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Dia: 30 de agosto de 2023

Leonardo Lima Gorosito: Ser facilitador no Sínodo, ver “como o Espírito está a falar entre as pessoas”

Na Assembleia do Sínodo 2021-2024 foi criada uma nova figura, a do facilitador. Um deles é o leigo uruguaio Leonardo Lima Gorosito, que vê a sua figura como alguém que “tem a bênção de poder ver de alguma forma qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas”. Trata-se de chegar à harmonia, de ver a diversidade como “um dom e uma graça para a Igreja”, insistindo que “uma Igreja sinodal, sem dúvida, tem de ser diversa”. Uma Igreja em que se vive a circularidade, algo que é ajudado pela conversa espiritual, onde “não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas”, que estão “em volta de algo, mas ao mesmo nível”. “É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades“, insiste Lima Gorosito, em que é necessário formar e dar passos concretos para que “a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas”. Uma das novidades da Assembleia Sinodal que se realiza em outubro é o trabalho nas chamadas comunidades de discernimento, nas quais haverá um facilitador. Como alguém que vai assumir esse papel, o que significa? Pessoalmente, a verdade é que é uma bênção poder participar como animador. É um papel de ajuda, de apoio à dinâmica do diálogo espiritual, e o que procuramos é que o método ajude as pessoas a encontrarem-se profundamente num clima de oração, de abertura ao Espírito. O animador tem a bênção de poder ver, de alguma forma, qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas, e nós também temos a graça de ver que dons são dados na conversa espiritual. Como é que o Espírito ajuda a fazer avançar a sinodalidade? O Espírito é, sem dúvida, o grande arquiteto de tudo isto, porque, naquilo que eu vi nos casos de conversa espiritual, conseguir chegar à harmonia, não necessariamente concordando em tudo ou apontando as coisas na mesma direção, mas conseguir chegar à harmonia, chegar à fraternidade, a fraternidade é alcançada muito rapidamente, vê-se como a ação do Espírito faz com que isso aconteça. A Palavra de Deus diz-nos que há uma diversidade de dons, mas o mesmo Espírito. A diversidade é uma coisa boa, o Papa Francisco insiste muito nisso. Porque é que é tão difícil para nós, na Igreja, aceitar aqueles que são diferentes e têm opiniões diferentes? Eu acolho bem a diversidade. O Sínodo aponta-nos para a igual dignidade de todos os batizados e isso desarma qualquer outra pretensão de que possa haver alguns que vão ser acolhidos e outros que não, alguns que vão ser salvos e outros que não vão ser salvos. Essas coisas não têm nada a ver com o Espírito, nem com o Espírito de Jesus, nem com o Espírito do próprio Deus. A diversidade é um dom e uma graça para a Igreja, e uma Igreja sinodal tem certamente de ser diversa. Por vezes há resistência, as pessoas não compreendem bem qual é o papel das pessoas ou o que somos chamados a fazer, mas a sinodalidade também nos mostrou que, na medida em que é um processo, temos de o percorrer e isso ajudará e curará. Fala da igual dignidade do Batismo. É um leigo e vai animar um grupo em que a maioria são bispos, com outras vocações e ministérios. Podemos dizer que esta dinâmica que o Papa Francisco quis promover neste Sínodo reforça essa dignidade batismal, reforça uma Igreja em que o sacramento fundamental é o Batismo? Sem dúvida, a partir dos textos preparatórios do Sínodo e das experiências continentais e diocesanas, aquilo que se viveu muito na Etapa Continental, a igual dignidade teve uma expressão que para mim foi bonita, não sentimos o carácter piramidal da Igreja, mas sentimos muita horizontalidade, eu diria, até circularidade, no sentido de que estávamos todos no mesmo plano, reunidos à volta de qualquer coisa e não havia um nível hierárquico. É o que acontece na conversa espiritual, quando se está no momento da conversa espiritual não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas, e experimenta-se algo muito circular, que estamos todos à volta de algo, mas ao mesmo nível. Nos encontros regionais da etapa continental do Sínodo, esta circularidade foi experimentada nos círculos de discernimento: é possível viver e caminhar assim, é possível construir a Igreja a partir desta circularidade? Sem dúvida, a experiência foi maravilhosa, pessoalmente eu estava muito cheio do Espírito, no sentido de que foi um momento de graça. É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades. O diálogo espiritual é um grande instrumento e temos de apostar nele, é