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Dia: 9 de agosto de 2023

Cardeal Czerny: CEAMA, “uma semente de esperança que nasce de um processo de escuta e acompanhamento dos povos”

O Cardeal Czerny está em Manaus a participar na Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que se realiza de 8 a 11 de agosto, uma presença que considera “fundamental para o nosso Dicastério hoje”, bem como o fato de “nos encontrarmos e acompanharmos no caminho que a CEAMA está a fazer”.   “Viver e cuidar do processo eclesial da Amazônia” O Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral refletiu sobre “Viver e cuidar do processo eclesial da Amazônia”. Fê-lo a partir do texto de Lc 5, 37-38 em que Jesus pede odres novos para vinho novo. Nas suas palavras, recordou a recente visita ao seu Dicastério das redes eclesiais, na qual estiveram presentes “as vidas e as vozes dos territórios”, que não hesitou em descrever como um privilégio, pois “a visita fez-nos muito bem porque neste momento estamos a viver como uma instância da Santa Sé ao serviço da Igreja, permitiu-nos uma experiência de encontro, de escuta e de procura de possibilidades de caminhar juntos perante os desafios do nosso tempo“, um momento de partilha e de intercâmbio. O Cardeal recordou as palavras de Marcivana Sateré, líder indígena que vive em Manaus, durante essa visita, em que dizia que “a nossa identidade vem do território”, e apelava a “reconhecer no rosto do povo indígena o rosto de Deus“.  A partir daí, explicou a importância de acompanhar e sustentar os processos eclesiais na Amazônia, com o chamado a cuidar desses biomas e como a sinodalidade passa da Igreja particular para a universal, concluindo com algumas perguntas sobre os desafios para a CEAMA.   CEAMA, uma proposta do Sínodo para a Amazônia Recordando o que estava contido no Documento Final para a Amazônia, a sua recepção pelo Santo Padre, com o apelo a dar continuidade a este processo e o seu aprofundamento na Querida Amazônia, o Cardeal Czerny sublinhou que a CEAMA é uma proposta desse Sínodo. Os documentos que sairam do Sínodo “não pretendem ter a última palavra”, insistiu. Isto porque “os temas tratados são fruto de um discernimento vivo, porque emanam das próprias vozes de denúncia e anúncio do território e porque fazem parte de uma experiência de encarnação eclesial que continua a mover-se neste lugar teológico, a Amazônia como ‘locus’, como o próprio Papa afirmou”. Neste sentido, o “compromisso de refletir e procurar uma experiência de convergência a partir da diferença” é uma consequência do fato de a Amazônia e os seus povos serem fonte de vida, bem como das múltiplas ameaças e sonhos expressos pelo Papa Francisco na Querida Amazônia.   Povo de Deus de olhos abertos Uma assembleia da CEAMA que se reúne como Povo de Deus com os “olhos abertos” e com abertura aos horizontes do Espírito. O Cardeal recordou o Cardeal Claudio Hummes, “primeiro presidente e incansável promotor da CEAMA”, que sempre “insistiu que a Igreja só terá cumprido a sua missão neste território quando os povos e aqueles que habitam este território forem sujeitos da sua história“. O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral observou que a palavra mais repetida no Documento de Aparecida é vida, mais de 600 vezes, apelando a que “as atividades pastorais levem uma mensagem de esperança àqueles que sofrem com as muitas faltas, dores e obstáculos que enfrentam“, a uma pastoral do Bom Samaritano, “inclinando-se para aqueles que estão feridos no nosso mundo, carregando-os aos ombros, e providenciando o necessário para que possam reerguer-se e recuperar a sua dignidade de filhos amados”.   A missão a partir da identidade batismal Quando a missão nasce da nossa identidade batismal, significa “restituir a todo o Povo de Deus a plena dignidade de ser agente ativo de evangelização”, como sublinha a Evangelii Gaudium. Por isso, os vários documentos do atual Magistério Pontifício lançam um desafio, segundo o Cardeal: “reformar as estruturas eclesiais de modo a incorporar o sentido ministerial da diversidade do Povo de Deus e, portanto, a presença dos leigos na vida e na missão da Igreja a todos os níveis“. A partir daí, vê a sinodalidade como “a expressão de diversas sinergias e carismas que convergem na comunhão e na unidade”, o que exige um modo de ser Igreja “onde todos e cada um dos seres humanos e toda a criação têm o seu lugar”. Isto significa que “para viver a alegria da salvação é necessário deixar os odres velhos“, que identificou com o clericalismo e uma mentalidade autorreferencial e dominadora. A partir daí, apelou a todos para “‘ser e fazer’ a Igreja de Jesus, sempre nova, a partir da diversidade de ministérios e carismas”. Para isso, é necessário identificar as estruturas obsoletas que impedem “a comunhão fraterna e que, desligadas da sua missão, se atrincheiram”. A CEAMA como expressão de odres novos Nesta perspectiva, vê a CEAMA como “uma semente de esperança que brota de um processo de escuta e acompanhamento dos povos“, uma “expressão de odres novos para poder acolher o vinho novo que brota do acompanhamento do território”, que exprime, como mostra a composição desta assembleia, “a unidade na diversidade da nossa Igreja, e o seu apelo a uma práxis sinodal cada vez maior”. O Cardeal vê a CEAMA como algo que “quer ser uma boa notícia e um instrumento para dar vida aos frutos do Sínodo associados aos temas orgânico-eclesiais”. Por isso, apelou para “a necessidade de criar consciência nas Américas da importância da Amazônia para toda a humanidade”, para estabelecer “uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que favoreça os pobres e sirva o bem comum”, como diz Aparecida. Também para “apoiar, com os recursos humanos e financeiros necessários, a Igreja da Amazônia para que continue a anunciar o Evangelho e a desenvolver a sua pastoral na formação de leigos e sacerdotes”, encorajando “a trabalhar intensamente para que a CEAMA seja um instrumento vivo da Igreja, como pediu com sentido profético o Cardeal Hummes”. Por fim, insistiu em não ser “auto satisfeitos ou dar espaço a um mínimo de interesse…
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Dia Internacional dos Povos Indígenas: Manter os seus “conhecimentos ancestrais para cuidar da nossa casa comum”

