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Dia: 13 de novembro de 2023

Victória Holzbach: “Na missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista na tomada de decisões”

A missão ad gentes se concretiza na vida, no sair de homens e mulheres que enviados pela Igreja anunciam o Evangelho nos confins do mundo. Na Igreja do Brasil existem testemunhos dessa concretude da missão, como foi relatado por Victória Holzbach, coordenadora do Conselho Missionário Regional Sul 3 e a Ir. Eliane Santana, religiosa da Congregação de São José de Chambery e assessora da Comissão Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no 5º Congresso Missionário Nacional que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. A Igreja local responsável pelos missionários que envia É a Igreja que envia, enfatizou a Ir. Eliane Santana, dizendo que “a Igreja local é responsável por cada comunidade que foi enviada”. Essa Igreja local tem que se sentir parte, ter empatia, pois “a missão é forte se ela está dentro de uma proposta eclesial”, lembrando que ela foi enviada pela CNBB e a CRB para a missão em Timor Leste. Uma responsabilidade da Igreja local que segundo Victória Holzbach precisa de madurez para compreender essa responsabilidade, “uma Igreja que se coloca em saída, mas que também precisa acolher”, falando do missionário que volta da missão com a sacola cheia dos frutos que colheu no caminho e traz uma novidade para sua terra. Uma Igreja que envia para a missão o melhor que ela tem, que mesmo em sua pobreza não partilha a roupa rasgada e manchada, e sim a roupa de ir à missa no domingo, enfatizou a missionária leiga. Protagonismo feminino na missão Victória, que foi missionária em Moçambique no projeto missionário do Regional Sul 3, que em 29 anos já enviou 70 missionários e missionárias, contou a experiência de uma missão em sinodalidade, da qual fazem parte leigas, leigos, religiosos, religiosas e padres. O fato de viver em uma única casa, como equipe missionária, “é um sinal profético de uma Igreja disposta efetivamente à missão, onde se unem forças”, destacou. Isso porque uma Igreja sinodal não acontece por acaso, e sim a partir de estruturas para isso. Nessa missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista dos processos de tomadas de decisão, em pé de igualdade, destacando a importâncias das leigas nesse tempo de missão como Regional Sul 3. Uma perspectiva sinodal na missão que incomoda, “o protagonismo laical é desconfortante, especialmente se feminino”, ressaltou. Um protagonismo laical feminino que também foi enfatizado pela Ir. Eliane Santana, que insistiu em que a presença missionária não é só para os cristãos católicos e sim para todos, o que ela experimentou na missão em Moçambique, em uma região onde 80 por cento da população eram muçulmanos, algo que viveu como “uma partilha constante de vivência, de respeito, de integração, de luta por mais vida em conjunto”, afirmando que a pobreza do islâmico é a mesma do que a do cristão, e testemunhando que era bem melhor partilhar do que fazer pequenos guetos. Se inserir nas periferias Uma missão desafiada a se inserir nas periferias, e que tem que levar a descobrir que “somos enviados para amar aqueles que não se sentem amados, incluir aqueles que não são incluídos e chorar com aqueles que precisam chorar”, segundo a assessora da Comissão Missionária da CNBB. Ela chamou a ter a humildade de descobrir juntos, a não cair na resposta fácil, a buscar a unidade, que não é ser todo mundo igual e sim aceitar o diferente como ele é. Um desafio que tem a ver com a inclusão dos pobres, chamando a dar uma perspectiva de esperança para todos e para todas. Partindo da ideia de que Deus é ser em relação, Holzbach vê isso como algo que tem que levar a entender que “não existe missão só comigo”, o que demanda “se colocar como caminhante ou como aprendente”, que renuncia aos seus saberes para compreender que “o povo é que nos ensina”. Isso se aprende sentando-se com o povo, esquecendo do relógio, pois “não é o tempo que regula a missão”. Segundo a