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Dia: 25 de outubro de 2023

Francisco denuncia as atitudes machistas e ditatoriais dos ministros ordenados em uma Igreja que é feminina

Em uma daquelas intervenções tão típicas de Francisco, na Congregação Geral, na tarde desta quarta-feira 25 de outubro, ele se dirigiu aos participantes da Assembleia Sinodal, que estavam iniciando a análise do Documento Síntese. “Gosto de pensar na Igreja como o povo fiel de Deus, santo e pecador, um povo chamado e convocado com a força das bem-aventuranças e de Mateus 25″, começou. Um povo simples e humilde que caminha com o Senhor Lembrando a atitude de Jesus, que “não assumiu nenhum dos esquemas políticos de seu tempo”, nem nenhuma “corporação fechada”, ele insistiu em uma Igreja “como esse povo simples e humilde que caminha na presença do Senhor (o povo fiel de Deus)”, enfatizando a ideia do “povo santo e fiel de Deus” a caminho, santo e pecador, definindo assim a Igreja. Sua infalibilidade é vista pelo Papa como uma das características desse povo, “é infalível in credendo“, explicando-o claramente: “quando você quiser saber o que a Santa Madre Igreja acredita, vá ao Magistério, porque ele é encarregado de ensiná-lo a você, mas quando você quiser saber como a Igreja crê, vá ao povo fiel”. Consciência da dignidade batismal Ele lembrou a imagem do povo fiel reunido na entrada da Catedral de Éfeso, pedindo aos bispos que declarassem dogma a verdade que eles já possuíam como povo de Deus, Maria, Mãe de Deus. A partir daí, ele deixou claro que “o povo fiel, o santo povo fiel de Deus, tem uma alma, e como podemos falar da alma de um povo, podemos falar de uma hermenêutica, de uma maneira de ver a realidade, de uma consciência. Nosso povo fiel tem consciência de sua dignidade, batiza seus filhos, enterra seus mortos”, talvez uma advertência àqueles que, mesmo na Sala Sinodal, estão determinados a não tornar realidade uma Igreja baseada no Sacramento do Batismo e não no Sacramento da Ordem Sagrada. Ele deixou claro que “nós, membros da hierarquia, viemos dessas pessoas e recebemos a fé dessas pessoas, geralmente de nossas mães e avós”, enfatizando a importância de “uma fé transmitida em um dialeto feminino“. Francisco destacou que a fé “foi transmitida em um dialeto, e geralmente em um dialeto feminino. Isso só acontece porque a Igreja é Mãe e são exatamente as mulheres que melhor a refletem”. Mulheres corajosas O Papa vê as mulheres como “aquelas que sabem esperar, que sabem descobrir os recursos da Igreja, do povo fiel, que arriscam além do limite, talvez com medo, mas corajosas, e no claro-escuro de um dia que está começando, elas se aproximam de um túmulo com a intuição (ainda não esperança) de que pode haver alguma vida”. “A mulher do povo santo e fiel de Deus é um reflexo da Igreja. A Igreja é feminina, é esposa, é mãe”, assinalou, denunciando que “quando os ministros vão longe demais em seu serviço e maltratam o povo de Deus, desfiguram o rosto da Igreja com atitudes machistas e ditatoriais“, recordando a intervenção da Ir. Liliana Franco. Ele também expressou sua tristeza por “encontrar em alguns escritórios paroquiais a ‘lista de preços’ dos serviços sacramentais à maneira de um supermercado”. Não a uma Igreja empresa de serviços diversos Por isso, disse que “ou a Igreja é o povo fiel de Deus a caminho, santo e pecador, ou acaba sendo uma empresa de serviços diversos. E quando os agentes pastorais seguem esse segundo caminho, a Igreja se torna o supermercado da salvação e os padres meros funcionários de uma multinacional. Essa é a grande derrota a que o clericalismo nos conduz. E isso com grande tristeza e escândalo”, denunciando o escândalo dos jovens padres que experimentam batinas e chapéus ou alvas e vestes cobertas de renda. “O clericalismo é um chicote, é um flagelo, é uma forma de mundanismo que contamina e danifica o rosto da esposa do Senhor; escraviza o povo santo e fiel de Deus”, ressaltou o pontífice. Diante dessas atitudes, “o santo povo fiel de Deus segue em frente com paciência e humildade, suportando o desprezo, os maus-tratos e a marginalização por parte do clericalismo institucionalizado“, denunciou Francisco, que concluiu com uma nova denúncia, ao dizer que “com que naturalidade falamos dos príncipes da Igreja, ou das promoções episcopais como ascensão na carreira! Os horrores do mundo, o mundanismo que maltrata o povo santo e fiel de Deus”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Uma Carta de homens e mulheres sentados à mesma mesa, em virtude de seu batismo, para discutir e votar como Assembleia Sinodal

