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Dia: 29 de maio de 2023

TiKunas do Brasil, Colômbia e Peru procuram ser uma “Igreja Sinodal com Rosto Magüta”.

Assumir a sua cultura, as suas raízes, raízes levadas para o futuro, foi o pedido do Papa Francisco aos jovens indígenas na última Jornada Mundial da Juventude realizada no Panamá. Um convite que podemos dizer que encontrou eco no povo Tikuna, o mais numeroso da Amazônia, um povo transfronteiriço, que está a avançar no caminho para tornar realidade uma Igreja com rosto amazónico. Numa tentativa de aproximação das tradições, reuniram-se de 24 a 26 de maio na comunidade indígena Magüta (Tikuna) de Yahuma, departamento de Loreto, Peru, para realizar o primeiro encontro de formação de “Agentes de Pastoral Magüta”, segundo Rodrigo Castells Daverede, leigo missionário que vive na comunidade indígena Tucuchira-Progreso (Colômbia), onde participaram catequistas e agentes de pastoral das comunidades indígenas Magüta da tríplice fronteira: Brasil (Umariaçu), Peru (San Juan de Barranco e Yahuma) e Colômbia (Nazaré, Arara e Progreso). Este encontro faz parte do projeto “Igreja Sinodal com rosto Magüta“. É o primeiro de seis encontros de formação previstos para 2023 e 2024, divididos em três partes: recolher as nossas tradições; alimentar o nosso caminho de fé; oferecer os nossos frutos. Nesta dinâmica, o primeiro encontro teve como objetivo “acolher e reconhecer a realidade ou situação dos processos celebrativos nas comunidades, tanto a nível eclesial como cultural“, segundo Rodrigo Castells. Superar os desafios logísticos, causados pelas deficiências e negligência do Estado peruano, juntamente com a falta de organização dos próprios indígenas que vivem no território peruano, dominado pelo narcotráfico. Segundo o leigo missionário, “abandonados para que, na sua fragilidade e vulnerabilidade socioeconómica, fiquem expostos e reféns do narcotráfico“. Apesar das dificuldades, foi destacada a alegria e o espírito de serviço da comunidade de Yahuma, pela primeira vez na sua história anfitriã de um evento com mais de 60 participantes, durante três dias, o que levou os participantes a desfrutarem da sua estadia apesar das inúmeras carências. Destacam como admirável, “a disponibilidade para oferecer alojamento, alimentação, espaços para trabalho em equipe e constante vontade de resolver, com amor e simplicidade, os imprevistos que surgiam”. Foi uma oportunidade de partilhar a espiritualidade da Nação Magüta através das suas histórias de origem (Pai Gütapa e os quatro irmãos) e das suas celebrações rituais (enquadradas no grande ritual do pelazón ou Moça Nova) e no que diz respeito às práticas atuais de celebração de sacramentos e catequese, o que permitiu iniciar um processo de reflexão. O sonho é fazer nascer a “Igreja Sinodal com Rosto Magüta”. Um processo de recuperação e conservação da sua cultura, que é diferente em cada um dos três países, tem vindo a ser desenvolvido há anos pelos Magüta, embora reconheçam que o processo de reflexão, aprendizagem e apropriação do valor simbólico-conceptual das suas histórias de origem e práticas rituais é ainda incipiente. Por isso, Rodrigo Castells insiste que “na procura de um diálogo frutífero, de uma integração assertiva e consistente dos elementos da cultura Magüta na celebração da fé católica, estes processos de reflexão devem ser aprofundados e dinamizados com mais ênfase”. Conscientes de que há ainda um longo caminho a percorrer, reconhece-se que o trabalho está já em curso. Para o efeito, o caminho será percorrido tendo como protagonistas os próprios Magüta, espaços de encontro e de reflexão.  O método será perguntar, ouvir e propor, com avôs e avós, catequistas, sábios e xamãs. Um trabalho de paciência, de “horas de tabaco, masato e Casa Grande (Maloca), sob a proteção dos antepassados e com o rio e a selva no coração, continuaremos a caminhar”. Um bom ponto de partida, sem esquecer que “a espiritualidade Magüta, marcadamente amazónica, procura entrar na Igreja com toda a sua sabedoria para cuidar e fazer crescer a vida“. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

