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Dia: 17 de outubro de 2023

Cardeal López Romero: “Que o Sínodo passe, mas que a sinodalidade permaneça”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade conclui seu terceiro módulo nesta terça-feira, no qual foi discutida a corresponsabilidade na missão. O cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, a professora Reneé Khöler-Ryan, diretora da Escola de Filosofia da Universidade de Notre Dame (Austrália), Dom Anthony Randazzo, bispo de Broken Bay (Austrália) e presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania, e o jesuíta nigeriano Agbonkhianmeghe Emmanuel Orobator, reitor da Universidade de Santa Clara, na Califórnia (Estados Unidos), refletiram em coletiva de imprensa sobre o tema. O papel das mulheres como tema de destaque A Assembleia Sinodal lembrou o Dia de Jejum e Oração pela Paz na Terra Santa, “como uma força santa a ser oposta à força do demônio, à força da guerra”, nas palavras de Paulo Ruffini. Embora se insista que o tema do Sínodo é a sinodalidade, as palavras do prefeito do Dicastério para a Comunicação deixaram claro que o tema da mulher ocupou o centro deste módulo, algo que já ficou claro na introdução de sexta-feira, da qual todos os detalhes são conhecidos, pois são os únicos momentos em que se tem acesso irrestrito a tudo o que é dito na sala sinodal. Ruffini salientou que foi abordada a questão de como superar modelos clericais que podem dificultar a comunhão, mas acima de outras questões destacou em relação à corresponsabilidade, o tema deste módulo, a questão do diaconato feminino, sendo importante esclarecer a própria natureza do diaconato, a questão da linguagem inclusiva na Igreja, o papel da mulher, lembrando que Jesus tinha muitas mulheres ao seu redor. A participação das mulheres é importante, pois elas podem “ajudar a Igreja a encontrar seu vigor nesta época”, ressaltou. Missão dos bispos na Igreja sinodal Nesse campo, a participação das mulheres na homilia foi discutida, com Ruffini reconhecendo que “quando há mulheres nos conselhos pastorais, as comunidades são mais criativas“, tendo sido falado que “quando queremos falar é importante ter homens e quando queremos fazer coisas é importante ter mulheres”. Além disso, o tema do serviço em comunhão e a necessidade de ter todos os batizados. A Assembleia Sinodal, conforme relatado por Sheila Pires, secretária da Comissão de Comunicação, refletiu sobre o papel dos bispos na Igreja, que devem promover o diálogo ecumênico e inter-religioso, tendo sido solicitada uma maior participação nas consultas para a nomeação de bispos. Também foi observada a necessidade de todos os bispos adotarem um estilo sinodal, sua formação contínua, seu relacionamento com o clero e sua proximidade com as vítimas de abuso. Um fã da sinodalidade O Cardeal Cristóbal López Romero se declarou “um fã da sinodalidade”, enfatizando a importância de todo o processo sinodal, não apenas da Assembleia Sinodal. A partir daí, ele pediu que “o Sínodo passe, mas que a sinodalidade permaneça“. Em suas palavras, destacou o clima de espiritualidade na Assembleia, o processo de consulta e as diferentes etapas em todos os níveis que foram realizadas, a presença na Assembleia Sinodal de mulheres, leigos e sacerdotes, e a organização em mesas redondas, bem como o método de conversação no Espírito e a atmosfera franca, serena e fraterna que prevaleceu. Uma Assembleia Sinodal na qual ele insistiu que não é possível pretender falar sobre todos os temas. De fato, afirmando que os membros da Assembleia Sinodal levarão para casa a lição de casa no final desta primeira sessão, que ele definiu como um aquecimento, ele enfatizou que nenhuma proposta ou resolução é esperada nesta fase, e que entre esta e a segunda fase, prevista para outubro de 2024, o trabalho terá que ser feito nos diferentes níveis da Igreja. As ideias do Cardeal foram repetidas pelos outros convidados na coletiva de imprensa, enfatizando a importância de trabalhar a partir do mundo digital, especialmente em realidades onde as distâncias são enormes, como na Oceania, insistindo em não cair no isolamento. Um processo no qual é necessário “ir ao mais profundo do processo, para entender o fermento do que estamos vivendo“, como apontou o jesuíta nigeriano, que insistiu na importância do processo além do resultado, porque estamos diante “do mecanismo que nos guiará a novas formas de ser, de buscar novas formas”. Diaconato feminino Em relação ao diaconato feminino, Reneé Khöler-Ryan acredita que essa é uma das questões que merece mais consideração. Mas, ao mesmo tempo, como alguém que trabalha na Igreja, ela pediu para entender que as mulheres se concentram em coisas mais cotidianas, “não falamos todos