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Dia: 12 de julho de 2023

Espiritualidade, ecologia, migração: Se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações

Espiritualidade, ecologia e migração foram os pontos refletidos pela professora Márcia de Oliveira e o padre Dário Bossi dentro do 35º Congresso da SOTER que conta com a participação de mais de 600 congressistas presenciais e on-line e acontece de 11 a 14 de julho. Tendo como ponto de partida a migração venezuelana no território amazônico, uma realidade muito presente em Roraima, o Estado onde a professora Márcia mora, ela refletiu sobre o que essas mobilidades nos ensinam enquanto Igreja na região. A professora da Universidade Federal de Roraima enfatizou que “a migração não é um problema, são irmãos e irmãs que precisam de acolhimento, uma oportunidade para toda a Igreja repensar sua missão”. Não podemos esquecer o processo de deslocamento que envolve o mundo inteiro, um terço da humanidade vive fora de seu território de referência, enfatizou a professora, que também relatou o processo de migração interna na Amazônia, com um 46% da população indígena deslocada de seus territórios para a periferia das cidades. Um deslocamento que acontece de forma obrigatória, sem a pessoa ter o direito de escolher a decisão de migrar, segundo a professora. Diante dessa realidade chamou a ver o migrante como um lugar teológico, “acolhê-los não é uma escolha, é um mandato evangélico, sendo um desafio eclesial de grande relevância”, disse Márcia de Oliveira. Acolher na perspectiva cristã, como algo profundo, “não é apenas atender e mandar embora, acolher por amor e por cuidado, não por medo, por desprezo”. A professora fez um chamado a ter respeito pela dignidade do migrante, algo que pede o Papa Francisco, questionando os muros construídos que impedem os migrantes viver com dignidade mundo afora. A Amazônia é atualmente uma rota migratória, disse a professora, e seguindo aquilo que o Papa Francisco pede, a Igreja é chamada a ser “uma comunidade para acolher, proteger, promover e integrar”. Isso diante de uma sociedade onde o migrante é bem-vindo na medida em que ele esquece sua cultura e não queira ser diferente. Para isso, um ponto central é “acolher com compaixão, uma acolhida que brota da sinceridade do coração”. Márcia de Oliveira recordou o dito por Bauman, quando fala de interesses políticos e econômicos que não se importam com a vida das pessoas e da capacidade da sociedade moderna de produzir deslocamentos e não se responsabilizar por isso. Diante disso, a acolhida aos migrantes é um dever da sociedade, de rompimento do esquema capitalista e tudo o que gera essa injustiça. A Doutrina Social da Igreja mostra a necessidade do acolhimento como atitude de transformação, e nessa perspectiva lembrou a falta de cuidado da Casa Comum como causa da migração. Isso tem que levar a acolher com compaixão, a praticar a acolhida com solicitude que parte do próprio Jesus, refletindo sobre a espiritualidade do exilio da Sagrada Família. Igualmente a superação das desigualdades para gerar pertencimento e a atitude de acolhida como algo que inclui todas as dimensões na Igreja. O padre Dário Bossi partiu da reflexão sobre algumas lições sobre a espiritualidade amazônica que podem nos ajudar a crescer na busca de sentido. Nesse sentido, defendeu a importância de se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais, perceber que na luta por resistência isso é garantia de vida, que as espiritualidades são a forças, pois vinculam com as forças ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações. Nessas espiritualidades amazônicas colocou a escuta, indignação e a conversão e profecia como um tripé, colocando o exemplo de pessoas concretas em que o missionário comboniano vê essas atitudes. Como exemplo de escuta colocou Berta Cáceres, á líder ambiental indígena hondurenha, que afirmava que “eles estão com medo de nós porque nós não estamos com medo deles, e junto com isso: “venceremos, foi o rio que me disse”. Uma escuta ampla, que no Sínodo nos levou a entender o desaprender, reaprender e aprender, afirmou Bossi, uma escuta que se faz celebração e contemplação. Como referência de indignação colocou Edvard Dantas Cardeal, da comunidade de Piquiá de Baixo, no Maranhão, exemplo de uma pessoa anônima que lutou contra a mineração na Amazônia, que afirmava que “a beleza dessa luta é que a gente não cansa, e quando houver uma derrota a gente reage com mais ânimo e convicção!”. O padre Bossi fez um chamado a se Indignar diante do colapso da Criação, da falta de água, do lixo nos oceanos, do aumento constante das temperaturas. Uma necessidade em um tempo decisivo que deve levantar nossa indignação, vendo o papel das religiões, como um instrumento que “não pode ser uma fuga moral, as Igrejas não podem se distanciar dos gritos”. Finalmente, no campo de conversão e profecia colocou o líder indígena Ailton Krenak, que afirma que a conversão primeira é a apertura à pluralidade, fazendo ver que “nós não somos as únicas pessoas interessantes neste mundo”. A partir desse chamado, citou algumas atitudes de conversão: reverência diante do recebido; reconciliação, regeneração, rearmar vínculos, laços; volta à simplicidade, sobriedade feliz, bem-viver; conversão ao bem comum, para desmontar a doença da possessão individual acima do coletivo.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: Amazônia, uma Igreja que se evangeliza a si mesma “na força laical, ministerial, da mulher, de indígenas, de missionários e missionárias”