assessora de comunicação do Regional Sul 3, “é a vulnerabilidade que nos permite compreender e viver a experiência da providência”, superando a autossuficiência que impossibilita a providência agir. Estar junto com o povo Uma missão que é mais ser do que fazer, ressaltou Vitória, que destacou a importância de “estar junto com o povo e compreender o dia a dia”, algo que o fato de ser leiga lhe facilita, pois tem mais liberdade para passar um dia com uma família conversando, dado que o fato de ser leiga leva a conhecer mais as histórias do povo, dado que os padres muitas vezes têm que se dedicar a celebrar. Uma experiência do ser que é o que “também mais nos toca como consagradas”, segundo a Ir. Eliane. O que o povo recorda “é aquele momento que a gente estava chorando junto, ou que a gente simplesmente se sentou, abraçou e acolheu o sofrimento”, de viver momentos em que “a presença faz a pessoa se sentir importante, se sentir gente”, pois “ser Igreja é acolher”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Esmeraldo: “Para a vida missionária é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias e ser com elas periferia”

Toda Igreja local é responsável pela missão aos confins do mundo, uma reflexão presente na conferência de Dom Esmeraldo Barreto de Farias, bispo de Araçuaí (MG), no 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. Retomar as intuições do Concílio Vaticano II O tema do 5º Congresso Missionário Nacional nos permite retomar as grandes intuições do Concílio Vaticano II, seu impulso missionário, e dos documentos do Magistério Latino-americano, sobretudo o Documento de Aparecida, “aprendemos que o dinamismo missionário é da natureza da Igreja e que somos chamados a assumi-lo como discípulos missionários de Jesus Cristo”, segundo o bispo, que destacou a necessidade do desenvolvimento de uma identidade missionária, que “não é um processo uniforme, nem todos os fiéis têm consciência dessa necessidade”. Dom Esmeraldo denunciou as “resistências à reflexão, à prática e à espiritualidade propostas pelo Vaticano II”, que se explicitam em uma mentalidade de cristandade, com um modelo eclesial piramidal e não de Igreja Povo de Deus e Corpo de Cristo, onde não se permitem atitudes críticas, com uma pastoral de manutenção, centrada no pároco e uma transmissão da fé na família. Nessa realidade também destacava a piedade popular, que “visava ajudar as pessoas das periferias urbanas e rurais a descobrirem a força do Evangelho em sua vivência cotidiana, unindo palavra e vida”. Caráter trinitário e existencial da missão Em sua reflexão sobre a responsabilidade da Igreja Local pela missão aos confins do mundo, o bispo de Araçuaí destacou o caráter trinitário e existencial da missão, os aportes do Vaticano II e o lugar e a responsabilidade da Igreja local como protagonista da missão, sinal de comunhão com a Igreja universal. “A missão tem sua origem no Deus-Trindade, no amor fontal de Deus”, enfatizou, até o ponto de que “Jesus Cristo assume a natureza humana para vincular todos e todas à sua missão”. O bispo ressaltou que “para a vida missionária no seguimento a Jesus Cristo e na contemplação da ação do Espírito Santo, é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias sociais, geográficas, existenciais e eclesiais e, ao mesmo tempo, ser com elas periferia”. Segundo ele, “escutar o clamor dessas periferias é descobrir, ouvir e acolher os apelos de Deus, estando aí como presença missionária e se deixando iluminar pela sua Palavra, acolhendo o que Ele diz através dessas pessoas, especialmente das que sofrem e são consideradas, na prática, descartáveis”. Um cuidado que brota do amor, como testemunhou Madre Teresa de Calcutá, de um amor que é “doar-se até doer”. Um olhar ampliado da missão Se faz necessário passar de um olhar restritivo a um olhar ampliado sobre a missão, algo que nasce do Vaticano II e seu modo de acolher a História, destacando a centralidade da Palavra de Deus, a ação do Espírito Santo, a renovação da Liturgia, a consciência de que a Igreja é Povo de Deus, a necessidade