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Dia: 28 de outubro de 2023

Cardeal Grech: “Sinodalidade significa caminhar juntos e não é um espaço no qual vence aquele que fala mais alto”

Uma continuidade, essa é a principal leitura de uma Assembleia Sinodal que encerrou os trabalhos de sua primeira sessão na noite deste sábado 28 de outubro. Que é uma continuação pode ser entendido no que aconteceu no momento do encerramento, quando, após a votação do Relatório de Síntese, Francisco, com muita parcimônia com as palavras, no que pode ser entendido como uma mensagem para ver esse final de trabalho como um passo adiante, não decisivo, em um processo que continua, limitou-se a dizer que ninguém deve esquecer que o protagonista dessa jornada é o Espírito Santo, agradecendo àqueles que tornaram possível chegar até aqui, inclusive aqueles que não aparecem. Um Sínodo que conquistou espaços Um Relatório de Síntese, do qual todos os pontos foram aprovados com mais de dois terços, sendo o capítulo 9, sobre as mulheres na vida e na missão da Igreja, especialmente no que diz respeito ao diaconato feminino, e o capítulo 11, que trata dos diáconos e presbíteros em uma Igreja sinodal, neste caso os pontos relativos ao celibato, novamente o diaconato feminino, e a possibilidade de acolher os presbíteros que deixaram o ministério. “Um sínodo no qual conquistamos espaços“, insistiu o cardeal Grech, para quem “a maioria das pessoas criou espaços para que todos possam entrar em seus corações”, algo que é fruto da escuta mútua. Uma assembleia na qual o gelo foi derretendo pouco a pouco, dada a generosidade dos membros, segundo o secretário do Sínodo, e que permitiu a abertura de espaços, em um processo que não se conclui hoje. Grech falou de uma Igreja em saída, que está criando espaços para todos, sem excluir ninguém, e isso porque essa é a atitude de Jesus, para que ninguém não se sinta aceito em casa. O Sínodo mudou a mentalidade de alguns A Assembleia Sinodal ajudou a mudar a mentalidade de alguns participantes, de acordo com o Cardeal Hollerich, que enfatizou a importância dos círculos menores nesse processo, o que permitiu a criação de uma comunidade de discípulos e levou a uma compreensão do que Jesus teria feito. Nas palavras do Relator Geral do Sínodo, “as pessoas voltarão com seus corações cheios de muitas ideias“. Por sua vez, o Padre Giacomo Costa enfatizou que um sentimento de Igreja levou a uma saída unida no Espírito Santo, um resultado que não era evidente no início, dadas as diferenças que existiam. Para o secretário especial, é possível, na diversidade de igrejas, línguas, culturas, caminhar juntos, o que é uma mensagem de esperança, algo que pode dar frutos para a Igreja. Levando-o de volta às igrejas locais Um documento a ser comunicado às igrejas locais, com os pontos que estão de acordo e aqueles em que ainda há algum caminho a percorrer, insistiu Grech. Independentemente do resultado da votação, que é algo com o qual Hollerich não está preocupado, já que se sabia que havia questões que enfrentariam oposição, chegando a dizer que se esperava uma oposição ainda maior em algumas questões. De fato, somos uma família e devemos respeitar os passos uns dos outros, porque sinodalidade significa caminhar juntos e não é um espaço em que vence quem fala mais alto, enfatizou o Cardeal Grech. O objetivo é aprofundar a capacidade de escutar uns aos outros, um clima único criado nas mesas, com passos importantes sendo dados por aqueles que estavam relutantes, nas palavras de Giacomo Costa. De acordo com o jesuíta, é preciso entender a conversão no Espírito, que é buscar juntos a vontade de Deus, o que ajudou a abordar as questões, ao que se juntou o trabalho de teólogos e canonistas. Mas há muitas questões que não seria realista abordar em todos os seus aspectos em um mês de trabalho e, por essa razão, duas sessões, uma para abrir o caminho e a outra para continuar esse caminho, disse ele. Em vista disso, ele pediu a intervenção do Espírito, porque o próximo passo