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Dia: 10 de julho de 2023

35º Congresso da SOTER debaterá sobre a Amazônia e o futuro da humanidade

A SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião), realiza nesta semana, de 11 a 14 de julho seu 35º Congresso Internacional, que tem como tema: “A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”. Fundada em 1985, com sede na PUC Minas de Belo Horizonte (MG), e dividida em seis regionais, a SOTER busca incentivar e apoiar o ensino e a pesquisa no campo da Teologia e das Ciências da Religião, tendo como perspectiva a opção preferencial pelos pobres. Conta com 650 membros e desde sua fundação organiza seu Congresso Internacional anual, considerado um fórum privilegiado para o debate. O 35º Congresso quer se inspirar no poeta amazonense Thiago de Mello, falecido em 2022, considerado um “incansável defensor da vida e da dignidade do povo da Amazônia”. Exilado no Chile durante a ditadura militar, saiu do país em consequência de sua luta pela liberdade. “Homem que encarnava a coragem e a bravura dos nossos povos originários e quilombolas, tão enraizados na Amazônia e que ainda resistem a despeito de tanta violência, perseguição, negação de direitos fundamentais, falta de políticas públicas”, afirmam os organizadores do Congresso.  “A Amazônia, com seu simbolismo, com sua relevância ecológica enquanto ecossistema complexo, frágil e interligado com os demais, com suas incontáveis nascentes, chuvas e rios, plantas, florestas e animais, com sua rica diversidade de povos sábios, criativos e resistentes, com suas graves ameaças pela voracidade incontida e inconsequente da avidez humana por riquezas e lucros, é nossa fonte maior de inspiração e reflexão”, é o objeto de debate ao longo do Congresso. Isso tendo em conta, como a própria SOTER afirma, que “revela-se decisivo conhecer com profundidade a Amazônia, a riqueza de suas possibilidades e a gravidade de sua exploração irresponsável, de seu desequilíbrio e de destruição para o presente e o futuro do nosso país e da humanidade”. O Congresso acontece em formato híbrido, presencial, no Auditório João Paulo II da PUC Minas, e on-line, com transmissões que serão realizadas pelo site do Congresso da SOTER, sendo exclusiva aos participantes inscritos. As temáticas abordadas serão o Sínodo para a Amazônia; comunicar a Amazônia; evangelização na Amazônia; espiritualidade, ecologia e migração; a história do Cehila; a contribuição dos povos da Amazônia para o futuro da humanidade; os desafios para a ecologia integral e a eco espiritualidade; e as perspectivas teológico-sinodales y territoriales para o futuro da Amazônia. Entre os conferencistas aprecem os nomes de Paulo Suess, Luis Miguel Modino, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Márcia de Oliveira José Oscar Beozzo, Patrícia Gualinga, Moema Miranda e Maurício López. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

A fascinante Missão da Boca do Tefé

1897, ano da chegada dos primeiros missionários espiritanos à Amazónia. Para um feliz e sábio encontro com a História, nada melhor que ouvir o Dr. Claudemir Queiroz, autor de várias obras sobre Tefé. Em conversas à mesa de almoço, explicou-me como foi formado pelos Espiritanos, no Seminário, e depois estudaria Direito, estando sempre ao serviço da Igreja. Falou-me da coragem enorme dos primeiros missionários que gastavam meses e meses rio acima e abaixo, sendo vítimas das febres (o ‘paludão’ era terrível!). Muitos deles morreram jovens, como me mostrou, no Cemitério, o P. Firmino Cachada, Superior da Missão da Boca do Tefé, lugar escolhido para a realização do Capítulo com a presença de todos os Espiritanos que trabalham na Amazónia. Fiz, por isso, duas idas e voltas de barco da cidade até à Missão que está na Boca do Lago Tefé com o Rio Solimões. Numa delas, só com o P. Firmino. A outra congregou, no barco da Diocese, todos os Espiritanos, ali juntinhos, a rezar para que não houvesse naufrágio, caso contrário não sobraria ninguém para contar a história e continuar uma Missão mais que centenária! Voltemos à História, ajudados agora pelo P. Firmino que continua a escrever e a publicar escritos e diários de missionários dos tempos mais antigos. O Bispo do Amazonas, D. José Costa Aguiar, esteve a 1 de Março de 1897 na Casa Mãe dos Espiritanos em Paris com o objetivo de pedir Missionários para a Amazónia, ‘para organizar a Missão dos índios’. O ‘sim’ foi imediato e os primeiros quatro saíram de Lisboa a 13 de Abril para chegar a Manaus a 23 de Maio. No dia de Pentecostes (6 de Junho) tomaram conta da Paróquia de S. Sebastião, onde eu fui rezar, situada na grande praça da Ópera. A 10 de Junho, subiram o Rio Solimões até Tefé, parando na Boca do Lago, local escolhido para construir a Missão. A partir de 1901, Tefé será a única Missão espiritana na Amazónia. É tempo de enchentes e o barco pára junto às escadarias da Missão. Feita a ginástica necessária com as cautelas para não cair á água, há 89 escadas a subir, quase a pique e encontramos o edifício da Missão e, mais à esquerda, o cemitério e a Igreja. Tive direito a visita guiada. Começamos pela Missão, continuamos na Igreja (dedicada ao Espírito Santo), fomos até 2 das comunidades indígenas e terminamos no Cemitério. O P. Firmino chamou-me a atenção para a parte ocupada pelos Missionários: são 23, muitos deles falecidos com 20, 30, 40 e tais anos de vida, na flor da idade, derrubados por febres malárias, pestes diversas, acidentes de barco ou vítimas de animais ferozes. Foram duros os primeiros tempos aqui, como o foram em toda a África, bastando ver os cemitérios da Huíla (Angola) ou Bagamoyo (Tanzânia), como exemplos de muitos outros. Na sua obra ‘À sombra da Missão’, o P. Firmino escreve uma pequena biografia de cada um destes 23 heróis da Missão, aqui sepultados. Já durante o Capítulo, alertei os Espiritanos aqui presentes para um dado comum e profundamente simbólico: eram 10 da França, 4 de Portugal e da Alemanha, 2 da Holanda e 1 da Itália, Suíça e Brasil. Ou seja, de sete países diferentes. Hoje, o Grupo da Amazónia tem Espiritanos de Portugal (2), Nigéria (2), Porto Rico, Brasil, Paraguai, Cabo Verde, Tanzânia e Madagáscar, estando a chegar um de Angola…ou seja, de 9 países diferentes! É a riqueza da diversidade, imagem de marca de uma congregação intercultural! O Capítulo rasgou novas perspetivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas. Vou iniciar 18 longas horas de barco, rio acima, até Fonte Boa, sentado na minha rede. Ali, levado pelos confrades, visitarei diversas comunidades ribeirinhas que são animadas pelos Espiritanos. É uma Igreja de barco sempre à procura de novos remadores. Pe. Tony Neves – Fonte: Vatican News / Fotos: Pe. Firmino Cachada