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Dia: 26 de outubro de 2023

Encontro Rede Clamor partilha os passos dados em América Latina e Caribe buscando avançar no trabalho em comum

Bogotá acolheu de 24 a 26 de outubro o Encontro da Rede Clamor, a Rede Eclesial da América Latina e do Caribe sobre Migração, Deslocamento, Refúgio e Tráfico de Pessoas, com o tema “A vida não é mercancia”, que contou com a presença de representantes de diversas redes de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, como também congregações que são referenciais nesse âmbito. “Uma experiência muito profunda que tenta articular as diversas instituições que trabalham a temática da prevenção ao Tráfico de Pessoas”, segundo a Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), e membro da Rede um Grito pela Vida, que é referencial da Comissão de Tráfico de Pessoas na Rede Clamor. Um encontro que segundo a religiosa, ajudou a “tecer um olhar sobre as diversas realidades do Tráfico de Pessoas em América Latina e o Caribe, e poder perceber essa realidade cruel que está presente principalmente na exploração sexual, trabalho forçado e as atividades ilícitas”, ajudando assim a identificar os desafios que a realidade apresenta. Também esteve presente Ir. Sandra Ede da Coordenação Nacional da Rede Um Grito Pela Vida. No encontro, os participantes puderam “compartilhar as diversas realidades e o trabalho das redes que atuam em nosso continente”, também com diversos vídeos, destacou a irmã da Congregação do Imaculado Coração de Maria. A religiosa definiu como muito marcante “a partilha de três mulheres que passaram pela situação de tráfico de pessoas e relataram suas histórias”. No relato, insistiu a Ir. Rose Bertoldo, “as mulheres trazem presente como é importante continuar esse trabalho de dar visibilidade a esse crime e também fazer o trabalho de prevenção a tantas crianças e adolescentes que acabam sendo vítimas desse crime tão cruel”. Igualmente a religiosa relatou experiências muito fortes, especialmente das congregações que trabalham com a acolhida, e da Caritas da Venezuela que trouxe isso muito presente, insistindo em que é importante fazer ações de prevenção, mas também de incidência política para o enfrentamento a essa realidade. Para isso foram apresentados os fundamentos do trabalho pastoral contra o Tráfico de Pessoas. Durante o encontro foram estudadas as Orientações da Santa Sé sobre o Tráfico de Pessoas, e foi construído um plano de ação, “buscando atuar em conjunto, Rede Clamor e Trata CLAR, que reúne as diversas redes da Vida Religiosa Consagrada. Um plano para fortalecer o trabalho coletivo que vem sendo feito desde a realidade de cada país”, enfatizou a Ir. Rose Bertoldo. Igualmente foram apresentadas as ferramentas da Rede Clamor para a prevenção do Tráfico de Pessoas e as ações para 2024, sendo as prioridades a formação de agentes de pastoral, a prevenção e o acompanhamento aos sobreviventes. Dentre as atividades que como Rede Clamor podem fazer juntos, foi colocado a formação, sendo programados diplomados em acompanhamento psicossocial às vítimas do Tráfico de Pessoas, incidência. Também foram apresentadas algumas ferramentas: Guia Didática sobre Orientações Pastorais, Via Sacra, folders formativos, terço pelas vítimas do Tráfico de Pessoas, Hora Santa, Lectio Divina, Sociodrama, vídeo clips, histórias de vida. Finalmente, foi proposto a criação de redes na Venezuela e Antilhas, e a elaboração de recursos para redes sociais. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Koch: no caminho ecumênico, “o Batismo é a base da unidade e da sinodalidade”

O briefing deste dia 26 de outubro com os participantes da Assembleia Sinodal, podemos dizer que foi uma mesa ecumênica, com a presença do Cardeal Kurt Koch, Prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Sua Eminência Iosif, Metropolita Ortodoxo Romeno da Europa Ocidental e Meridional, Opoku Onyinah, delegado ao Sínodo das Igrejas Pentecostais, Catherine Clifford, Professora de Teologia Sistemática na Saint Paul University em Ottawa, e Mons. Stanislaw Gadecki, Arcebispo de Poznan e Presidente da Conferência Episcopal Polonesa. Trabalhando no Documento Síntese A Assembleia Sinodal está trabalhando no Documento Síntese. Na quarta-feira à tarde, quando a Carta ao Povo de Deus foi votada, com 336 a favor e 12 contra, e o Papa Francisco falou sobre o que ele entende por Igreja como Povo de Deus, houve intervenções livres, nas quais foi enfatizada a audácia missionária da Igreja, que se constitui como tal no anúncio do Evangelho, que não pode ser pensado fora da missão. Também foi enfatizada a importância do sensus fidei e das mulheres, sua capacidade de escutar e consolar, e o fato de que elas não podem ser objetos, mas sujeitos da Igreja. Antes do trabalho em círculos menores, foram compartilhados os critérios que estão presentes no documento, insistindo que se trata de um documento de transição e que ajuda a saber onde estamos e a retomar um caminho que começou em 2021 e vai até 2024. Um documento que ajuda a trilhar um caminho para todos, um documento que ilumina e ajuda a entender como caminhar juntos e buscar soluções compartilhadas, sem cair na tentação do clericalismo. Sínodo Ecumênico e Ecumenismo Sinodal A dimensão ecumênica, que remonta ao Concílio Vaticano II, é importante na história dos sínodos, enfatizou o Cardeal Koch, lembrando que o batismo é a base da unidade e da sinodalidade, e que todas as igrejas têm estruturas de sinodalidade, algo em que as Igrejas Ortodoxas se destacam. A reflexão sobre a dimensão ecumênica esteve presente na preparação do Sínodo, lembrando a Vigília Ecumênica de 30 de setembro, com representantes de várias Igrejas. Recordando as palavras do Santo Padre, o Cardeal suíço sublinhou que este Sínodo deve ser ecumênico e que o ecumenismo deve ser sinodal. O representante ortodoxo saudou o convite do Papa para um processo que tem interesse no trabalho sinodal, que está muito presente na Igreja Ortodoxa. Nesse campo ecumênico, passamos de relações difíceis para relações fraternas, pois todos buscamos o que nos une, o que temos em comum, destacou. Um ecumenismo presente na vida de muitas famílias, que ele vê como experiências que ajudam a entender que a unidade em torno de Cristo é possível. Para o ganês Opoku Onyinah, que destaca o fato de a Assembleia Sinodal ser uma experiência muito aberta, com uma metodologia que incentiva a participação de todos, o convite do Papa a outras igrejas representa uma atitude de humildade. Em suas palavras, ele destacou a mistura entre os bispos e outras pessoas nos círculos menores e o fato de que cada contribuição é considerada de igual importância, o que ele vê como um sinal de maturidade. Ele também disse que ficou impressionado com a espiritualidade do Sínodo, sendo capaz de ouvir o sopro do Espírito no discernimento. Por fim, ele definiu o Sínodo como uma tentativa de eliminar as divisões para unir os cristãos à maneira de Cristo. Encontrando consenso pacificamente O Arcebispo de Poznan, que está participando de seu quinto Sínodo, disse que ficou surpreso com a metodologia do Sínodo, que ajudou a superar conflitos e, com o sopro do Espírito, a encontrar pacificamente um ponto de consenso. Portanto, ele mostrou como esse método de conversação sob a influência do Espírito, que ajuda a estabelecer diálogos, conversas pacíficas para aliviar problemas, poderia ajudar a resolver conflitos globais, a evitar o confronto entre culturas e civilizações, chamando a caminhar não na direção do confronto e do desacordo, mas na direção do diálogo e da boa vontade. Essa também é uma posição importante no diálogo ecumênico, definindo o caminho sinodal como um processo em direção à unidade. A teóloga canadense destacou a presença da sinodalidade no Magistério do Papa Francisco desde 2013, insistindo que a Igreja Católica tem muito a aprender com a Igreja Ortodoxa em termos da prática da sinodalidade, um elemento aprofundado na Evangelii Gaudium. O ecumenismo tem sido importante no processo de escuta no Canadá, insistindo na participação de todos os fiéis e batizados, incentivando a participação plena em todos os níveis da vida da Igreja, vendo a sinodalidade como um paradigma para o caminho comum, pois a fé em Jesus é muito mais ampla. Levar a sério a igual dignidade de todos os batizados Em resposta à intervenção do Papa na Sala do Sínodo, onde ele insistiu em uma Igreja como povo de Deus e em sua crítica às batinas e chapéus ou alvas e túnicas com rendas, Catherine Clifford insistiu que nos últimos 30 anos houve conversas muito importantes entre os teólogos sobre a compreensão da Igreja, enfatizando a importância de lembrar o ensinamento do Vaticano II sobre a Igreja como comunhão e povo de Deus, uma eclesiologia que ela definiu como muito bíblica e compartilhada com outras Igrejas cristãs que ajuda a crescer em uma compreensão comum da Igreja. Com o objetivo de ajudar os seminaristas a se sintonizarem com a cultura sinodal da Igreja, a teóloga enfatizou a importância da formação para a compreensão da Igreja como um corpo sinodal que leva a sério a igual dignidade de todos os batizados. De acordo com Dom Gadecki, essa formação tem sido prolongada, buscando trabalhar a formação a partir das diferentes ciências, buscando aprender uma nova forma de diálogo, um novo estilo de se relacionar com os outros, chamando a, sem cair no mundanismo, estar em contato com a vida das famílias e a introduzir as mulheres no caminho formativo e a não se distanciar do mundo real. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Francisco, o Papa comprometido em concretizar uma Igreja Povo de Deus

Um dos grandes legados do Concílio Vaticano II foi a concepção da Igreja como o Povo de Deus, uma imagem muito presente no pensamento do Papa Francisco, que está sempre determinado a fazer com que as decisões do último Concílio sejam adotadas na Igreja. Ele está ciente da dificuldade, mas permanece firme em seu propósito e não perde uma oportunidade de mostrar sua posição. Um forte chamado de atenção O que ele experimentou na quarta-feira, durante a 18ª Congregação Geral da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, pode ser definido como um claro chamado de atenção, por causa do tom, com aquele tom “portenho” que ele usa quando quer deixar as coisas claras, e por causa do momento em que o fez, antes do início das discussões sobre o Documento de Síntese que dará a conhecer os elementos presentes nesta primeira sessão da Assembleia Sinodal, que começou em 4 de outubro e será encerrada no domingo, dia 29. Parece que teve gente que ficou engasgada com as palavras. Podemos imaginar os rostos daqueles que experimentam “batinas e chapéus ou alvas e vestes de renda” nas alfaiatarias eclesiásticas de Roma. O fato de Francisco não gostar de tais coisas ficou claro em sua aparição pública logo depois de ser eleito Papa, uma posição que ele expressou repetidamente, apesar da pouca atenção que alguns, também presentes na Sala do Sínodo, dão a isso. O flagelo do clericalismo Palavras com as quais ele quer combater o clericalismo, do qual ele disse muitas vezes que é um pecado, ressaltando que “é um chicote, é um flagelo, é uma forma de mundanismo que contamina e danifica o rosto da esposa do Senhor; escraviza o santo povo fiel de Deus”. Um clericalismo que se traduz em uma Igreja que é “o supermercado da salvação”, onde os sacerdotes são “meros empregados de uma multinacional”. O Sínodo da Sinodalidade quer promover “a Igreja como o povo fiel de Deus, santo e pecador”, a Igreja que Francisco gosta de pensar. A grande questão é o poder, quem está no comando, quem decide e o método usado para isso. Não se trata de uma questão de autoridade, o problema é o poder ao qual alguns se apegam para que a vontade deles, e não a de Deus, seja feita. Uma Igreja na qual as pessoas se empurram, pisam umas nas outras, se acotovelam para poder subir na escada, para poder comandar, não para servir. A Igreja de comando e controle Nessa Igreja de ordem e controle, “o povo simples e humilde que anda na presença do Senhor (o povo fiel de Deus)” é deixado para trás, é ignorado, só interessa como mão de obra barata. O “povo santo e fiel de Deus” a caminho, santo e pecador, não conta quando se trata de tomar decisões, não é ouvido, porque é considerado ignorante. Eles não estão interessados em como acreditam, mas no que acreditam, na Doutrina em detrimento da Caridade, presente na viúva pobre do Evangelho. Todos nós, inclusive os membros da hierarquia, somos batizados e deve ser o batismo o sacramento fundamental. Uma Igreja de homens e mulheres que se expressa em “dialeto feminino“, uma Igreja da qual Francisco diz ser mulher e é desafiada a assumir as atitudes das mulheres, pois “a mulher do povo santo e fiel de Deus é um reflexo da Igreja. A Igreja é feminina, ela é esposa, ela é mãe”. Assumindo a Igreja como o povo santo e fiel de Deus Quando realmente descobriremos a necessidade de uma Igreja Povo de Deus, uma Igreja em que o batismo nos torna iguais? Quando deixaremos para trás uma Igreja em que alguns ministros “maltratam o povo de Deus, desfiguram a face da Igreja com atitudes machistas e ditatoriais”? Quando pediremos perdão por tanto desprezo, maus-tratos e marginalização pelo clericalismo institucionalizado? A esperança é que este Sínodo, especialmente o tempo que transcorrerá entre as duas sessões da Assembleia, possa nos ajudar a assumir a Igreja de que Francisco gosta, a Igreja que é o povo santo e fiel de Deus. Isso exigirá o envolvimento de todos os batizados e batizadas, mas também que aqueles que puderem fazê-lo sejam aspersores e não funis. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1