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Dia: 10 de agosto de 2023

Padre Zenildo Lima novo vice-presidente da CEAMA: “Uma conferência de expressão do Povo de Deus”

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que está sendo realizada em Manaus de 8 a 11 de agosto, ratificou o cardeal Pedro Barreto como presidente e três dos vice-presidentes, Patrícia Gualinga, representante dos povos indígenas, a Ir. Laura Vicuña Pereira Manso, representante da Vida Religiosa, e Mauricio López Oropeza, em representação do laicato. Representando os presbíteros e diáconos, foi eleito o padre Zenildo Lima, que substitui o cardeal Leonardo Steiner. O padre Zenildo Lima é presbítero da Arquidiocese de Manaus e atualmente é reitor do Seminário São José de Manaus, onde se formam os candidatos ao presbiterato das nove igrejas particulares do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nascido em Manaus em 14 de outubro de 1968, foi ordenado presbítero no dia 4 de agosto de 1996. Grande conhecedor da Igreja da Amazônia, foi auditor na Assembleia de Sínodo para a Amazônia realizada de 6 a 27 de outubro de 2019. Perguntado sobre o que representa para ele essa escolha como vice-presidente da CEAMA, o padre Zenildo Lima afirmou que “mais do que representa para mim, o que representa para uma caminhada da nossa Arquidiocese, uma caminhada do nosso Regional”. Segundo ele, “uma experiência que a assembleia me proporcionou aqui foi de me reencontrar nessa estrada de caminhada sinodal nessa Igreja da Amazônia”. Em suas palavras, fez memória de quando começou participar dos encontros da Igreja da Amazônia, sobretudo o Encontro de 1997, “A Igreja se faz carne e arma sua tenda na Amazônia”. Ele resgatou o processo do Sínodo para a Amazônia com sua presença e participação no Sínodo e nos desencadeamentos pós Sínodo, dizendo não esperar que “um dia iria estar envolvido assim com estas implicações”. O padre Zenildo ressaltou que “mais do que um significado pessoal, que evidentemente tem também, porque ajuda cada vez mais a sedimentar a identidade do meu ministério como um padre amazônida, tem a ver com a caminhada da nossa Igreja, da nossa Arquidiocese, da Igreja do Regional e da Amazônia dentro desse processo de sinodalidade”. Tendo em conta que a CEAMA é uma das propostas do Sínodo para a Amazônia e dentro do processo do atual Sínodo, o padre Zenildo Lima destacou que “o momento que nós vivemos agora, ele é um momento dentro dessa trajetória, ele é um momento dentro desta caminhada que é processual”. Ele recordou que “toda a dinâmica do Sínodo para a Amazônia já chamava a atenção para esse aspecto da sinodalidade”. Nesse sentido, “o lançamento da Episcopalis conmunio antes do Sínodo, já nos chamou a atenção para essa nova configuração, para essa nova disposição eclesial e eclesiológica a partir do Papa Francisco”. “Hoje, ao vivenciar essa experiência da Assembleia da CEAMA, que é uma experiência inédita, é uma assembleia que está buscando muito mais aclarar caminhos, definir algumas metas do que exprimir uma solidez maior”, ressaltou o novo membro da Presidência. Uma assembleia que “está nos ajudando quase que a uma descoberta da própria CEAMA e uma descoberta de caminhos da CEAMA dentro dessa perspectiva do processo sinodal”, afirmou. Nessa perspectiva disse que “nós estamos num processo, estamos num caminho que é sinodal, que vai nos tornando cada vez mais claro, mas mais comprometedor também, tendo como horizonte o Reino de Deus nessa perspectiva da ecologia integral”. Lembrando da perspectiva da parte para o todo a partir da territorialidade e da experiência eclesial que buscava oferecer uma iluminação que fosse válida para toda a Igreja, uma dinâmica vivenciada na fase do Documento Preparatório do Sínodo que acabou também aparecendo no Instrumentum Laboris, enfatizou que “hoje, essa experiência primeira de uma conferência eclesial, com uma presidência constituída com essa diversidade vocacional, ministerial, de identidade da própria Igreja, uma conferência que não é exclusivamente episcopal e sim uma conferência de expressão do Povo de Deus, ela é salutar e ela é um indicativo”. Por isso, o reitor do Seminário São José de Manaus disse acreditar que “as experiências construídas a partir da CEAMA, pode abrir perspectivas para a Igreja no mundo inteiro”. Ele insistiu em ver a CEAMA como “uma referência inclusive para o Sínodo da Sinodalidade. Quem sabe depois da CEAMA também tenhamos outras experiências de conferências eclesiais ao longo de todo esse espaço aonde a Igreja católica marca sua presença no mundo, como um sinal também para a sociedade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cúpula da Amazônia: “Um início de sinodalidade na política, na sociedade”

