dois sentidos, que deve ser mantido ativo, como disse Dom Joel. Esta foi uma experiência muito boa, não só nas comunidades de discernimento, com a presença de diferentes países, mas em todos os momentos e ambientes, sublinhou Dom Lozano. Neste sentido, “se há algo de maravilhoso nesta fase, é a comunhão que vem da partilha, através do método de conversa espiritual que nos desafia a escutar, pois é pela escuta que empatizamos. A comunhão é criada a partir da experiência de Deus e da Igreja, quando nos conhecemos, que nos faz companheiros de caminho, superando dificuldades, como a língua”, disse Blanca Patricia Palacios. Na Assembleia, sublinhou a coordenadora do processo sinodal no Paraguai, a questão do clericalismo foi abordada a todos os níveis e é vista como um tema a ser abordado na Assembleia Sinodal em outubro. Também destacou como uma nova questão a promoção da participação das mulheres na tomada de decisões, para poder participar com voz e voto. Sonia Gomes de Oliveira destacou entre estes temas a formação integral, procurando quebrar estruturas ultrapassadas a fim de superar o clericalismo num processo de conversão. Segundo o Padre Pedro Brassesco, diferentes expressões encontraram um caminho comum para alcançar uma grande sinfonia que foi expressa no final de cada um dos encontros, algo manifestado no grande entusiasmo demonstrado em continuar com isto, que ele vê como fruto do Espírito, e assim reavivar a Igreja para encontrar novos caminhos e deixar para trás os medos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

As estacas da Tenda: afunda-las na fé para que o Senhor nos abra os olhos

No caminho sinodal, o Espírito Santo é o guia, o mesmo Espírito que guiou o Concílio Vaticano II, onde no início de cada sessão foi recitada uma oração que o Papa Francisco escolheu como invocação ao Espírito Santo para este caminho, como foi recordado pela delegação argentina na oração de abertura do dia. Um dia que teve as estacas da tenda, dadas pelos bispos argentinos, como centro da reflexão desta peregrinação que os países do Cone Sul estão a realizar na Assembleia em Brasília de 6 a 10 de março com quase 200 participantes. A peregrinação é um ato simbólico para com Deus, dispõe-nos a estar gratos e ao caminhar como povo recorda-nos a necessidade de uma salvação comunitária, recordaram na oração, enfatizando “o processo de alargamento das nossas tendas, de alargamento das mesmas com coberturas de telhados, ápses, novos corpos”.  Nestas tendas, apertamos as suas cordas, “os seus ventos” com o nó que simboliza a irmandade. Tanto a tenda como as estacas dependem do território em que se vai ficar, mas a estaca está sempre escondida debaixo do chão… E se oferece, se esconde, para que a tenda possa ser um refúgio, um lugar de vida partilhada, um lugar de descanso. Além disso, não podemos esquecer que montar uma tenda é uma tarefa coletiva, que uma estaca sozinha nada pode fazer e que as estacas devem ser constantemente verificadas e cuidadas. Tudo isto continua a refletir-se nas comunidades de discernimento, uma experiência muito enriquecedora, nas palavras de Dom João Justino de Medeiros Silva, que destaca a metodologia da conversa espiritual e a heterogeneidade, algo que abre a atenção à palavra e à experiência do outro, num exercício desafiante e edificante, mostrando a sua esperança de que “o que está sendo dialogado, trazido, seja depois de fato aproveitado nos processos seguintes“. Fabiola Camacho, que vê a Assembleia do Cone Sul como algo que encoraja o Espírito, salientando a importância do diálogo espiritual “sendo um método que continue na vida de toda a Igreja para a tomada de decisões“. A Irmã insistiu que “é o Espírito que está no nosso meio, que nos diz, nos conduz e nos inspira a essa Igreja que todos desejamos, uma Igreja mais sinodal”. Um momento para extrair do material utilizado para reflexão “os sinais mais fortes deste coletivo que se está a transformar numa comunidade“, algo que Ivone Maria Perassa considera muito importante. Ao mesmo tempo, ela sublinhou a necessidade de respeitar a escuta popular, cada pessoa e a comunidade. O Padre Richard Arce enfatizou a novidade do método de conversação espiritual e o fato de permitir a todos falar e partilhar num clima de discernimento. Destacou a beleza do encontro, de escutar “com atenção, com afeto, com amor, tentando descobrir tanta vida que existe na nossa América Latina e no nosso Cone Sul“, algo que ele vê como um sinal dos tempos, o que nos diz que “caminhar juntos é possível”, agradecendo ao Papa Francisco por nos ter convidado a caminhar juntos. Dom Oscar Ojea lembrou-nos que “eles têm de se afundar no solo, firmemente, adaptando-se a qualquer tipo de solo”, salientando que “as apostas representam a nossa fé”, uma fé recebida por quase todos nós de uma mulher. Uma fé que é “um ato de responsabilidade para com os outros, para com o nosso próximo“, ao ponto de dizer que “a nossa fé não é uma fuga à realidade, a nossa fé não é um pietismo individualista, nem uma técnica de bem-estar espiritual que acalma a nossa consciência, que nos deixa em paz”. Esta fé, que em muitos casos não conduz ao compromisso, levou o presidente do episcopado argentino a sublinhar que, comparado com Lázaro, que tem um nome, “Lázaro significa que Deus ajuda”, o homem rico “não tem nome, não tem identidade, não é ninguém, tudo o que ele é, é o que ele tem, tudo o que ele é, é puro orgulho, pura vaidade, puro nada”. A partir daí ele chamou a assumir que “afundar a estaca da fé significa pedir ao Senhor que nos abra os olhos, que não os deixe fechar, que não os deixe dormir, num mundo que nos engana constantemente neste aspecto, num mundo que nos faz olhar para o outro lado, um mundo onde não há lugar para muitos na Tenda”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1