Uma Carta da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, dando “graças a Deus pela bela e rica experiência que acabamos de viver”, foi lançada em 25 de outubro. Um tempo “vivido em profunda comunhão“, com toda a Igreja, agradecendo pelas orações e mostrando a presença na sala sinodal das expectativas, perguntas e temores presentes no povo de Deus. Uma experiência sem precedentes Relembrando o “longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus“, vivido ao longo de dois anos, o documento ressalta a importância da experiência vivida desde 30 de setembro, dia em que ocorreu a oração Together e os membros da Assembleia partiram para o retiro de três dias. Uma experiência que é definida como sem precedentes, destacando que “pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude de seu batismo, a se sentar à mesma mesa para participar não apenas das discussões, mas também da votação desta Assembleia do Sínodo dos Bispos”. Desse caminho conjunto, destaca-se a escuta da “Palavra de Deus e da experiência dos outros”, por meio do método da conversa no Espírito, com o qual “compartilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas de nossas comunidades em todos os continentes, tentando discernir o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje“. A importância da presença de outras Igrejas é relatada, em uma assembleia realizada em um mundo em crise, com guerras em países de onde vêm alguns dos membros do Sínodo. Escuta respeitosa O texto relata a oração pelas vítimas de violência homicida, pelos migrantes, mostrando solidariedade e compromisso com aqueles que “atuam como artesãos da justiça e da paz”. Ele destaca a importância do silêncio, seguindo o convite do Santo Padre, “para promover entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito“. O mesmo se aplica à vigília ecumênica de abertura, buscando a unidade em torno da Cruz, confiando “a nossa casa comum, onde o grito da terra e o grito dos pobres ressoam com uma urgência cada vez maior”. Uma Assembleia Sinodal que pediu “conversão pastoral e missionária“, em uma Igreja da qual os sem-teto dizem esperar o Amor, que “deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico”. Algo que deve ser feito com confiança, lembrando as exortações emitidas durante a Assembleia Sinodal. Maior participação no período entre as duas sessões Com relação ao período entre as duas sessões da Assembleia, espera-se que todos participem “do dinamismo da comunhão missionária indicada na palavra sínodo”, insistindo que “não se trata de uma ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica”. Portanto, espera-se que, diante dos desafios e das perguntas, “o relatório-síntese da primeira sessão esclareça os pontos de acordo alcançados, destaque as questões em aberto e indique como continuar o trabalho“. Para progredir em seu discernimento, o texto reconhece que “a Igreja precisa absolutamente escutar a todos, começando pelos mais pobres”, o que significa “escutar aqueles que não têm o direito de falar na sociedade ou que se sentem excluídos, também da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas de racismo em todas as suas formas, em particular em algumas regiões de povos indígenas cujas culturas foram humilhadas”, e “escutar, em um espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial, e comprometer-se concreta e estruturalmente para que isso não aconteça novamente”. Uma escuta que deve ser estendida aos leigos: catequistas, crianças, idosos, famílias. Uma Igreja chamada a “acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e tomada de decisões“. Uma escuta à qual não podem estar ausentes os ministros ordenados e a vida consagrada, nem mesmo aqueles que não compartilham a fé, mas que buscam a verdade. Relembrando as palavras do Papa Francisco, nas quais ele nos lembra que “o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, a carta nos incentiva a não ter medo de responder a esse chamado. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nora Kofognotera Nonterah: “Uma Igreja sinodal deve estar preparada para sentar-se com as leigas do Sul do mundo”