Belém acolheu nos dias 8 e 9 de agosto a Cúpula da Amazônia, com a participação de mandatários dos diferentes países, um evento em que a Igreja se fez presente, sobretudo nos dias prévios em que “a presença da Igreja foi estar ali ao lado dos povos e dos movimentos sociais articulando, animando, fortalecendo e encorajando um diálogo amazônico entre a sociedade e os governos que compõem a Pan-Amazônia”, segundo Dorismeiri Almeida Vasconcelos, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). A Cúpula foi uma oportunidade para que o cardeal Leonardo Steiner afirmasse que “nós cuidamos da Amazônia, a Amazônia com seus povos, suas culturas, suas águas, suas árvores, suas flores, as suas florestas, uma casa comum, onde todos somos convidados a morar, mas somos todos convidados a cuidar”. O arcebispo de Manaus denunciou os ataques contra a Amazônia, “tão vilipendiada, tão destruída”, e junto com isso a ganância em relação à Amazônia e a violência na Amazônia, “a violência que chega até a Amazônia”. Dom Leonardo Steiner insistiu em que “a Amazônia não é violenta, seu povo é calmo, seu povo é tranquilo, as nossas comunidades, elas são fraternas, são receptivas”. Diante disso, ele fez um chamado a “repensarmos os modelos que desejamos impor à Amazônia, essa verdadeira exploração da Amazônia”. Parafraseando uma expressão do Papa Francisco em relação à África, o cardeal disse: “tirem as mãos da Amazônia”. Ele afirmou que “a Amazônia, ela não precisa de estruturas novas, a Amazônia precisa de respeito, a Amazônia precisa de justiça, a Amazônia precisa da presença do Estado para que diminua a violência, para que diminua a destruição das nossas matas, para que diminua a poluição das nossas águas, especialmente pelo mercúrio e pelos dejetos das nossas cidades. Que deixem os nossos peixes, deixem as nossas águas, mas especialmente deixem as nossas culturas”. Recordando que “nenhuma região do Brasil tem tantos povos originários como nós da Amazônia”, o arcebispo de Manaus insistiu em que “eles apenas pedem de nós respeito, pedem de nós cuidado, que nós assumamos a responsabilidade pela Amazônia”, lembrando a dependência de outras regiões do Brasil em relação à Amazônia, o que o levou a questionar o desmatamento, afirmando que “nós estamos acabando de nos destruir a nós mesmos”. O vivido na Cúpula da Amazônia é visto por Dorismeire Vasconcellos como um processo, iniciado discutindo com a sociedade civil há três anos, fundamentado “nos saberes ancestrais dos povos e no modo de economia e de sociedade do bem viver que os povos vivem na Amazônia”. Ela destaca “o debate com a sociedade civil, discutindo temas apropriados que referem-se ao tratado de cooperação da Amazônia”, elaborado com diferentes aportes de diversas instituições, dentre elas a REPAM. Esses aportes foram encaminhados aos mandatários junto com uma carta solicitando a participação da sociedade dentro desses diálogos que tratam da cooperação amazônica entre os países da Pan-Amazônia, o que foi bem acolhido pelos governos da Colômbia e do Brasil, segundo a representante da REPAM. Um documento com 50 propostas sobre oito temas importantes: deflorestação, direitos dos povos e territórios, mulheres, infraestrutura, uso do hidro carbono, educação, transparência nos financiamentos, águas, mineração, resultado de um Seminário que trabalhou o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Nos dias prévios à Cúpula, aconteceram os Diálogos Amazônicos, cinco plenárias com os temas mais debatidos pela sociedade, e plenárias transversais, que envolviam juventudes, mulheres e a Amazônia Negra, sendo recolhidos os debates de cada plenário em relatórios