O 35º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – SOTER, que está sendo realizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais de 11 a 14 de julho, com o tema “A Amazônia e o Futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”, contou com a reflexão do cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, tendo como tema: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. Uma reflexão que não pode ignorar o território e o bioma, mas também a atitude que está ou deve estar presente na Igreja da Amazônia: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. Penso no acolhimento que a Igreja na Amazônia oferece hoje aos imigrantes haitianos depois do terrível terremoto que devastou o seu país”, recordando as palavras do Papa Francisco aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (2013). Uma oportunidade em que o Papa fez um chamado a buscar o “rosto Amazônico” da Igreja que está na Amazônia, com sacerdotes adaptados à realidade, corajosos, com parresia. Uma Igreja missionária, que assume a missão que Jesus confiou, destacou o cardeal, “uma Igreja que evangeliza e uma Igreja que se deixa evangelizar”. E para isso ele propôs alguns documentos para ser “uma Igreja aberta, responsável, servidora, samaritana, escutadora; uma Igreja atenta a toda a realidade onde se encontra”. Dom leonardo analisou o conceito de evangelização, destacando a importância da Exortação Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, que apresenta a evangelização como “levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade”, e pergunta “quem é que tem a missão de evangelizar?”, respondendo que é o Povo de Deus, dado que “existe uma ligação íntima entre a Igreja, a comunidade, e a evangelização”. O cardeal mostrou uma dupla orientação na Igreja que é enviada a evangelizar: “evangelizar não é um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial”, e junto com isso, “se cada um evangeliza em nome da Igreja, nenhum evangelizador é senhor da sua ação evangelizadora”. Uma evangelização que ele intui, “tem a dinâmica de sair e receber”. Na Igreja da Amazônia tem um papel fundamental, segundo o arcebispo de Manaus, o Encontro de Santarém, como momento decisivo no caminho para uma Igreja que evangeliza a si mesma. Uma oportunidade para a Igreja da Amazônia fazer um caminho próprio após o Concilio Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellin. Em 1972, os bispos da Amazonia brasileira se encontraram para refletir e discutir, o que foi recolhido no “Documento de Santarém”, que segundo o cardeal, “ele deu impulso e vida à ação evangelizadora na Amazônia”, insistindo em que “Santarém firmou uma Igreja encarnada e libertadora!”. Se firmou um caminho que “proporcionou frutos de encarnação e de profecia na evangelização junto aos povos da Amazônia”, destacando “a audácia profética recolhida no Documento de Santarém”, inspirando a Igreja da Amazônia “no seu modo de ser e de agir”, com “Comunidades de Base onde as leigas e os leigos foram assumindo um protagonismo”. Reflexões que ele considera as sementes do Sínodo para a Amazônia, e que deu passo a sucessivos encontros onde “foi nascendo o desejo do encontro entre as Igrejas da Pan-amazônia”, um processo que levou ao Sínodo para a Amazônia, onde “percebe-se o desejo da Igreja que está na Amazônia assumir a missão de evangelizar a partir do chão em que ela se encontra”. 50 anos depois de Santarém, a Igreja da Amazônia se reuniu no mesmo local, assumindo as orientações da Querida Amazônia, mas também uma Igreja que evangeliza desde a encarnação na realidade e libertação da realidade, uma Igreja que para se evangelizar a se mesma “tem a grandeza da inculturação e da interculturalidade”, insistiu o cardeal Steiner, uma Igreja que “tem a marca da evangelização integral e libertadora”, que é servidora. Dom Leonardo analisou a Querida Amazônia desde a hermenêutica da totalidade, insistindo desde o conceito de rosto amazônico em “traços que pudessem visibilizar a Igreja que está na Amazônia”, buscando não impor e sim despertar para a fé, para a vida do Evangelho. Uma Igreja que tem a encarnação a “expressão das culturas, religiosidades, a relação com o meio ambiente e eliminação das exclusões”. O arcebispo vê na “hermenêutica da totalidade a possibilidade de uma Igreja evangelizar”, definindo os quatro sonhos da exortação pós-sinodal como “quatro dimensões da realidade amazônica, essenciais para uma Igreja frutuosa, misericordiosa, consoladora, inculturada, transformadora, libertadora, ilumina o todo da Amazônia ou a Amazônia na sua totalidade. Os sonhos apresentados ajudam a perceber a vida e o ser da Igreja que está na Amazônia”. O cardeal propôs alguns sinais para responder ao tema da conferência: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. O primeiro, uma Igreja discipular missionária e sinodal, com a missionariedade como fundamento; uma Igreja servidora, profética e defensora da vida; uma Igreja do cuidado da criação, sempre atenta ao clamor da obra criada, o cuidado com a Casa Comum; uma Igreja sinodal, com a participação dos batizados, das expressões de Igreja; uma Igreja da escuta, do diálogo, de uma realidade que na Amazônia é multirreligiosa, multicultural e multiétnica; Igreja dos mártires, expressão da fidelidade à missão recebida e a verdade do Evangelho vivida com radicalidade. O cardeal chamou a estar juntos a caminho, considerando a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), como elemento para a Igreja da região avançar nesse Evangeliza-se a si mesma. Dom Leonardo insistiu na necessidade de desenvolver “Linhas de Pastoral de Conjunto com rosto amazônico, tendo como horizonte a encarnação e libertação, a comunhão e a participação”. Ele insiste na necessidade de muita escuta no caminho para uma Igreja com rosto amazônico, vendo a busca do rito amazônico, como elemento que “deverá ajudar na visibilização do modo de ser amazônico”, chamando a ir além de um rito litúrgico, buscando “visibilizar as manifestações…
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