será baseado nas prioridades que serão trabalhadas e, a partir daí, haverá uma conversa no Espírito para aprofundar os pontos de vista teológico, canônico e pastoral. Este é um estágio de aprendizado para todos, de acordo com o secretário do Sínodo, para quem devemos implementar o que vimos e avançar com discernimento, destacando o entusiasmo dos participantes e seu desejo de compartilhar o que experimentaram. De fato, o Relatório de Síntese, nas palavras de Hollerich, é a base comum para deixar o Espírito construir algo. Esse é um documento que faz parte de um processo que começará quando o Sínodo terminar, portanto, o Relator Geral do Sínodo espera que no próximo ano haja um documento no qual a sinodalidade seja discutida do ponto de vista teológico. Observando que havia outras questões que eram importantes para algumas pessoas, ele disse que em uma Igreja sinodal haverá maior capacidade de falar sobre essas questões, a liberdade de expressão será garantida. Ele concluiu que a Igreja encontrará respostas graças a essa mudança, que trará a maioria de acordo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Um Relatório de Síntese com convergências, questões a serem abordadas e propostas, enfocado claramente em 2024

20 temas em três partes, seguindo um esboço que descreve as convergências, as questões a serem abordadas e as propostas. É assim que pode ser definido o Relatório de Síntese – evita-se falar de um documento – que a Comissão de Redação elaborou após quase um mês de trabalho em mesas redondas na Sala Paulo VI. Trata-se de um relatório que visa ajudar a dar continuidade a um processo que claramente não está encerrado. Uma Igreja Sinodal em Missão A questão é quais são as questões destacadas e como abordá-las. Basta olhar para o resultado da votação, que foi feita ponto a ponto, pela primeira vez com o voto feminino, e essa é uma questão importante, para descobrir os principais consensos e as principais controvérsias, uma análise detalhada que requer mais tempo e que, sem dúvida, será importante para o trabalho a ser feito em vista da segunda sessão da Assembleia, prevista para outubro de 2024. “Uma Igreja sinodal em missão“, como diz o título do relatório, um aspecto já observado, talvez esquecido, há 60 anos, no Concílio Vaticano II, e que é claramente retomado ao afirmar, no início, citando a Primeira Carta aos Coríntios: “Todos nós fomos batizados por um só Espírito em um só corpo”, uma experiência vivida com alegria e gratidão, sob a harmonia do Espírito, nesta primeira sessão da Assembleia Sinodal, em uma Igreja que está aprendendo o estilo da sinodalidade e buscando as formas mais adequadas para realizá-la”. Batizados e batizadas, assim como membros de outras Igrejas, atentos à realidade do mundo, marcada por guerras, muito próxima de alguns dos participantes. Uma Igreja que valoriza a contribuição de todos os batizados, na variedade de suas vocações, chamada a transmitir os frutos de seu trabalho e a continuar a caminhada juntos. A primeira parte do texto, “O rosto da Igreja sinodal“, apresenta os princípios teológicos que iluminam e sustentam a sinodalidade. A segunda parte, “Todos discípulos, todos missionários“, apresenta a sinodalidade como um caminho conjunto do Povo de Deus e como um diálogo frutífero de carismas e ministérios a serviço da vinda do Reino. A terceira parte, “Tecendo laços, construindo comunidade“, mostra a sinodalidade como um conjunto de processos e uma rede de órgãos que permitem o intercâmbio entre as Igrejas e o diálogo com o mundo. O rosto da Igreja sinodal Reconhecendo a necessidade de explicar melhor o termo sinodalidade, os temores são dissipados, dando como exemplo prático a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e apresentando a prática da sinodalidade como “parte da resposta profética da Igreja a um individualismo que se volta contra si mesmo, a um populismo que divide e a uma globalização que homogeneíza e achata“, pedindo o envolvimento da hierarquia no processo e sua melhor explicação teológica, apontando inclusive para a necessidade de revisão do Código de Direito Canônico. Uma Igreja sinodal que tem a Trindade como sua fonte e é desafiada a assumir o discernimento em todos os níveis. A porta de entrada para essa Igreja é a iniciação cristã, exigindo um aprofundamento do discipulado, uma linguagem litúrgica mais acessível e o incentivo a todas as formas de oração comunitária. Nessa Igreja, os pobres são os protagonistas do caminho da Igreja, e eles pedem amor à Igreja, ou seja, respeito, aceitação e reconhecimento, sem vê-los como objetos de caridade, superando o assistencialismo e insistindo em um melhor conhecimento da Doutrina Social da Igreja. O Relatório observa a diversidade da Igreja, sua interculturalidade, fazendo parte de contextos multiculturais e multirreligiosos, com diferentes necessidades espirituais e materiais, o que deve gerar sensibilidade para a riqueza da variedade de expressões do ser Igreja, superando a polarização e a desconfiança. Há um chamado para cuidar da linguagem, do relacionamento com os povos indígenas e da acolhida aos migrantes. Uma Igreja latina chamada a um caminho comum com as Igrejas orientais, mestres na compreensão e na prática da sinodalidade. Tudo isso para avançar no caminho rumo à unidade dos cristãos, que exige arrependimento e cura da memória, no qual estão sendo dados passos, dando como exemplo a Vigília Ecumênica “Togheter” antes do início da Assembleia Sinodal. Todos discípulos, todos missionários Em uma Igreja sinodal, todos são discípulos, todos são missionários, em vista da missão que cabe a todos, destacando o crescente envolvimento pastoral dos leigos na vida pastoral, mas, estranhamente, a Assembleia tem algumas dúvidas sobre “uma Igreja totalmente ministerial”. Na Assembleia, assim como na própria Igreja, as mulheres falaram em alto e bom tom, e o relatório afirma que “em Cristo, mulheres e homens são revestidos com a mesma dignidade batismal e recebem igualmente a variedade dos dons do Espírito”, insistindo no apelo à corresponsabilidade não competitiva. Mulheres que clamam por justiça em todas as áreas, mas também diante de uma Igreja que fere pelo clericalismo, pelo machismo e pelo uso inadequado da autoridade. Isso exige uma renovação das relações e mudanças estruturais, um maior reconhecimento e valorização da contribuição das mulheres e um aumento das responsabilidades pastorais, questionando como incluí-las nas funções e ministérios existentes, ou mesmo criar novos ministérios, havendo diferenças em relação ao diaconato feminino. Portanto, pede-se que se acompanhe as mulheres mais marginalizadas, que elas participem dos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade no trabalho pastoral e no ministério, que elas não sofram discriminação no trabalho e remuneração injusta dentro da Igreja, que elas não sejam vistas, especialmente as mulheres consagradas, como mão de obra barata. Elas também devem ser formadas em teologia, participar dos processos de formação nos seminários e ter a possibilidade de se tornar juízas eclesiásticas. O texto reflete sobre o papel da vida consagrada e das associações leigas, da hierarquia e do Papa na Igreja sinodal. Destaca a riqueza da diversidade de carismas na Vida Consagrada e nas associações leigas, denunciando os abusos contra as mulheres nessas áreas e pedindo uma renovação de critérios na relação entre os Bispos e a Vida Religiosa. Com relação aos diáconos e sacerdotes, agradece-se a eles por seu trabalho, mas reconhece-se que o clericalismo é…
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Ler e votar, pela primeira vez também as mulheres: “Passos que nos permitem relacionar-nos uns com os outros de uma nova maneira”