entregues aos mandatários. Junto com isso, a sociedade civil organizou a Assembleia dos Povos da Terra que elaborou uma declaração dos povos da terra pela Amazônia, entregue aos mandatários, temas recolhidos na declaração dos mandatários, mesmo sem um prazo para ser aplicado em cada um dos países em relação ao que é mais emergencial, sobretudo em relação a mitigar as consequências da mudança climática ou para adaptar a situação de atendimento aos povos de acordo com as consequências da mudança climática. Dorismeire Vasconcellos insiste em que estamos diante de “um processo que se inicia e que mostra que é possível discutir os mandatários a questão da Amazônia, a questão da cooperação nos temas abordados. É possível na política internacional de acordos e tratados, a participação social”. A representante da REPAM vê uma similitude entre o que foi vivenciado em torno à Cúpula e o atual processo sinodal de escuta, diálogo e discernimento. Ela considera que “esse caminho é o começo ainda diante da conjuntura política, social, económica, dos países da Pan-Amazônia, mas já é um início de sinodalidade na política, na sociedade”. A representante da REPAM insistiu em que “esse processo que fizemos como sociedade civil, como povos da Amazônia tem uma meta, a incidência dos povos da Amazônia. Não dá para discutir a Amazônia, na Amazônia, pensando no futuro da Amazônia sem escutar e sem envolver os povos nesta discussão”. Um grande convite e um apelo que também faz o cardeal Steiner: “respeitemos a Amazônia e os amazônidas, respeitemos as culturas, respeitemos os povos que aqui habitam”. Para isso ele pede a ajuda de Deus, “e que possamos todos juntos cuidar da Amazônia, preservar a Amazônia para termos uma realidade justa, equânime e fraterna. E assim a nossa região da Amazônia possa ajudar a cuidar de todo o Planeta”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Padre Zenildo Lima: “A evangelização na Amazônia será sempre um anúncio do Verbo que se fez carne”

A Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que está realizando sua assembleia em Manaus de 8 a 11 de agosto é uma das propostas que surgiram com o Sínodo para a Amazônia, buscando contribuir nos processos de evangelização na Amazônia. O padre Zenildo Lima, que foi auditor naquele Sínodo, refletia sobre algumas ideias em vista das linhas de evangelização para a CEAMA. Ele partia do Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia, que “recordava a dinâmica da parte pelo todo”, insistindo o texto em que “as reflexões do Sínodo Especial superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta”. Algo que o reitor do Seminário São José de Manaus relacionou com o caminho do atual processo sinodal. Nessa perspectiva, ele afirmou que “para compreendermos a atuação da CEAMA necessitamos recuperar o caminho percorrido – que não é somente o caminho do Sínodo para a Amazônia, mas o caminho da missão da Igreja na Amazônia – e pontuar as intervenções necessárias neste tempo presente”. Daí o destaque que ele colocou no Encontro de Santarém 1972. Um encontro que tem como ponto de partida a Encarnação do Verbo, que segundo recolhe o Documento de Santarém 2022, “exige da Igreja um total entrosamento com a realidade, uma superação de modelos de evangelização importados e um permanente testemunho realista, corajoso e repleto de esperança, fundado exclusivamente no Evangelho”. Mas também uma Encarnação da Igreja, que “armou sua tenda no meio do povo de tal modo que apareceu um rosto eclesial bem amazônico na diversidade sociocultural, na defesa do lar que Deus criou para toda a humanidade e na promoção da Vida em todas as suas dimensões”. Uma Encarnação que “não pode acontecer sem que os povos amazônidas, acompanhados por seus agentes e pastores, sejam os protagonistas”, segundo o padre Zenildo Lima, que insistiu em que “encarnação tornou-se também e primeiramente um processo de escuta!”, destacando igualmente a necessidade do diálogo. É por isso, ressaltou o reitor do Seminário São José de Manaus, que “a evangelização na Amazônia será sempre um anúncio do Verbo que se fez carne, será sempre uma proposta do encontro com Jesus. Não cabe em nós o rótulo de termos abandonado o