“Espírito Santo, ajuda-nos a repartir”, pede a Igreja de Manaus na Solenidade de Pentecostes

Pentecostes é uma das grandes festas, inclusive podemos dizer que é a grande festa da Igreja de Manaus. No dia em que é comemorado o nascimento da Igreja, milhares de pessoas das comunidades, áreas missionárias, paróquias, pastorais e movimentos se reuniam no sambódromo para celebrar a Festa do Divino Espírito Santo, tendo como lema: “Espírito Santo, ajuda-nos a repartir”. O lema, inspirado na Campanha da Fraternidade deste ano, foi uma oportunidade para clamar por moradia, comida, pão, amor, paz, educação, justiça, lazer, saúde. Uma temática que cobra maior atualidade diante da ação que a Prefeitura de Manaus realizava nesta sexta-feira, 26 de maio, deixando sem pertences e documentos a um grupo de moradores de rua, algo que foi lembrado repetidas vezes durante a homilia pelo cardeal Leonardo Steiner, que presidiu a celebração eucarística. Na homilia, o arcebispo de Manaus começou lembrando o medo dos discípulos, sendo preciso “um vento que abrisse as portas”, fazendo com que se “espantasse o medo, o temor, o receio, o medo da morte”, insistindo em que “no momento em que a impetuosidade do Espírito tomou conta deles, saíram a pregar”, se iniciando assim a Igreja com o envio desses discípulos que aparece relatado nos evangelhos. “Com a força do Espírito esses homens se sentem enviados, e é por causa dessa pregação deles que nós aqui estamos, nós somos herança da pregação dos apóstolos, nós somos herança do envio que o Espírito Santo fez”, insistiu o cardeal Steiner. Ele insistiu na diversidade de línguas em que Jesus foi anunciado, algo que se repete em nossa Amazônia, “em nossa Amazônia em quantas línguas diferentes é anunciado o Reino de Deus”. Se referindo a uma homilia do Papa Francisco, em que invocava o Espírito como o Paráclito, o Consolador, aquele que nos acompanha, ilumina e indica os caminhos, lembrando que o Papa Francisco afirmava que “nós devemos ser hoje os consoladores e consoladoras, assim como o Espírito é para toda a Igreja, para todas as comunidades”. Ser consoladores e consoladoras, “não na palavra, não no discurso, mas na proximidade, na acolhida, na partilha”. O arcebispo chamou a “sermos próximos, não distantes”, destacando as muitas coisas que acontecem de proximidade na Arquidiocese, dentre elas o trabalho com os moradores de rua, com as pessoas que passam fome, insistindo em que “queremos ser cada vez mais uma Igreja que partilha, uma Igreja que cada vez mais seja uma Igreja que consola, não nas palavras, mas na mão estendida, no olhar, na proximidade, no abraço, no afeto, no amor”. Junto com isso, o Espírito como advogado, como aquele que nos diz o que temos que fazer, convidando os presentes a termos a mesma atitude para com os outros. Tendo como referência a segunda leitura, Dom Leonardo Steiner falou sobre a diversidade de ministérios, de vocações, de serviços, insistindo na necessidade de um mesmo Espírito, uma só Igreja. O arcebispo ressaltou que “nós não queremos combater-nos entre nós”, dizendo ter a sensação de que “não sabemos mais o que é a Igreja, porque vivemos falando mal do Papa, vivemos falando mal uns dos outros, e quanta palavra felina e violenta”. Diante disso, ele disse que “é um só Espírito que nos alimenta, que nos guia, um só, não meu espírito, não meu grupo, não a minha Igreja, não o meu movimento, é do Espírito”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1