Cardeal Steiner: “O perdão, tem o gosto, o sabor de Deus”

Um convite a perdoar de coração. Assim vê o cardeal Leonardo Steiner as palavras do Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum. Diante da pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar, “Jesus continua a insistir no perdão, na misericórdia”, afirmou o arcebispo de Manaus. Ele lembrou que “se no domingo passado éramos convencidos da necessidade de oferecer o perdão, reconciliar, não deixar nenhum dos irmãos, nenhuma das irmãs, à margem, devolver à vida familiar, à vida da comunidade, hoje somos despertados para a abundância, a desmedida do perdão: ‘não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes’, isto é, a vida tem o horizonte, a beleza e a harmonia no perdão”. Analisando a primeira leitura, Dom Leonardo afirmou que “já nos animava a buscar o perdão como caminho de liberdade e da plenitude humana”. Segundo o arcebispo, “o Eclesiástico a nos despertar para o perdão, pois a raiva não cura, mas traz doença; o rancor guardado não redime, adoece. O perdão supera o rancor e a raiva; a vingança conduz ao abismo da separação. A vingança não alcança o perdão, a misericórdia. A leitura a nos colocar diante da morte, quando o perdão não curar as feridas e a alma”. Ele destacou que “a incapacidade de perdoar pode levar à morte, pois adoece. Especialmente à morte do espírito. O perdão liberta, alivia o coração, torna a vida mais harmoniosa. O perdão é a possibilidade da vida, não da morte!” Na resposta de Jesus à pergunta de Pedro, “Setenta vezes sete vezes”, Dom Leonardo vê nisso que “o perdão que traz consigo a liberdade e a liberalidade”. Ele lembrou que “diante da dívida, o empregado caiu aos pés do patrão e, prostrado, suplicou: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! A dívida do servo era maior que suas posses: ‘o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida’. As coisas, os objetos, as pessoas, não pagariam a dívida. Deveriam ser vendidos todos como escravos. Envolvia a sua liberdade, o seu amor familiar. Seria uma vida aprisionada, sem respiro de liberdade. Diante da súplica e imploração, nasce o perdão que deveria devolver a dignidade, a liberdade, não apenas a pessoal, mas também a familiar. E o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida”. Segundo o cardeal, “o empregado perdoado desdenhou do perdão recebido, desviou-se do momento libertador do perdão e ao encontrar o companheiro que lhe devia apenas cem moedas, o agarrou e ao sufocá-lo, dizia: Paga o que me deves. E o companheiro teve os mesmos gestos e as mesmas palavras daquele que fora perdoado: caindo aos pés, suplicava: Dá-me um prazo, e eu te pagarei! Dessintonizado do perdão recebido, desviado do movimento liberador, joga o companheiro na prisão, para que pague o que devia. E os outros companheiros levam o caso ao patrão que retira o perdão e aprisiona a quem não soube perdoar”. Dom Leonardo fez ver que “na parábola, por um momento vislumbrávamos uma nova era, um novo tempo, uma nova vida, um perdão transformador, libertador. Mas o texto nos indica que não é assim. Todos, patrão, empregado perdoado, companheiro, e companheiros de serviço, permanecem distanciados da compaixão, da misericórdia. Todos permanecem no seu estado próprio do sem perdão. Nem o servo, nem seu companheiro, nem os companheiros, nem o patrão são capazes de perdoar sete vezes setenta vezes. Todos permanecem fora da dinâmica do perdão. O perdão desaparece do horizonte do existir. Houve inicialmente o gesto de perdão do patrão, mas ele mesmo não soube perdoar sete vezes sete vezes. Diante da incapacidade de perdão do perdoado, retira o perdão e o faz escravo, se faz escravo”. A parábola, segundo o arcebispo, “nos coloca a caminho da compaixão, do perdão-perdão, da liberdade sem imposições. No nosso modo de pensar o servo perdoado, deveria também ele ter perdoado o seu companheiro. Seria o mínimo que se poderia esperar ao ser perdoado. Mas o perdão não é o mínimo que se pode esperar de quem vive do perdão, da compaixão, da misericórdia de Deus. O perdão é perdão, é libertação que depois não se retira, quando o outro não tem a desmedida do perdão recebido. Sete vezes sete vezes, não volta atrás, não olha o passado, o futuro, não mede, não soma, não subtrai. Apenas vive da gratuidade do perdão. O perdão que é perdão na desmedida do setenta vezes sete vezes”. Esse modo de viver “Sete vezes setenta vezes”, Dom Leonardo iluminou com as palavras de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres! Se calares, cala por amor; se falares, fala por amor. Se corrigires, corrige por amor; se perdoares, perdoa por amor… Coloca no fundo do coração essa raiz de amor. Dessa raiz de amor só pode nascer o bem. Dentro do amor, não há erro, não há injustiça, não há ódio. Não há ressentimentos guardados. Dentro do amor só há encontro, perdão e verdade.” O cardeal explicou o significado da palavra perdão, que “é cheia de vida, diz da entrega total, da completude de vida. Perdão, per+donum, um dom levado à perfeição. Per-doar, doar totalmente! O perdão traz aos olhos uma totalidade reconciliada”. Segundo Dom Leonardo, “o Evangelho nos fez ver essa completude: teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. Perdoar é amar-doar-se em plenitude. Perdoar significa amar a ponto de restituir à vida a quem ofendeu. Toda ofensa, em grau menor ou maior, atenta contra a vida. O outro está aí vivo, feliz e, pelo ataque ou agressão, alguém lhe fere e tira o sabor de viver”, algo que complementou com as palavras de João Batista Libânio. “A graça do perdão, não está com o patrão que perdoa, nem com o perdoado, nem com os seus companheiros e o desperdoado. Mas o Pai que está no céu manifesta sempre manifesta para conosco, a grandeza e a nobreza do perdão de todo o coração: setenta vezes, sem limites”, enfatizou o arcebispo. Ele…
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