Evangelho para cuidar de questões sociais”. Uma marca da atuação da Igreja na Amazônia sempre foi a evangelização libertadora, segundo o padre Zenildo, que fez ver sua urgência diante do avanço dos sinais de ameaça à dignidade avançam. Daí a importância do chamado do Sínodo para a Amazônia à Igreja da região “a exercer sua atividade profética com transparência, e apresentar o Cristo com todo seu potencial libertador”. Para realizar essa missão, o padre Zenildo Lima propus alguns itinerários: nos territórios, com os sujeitos, no modelo de Igreja e de Evangelização, sustentado no rosto amazônico, a Sinodalidade, a escuta, diálogo e interculturalidade, a questão ministerial. Ele lembrou que “no Sínodo para a Amazônia, a Igreja em saída missionária apresenta-se como samaritana, misericordiosa e solidária, que serve e acompanha os povos amazônicos e se constitui um Igreja com rosto destes mesmos povos”, o que faz, segundo aparece no Documento de Santarém 2022, com que “a vida das nossas Igrejas que vão se moldando em caminhos de inculturação da espiritualidade, da liturgia, do ministério, da vida comunitária”. Uma Igreja chamada a ter como atitude fundamental a missão realizada com intensidade, fazendo com que “coragem e audácia se traduzam em opções pastorais transbordantes e não pequenos remendos”. Nessa dinâmica, a CEAMA aparece como corpo eclesial, como sujeito, concluiu o padre Zenildo Lima. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Os jovens estão de volta da JMJ, mas eles têm espaço em nossas comunidades?

Mais de um milhão e meio de jovens se fizeram presentes a semana passada na Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa. Deles um bom número de brasileiros, alguns deles da Amazônia. Depois do encerramento a gente tem que se questionar sobre como acolher esses jovens em nossas igrejas particulares, em nossas paróquias e comunidades. O Papa Francisco falou várias vezes que na Igreja cabem todos, enfatizando esse todos. Diante disso a pergunta que cada e cada uma de nós devemos nos fazer é: em minha paróquia ou comunidade os jovens têm espaço? Eles são acolhidos, escutados, seu protagonismo é reconhecido e incentivado? Eles participam dos espaços de decisão? Tão importante quanto ter jovens é que eles encontrem em nossa Igreja um espaço para poder crescer como pessoas e como cristãos. O número é importante, mas seu papel na Igreja é ainda mais importante. Os jovens ajudam as comunidades a olhar para o futuro, a ter utopias e perspectivas, a pensar no amanhã, eles impulsionam o caminhar da Igreja. Um encontro igual a Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade de encontro, de escuta, de partilhar a vida e a fé com jovens de todos os cantos do mundo, um momento para crescer, para carregar as baterias. Mas essas baterias têm de ser aquilo que faz com que os jovens continuem caminhando e assumindo seu compromisso de vida, seu compromisso na Igreja, nas paróquias e comunidades. Eles e sua mente têm que voltar da Jornada Mundial da Juventude, mas também a Igreja local tem que fazer com que eles possam voltar, se sentir à vontade e possam partilhar o que lá foi vivido e o que fez com que eles possam ter uma visão mais católica, mais universal de uma Igreja que está presente no mundo inteiro e que em cada lugar vivência sua fé a partir das diferentes culturas e realidades em que ela se faz presente, também entre os jovens. Acolher é uma atitude que deveria estar mais presente em nossa Igreja. Quando acolhemos temos que ser conscientes de que o outro é diferente e que nem sempre vai responder a nossas expectativas, uma atitude que é fundamental quando falamos de juventudes. Muitas vezes temos medo de chegar perto, de nos fazermos próximos daqueles que pensam diferente, temos dificuldade em assumir que a diversidade nos enriquece. Não deixemos passar essa oportunidade, acolhamos os jovens que de volta da Jornada Mundial da Juventude querem ser fermento na massa. Que sua volta seja oportunidade para nos ajudar a crescer como comunidade e descobrir que a força da juventude pode ajudar nossa Igreja a ser melhor presença do Evangelho na vida de nossa sociedade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar