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Dia: 21 de abril de 2023

Cardeal Odilo Scherer: “A Secretaria do Sínodo está olhando para a experiência e a prática sinodal na América Latina”

“A Secretaria do Sínodo está olhando para a experiência e a prática sinodal que já nós temos na América Latina, para se beneficiar dessa prática na realização desta Assembleia do Sínodo que é um pouco mais complexa do que as outras assembleias do Sínodo, justamente por causa da impostação que o Papa Francisco deu”, afirmou o Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e vice-presidente primeiro do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), na 3ª coletiva de imprensa da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que acontece em Aparecida (SP) de 19 a 28 de abril de 2023. O Cardeal Scherer insistiu em que “se antes eram consultados os episcopados, as Conferências Episcopais, para a preparação das assembleias, a preparação do texto de trabalho, agora o Papa quis que o Povo de Deus todo fosse consultado, que a consulta chegasse às bases, às comunidades, às paróquias, às organizações eclesiais e também àqueles que não frequentam a Igreja, mas se identificam de alguma forma com a fé católica e o caminho da Igreja católica”. O vice-presidente primeiro do Celam falou da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe que o Celam organizou e onde ele participou, que definiu como “uma grande experiência sinodal, porque já usou este método sinodal que o Papa está propondo para toda a Igreja, ouvir o Povo de Deus”, sendo realizado em todos os países da América Latina e do Caribe foi feito esse trabalho de escuta, de interação, de síntese em vários níveis até que se chegou na Assembleia Eclesial. Dom Odilo ressaltou que essa Assembleia Eclesial “não foi só de bispos e padres, a maioria dos participantes da Assembleia foram leigos e leigas”, e teve de especial que aconteceu durante a pandemia, com a maioria dos participantes on-line. Segundo o cardeal, foi “uma metodologia que funcionou, se fizeram discussões plenárias, reuniões de grupos, celebrações, sem ser presencialmente”, definindo a experiência como “uma coisa fantástica”. Ele disse ter a percepção de que “a Igreja, queira estar em um lugar ou em outro, é a mesma Igreja, que é o que Papa está querendo fazer perceber, nós somos uma Igreja, uma Igreja que deve caminhar junto, não dividida, dispersa, mas ter a percepção de que ela é uma Igreja unida, com as suas múltiplas facetas e diversidades, a partir das culturas locais, das situações locais, dos problemas locais, mas é uma Igreja, em torno da mesma fé, do mesmo Cristo, do mesmo Evangelho e da mesma missão”. Isso não é algo novo na Igreja do continente, destacou o arcebispo de São Paulo, lembrando que na Conferência de Puebla, em 1979, o tema era “Igreja Comunhão e Participação”, e desde então essa preocupação está presente em todo o continente, insistiu. Nesse sentido, o vice-presidente do Celam lembrou que “nas visitas à Secretaria do Sínodo ouvimos claramente que o Sínodo está olhando para América Latina, querendo aprender da América Latina como levar adiante esta proposta sinodal do Papa Francisco”. As palavras do Cardeal Scherer aconteceram num dia em que os bispos refletiram sobre as Diretrizes para a Ação Evangelizadora que estão sendo elaboradas em vista de ser aprovadas em 2025, insistindo na importância da escuta. Junto com isso foi apresentado o percurso da Igreja do Brasil no processo sinodal, uma temática presente na coletiva de imprensa, onde Dom Ricardo Hoepers afirmou que está sendo “um tempo favorável, o Santo Padre quer mostrar ao mundo a importância desta unidade eclesial”. O bispo de Rio Grande (RS) vê o processo sinodal como espaço de escuta filial ao Espírito Santo, não é um parlamento ou um lugar de reivindicação. “Esta experiência sinodal de escuta trouxe riquezas para nossas dioceses, para dar uma luz maior e uma caminhada em plena unidade”, insistiu o bispo. A Igreja do Brasil se prepara para o Jubileu Ordinário de 2025, que tem como lema “Peregrinos da esperança”, sendo apresentadas as diversas comissões criadas e o chamado do Vaticano a dar ênfase ao lema e logotipo do Jubileu, que será preparado em 2023, com a retomada das 4 constituições do Vaticano II com os “Cadernos do Concílio”, e 2024, ano da oração com escolas de oração e a publicação de notas para a oração. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Percurso brasileiro no Sínodo 2021-2024: Processo cíclico entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal

Um elemento que marca, ou deveria marcar, a vida da Igreja em todos os níveis é o Sínodo 2021-2024, que recentemente encerrou a Etapa Continental. Dentro dos trabalhos da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está acontecendo em Aparecida (SP) de 19 a 28 de abril de 2023, foi apresentado o percurso brasileiro no atual Sínodo, conduzido pela Equipe Nacional de Animação do Sínodo, uma equipe sinodal, com três bispos, cinco padres diocesanos, dois religiosos, duas religiosas e duas leigas. Essa equipe, em nome da qual Mariana Venâncio apresentou o caminho percorrido, tem desenvolvido um trabalho de dinamização e assessorias para a realização da etapa diocesana, elaborando posteriormente a Síntese Nacional, feita a partir das sínteses diocesanas, que foi entregue em 15 de agosto de 2022 à Secretaria Geral do Sínodo. Posteriormente, foi essa equipe que organizou a participação brasileira na Etapa Continental, incluindo uma nova escuta e nova síntese. Como foi lembrado, o Sínodo 2021-2024 foi iniciado com a Fase diocesana, realizada entre outubro de 2021 e agosto de 2022, dando passo à Etapa Continental, que foi encerrada em 31 de março. Com o resultado das assembleias continentais será elaborado o Instrumento de Trabalho para a primeira sessão da Assembleia Sinodal a ser realizada de 4 a 29 de outubro de 2023, que está sendo produzido e deve ficar pronto no final do mês de maio. Os bispos representantes da CNBB serão eleitos nesta 60ª Assembleia Geral. Um processo que em outubro de 2024 terá sua segunda sessão da Assembleia Sinodal.  No Brasil foram 261 as dioceses que enviaram suas sínteses, o que representa um 93% do total, que foram a base para a elaboração da Síntese Nacional, junto com outros aportes. Todo o processo sinodal, ele é cíclico, segundo foi indicado, superando assim os processos lineares, se falando de um processo de restituição que leva a um diálogo entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal, como foi enfatizado. A Etapa Continental na América Latina e Caribe se concretizou em 4 assembleias, participando o Brasil da Assembleia do Cone Sul, realizada em Brasília de 6 a 10 de março. Essas assembleias foram dinamizadas pela equipe escolhida pelo Celam, que produziu entre 17 e 20 de março a Síntese Continental, que expressou o discernimento realizado nas 4 assembleias, um texto que foi lido de 21 a 23 de março pelos secretários gerais e presidentes das Conferências Episcopais, enviado à Secretaria do Sínodo, e que está disponível no site do Celam. O processo cíclico vai marcar todas as fases do Sínodo como aconteceu na consulta diocesana para a Etapa Continental em torno a três questões: experiências novas ou iluminadoras, tensões ou divergências substanciais e prioridades, temas recorrentes ou apelos à ação, um trabalho respondido por 183 dioceses brasileiras, um número menor pela rapidez com que foi realizado e a época em que aconteceu, em tempo de férias. Os delegados brasileiros levaram para a Etapa Continental do Sínodo dez prioridades: espiritualidade eclesial centrada na pessoa de Jesus; alargar a tenda; laicato, com especial atenção às mulheres e juventudes; formação para sinodalidade; estruturas de comunhão e participação; diálogo com a sociedade, ecumenismo e diálogo inter-religioso; Igreja missionária a serviço da caridade; comunicação e mundo digital; superação da ideologização da fé; conversão pastoral e evangelização. Da Assembleia Continental foi destacado a metodologia da Conversa Espiritual. Os participantes foram divididos em comunidades de discernimento, que se reuniam todos os dias para meditar e responder ao documento preparatório desde três passos: escuta ativa, escuta receptiva, partilhar o que nos toca mais profundamente. Uma metodologia para que os grupos não se tornassem espaço de discussão e sim de discernimento para chegar a um consenso comunitário. O número de participantes total foi de 407, o maior número na assembleia do Cone Sul (177), onde o Brasil participou com 80 participantes, representando as vocaciones eclesiais. A maior novidade do processo é o texto da Síntese Continental, com oito eixos temáticos, que resumem o discernido nas assembleias, e quatro questões centrais, onde aparecem propostas para a sessão sinodal de 2023. As questões centrais, apresentadas como proposta do Continente para a Assembleia Sinodal, são: Necessário e constante processo de conversão eclesial, com vistas a uma Igreja missionária sinodal, que diz respeito às relações entre eclesialidade, sinodalidade, ministerialidade e colegialidade e encontra fundamento na eclesiologia do Concílio Vaticano II, a partir da noção de Povo de