o momento de o fazer e estamos a caminho. Diz que o diálogo tem de ser introduzido na vida das comunidades, que passos têm de ser dados para isso? Precisamos de identificar, porque em todas as comunidades há pessoas que facilitam o diálogo, precisamos de identificar as pessoas que tornam isso possível nas comunidades e, depois, talvez formá-las para serem facilitadoras, para ajudar a que a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas. Que, nos conselhos diocesanos, nos conselhos paroquiais, pudesse haver este tipo de instância, facilitaria muito a tarefa. Precisamos de ser treinados para isso e de abrir espaço para isso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Giacomo Costa: Assembleia Sinodal, “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer”

A Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo 2021-2024, que se realizará em outubro próximo, é definida pelo padre Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal, como um tempo de mudanças na continuidade. De fato, estamos perante um Instrumento de Trabalho diferente, que ele define como uma ajuda prática para trabalhar em conjunto com base em tudo o que foi feito nas assembleias continentais. O Povo de Deus como ponto de partida e de chegada O Sínodo dos Bispos tem evoluído nos últimos anos e a Episcopalis Conmunio, que pela primeira vez será aplicada na íntegra num sínodo, segundo o padre Costa, desempenha um papel importante nesta dinâmica.  No número 7 deste documento fica claro que “o processo sinodal tem o seu ponto de partida e também o seu ponto de chegada no Povo de Deus, sobre o qual devem ser derramados os dons da graça infundidos pelo Espírito Santo através da assembleia dos Pastores”. Neste processo sinodal, algumas questões foram levantadas: como é que este “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada, está a ser realizado hoje a vários níveis (do local ao universal)? Que passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal? Estamos perante um processo, sublinhou o jesuíta, em que “o trabalho se baseia nos temas que emergiram da escuta do Povo de Deus, apresentados no Instrumentum Laboris e recolhidos em documentos anteriores”. Por isso, insiste que o trabalho da Assembleia pretende ser um caminho de oração, de discernimento espiritual, porque o verdadeiro protagonista é o Espírito Santo. De 30 de setembro a 29 de outubro Um processo que começa a 30 de setembro com a Vigília Ecuménica de Oração, um retiro de três dias e a missa de abertura a 4 de outubro. Durante os trabalhos da assembleia, que serão acompanhados por momentos de oração e celebrações litúrgicas, o ponto de partida será uma experiência integral que ajudará, ao longo de quatro dias, a ter uma visão global do que é uma Igreja sinodal, o que constitui o primeiro segmento. Durante 13 dias, de 9 a 21 de outubro, serão trabalhados os três temas prioritários para a Igreja sinodal: comunhão, missão, participação, designados segmentos 2, 3 e 4. Finalmente, o segmento 5, que será o momento das conclusões e propostas, de 23 a 28 de outubro, com a missa de encerramento a 29 de outubro Características e comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal O objetivo é aprofundar as características e os comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal, a partir da experiência do caminho em conjunto vivida pelo Povo de Deus. O objetivo é identificar passos práticos significativos a dar para crescer como Igreja sinodal através do discernimento sobre os três temas prioritários que emergiram da consulta ao Povo de Deus. Trata-se de perguntar como ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e com os outros, como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho, e como procurar as estruturas e instituições necessárias numa Igreja sinodal missionária. Ao apresentar a dinâmica de cada segmento, o padre Costa disse que cada segmento seguirá o mesmo padrão, ajudando a construir consenso sem esconder as diferenças. Para tal, haverá uma introdução em que se contextualiza a realidade através de testemunhos e contributos bíblicos, um trabalho em grupos linguísticos, utilizando o método da conversa no Espírito, sessões plenárias, onde se fará a síntese do trabalho realizado nos grupos, com um debate aberto e uma recapitulação nos grupos, com base nos frutos recolhidos em plenário que ajudarão a formular um relatório final com propostas para os próximos passos. Articulação de perspectivas, dimensões e níveis Este trabalho será efetuado com base em fichas de trabalho, começando por uma breve contextualização, enquadrada pelas reflexões decorrentes da consulta ao Povo de Deus. Para o efeito, serão propostas algumas intuições e questões que articulam várias perspectivas, dimensões e níveis. Trata-se, nas palavras do padre Costa, de “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer“. Quanto às conclusões e propostas, ficou claro que o resultado não será um documento final, porque esta é a primeira sessão. Um novo documento surgirá para devolver o que foi trabalhado a toda a Igreja e para ver como aprofundar o que saiu da assembleia. Seguindo o que foi dito na Episcopalis conmunio, que afirma que “o consensus Ecclesiae não é dado pela contagem dos votos, mas é o resultado da ação do Espírito, a alma da única Igreja de Cristo”. Por isso, ele insistiu que “ou ganhamos todos ou não ganha ninguém”, afirmando que é inútil formular de qualquer maneira se não refletir o consenso. Uma experiência continental única de Igreja sinodal Aos participantes na Assembleia Sinodal em representação das Igrejas da América Latina e do Caribe, o secretário especial salientou a sua grande responsabilidade, “porque aqui têm uma experiência continental única de Igreja sinodal“. Daí a importância destes dias de encontro, que ajudam a tomar consciência dos dons da Igreja na América Latina e no Caribe, a reconhecer os dons das outras Igrejas e a aprender a caminhar juntos. O objetivo é ajudar toda a Igreja a crescer como Igreja sinodal missionária. Uma Assembleia sinodal em que a conversação no Espírito desempenha um papel fundamental, que Mauricio López vê como a práxis do discernimento. Nesta metodologia, ele vê a necessidade de uma atitude orante, que ajuda na busca progressiva do que o Espírito nos está a dizer. Reconhecendo que não é um método perfeito, insiste que o passo mais importante é passar do “eu” para o “tu”, para descobrir no que os outros partilharam a presença do Espírito. Algo que dá lugar à procura do “nós”, do sentimento comum de cada grupo, da presença do Senhor em cada um dos grupos. Algo que será realizado durante estes dias como preparação para o que será vivido em outubro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Leonardo: O Marco Temporal “será um marco de continuidade de morte dos povos indígenas”

“Se aprovado será um marco de continuidade da destruição”. Assim vê o cardeal Leonardo Steiner o julgamento do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal, que será retomado nesta quarta-feira 30 de agosto. Até o momento três ministros já votaram, se posicionando um a favor e dois contra o Marco Temporal. O Regional Norte1 da CNBB tem entre suas prioridades a defesa dos povos indígenas, uma defesa que dom Leonardo Steiner assumiu em sua missão como cardeal, empenhado em preservar os direitos da Amazônia e dos povos que a habitam. Daí sua denúncia da destruição que provocaria a aprovação do Marco Temporal, “destruição da natureza, do meio ambiente, destruição das culturas”. É por isso que o presidente do Regional Norte1 afirma que “será um marco de continuidade de morte dos povos indígenas, de desrespeito em relação aos povos indígenas”. Um marco que fará, segundo o arcebispo de Manaus, “não levarmos em conta enquanto Federação nenhum dos direitos”. Caso contrário, “se não aprovado será um grande marco, um marco de justiça, um marco de preservação dos nossos povos indígenas, será um marco para podermos ajudar os povos a se erguerem, mas também dizerem que eles são realmente brasileiros. E são brasileiros que eles têm direito a suas terras, que tem direito a viver do modo que eles desejam, que eles têm direito a exercer a sua cidadania”, ressalto o cardeal Steiner. Ele deixou claro que “nós esperamos que o Marco Temporal não seja aprovado”. Dom Leonardo Steiner comparou a situação que vivem os povos indígenas do Brasil com a situação que seria vivida “se um empresário tivesse a sua empresa invadida, que é que isso significaria. Imagine se as nossas pessoas do agronegócio se tiverem as suas fazendas invadidas, o que que haveria de acontecer?”. Diante disso, o arcebispo de Manaus denunciou que “nós estamos invadindo as terras indígenas, nós estamos destruindo as terras indígenas, nós estamos matando os povos indígenas”. O cardeal pediu que “o Marco Temporal não seja aprovado e que nós possamos ir ao encontro dos povos indígenas, ajudá-los a retomar a sua cultura, as suas línguas, a sua religiosidade”. Ele afirmou sem reservas que “nós como Igreja queremos sempre estar do lado dos povos indígenas, especialmente neste momento do julgamento do Marco Temporal”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1