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Dia: 21 de outubro de 2023

Cardeal Barreto: “Não estamos inventando nada, estamos reunindo o que o Espírito Santo deu às igrejas”

Um Sínodo que vem sendo preparado há dois anos em diferentes níveis, desde as paróquias até os continentes. É assim que o cardeal Pedro Barreto vê o atual processo sinodal, como disse em uma coletiva de imprensa no dia 21 de outubro. O presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), insistiu que “não estamos inventando nada, estamos reunindo o que o Espírito Santo diz às igrejas“. Um Sínodo de todo o povo de Deus O arcebispo de Huancayo destacou que os bispos, responsáveis por um território, “também são corresponsáveis com o Papa Francisco para toda a Igreja universal“, por isso estão em “um Sínodo dos Bispos onde há irmãs, leigos e sacerdotes que estão participando ativamente das 35 mesas deste Sínodo, com a novidade de um método que é a conversa no Espírito”. Para o cardeal peruano, “não se trata apenas de reunir a experiência que estamos vivendo, mas também estamos vivendo de uma forma pequena o que é a Igreja universal, a diversidade de raças, culturas, diversidade de idiomas, mas unidos no mesmo Espírito”. Em suas palavras, ele enfatizou que “esse Espírito, de certa forma, tem como fonte a Santíssima Trindade, três pessoas distintas, mas unidas naquele vínculo indissolúvel de amor que é Deus”. A partir daí, afirmou que “Deus é comunhão, Deus é missão e Deus é participação”, o que o leva a ver essa experiência do Sínodo como algo que “nos abre a um horizonte impressionante de diversidade na unidade que Deus nos dá”. Uma Igreja a serviço de Cristo e da humanidade Reconhecendo a existência de tensões nas comunidades de discernimento, ele enfatizou que “há, de fato, algo que nos une a todos e nos entusiasma nesse caminho sinodal em que o Espírito Santo está nos guiando”. A partir daí, ele insistiu que “depois de 52 anos como padre e 23 anos como bispo, estou vendo como a Igreja, em meio às dificuldades que está enfrentando, tanto interna quanto externamente, está se abrindo e avançando para servir somente a Cristo e à humanidade”. O cardeal contou sobre o que está acontecendo na Amazônia, onde “estamos acompanhando todo um processo sinodal desde 2013“, lembrando que “em 2014 foi criada a Rede Eclesial Pan-Amazônica, uma rede que reuniu os líderes dos povos originários e todo o trabalho que vem sendo feito desde o início da evangelização nesse bioma”. O cardeal, que já foi vice-presidente e presidente da REPAM, falou da surpresa causada pelo fato de o Papa Francisco ter convocado o Sínodo para a Amazônia, com o tema “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Uma Conferência da Igreja que inclui todos os batizados Barreto destacou que uma das consequências desse Sínodo foi a criação da CEAMA, lembrando a assembleia realizada em agosto passado em Manaus com representantes dos povos originários, padres, irmãs e bispos, que ele vê como “uma experiência bem-sucedida com a criação da primeira conferência eclesial, que incluiu todos os batizados, absolutamente todos eles“, pedindo que essa experiência seja levada adiante e lembrando a realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe em novembro de 2021, que enriqueceu o atual processo sinodal e o Instrumentum Laboris. O cardeal peruano disse que “a Amazônia, especialmente os povos originários, está caminhando junto com cada um de nós“. Em suas palavras, ele lembrou a experiência de Belinda Jima, do povo originário Awajún Wampis, que em uma mensagem ao Papa disse: “Papa Francisco, você está cumprindo o mandato de Jesus, você aceitou os mais pobres dos pobres e é por isso que os povos originários estão lutando com você para espalhar esta mensagem de paz, justiça e solidariedade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nas Catacumbas, Cardeal Maradiaga lembra Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”