Em meio a dois cardeais e um bispo, a força profética do briefing de 25 de outubro veio da voz de uma mulher leiga, Nora Kofognotera Nonterah, uma das duas leigas africanas presentes na Assembleia Sinodal e uma das poucas teólogas leigas africanas. Isso em um dia em que a Assembleia Sinodal recebeu a Carta ao Povo de Deus, que relata a experiência vivida, e o Documento Síntese, um texto de 40 páginas, que será estudado e debatido pessoalmente e em círculos menores nos próximos dias, antes de ser votado no próximo sábado. Um encontro de diversidade A teóloga leiga africana, que vê no atual Sínodo “uma grande fonte de inspiração”, um espaço de “encontro da diversidade, um momento de relacionamento com as pessoas, culturas, tradições diferentes, um encontro com o Espírito Santo“, enfatizando que “conversas muito profundas podem ser mantidas com pessoas que têm experiências diferentes”, destacando o fato de que pessoas diferentes “sentam-se ao redor da mesma mesa porque querem falar sobre questões que são importantes para todos”. A teóloga enfatizou que “me senti muito ouvida como leiga, como mulher e como africana“. Isso em uma Igreja que “infelizmente não soube como transmitir a voz única do sopro de Deus, que não soube como se enriquecer com a sabedoria que vem dos leigos, dos religiosos da África”. Em sua primeira participação em um Sínodo, ela disse que havia chegado com esperança, alegria, queixas que haviam chegado a ela em seu país, “mas também com resiliência, com a resiliência das mulheres africanas, dos leigos e de toda a Igreja como um todo”, denunciando que “em alguns casos a Igreja não consegue se sentar à mesa onde questões muito importantes são discutidas com base em experiências existenciais”. Mulheres que ensinam a Igreja a ser uma mãe para todos Diante disso, ela insistiu que “uma Igreja sinodal deve estar preparada para sentar-se com as mulheres, especialmente com as mulheres leigas que vêm do Sul do mundo, para aprender a renovar o pensamento da Igreja, um pensamento orientado para o Espírito Santo, que nos dá uma abundância de vida para todos”. Em suas palavras, inspiradas no papel maternal de Maria, ela disse que “as mulheres africanas podem ensinar à Igreja como ser mãe de todos”. A partir daí, ela definiu a sinodalidade como “a melhor maneira de viver a Igreja e pode fornecer um testemunho autêntico do Evangelho“. Para isso, enfatizou a importância da conversa no Espírito que “sempre nos convida a celebrar nossas diferenças, não a escondê-las, é importante reconhecê-las”. Ele também pediu a promoção da participação dos leigos nas diferentes áreas da teologia, uma prática em uma Igreja sinodal, que ajuda a construir uma Igreja melhor baseada no Batismo e, assim, criar uma consciência de corresponsabilidade, que ele considera ser a base da sinodalidade. Permitir que as mulheres contribuam para os processos de tomada de decisão Com relação às mulheres na África, ela enfatizou que são elas que são as construtoras, que constituem o ponto de força da missão da Igreja por meio das muitas atividades que realizam em todos os níveis da Igreja, afirmando que “quando as mulheres participarem mais dos processos de tomada de decisão dentro da Igreja, será possível enriquecer a Igreja com suas contribuições”, algo iniciado pelo Papa Francisco. A partir daí, ela disse estar esperançosa de que “a sinodalidade pode nos ajudar a descobrir a necessidade do papel das mulheres na governança e nas estruturas de tomada de decisão na Igreja em todos os níveis“. Ele também enfatizou a necessidade de priorizar a educação de mulheres e jovens no continente africano, insistindo na importância de reconhecer a importância das mulheres. Uma Igreja sinodal é um dos métodos mais eficazes para ajudar na prevenção de abusos, já que, diante do medo das crianças de falar, a sinodalidade pode ajudar as famílias a praticar a escuta, para que as crianças percebam a importância de falar livremente em família, sem medo, nas igrejas domésticas sinodais. Entendendo a vontade do sopro do Espírito O Cardeal Prevost, prefeito do Dicastério dos Bispos, destacou a contribuição de Santo Agostinho, contando elementos presentes no pensamento agostiniano em relação à sinodalidade. Uma experiência de sinodalidade que ele viveu como bispo em Chiclayo, com assembleias com espírito sinodal para promover a vida da Igreja que ele vê muito presente na América Latina. No processo sinodal, ele enfatizou a importância de ouvir a todos, da conversa espiritual, que ajuda a “descobrir com mais profundidade o que somos chamados a fazer, a entender a vontade do sopro do Espírito“, que nos ensina a confiar mais em Deus, a trabalhar juntos, a buscar soluções para responder às necessidades do mundo de hoje. Uma sinodalidade que está cada vez mais presente na eleição dos bispos, com as religiosas e os leigos sendo ouvidos nas consultas, com a presença de religiosas e uma leiga entre os membros do Dicastério Episcopal, destacou o prefeito. Uma Assembleia Sinodal na qual há opiniões