de partilhar as alegrias e esperanças de toda a humanidade e sobretudo dos pobres, das periferias. Para entender isso apresentou o novo modo de entender a missão nascido do Vaticano II, que “contribuiu para que a concepção de missão ganhasse amplitude de sentido”. Isso leva a descobrir que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja, todo gênero humano e não um apêndice ou uma tarefa que se cumpre em terminados momentos e lugares. Após o Vaticano II, “a evangelização é e deve ser sempre missionária. A Igreja não vive para si mesma. Ela assume um movimento de saída de si mesma”, destacou o bispo, relatando os aportes dos diferentes papas do pós Concilio à reflexão missionária. “As palavras dos sucessores de Pedro sinalizam para as eclesiologias que emergem do Vaticano II: uma eclesiologia do Povo de Deus, uma eclesiologia de comunhão, ecumênica”, disse Dom Esmeraldo. Uma dinâmica assumida pelas conferências episcopais e as Igrejas locais, também no Brasil. Igreja universal como comunhão de Igrejas locais “O Vaticano II nos leva a refletir sobre o dinamismo missionário da Igreja local, sua responsabilidade e disponibilidade para a missão sem fronteiras”, disse o bispo, lembrando que “o Vaticano II considera a Igreja universal como uma comunhão de Igrejas locais”, e insistindo em que “quando se fala de Igreja Universal, não se trata de uma soma de igrejas locais que possam ser consideradas meras repartições administrativas de uma ‘sede principal’. A Igreja local só é Igreja quando faz comunhão com as demais Igrejas”. Uma Igreja local que “não é tanto o espaço físico enquanto tal, mas a comunidade-sujeito, espaço afetivo e de humanidade onde pessoas vivem a fé e manifestam sonhos, desejos, esperanças, com suas próprias raízes culturais e tradições”. Dom Esmeraldo analisou o chamado do decreto Ad gentes à responsabilidade e abertura da Igreja local à missão sem fronteiras, algo que tem que levar a “redescobrir o espírito de comunhão presente na Igreja primitiva e vivê-lo na experiência com as outras Igrejas locais, no sentido de solicitude e ajuda mútuas”. Essa Igreja local recebe um apelo à sinodalidade missionária, pois “não há dúvidas de que o caminho da sinodalidade é o que Deus espera da Igreja do nosso século. Um caminho que se inscreve nas pegadas do aggiornamento da Igreja proposto pelo Vaticano II”, e do atual processo sinodal. Uma Igreja que acompanha as vítimas Algo que chama a Igreja a acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais, a promover e defender a dignidade da vida, a escutar o clamor dos pobres, excluídos e descartados, a dar prioridade a uma ecologia integral, a acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas. Um ser Igreja missionária que demanda “compreender bem em que consiste esta transformação missionária da Igreja”. O bispo insistiu em que “os cristãos leigos(as), nesse processo de renovação conciliar, são sujeitos e não objetos da evangelização”, o que chama à se sentir “corresponsável pelo modo de ser e agir da Igreja, e não colaborador do clero”, algo que demanda “avançar numa…
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Ir. Rosana Marchetti: “Na vivência com povos diferentes do meu, eu sou evangelizada e posso evangelizar”

A Ir. Rosana Marchetti, Missionária da Imaculada, nasceu na Itália e em 1998 foi enviada em missão ao Brasil, onde ficou até 2012. Depois de 10 anos em seu país natal retornou à arquidiocese de Manaus, onde faz parte da Coordenação Diocesana de Pastoral em 2022. A religiosa faz parte de uma congregação com um carisma claramente missionário e analisa a Missão ad Gentes desde a perspectiva da Vida Religiosa. Como a Vida Religiosa contribui com a Missão ad Gentes, como a Missão ad Gentes contribui com a Vida Religiosa?   A minha vocação nasceu na minha cidade na Itália, na Arquidiocese de Milão, e por causa desta grande paixão de anunciar o Evangelho a quem não conhece Jesus. Eu procurei uma congregação exclusivamente missionária, e nesta congregação eu fui formada, acompanhada para poder viver a missão ad gentes e a missão além fronteiras. Isso enriqueceu muito a minha vida, muito a minha dimensão da vida consagrada, pensando que na escuta e na vivência com povos diferentes do meu, eu sou evangelizada e ao mesmo tempo posso evangelizar, posso anunciar. A Vida Religiosa vivendo no meio dos povos, saindo do próprio país, por carisma, e entrando em outras realidades, recebe uma riqueza muito grande, recebe a capacidade de escutar, e também se deixar transformar por quem encontra, pelo povo no meio do qual vive. Sua Congregação, as Missionárias da Imaculada, promovem a missão nas igrejas onde vocês são enviadas. Como estão trabalhando aqui no Brasil a promoção da missão ad gentes? Como Congregação nos inserimos nas Igrejas locais, tentamos trabalhar na formação de lideranças, nas pastorais, acompanhando às vezes algum movimento, e nesta vivência nós falamos e vivemos a missão. Ajudamos a Igreja local a se abrir para a Missão ad Gentes e além fronteiras, através de nossa vivência, em primeiro lugar, de nossa paixão, e também da formação, ajudando o povo e as lideranças a entender que a missão é uma dimensão da vida cristã. Ajudando as lideranças a viver a missão lá onde estão, mas também a entender que a missão pode ser algo que nos chama a sair das nossas fronteiras, a sair dos nossos confins, a sair dos nossos países. Muitas vezes acompanhamos jovens, homens ou mulheres, que sentem essa paixão missionária com maior força, e ajudamos elas e eles no discernimento. Por exemplo, o padre Jaime da diocese de Parintins, que foi acompanhado por uma irmã e decidiu entrar numa congregação exclusivamente missionária que é o PIME, e agora está na Guiné-Bissau. Este acompanhamento, esta formação, tem sempre uma dimensão missionária. A senhora coloca o exemplo de alguém que saiu da Amazônia para ser missionário na África. A Igreja da Amazônia foi nutrida durante muito tempo de missionários e missionárias chegados de fora. Chegou a hora de missionários e missionárias da Amazônia ir comunicar a riqueza desta Igreja, uma Igreja sinodal, para outras igrejas no mundo todo? Sim, no Congresso Missionário Regional, que foi realizado em setembro se conversou muito sobre isso. Como os missionários que vieram, agora são chamados a acompanhar a caminhada ao lado da Igreja local e ajudar a Igreja local em todas as suas dimensões e expressões a assumir a missão. A Missão ad Gentes dentro da Igreja local, mas também a missão além fronteiras. Este desejo de alimentar a paixão missionária na Igreja local é muito presente no nosso ser uma congregação missionária. O PIME foi muito presente na Igreja de Parintins e formou muito clero local, acompanhou muitos jovens da diocese de Parintins que se tornaram sacerdotes diocesanos. Uma das características do PIME e também das Missionárias da Imaculada é favorecer que a Igreja local assuma a missão dentro da própria realidade, mas não podemos esquecer o além fronteiras.  Quais são as dificuldades, os desafios que essa missão encontra nas Igrejas locais para se concretizar? A primeira dificuldade é compreender em profundidade que a missão faz parte da vida da Igreja, é algo essencial. O Papa diz que se uma Igreja não é missionária não é Igreja. Assumir essa consciência não é fácil, porque muitas vezes tem comunidades que são fechadas, tem comunidades que não tem essa compreensão, e aí nós enfrentamos muitas vezes esse desafio, ajudar a Igreja a compreender que a missão não é de alguém, mas é de todos nós. O segundo desafio é ligado às questões sociais, tantas situações de pobreza, de vida não digna, de vida ameaçada nos desafia como pessoas. Se aproximar dessas realidades, se aproximar periferias, tentar compreender qual é o jeito certo de ser missionária nesse contexto, nessa periferia, ao lado dessa família, e uma vez que se ajuda a essa família, a essa comunidade, a se levantar, a encontrar saídas para essas situações de injustiça, de pobreza, ajudar a essa comunidade, a essas personas, que podem ajudar a outros. Dessa forma se tornam missionários. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1