A memória é um elemento importante na experiência da fé, uma memória que muitas vezes remete às origens daqueles que iniciaram a jornada. Na história do cristianismo, as catacumbas foram um lugar de grande importância nos primeiros séculos, naquela Roma em que ser cristão não era fácil, pois representava um modo de vida totalmente contrário ao que a sociedade dominante tentava impor. As catacumbas um sinal de compromisso Na história recente, as Catacumbas de Santa Domitilla se tornaram um ponto de referência. Primeiro, em 16 de novembro de 1965, quando, poucos dias antes do encerramento do Concílio Vaticano II, um grupo de bispos assinou o Pacto das Catacumbas. Mais de 50 anos depois, em 20 de outubro de 2019, em meio ao Sínodo para a Amazônia, alguns dos Padres Sinodais e muitos outros homens e mulheres que os acompanharam renovaram um Pacto que agora se concentrava no cuidado da Casa Comum. No Pacto de 1965 estava presente Enrique Angelelli, o bispo argentino mártir, hoje beato, que foi assassinado por assumir o que havia assinado, por tornar realidade uma Igreja pobre e viver de maneira pobre. Em 2019, a Eucaristia anterior à assinatura foi presidida pelo Cardeal Claudio Hummes, que dedicou os últimos anos de sua vida ao cuidado da Amazônia e de seus povos. Quatro anos e um dia depois, um novo encontro nas Catacumbas de Santa Domitila relembrou as experiências de 1965 e do Beato Angelelli, e trouxe de volta à memória de alguns de nós, que estávamos presentes em 2019, o que vivenciamos naquela data significativa. Francisco, Angelelli, Hummes e Maradiaga Nesta ocasião, a presidência coube ao cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga. É interessante observar essas três figuras e sua influência sobre o Papa Francisco. Em relação a Angelelli, a quem ele beatificou, sempre demonstrou grande respeito e admiração por seu compromisso e proximidade com o povo. Quanto a Hummes, pode-se dizer que ele é parcialmente responsável pelo nome de Francisco com sua frase agora famosa: “Não se esqueça dos pobres“. No caso de Maradiaga, que participou do Pacto de 2019, ele tem sido um dos cardeais mais relevantes do atual pontificado. Junto com o cardeal hondurenho, na celebração se fizeram presentes Dom Dante Braida, atual bispo de La Rioja, diocese de Angelelli, e Dom Shane Mackinlay, bispo de Sandhurst (Austrália), juntamente com alguns dos membros da Assembleia Sinodal, entre eles a Ir. Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo, foi uma oportunidade para lembrar Pepe Palacio, cujo centenário de nascimento está sendo celebrado este ano, e sua esposa Amalia, apresentados junto com o bispo mártir como modelos de sinodalidade. Entre os presentes estava também Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina. Uma diocese à imagem do Vaticano II Dom Dante Braida apresentou uma visão geral da figura de Angelelli, destacando sua sensibilidade para com o mundo dos pobres, que se manifestou sobretudo no acompanhamento dos trabalhadores, buscando unir o mundo universitário com o mundo dos trabalhadores. Dom Angelelli assumiu a diocese de La Rioja depois de ter vivido com grande intensidade o Concílio Vaticano II e começou a realizar assembleias onde era importante a presença de todo o povo de Deus, estabelecendo fortes linhas pastorais a partir de uma perspectiva missionária e da busca da justiça, onde os leigos viviam sua vocação no mundo, ordenando o que não estava bem e buscando seu crescimento. Como lembrou o atual bispo, seu antecessor promoveu a criação de cooperativas e sindicatos para exigir um salário justo para os trabalhadores. Em uma província com uma grande piedade popular, ele procurou conectar isso com a justiça social, com a construção de um mundo melhor. Em seu trabalho pastoral, ele abriu a Igreja para uma maior participação, o que trouxe alegria e esperança para muitas pessoas, especialmente aquelas que se sentiam negligenciadas ou sem um lugar na Igreja, mas também trouxe resistência, que ele tentou administrar em seu trabalho pastoral. Tensões internas como consequência da renovação conciliar que ele se comprometeu a realizar. O bispo Braida destacou que, nesse mesmo local onde ocorreu a celebração eucarística, o Beato Angelelli assumiu o compromisso de que a Igreja deveria se renovar e ser a casa de todos, buscando incluir aqueles que pensavam diferente. Por sua maneira de agir, foi identificado com o comunismo e o apoio à guerrilha, e muitos de seus colaboradores mais próximos foram presos, uma perseguição que se tornou mais dura com a chegada da ditadura. Ele nunca perdeu sua visão evangélica, o que o levou a tentar conversar com os detentores do poder, buscando mudanças. O assassinato de dois religiosos e um leigo foi o prelúdio de sua morte, destacou o bispo. A beatificação de Angelelli foi “um sinal de esperança para a Igreja argentina, somos gratos por seu testemunho porque nele temos uma fonte para beber“, concluiu o bispo de La Rioja. Um compromisso com grande repercussão O cardeal Maradiaga, que leu o texto do Pacto das Catacumbas de 1965, lembrou que não