diferentes, mas não divisões, há perspectivas diferentes que lançam luz sobre a comunidade, não houve divisões, algo importante dada a grande diversidade. Necessidade de maior participação Na África Central, um país marcado pela guerra, o Cardeal Dieudonn Nzapalainga enfatizou a importância de todos terem se unido na busca pela paz. Ele descreveu o Sínodo como “um momento importante em que criamos um silêncio dentro de nós mesmos e ouvimos os outros para que o Espírito possa nos falar. Um momento para captar o belo, para descobrir a riqueza, a beleza do outro. Nestes dias, colhemos muita beleza em prol de um sonho, a Igreja de amanhã, que não é concebida por um só”. Dom Timothy Broglio, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, onde o Papa Francisco e a sinodalidade não encontram muitos aliados, disse que havia aprendido com a Assembleia Sinodal as formas como a fé é vivida em todo o mundo, as diversas experiências da Igreja, colocando a escuta como a chave, a ponto de dizer que “se ouvíssemos mais, poderíamos ter um mundo mais respeitoso”.…
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A Assembleia Sinodal começa a decidir o que fazer daqui para frente

A cinco dias do final da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, três dias de trabalho na quarta-feira, quinta-feira e sábado, um dia de descanso na sexta-feira e a Eucaristia final no domingo, os 365 membros do Sínodo enfrentam dias nos quais será decidido o caminho a seguir no processo sinodal. Um caminho para continuar Cada vez mais vozes estão enfatizando a importância dos onze meses que se passarão entre as duas sessões da Assembleia Sinodal, e esse caminho deve ser indicado nos dias que faltam para o encerramento da primeira sessão da Assembleia, e os sinais que indicarão o caminho a seguir devem ser o conteúdo fundamental do Documento Síntese. Um primeiro esboço do Documento de Síntese, cujos detalhes finais foram acordados na reunião de terça-feira, 24 de outubro, foi preparado pela Comissão para o Relatório de Síntese, que inclui o Cardeal Mario Grech, Secretário Geral do Sínodo, o Padre Riccardo Battocchio, Secretário Especial, os eleitos pelas sete regiões: os Cardeais Ambongo, Aveline, Lacroix, os bispos, Azuaje, Mackinlay, Khairallah, o padre Davedassan; e os três membros por nomeação pontifícia: Cardeal Marengo, Irmã Patricia Murray e Padre Giuseppe Bonfrate. Trabalho pessoal e trabalho nos Círculos Menores Na Congregação Geral desta quarta-feira de manhã, após a oração de abertura e um momento de meditação, o esboço do Relatório Síntese será apresentado pelo Relator Geral, Cardeal Hollerich, e os membros da Assembleia Sinodal terão tempo para leitura pessoal e oração. Após esse trabalho individual, na Congregação Geral, na tarde de quarta-feira, os membros da Assembleia Sinodal terão a oportunidade de fazer intervenções livres sobre o esboço do Relatório Síntese. Na quinta-feira de manhã, o trabalho será feito em círculos menores, que trabalharão no esboço do Relatório de Síntese, que será entregue à Secretaria. À tarde, serão coletadas propostas sobre os métodos e as etapas da próxima fase do processo sinodal, antes da segunda sessão. Com as contribuições de quarta e quinta-feira, na sexta-feira a comissão acima mencionada elaborará a versão final do Documento de Síntese, que será lido na Assembleia Sinodal no sábado de manhã, para ser votado ponto a ponto no sábado à tarde, concluindo assim o trabalho da primeira sessão, que será encerrada no domingo de manhã com uma missa. Trazendo de volta o que foi experimentado e retomando os passos já dados Deve-se enfatizar que este é um trabalho de grande importância para o processo sinodal. Não nos esqueçamos de que a grande maioria dos membros da Assembleia Sinodal está lá representando as conferências episcopais e as sete regiões nas quais a Etapa Continental foi dividida, juntamente com os membros de nomeação pontifícia e aqueles que participam em virtude de seu cargo na Cúria Romana. Quando alguém é um representante, ele tem a obrigação moral de trazer de volta o que foi vivido por aqueles que ele representa, mas também de retomar os passos dados. Isso significa ser uma Igreja sinodal, caminhar junto, escutar, dialogar, discernir em comunidade. Uma tarefa coletiva que será mais rica quando o leque de participação for ampliado. Antes da primeira sessão, muitas pessoas participaram de um trabalho que deu frutos. Agora é hora de concretizar, de encontrar a melhor maneira de decidir para onde ir daqui para frente. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1