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Dia: 13 de julho de 2023

Semana Nacional de atualização para Formadores da OSIB aprofunda na dimensão humana afetiva

Será encerrada nesta sexta-feira 14 de julho a Semana Nacional de atualização para formadores que está acontecendo desde segunda-feira 10 em Guarulhos (SP) com a participação de 170 formadores e reitores de todo Brasil, com a assessoria do padre Deolino Pedro Baldissera, Salvartoriano, mestre em Psicologia Clínica com grande experiencia na área. O assessor disse ver a afetividade e a sexualidade como aspectos essenciais da vida humana, mas que podem ocorrer conflitos que impedem sua plena maturidade. Ele insistiu na necessidade de integrar a sexualidade e a afetividade no projeto de vida dos sacerdotes. Um encontro que acontece todos os anos no mês de julho, segundo Dom José Albuquerque de Araújo, bispo da diocese de Parintins e referencial da Organização dos Seminários e Institutos dos Brasil (OSIB). O bispo insistiu em que “assim como o ano passado estamos dando enfoque à dimensão humano afetiva como meta para uma sexualidade integrada”, destacando como muito bom o resultado alcançado no encontro. A temática da Semana Nacional de atualização está em comunhão com as Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, documento de número 110 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e com o 3º Ano Vocacional da Igreja no Brasil. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos Arquidiocese de São Paulo

Patricia Gualinga: “Reaprender com os saberes dos povos indígenas a se relacionar com a Natureza”

A contribuição dos povos da Amazônia para o futuro da humanidade tem sido objeto de debate no âmbito do 35º Congresso Internacional da SOTER, que com o tema “A Amazônia e o Futuro da Humanidade: Povos Indígenas, Atenção Integral e Questões Ecossociais”, decorre de 11 a 14 de julho, presencialmente, na sede da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e on-line, com mais de 600 participantes inscritos. Uma contribuição do ponto de vista de duas mulheres, a líder indígena Patricia Gualinga, do povo Kichwa de Sarayaku, na Amazônia equatoriana, e Lady Anne de Souza, brasileira que trabalha na área da educação em Marabá (PA). Os povos indígenas habitam a Amazônia muito antes da chegada dos colonizadores, insistiu Patricia Gualinga, definindo como principal identidade a sua relação com a natureza, que consideram “um ser como nós”, uma premissa fundamental na sua luta para impedir a invasão das atividades extrativas. O povo Kichwa de Sarayaku tornou-se uma referência no direito internacional pela sua luta que levou à expulsão de uma empresa petrolífera do seu território, ganhando uma ação judicial que se tornou um paradigma. A líder indígena Kichwa deixou claro que “sem os povos indígenas não teríamos florestas“, daí a necessidade de resgatar a importância da presença dos povos indígenas na Amazônia, apelando à rutura com a forma de pensar que é compassiva para com os povos indígenas. Com eles há a Amazônia e um equilíbrio planetário, diante da investida externa e de uma história de incompreensão para com os povos indígenas, tachados de ignorantes por uma sociedade que não reconhece seu pensamento e cosmovisões milenares. Perante as contribuições da Amazônia e dos seus povos para o atual modelo climático global, Gualinga afirmou que “o mínimo que os governos devem fazer é valorizar os povos indígenas e não insistir em abrir a fronteira extrativa“, insistindo em valorizar os conhecimentos dos povos indígenas. “Está na hora de ouvir os povos indígenas porque senão não teremos ações e esperanças que possam contribuir para a humanidade”, disse. Junto com isso, ela pediu uma mentalidade aberta, quebrando paradigmas para se aproximar dos povos indígenas, “para reaprender com os conhecimentos dos povos indígenas a se relacionar com a natureza”. “Um indígena que perde a relação com a natureza perde sua força, sua identidade, daí a importância do território“, destacou Patrícia Gualinga. Segundo ela, “a luta dos povos indígenas não é mais uma luta local, mas uma contribuição para a humanidade”. Isto porque estão a cuidar de espaços de vida para todo o Planeta Terra e a evitar uma crise planetária global. A vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que foi recentemente recebida em audiência pelo Papa Francisco, juntamente com outras duas indígenas que ocupam cargos nas presidências da CEAMA e da REPAM, diz suspeitar que a sua presença nesta conferência pode ser motivada pelo fato de ter cobrado a histórica falta de acompanhamento da Igreja como instituição aos povos indígenas. Ela destacou o poder de incidência da Igreja e do Papa Francisco, que ela vê como um porta-voz global que ajuda a avançar nos processos de cuidado com a Amazônia. Ela também destacou a importância do Sínodo para a Amazônia, onde foi auditora, reconhecendo que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Segundo a líder indígena, a Igreja não entendeu esse processo de relação com a natureza, apesar de ter uma figura de grande relevância nesse campo, como São Francisco de Assis, insistindo que a Igreja tem muitos argumentos para defender a Amazônia. No que diz respeito às organizações indígenas na Amazônia, reconheceu que foram historicamente patriarcais, mas que nos últimos anos as mulheres ganharam espaço, contribuindo com a sua visão, apesar da resistência dentro das suas próprias estruturas. Enquanto indígena, pediu que não fossem minimizados, que não nos dissessem o que temos de fazer, que não houvesse planos vindos de cima, mas sim planos e decisões prioritárias enquanto povos. Isto implica esforço e determinação por parte dos nossos povos, que são muitas vezes tentados pelos governos e pelas empresas, segundo Gualinga, que denunciou o assassínio contínuo de líderes indígenas na região amazónica. Por último, sublinhou a importância do conceito de floresta viva, que definiu como o reconhecimento de que a natureza é um ser vivo consciente, sujeito de direitos. Não é uma reserva, mas um lugar que tem de ser administrado pelos povos indígenas a partir da sua cosmovisão, porque estes espaços destruídos têm consequências graves e é necessário que permaneçam intactos para o bem da humanidade, insistindo no reconhecimento da irmã terra, da floresta, a partir do reconhecimento da visão sagrada dos povos indígenas, capaz de identificar a fonte da vida na natureza. Isto porque “a maior contribuição de um povo indígena é o seu conhecimento da natureza”. Desde Marabá, Estado do Pará, na Amazônia brasileira, Lady Anne de Souza, que começou recordando as palavras de Paulos VI: “Cristo aponta para a Amazônia”, fez um chamado a ter “um olhar amoroso para a Amazônia, para os povos, para uma Amazônia que luta e se organiza para defendê-la e evangelizá-la”. La educadora, que trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Marabá, fez um chamado a “escutar com o coração o clamor dos povos da Amazônia e começar a construir um caminho com um olhar cuidadoso que leva à esperança”. “Fazer isso desde a educação, uma educação dialoga com os saberes, especificidades, temporalidade, cultura”, enfatizou. Ela denunciou o fechamento de escolas na Amazônia, o que dificulta a construção do futuro, defendendo que “é direito de todos uma educação voltada para suas especificidades”. Por isso, se faz necessário aplicar o que está no papel e construir a educação desde as especificidades locais, denunciando a exclusão escolar que de fato acontece. Ressaltando que “é preciso sempre debater e discutir sobre o direito à educação, para que todos possam ter seus direitos garantidos”, refletiu sobre a importância do Pacto Educativo Global, uma proposta do Papa Francisco que vê como motivo de esperança para a educação na Amazônia, tendo lançado a Aliança Educativa, que trabalha de forma ecumênica…
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Sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito

A humanidade tem futuro sem a Amazônia? Poderíamos dizer que essa pergunta se faz necessária diante da atual conjuntura planetária. Essa reflexão está presente no 35º Congresso Internacional da SOTER, a Sociedade de Teologia da Religião que está acontecendo nesta semana, e que aborda o tema: “A Amazônia e o futuro da humanidade”. O Sínodo para a Amazônia voltou os olhares da Igreja e da sociedade planetária para a região amazônica e ajudou a tomar consciência da necessidade de novos caminhos para uma ecologia integral, para o cuidado da casa comum, dos biomas, especialmente de um bioma com uma importância decisiva para o cuidado com a vida, como é o bioma amazônico. Por isso, podemos dizer que sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito. As riquezas da Amazônia são enormes e uma Amazônia preservada é bem mais interessante do que uma Amazônia depredada, inclusive do ponto de vista econômico, uma ideia defendida recentemente por um dos grandes cientistas brasileiros, Carlos Nobre, mas algo que não é entendido por muita gente, inclusive por muita gente que mora na Amazônia. No Congresso da SOTER eu tive uma intervenção onde fazia um chamado a visualizar as riquezas, algo que pode ajudar a superar os preconceitos presentes em muitas mentalidades no Brasil e no mundo afora. A vida que encerra a floresta e os povos que a habitam podem nos ajudar a priorizar aquilo que é decisivo na vida e no futuro da humanidade. Isso é algo que não pode ser calado, escondido, invisibilizado. Esse também é um desafio para a Igreja que está na Amazônia, uma Igreja encarnada e libertadora, que acompanha a vida e culturas presentes na região desde a interculturalidade, uma atitude decisiva no futuro da região e em consequência da humanidade como um todo. Entender que a diversidade cultural, os distintos olhares e compreensões da realidade, enriquecem a vida de todos e todas os que se aproximam dessas realidades se torna um desafio cada vez mais urgente. O que fazer cada um de nós e todos juntos como sociedade, como Igreja? Como evitar o risco de entrar em dinâmicas que coloquem em grave perigo o futuro da humanidade? Como promover uma toma de consciência pessoal e comunitária em favor do cuidado? Quais os passos a serem dados para ter um olhar diferente, que fomente o cuidado em relação à Amazônia e aos povos que a habitam? É tempo de parar e juntos encontrar caminhos concretos que ajudem no futuro da humanidade. O tempo tem se tornado uma ameaça, que só será vencida com o empenho de todos, também com meu empenho, com seu empenho. Não podemos continuar olhando para o outro lado, e ainda menos apoiando iniciativas que coloquem em risco o futuro da humanidade, o teu futuro, o meu futuro, o nosso futuro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar