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Dia: 4 de outubro de 2023

Francisco abre o “Sínodo das Mesas Redondas” para ouvir o Espírito Santo

Homens e mulheres em uma mesa redonda para discernir, à luz do Espírito Santo, por meio da escuta e do diálogo, os caminhos para uma Igreja mais sinodal, uma Igreja de comunhão, participação e missão, a Igreja com a qual Francisco sonha para o século XXI. Todos nós sabemos o que significa sentar-se ao redor de uma mesa redonda, onde ninguém está à frente, onde não há lugar de destaque, onde todos e todas, as mulheres podem falar e decidir neste Sínodo, ter sua vez e sua voz respeitada. É impressionante ver a Sala Paulo VI repleta dessas mesas redondas, expressão de uma Igreja mais circular e menos piramidal, uma Igreja que responde melhor ao paradigma de comunidade que nos é apresentado nos Atos dos Apóstolos. O desafio é que isso seja levado aos muitos lugares da Igreja universal de onde vieram os 464 homens e mulheres presentes na sala sinodal. Mas, apesar das dificuldades, é algo que valerá a pena, porque ajudará a reconstruir a Igreja, esse pedido que Francisco de Assis recebeu um dia e que Francisco de Roma recebeu há pouco mais de 10 anos. O Papa tem tomado medidas ao longo de seu pontificado para criar essa Igreja que hoje está representada na Aula Paulo VI. Se há uma coisa em que ele é mestre, é em como ele mede os tempos, e não há dúvida de que este é o tempo certo, o tempo da Salvação, o tempo de Deus para tornar o Evangelho carne neste momento da história. Na medida em que se permitir que o Espírito Santo seja o verdadeiro, o grande protagonista deste Sínodo, serão dados passos fundamentais e irreversíveis neste modo de ser Igreja, tão antigo e tão novo. Não desviemos o foco, que ninguém queira assumir um protagonismo que não lhe pertence, é o tempo do Espírito de Deus, que quer soprar, à sua maneira, para continuar construindo, como vem fazendo desde o dia de Pentecostes, há quase 2.000 anos. Aqueles discípulos entenderam suas línguas e as levaram até os confins da terra. Ajudemos esses homens e mulheres sentados ao redor das mesas redondas a discernir, por meio da oração, da escuta e do diálogo, o caminho a seguir que a Igreja precisa tanto encontrar hoje. Este é o tempo do Sínodo, de caminharmos juntos, não deixemos que ninguém tente colocar obstáculos em nosso caminho, empurremos juntos para que possamos ir mais longe, movidos pelos sentimentos que nascem de Deus e que nos fazem descobrir a vida em sua plenitude. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Nós que somos da Amazônia estamos acostumados com uma Igreja sinodal”

“Estamos em Sínodo”, afirmou o Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no primeiro dia da primeira etapa da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que reúne até 29 de outubro no Vaticano 464 representantes das Igrejas do mundo, dentre eles 13 brasileiros e brasileiras. Junto do Papa Francisco O dia começou com a celebração da Eucaristia, dando início à assembleia de um Sínodo que “já vem caminhando há muito tempo”, segundo o cardeal Steiner, que insistiu em que “nós participamos, nós demos as nossas sugestões, e agora estamos aqui, junto do Papa Francisco, dando os primeiros passos”. Dentre as expectativas, que disse ser muitas, o cardeal Steiner destacou “a alegria de nos encontrarmos com tantas pessoas de diversas culturas, de diversas regiões é muito grande”. O arcebispo de Manaus insiste na “confiança muito grande que se criou com o retiro de três dias que tivemos todos juntos fora de Roma”. Dom Leonardo Steiner destacou que “essa confiança vai nos ajudarmos a termos abertura suficiente para refletirmos e debatermos a questão da sinodalidade”. Um modo de ser Igreja sinodal O arcebispo de Manaus enfatizou que “nós que somos da Amazônia estamos acostumados com uma Igreja sinodal. Nós temos a participação dos leigos, a participação dos povos indígenas, dos padres, dos bispos, as nossas assembleias diocesanas, prelatícias, as nossas assembleias dos regionais, recordando sempre esse modo de ser Igreja, um modo de ser Igreja sinodal”. O cardeal Steiner afirmou que “é claro que nós daremos mais passos ainda, estaremos muito mais atentos para a questão da justiça, que faz parte da sinodalidade, a questão da casa comum, que faz parte da sinodalidade, nós ouviremos as sugestões de todas as outras igrejas particulares”. Ele pediu “que Deus nos ajude a termos um bom Sínodo e que nós ofereçamos a nossa experiência de fé, de caminhada da nossa Igreja, uma Igreja missionária, uma Igreja sinodal”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Laudate Deum: “Não se pode mais duvidar da origem humana das mudanças climáticas”