podemos nos esquecer, porque “esquecer seria esquecer todos os mártires e esquecer aqueles que assumiram esse compromisso aqui no final do Vaticano II“, lembrando Angelelli, Helder Cámara e Eduardo Pironio. Algo que hoje não parece tão evidente, mas em uma época em que os bispos usavam uma longa capa e os cardeais usavam arminho, esse compromisso, esse Pacto das Catacumbas, foi um sinal com grande repercussão, segundo o arcebispo emérito de Tegucigalpa. O importante, de acordo com o cardeal, é lembrar de tantos que derramaram seu sangue para serem testemunhas de Cristo, algo que continua a se repetir na Igreja hoje. Daí a importância de lembrar Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”, que ele vê como a palavra de ordem a ser seguida. Sem esquecer que Angelelli foi considerado um mártir do Concílio, o cardeal afirmou que “ainda hoje o Concílio Vaticano II não entrou em alguns e há outros que o rejeitam”. Por isso, concluiu que “o sangue dos mártires nos lembra que o Espírito Santo não tem…
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Uma Síntese profunda, honesta e clara do Sínodo para que ninguém pule do barco

O desafio a ser enfrentado nos próximos dias é captar de forma profunda, honesta e clara o processo vivido pelo Sínodo da Sinodalidade. Para isso, a Secretaria do Sínodo previu a elaboração do que foi chamado de Documento de Síntese, insistindo que “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões em aberto a serem respondidas. Um instrumento para avançar As palavras de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé e presidente da Comissão de Informação do Sínodo, em uma das últimas coletivas de imprensa, um dos poucos canais pelos quais se sabe alguma informação sobre o que está acontecendo na Sala Sinodal, enfatizam que “a Síntese não é um Documento Final e nem o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. A questão é como isso tomará forma e que impacto poderá ter na vida da Igreja universal nos próximos meses, bem como até que ponto será um incentivo para que os católicos de todo o mundo continuem envolvidos em um processo que, não nos esqueçamos, está longe de terminar, pois durará pelo menos até outubro de 2024, quando ocorrerá a segunda sessão da Assembleia Sinodal, que começou em 4 de outubro. Sem novas contribuições, a sinodalidade perde sua riqueza Esse é um ponto decisivo, pois se não houver novas contribuições das igrejas locais nos próximos meses, o Sínodo será reduzido a uma reflexão de um pequeno grupo. No final das contas, 365 membros, sem subtrair a importância daqueles que estão participando como tais na Assembleia Sinodal, é um número muito distante de todos os católicos, e sinodalidade significa caminhar juntos, todos nós. Na medida em que conseguirmos nos aproximar dessa totalidade, a sinodalidade se enriquecerá cada vez mais. Não podemos esquecer que uma das grandes riquezas do atual processo sinodal, algo que já pôde ser experimentado no Sínodo para a Amazônia, são as múltiplas contribuições que são fruto de um processo de escuta que reuniu uma diversidade cultural e eclesial que nos ajudou a entender melhor o que significa catolicidade. Como Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Arcebispo de Tóquio, destacou em uma coletiva de imprensa, “sinodalidade não significa uniformidade, sinodalidade significa caminhar juntos a partir de nossas diferentes culturas“. Abrir horizontes Mas, para isso, é decisivo reunir a riqueza da diversidade e propor elementos nos quais aqueles que terão esse Documento de Síntese em suas mãos se verão refletidos, sabendo, como disse o próprio bispo japonês, que não se pode esperar que uma solução funcione imediatamente para todos. O que ajudará a manter muitos no barco é abrir horizontes que permitirão o próximo passo, que é de grande importância, uma recepção esperançosa nos próximos meses por parte daqueles que, em suas Igrejas locais, estão atentos ao que está acontecendo na Sala Paulo VI. Sem devolver ao povo de Deus, sujeito fundamental de uma Igreja sinodal, cujo modo de ação é a circularidade, os frutos e os progressos alcançados, estando aberto a todas as contribuições que possam surgir, o processo se esvaziará. Daí a importância de um Documento Síntese que consiga envolver todos na preparação da segunda sessão da Assembleia Sinodal, que deve ser o ponto culminante dessa reforma eclesial, que só será tal se for vista como fruto do discernimento comunitário de toda a Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1