Um dia para ler pessoalmente o Documento Síntese e, após uma leitura comum na Sala Sinodal, votar ponto a ponto. Isso é o que espera aos homens e mulheres que são membros do Sínodo neste último sábado da primeira sessão da Assembleia Sinodal. Pela primeira vez, as mulheres poderão votar em um documento do Vaticano, mesmo sabendo que não será um documento oficial, e que elas já votaram na Carta ao Povo de Deus e na eleição dos membros das Comissões de Comunicação e Síntese. Mas agora é outra coisa, e todos nós estamos cientes de sua importância. Disparidade de sentimentos Um momento que é vivido por algumas das mulheres que votarão com sentimentos de responsabilidade, de emoção, de orgulho, de compromisso, de gratidão a Deus, de selar o desejo de ser uma Igreja que seja casa para todos, de romper as barreiras do machismo e do clericalismo, e de abrir novas perspectivas para o futuro de uma Igreja que avança, apesar das resistências, há aqueles que negam a validade deste Sínodo e querem que ele seja apenas de bispos. Daí a importância de lembrar as muitas mulheres e homens que pediram essa oportunidade. Aquelas 35 mulheres que no Sínodo para a Amazônia entregaram uma carta assinada ao Papa pedindo para votar e a quem ele disse na última sessão que naquela ocasião não tinha sido possível, mas que chegaria o dia em que elas votariam em um Sínodo, algo que está acontecendo. No final das contas, como elas mesmas dizem, essa é uma forma de expressar o sentimento de que a Igreja está realmente dando passos, que Francisco acreditou em nós: mulheres, leigas. Votação para selar um compromisso As mulheres membros do Sínodo se deparam com “a possibilidade de escolher e selar um compromisso, de demonstrar através de um gesto as escolhas às quais o coração deu atenção como resultado do discernimento de todo esse tempo, é continuar dando passos que nos permitam nos relacionar uns com os outros de uma nova maneira”. Os não-bispos já haviam tido a oportunidade de participar, de expressar sua opinião. Neste Sínodo, sua participação nos círculos menores, nas intervenções livres nas congregações gerais, foi mais uma maneira, uma maneira diferente de exercer essa participação. Mas “o fato de poder votar acrescenta uma nova dimensão a essa participação e, de forma muito visível, representa o exercício da corresponsabilidade de todos na missão da Igreja“. Todos são necessários para a missão Um voto que “mostra como cada um de nós é necessário para realizar a missão. É também uma mensagem para todo o Povo de Deus que pede, de diferentes esferas e vocações, a possibilidade de participar, tanto nos processos de tomada de decisão, quanto mais ativamente nas dimensões pastorais. É uma imagem que traz muita esperança em relação à Igreja sinodal que queremos ser”. De fato, “não é uma questão de ser mulher, é ser batizada, estar em uma assembleia que antes era para bispos e poder participar da mesma mesa com igual tempo para falar, com igual respeito e escuta para todos. Votar em algo que vai ser muito importante para que, como cristãos, todos nós assumamos e façamos a nossa parte para garantir que algo que será irreversível avance, que todos nós somos homens e mulheres batizados, enviados em missão para o Reino e que, nesse Reino, fazemos parte da Igreja que quer nossa voz, nossa ação, nossa participação, vivendo tudo isso em comunhão, em diálogo e escutando”. Seguindo em frente sem nos apegarmos à nossa posição Uma Assembleia Sinodal na qual as mulheres dizem ter testemunhado “o que essa escuta profunda de cada pessoa pode fazer e como somos capazes de mudar, de nos transformar, de acolher, de buscar maneiras de chegar, se não a um consenso total, pelo menos a uma compreensão profunda de onde está nossa diferença, e conhecê-la, assumi-la e nomeá-la, para continuar caminhando juntas e juntos e buscar onde é conveniente avançarmos e onde o Espírito quer que avancemos sem nos apegarmos à nossa posição“. Uma oportunidade de ter sido capaz de “viver esse desejo de abertura e o desejo de buscar juntos”, de continuar acreditando que “é possível construir novidade nas pequenas coisas“. Um caminho que continuará a dar passos e o fará na medida em que continuarmos a caminhar juntos. É isso que é sinodalidade, mesmo que a palavra em si seja complicada. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1