No Dia Internacional dos Povos Indígenas, nada melhor do que ouvir a sua voz para nos fazer, como sociedade global, participar nos seus clamores e aprender com eles a cuidar de tudo o que garante o futuro do planeta e a vida da humanidade. Homens e mulheres de diferentes povos e países, que, a partir da Assembleia da Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA), que se realiza em Manaus de 8 a 11 de agosto, nos ajudam a tomar consciência da sua importância. “Um dia especial de resistência e identidade dos povos indígenas para o mundo”, insiste o colombiano Henry Yasmani Fuentes. O indígena Piaroa sublinha que se trata de um dia de “ressignificação e revalorização da nossa cultura, dos nossos costumes”, apelando a que “continuemos a manter este conhecimento e sabedoria ancestral enquanto povos indígenas para cuidarmos da nossa casa comum“. São povos que clamam por ajuda, especialmente as mulheres, algo que Belinda Jima, uma indígena do povo Awajún, está a pedir, solicitando que as mulheres indígenas do seu povo e de todo o Peru sejam “consideradas para que se saiba o que estamos a pedir“. Ela quer “que nos compreendam e que possam sempre acompanhar-nos para que também nós possamos ter uma educação e prepararmo-nos para ajudar os nossos filhos”. É por isso que ela deseja que “as mulheres tenham muita coragem, que avancem juntamente com os outros que vivem nas suas comunidades e, sobretudo, que sejam escutadas”. Um dia para partilhar a sua importância para os povos indígenas, nas palavras de Juan Urañavi, um indígena do povo Gwarayu da Bolívia. Por isso, sublinha a necessidade de partilhar “com outros irmãos e irmãs, amigos, de forma fraterna, as nossas experiências, as nossas dores, as nossas lutas, em todo o território da Amazônia”. Os povos indígenas estão conscientes de que “a proteção da natureza e da Amazônia é uma parte fundamental da contribuição para um mundo melhor, é uma contribuição global”, segundo Patrícia Gualinga, indígena do povo Kichwa de Sarayaku, no Equador. A vice-presidenta da CEAMA insistiu em “escutar a voz dos povos indígenas, que é a voz da Mãe Terra, aprender e reaprender com o contributo dos povos indígenas, porque há contributos suficientes para construir um mundo melhor, para deixar um legado às gerações futuras”. Depois de saudar os seus irmãos e irmãs indígenas de todo o bioma amazónico e de todo o mundo, apelou à “força para que possamos sensibilizar a sociedade global a amar a Mãe Terra, a amar a natureza”. São povos de grande importância para a sociedade brasileira e para toda a Amazônia, insistiu Odair José Sousa, cacique do povo Borari. Num país onde a perseguição aos povos indígenas tem aumentado nos últimos anos, o indígena brasileiro não hesitou em dizer à sociedade que “nós existimos, nós estamos vivos”, demonstrando a sua rejeição ao chamado Marco Temporário, que pretende reconhecer como territórios indígenas apenas aqueles ocupados à data da promulgação da Constituição de 1988. Dadá Borari destacou que os povos indígenas são a favor da biodiversidade, da vida, o que os leva a apostar na “defesa de tudo e principalmente da casa comum, uma palavra muito forte para o nosso querido e amado Papa Francisco“. Acompanhar os povos indígenas é uma orientação fundamental para a Igreja Católica, uma tarefa que podemos dizer que cabe ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O seu prefeito, o cardeal Michael Czerny, considera que uma verdade importante é que “todos os povos merecem ser escutados“. Reconhecendo que na história há povos que não foram escutados, apelou a “um esforço redobrado para escutar”. Perante esta realidade, insistiu que “como povos originários, povos indígenas e migrantes, estamos numa fase de aprender a ouvir-nos uns aos outros, porque obviamente temos de ouvir os povos originários”. Considerando que há muitas questões a abordar, sublinhou que “uma questão muito importante é a ecologia integral, não a ecologia verde, mas a ecologia integral, porque é isso que os povos indígenas vivem e o que todos temos de viver se quisermos sobreviver no nosso planeta”. Daí o seu convite para este dia importante: “escutar, escutar, escutar“. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1