Deus; primazia de uma espiritualidade de comunhão sinodal, cuja centralidade seja a fidelidade a Jesus Cristo e a missão evangelizadora aos povos; “Considerar o admirável intercâmbio entre o magistério do Povo de Deus, pastores e teólogos”,(n. 101); “Redefinir as implicações mútuas entre o particular e o universal, o valor da experiência eclesial nas periferias e seu impacto no conjunto, o equilíbrio certo e tenso entre prioridades locais, nacionais, regionais e globais, e o desafio de estar aberto à harmonia, trabalho do Espírito” (n. 106). De cara ao caminho futuro foi falado sobre a continuidade do processo nas dioceses, o Instrumento de Trabalho para a Fase Universal e a escolha dos bispos que representarão o Brasil na Assembleia Sinodal. Junto com isso, foi destacado a necessidade de uma formação para a sinodalidade, não se trata de um evento e sim de um modo de ser Igreja, de uma espiritualidade sinodal, e assumir o grande achado da Etapa Continental, a metodologia da Conversa Espiritual, que é capaz de desamar os espíritos e favorece a comunhão. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Luiz Soares: “Eu aprendi muito, mas muito mesmo com o povo da Amazônia, me alargou horizontes”

Os bispos eméritos vivenciam as assembleias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de um modo diferente. Um dos eméritos que participam da 60ª Assembleia Geral da CNBB é Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo emérito de Manaus, que afirma que “antes a gente participava, votava. Nós podemos falar, temos alguns eméritos que estão falando, dando a sua opinião”. Dom Luiz destaca “esse ambiente de fraternidade, sentir-se irmão dos outros, isso é muito bom, ajuda bastante”. Para alguém que é emérito desde 2013, “esse período de emérito é um período que precisa ser preparado”. Lembrando o período em que estava à frente da comissão dos bispos eméritos, o arcebispo emérito de Manaus disse que “eu me lembrava sempre de um documento do Papa Francisco que se chama ‘Preparar-se para sair’, e ele sempre dizia para os bispos: ‘vocês se preparem para sair, se vocês não tiverem um projeto para depois dessa vida de bispo diocesano, vocês vão ter problemas’, e graças a Deus, na minha vida, eu me preparei, tenho um projeto para essa época, e foi um período bom, tranquilo, diferente”. Dom Luiz Soares disse que “a gente participa na assembleia, nós somos convidados”, lembrando que “pelo Direito Canónico, bispo emérito não pertence à conferência”. Diante disso, ele lembra que “nós tentamos várias vezes, inclusive Dom Angélico Sândalo propôs, e a conferência propôs também para o Papa, que houvesse uma mudança no Direito Canônico sobre a situação do bispo emérito, porque é interessante que nós podemos participar de Sínodo, e fazemos parte do episcopado a final de contas, e da Conferência não. Mas infelizmente, como se trata de problema da Igreja universal, não foi aceita essa proposta da Conferência”. O arcebispo emérito ressalta em que “somos 120 bispos eméritos e os bispos que participam realmente são muito poucos, porque não sentem interesse, e é uma pena, porque a presença do bispo emérito numa assembleia como esta ajuda bastante, tanto à assembleia como também ao bispo emérito. Nós podemos levar muitas coisas do que está acontecendo na Igreja do Brasil, não podemos ficar alheios”. Falando sobre as lembranças dos 21 anos em que foi arcebispo de Manaus, Dom Luiz diz que esse tempo “representa uma grande parcela da minha vida e foi um momento forte. Eu quando eu vim para a Amazônia, primeiramente para Macapá, fiquei sete anos e meio, depois fui para Manaus, e minha vida mudou, minha visão da Igreja, minha visão de pastoral, de evangelização, mudou bastante, eu aprendi muito, mas muito mesmo com o povo da Amazônia, me fez um bem imenso, me alargou horizontes”. Dom Luiz insiste em que “antes eu era um padre muito fechado, e quando entrei nessa realidade, realmente me converteu. Hoje eu vejo o mundo, a Igreja, de uma maneira muito diferente do que a via antes de minha ida à Amazônia”. Ele afirma que “eu tenho muitas saudades, muitas saudades mesmo, lembro, agradecendo muito a Deus, do que aconteceu, rezo por Dom Leonardo, que agora é nosso arcebispo, e o bispo auxiliar, pela Arquidiocese de Manaus”. Finalmente, o arcebispo emérito disse que “eu sei que a vida da gente é essa, temos momentos e momentos, temos serviços e serviços. Eu vivi 21 anos servindo a Igreja de Manaus, agora continuo a servir, mas de outra maneira, nas minhas orações, meus pedidos a Deus para que tudo dê certo”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1