os dias sobre o fato de não sermos sacerdotes”, pedindo para não se concentrar apenas nisso e esquecer as necessidades das mulheres em todo o mundo, preocupar-se, como mãe, com o que diz respeito à sua família, que seus filhos sejam educados na fé, tenham suas necessidades atendidas e um futuro em que possam ser bem recebidos na Igreja, o que ela considera ser o desejo de muitas mulheres em todo o mundo, pedindo que não se concentrem apenas em uma questão e se esqueçam das outras, que sejam mais abertas a várias questões. Uma Assembleia Sinodal em que há divergências, como reconheceu o Cardeal López Romero, embora tenha insistido que “não são muito perceptíveis, nem notórias, não é que haja uma briga, um fogo cruzado de tiros uns contra os outros”, algo que é ajudado pelo método de conversação no Espírito, que “faz com que sejamos muito respeitosos uns com os outros“, sem falar em resposta ao que o outro disse. Salientando que todos têm o mesmo tempo e a importância dos momentos de silêncio, ele enfatizou que “há muito mais coisas que nos unem do que nos separam”. Não esconder as divergências Para o arcebispo de Rabat, é possível que “quando chegarmos a questões mais concretas, as divergências se tornem aparentes“, ressaltando o pedido da Secretaria do Sínodo para que as divergências sejam destacadas, ajudando assim a superar a auto referencialidade. Para isso, uma experiência como essa ajuda muitos a abrir os olhos e a descobrir que a experiência dos outros pode modificar as visões. O padre Orobator reconheceu “muitas diferenças…
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Sentados na carteira da Igreja Sinodal para não ficarmos ancorados em ideologias, Deus nos fala nos diferentes

Aprofundar uma dimensão essencial no caminhar de uma Igreja sinodal foi o objetivo dos últimos dias na primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está acontecendo na Sala Paulo VI de 4 a 29 de outubro. O terceiro módulo do Instrumento de Trabalho, o módulo B1, que será encerrado nesta terça-feira, foi um chamado à corresponsabilidade na missão.  Deus fala nos diferentes A questão que se coloca é se os participantes do Sínodo terão conseguido responder à pergunta que foi o ponto de partida para a reflexão realizada na última sexta-feira: “Como podemos compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho?“. Na coletiva de imprensa de segunda-feira, a irmã Patrícia Murray definiu a Assembleia Sinodal como um momento de “escutar o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes”, algo que realmente se aplica a tudo o que acontece em uma Igreja sinodal. À medida que a Assembleia entra em sua segunda metade, alguns se perguntam até que ponto o processo sinodal, a dinâmica da conversa no Espírito, está avançando e ajudando a escutar o sopro da vontade de Deus naquele que pensa diferente. O risco é aquele contra o qual Francisco sempre adverte, de que a ideologia fale mais alto do que o Espírito, de que posições fechadas, ancoradas no passado, que nos levam a preservar nosso status quo, seja ele qual for, queiram se impor na Sala Sinodal. De volta às carteiras da Escola Sinodal Estar aberto à novidade de uma nova forma de ser Igreja, uma Igreja sinodal, na qual é necessário sentar-se às carteiras para aprender seus segredos e conhecer seu funcionamento interno, é uma necessidade. É preciso assumir uma dinâmica sinodal para responder, por meio da escuta, do diálogo e do discernimento comunitário, aos clamores que o tempo presente está colocando em nossa caminhada eclesial, pessoal e comunitária, uma caminhada determinada pelo batismo. É nesse contexto que surge a necessidade de nos deixarmos iluminar pelo Espírito, que nos ajuda a transcender a realidade, transbordando, como diz Francisco com tanta frequência. Não podemos nos esquecer de que toda mudança precisa de uma conversão, e estamos diante de um Sínodo que pode ser considerado uma tentativa de reforma eclesial, conforme delineado no Concílio Vaticano II, mas que não foi realizado na medida em que deveria ter sido. Para isso, é essencial aprender a construir juntos, superando os laços pessoais e comunitários que nos impedem de romper, confrontando opiniões diferentes para encontrar, no discernimento comunitário, o rumo a seguir em meio a posições conflitantes, evitando o distanciamento que nos impede de continuar caminhando em uma direção comum, o que não podemos esquecer que é um objetivo óbvio de qualquer processo sinodal. Para continuar caminhando juntos, às vezes é necessário ter a coragem de pedir perdão, e isso é algo que às vezes não é fácil, mas é o que cura as feridas e nos permite continuar caminhando juntos, em uma verdadeira sinodalidade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1