Após oito anos da Laudato si’ e depois de advertir “que não temos reações suficientes enquanto o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura”, o Papa Francisco lançou a Laudate Deum (baixar aqui), uma exortação apostólica dirigida “a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”, na festa de São Francisco de 2023. Uma crise da qual ele denuncia seus vários efeitos, lembrando que a Igreja tem repetidamente apontado que não é “uma questão secundária ou ideológica, mas um drama que prejudica a todos nós”. Consequências graves para todos O texto começa analisando a crise climática global, mostrando as “consequências muito graves para todos” do aumento da temperatura global. Apesar da zombaria de alguns, o Papa denuncia “o desequilíbrio global causado pelo aquecimento global”, que é visível em fenômenos extremos. Em suas palavras, ele desdenha a tentativa de culpar os pobres, ressaltando que “os poucos por cento mais ricos do planeta poluem mais do que os 50 por cento mais pobres de toda a população mundial”, e que “milhões de pessoas perdem seus empregos por causa das várias consequências da mudança climática”. A Laudato Deum afirma inequivocamente que “não há mais dúvidas sobre a origem humana – antropogênica – da mudança climática“, uma consequência do desenvolvimento industrial. Um desenvolvimento do poder econômico que está mais preocupado com o lucro do que com a crise climática. Isso está causando danos e riscos, como resultado do aumento da temperatura dos oceanos e do encolhimento do gelo continental, com um risco cada vez maior de “atingir um ponto crítico” do qual não há retorno. O Papa pede “responsabilidade pela herança que deixaremos para trás após nossa passagem por este mundo”. Paradigma tecnocrático Francisco analisa o paradigma tecnocrático, um tema já abordado na Laudato si’, que ele considera estar “por trás do atual processo de degradação ambiental”. Isso foi acentuado nos últimos anos pela inteligência artificial e pelos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, nos quais ele vê “a ideia de um ser humano sem limites”, criando uma ideologia na qual “a realidade não humana é um mero recurso a seu serviço”, uma tecnologia que “causa arrepios na espinha”. Ele pede que se repense o uso do poder humano, citando exemplos históricos de seu mau uso e pedindo “uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que realmente o limitem”. O texto considera que “a vida, a inteligência e a liberdade humanas integram a natureza que enriquece nosso planeta e fazem parte de suas forças e equilíbrio internos”, citando as culturas indígenas como exemplo da interação humana com o meio ambiente. Ele disse que as culturas indígenas são um exemplo de interação humana com o meio ambiente e pediu “um repensar da questão do poder humano, qual é o seu significado, quais são os seus limites“. Benefício máximo com o menor custo Diante dessa realidade, ele reflete sobre o que chama de “o aguilhão ético”, denunciando o controle da opinião pública por aqueles que têm os maiores recursos. Uma lógica de lucro máximo ao menor custo que ignora a “preocupação com a casa comum e qualquer preocupação em promover os descartados da sociedade”, apostando na meritocracia e os privilégios de poucos, questionando assim o sentido da vida. O Papa denuncia uma política internacional fraca, afirmando o poder monopolizado por uma elite, que deve ser combatido por “organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para garantir o bem comum global, a erradicação da fome e da miséria e a defesa segura dos direitos humanos elementares“.  O texto fala em “assegurar o cumprimento de certos objetivos inegáveis”. Reconfigurar o multilateralismo “de baixo para cima”. Daí a necessidade de reconfigurar o multilateralismo “de baixo para cima”, lembrando as palavras de Fratelli tutti, onde ele defende “a primazia da pessoa humana e a defesa de sua dignidade além de todas as circunstâncias”. Um multilateralismo para “resolver os problemas reais da humanidade”, sem procurar substituir a política e defendendo uma reconfiguração da diplomacia, procurando “responder a novos desafios e reagir com mecanismos globais aos desafios ambientais, sanitários, culturais e sociais, especialmente para consolidar o respeito aos direitos humanos mais básicos, aos direitos sociais e ao cuidado com a casa comum”, o que exige “um novo procedimento para tomar decisões e legitimar essas decisões“. Laudate Deum analisa o progresso e os fracassos das conferências climáticas, destacando algumas etapas significativas, alcançadas quando todos estavam envolvidos. A análise se concentra na última conferência realizada em Sharm El Sheikh, em 2022, que ele vê como “outro exemplo da dificuldade das negociações”, exigindo mudanças substanciais, não apenas “remendos”, e que o problema seja visto como “um problema humano e social em uma ampla gama de sentidos“. Para isso, ele pede uma transição energética eficiente, obrigatória e fácil de monitorar, que inicie um processo drástico e intenso com o comprometimento de todos. Antropocentrismo situado Por fim, ele aborda as motivações espirituais, especialmente dos católicos, algo que brota da fé, embora convide membros de outras religiões a fazer o mesmo. À luz da fé, ele cita as contribuições bíblicas nesse sentido, pedindo comunhão e compromisso diante de um paradigma tecnocrático que “pode nos isolar do mundo ao nosso redor e nos enganar, fazendo-nos esquecer que o mundo inteiro é uma ‘zona de contato’“. Em contraste com a visão de mundo judaico-cristã, ele propõe um “antropocentrismo situado”, que leva a “reconhecer que a vida humana é incompreensível e insustentável sem outras criaturas”, uma consequência da estreita conexão com o mundo ao nosso redor, algo que vem de Deus. É por isso que ele pede o fim da “ideia de um ser humano autônomo, todo-poderoso e ilimitado” e a compreensão de nós mesmos “de uma forma mais humilde e mais rica”. Francisco convida “cada um de nós a acompanhar esse caminho de reconciliação com o mundo que nos abriga e a embelezá-lo com nossa própria contribuição”, reconhecendo a importância decisiva das “grandes decisões na política nacional e internacional”. Uma mudança que será mais fácil com mudanças culturais, com um…
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Sínodo da Sinodalidade: Buscando a Verdade pelos olhos de Jesus

No dia em que a Igreja celebra a festa de um de seus grandes santos, aquele a quem o Senhor pediu que reconstruísse sua Igreja, um de seus homônimos, Francisco de Roma, inicia uma nova que se espera frutífera, uma tentativa de promover uma Igreja sinodal, que não é algo novo, mas algo que tem sido dificultado há muito tempo. O que contribuir nesse caminho Uma tarefa que foi confiada a todos os batizados e que envolveu muitas vozes ao longo de um processo sinodal que começou há dois anos. Um tempo de escuta, de diálogo, que resultou em elementos que agora ajudarão no processo de discernimento, que nada mais é do que uma busca pela verdade em um mundo quebrado. Todos nós somos chamados a nos perguntar, mas especialmente os membros do Sínodo, o que temos a oferecer, o que temos a contribuir nesse caminho. Um caminho que deve ser percorrido sob as premissas da esperança e da alegria, que não podemos esquecer que são uma expressão clara da presença de Deus. É bom lembrar as palavras de Teilhard de Chardin, que diz que “ninguém pode acreditar em cristãos miseráveis que não transmitem significado, testemunho, verdade, beleza em sua visão do mundo“. Ou, em palavras menos poéticas, o apelo do Papa Francisco para que não sejamos “cristãos com cara de vinagre”. Sermos corajosos Fazemos parte de uma Igreja inspirada na Trindade, a melhor comunidade, a comunidade que se complementa, que é um sinal de harmonia, de uma sinodalidade que deve ser gerada na Igreja, para a qual este Sínodo é uma clara oportunidade. Mas precisamos ser corajosos, agir com parresia para seguir a voz do Espírito e responder aos desafios que o mundo de hoje está colocando para a Igreja, para que ela possa responder aos sinais dos tempos. É uma oportunidade de renascer, de superar medos, resistências e, fortalecendo o caminho do discernimento, encontrar a verdadeira Beleza. Para isso “não nos serve ter uma visão imanente, feita de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas. Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar ou um plano de reforma. Não. Estamos aqui para caminhar juntos, com o olhar de Jesus“, como disse o Santo Padre em sua homilia na missa de abertura, que também contou com a presença dos novos cardeais que receberam o barrete no sábado, 30 de setembro. Recuperando o espírito do Concílio Um Sínodo que quer recuperar o espírito do Concílio, algo que Francisco deu uma piscadela ao citar as palavras de João XXIII no discurso de abertura do último Concílio: “Acima de tudo, a Igreja não deve se afastar do sagrado patrimônio da verdade recebido dos Padres; mas, ao mesmo tempo, deve olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo de hoje, que abriram novos caminhos para o apostolado católico”, palavras de grande relevância para o mundo de hoje. Esses novos caminhos são o grande desafio deste Sínodo. É um tempo de sinodalidade, de caminhar juntos, de superar “o espírito de divisão e de conflito” e de gerar espaços de comunhão, como o Papa assinalou. Para isso, o Sínodo é desafiado a “colocar Deus novamente no centro do nosso olhar, a ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia. Uma Igreja unida e fraterna, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda aqueles que buscam o Senhor, que sacode saudavelmente os indiferentes, que põe em movimento itinerários para instruir as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus em seu centro e, portanto, não divisiva internamente nem dura externamente”, disse Francisco. A grande questão é como conseguir isso, como ser uma Igreja acolhedora, cordial, amigável, sem medo de confrontos, uma Igreja que “se torne um colóquio”, como disse Paulo VI. Uma Igreja que não está sobrecarregada, que não é rígida nem morna, que não está cansada nem fechada em si mesma. Tudo isso sem esquecer que o Espírito é o protagonista. Quase um mês, até 29 de outubro, para progredir em tudo isso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1