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Dia: 14 de novembro de 2023

Carta dos Gritos da Amazônia da REPAM: Preocupações diante da agonia do bioma e de seus povos

Uma Carta diante dos Gritos da Amazônia foi elaborada pelos participantes do encontra da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), realizada em Florência, Caquetá – Colômbia, de 8 a 10 de novembro de 2023. O texto começa pedindo “um cessar-fogo imediato em Gaza e em outros locais de conflito, com mecanismos e acordos internacionais para a construção da paz”. Lembrando seus 10 anos de vida, a REPAM se apresenta como “uma resposta profética a partir do Evangelho, com a tarefa de promover o cuidado da Casa Comum, fazendo ressoar a voz dos povos e a defesa dos direitos humanos”, destacando que “somos inspirados pela espiritualidade encarnada no território, comprometidos com novas formas de sinodalidade, para uma Igreja com rosto amazônico”. A carta mostra as preocupações da REPAM, “aflitos pela agonia desse bioma e de seus povos, conscientes de sua importância para o planeta: a crise climática e o colapso sistêmico na Amazônia; extrativismo predatório; desenvolvimento minero-energético na Amazônia; as falsas soluções da economia verde; o narcotráfico. A REPAM pede “a implementação de um Plano de Ação Integral para a proteção e defesa da Pan-Amazônia e de seus povos, com um compromisso sério das autoridades públicas e da sociedade civil para prevenir novas violências, ajudar as vítimas e reverter a situação”. Igualmente a carta lembra os pedidos das comunidades e povos amazônicos à Igreja: uma aliança na firme defesa de seus territórios. Também, “a REPAM ratifica o apelo do Papa Francisco pela governança global em tempos de crise climática, exigindo que as Conferências do Clima das Nações Unidas (COP’s) tomem decisões eficientes, vinculantes e que possar ser facilmente monitoráveis”, chamando “à unidade dos povos e das redes eclesiais pela ecologia integral, por um caminho de mobilização e conscientização”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir. Regina Pedro: “O carisma das POM é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus”

A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil, ir. Regina da Costa Pedro, proferiu a última conferência do 5º Congresso Missionário Nacional, na manhã desta terça-feira: A presença das obras na Igreja do Brasil. As Pontifícias Obras Missionárias são organismos oficiais da Igreja vinculados ao Dicastério para a Evangelização e atualmente se consolidam como uma rede mundial de oração e caridade em apoio à missão da Igreja. Para a ir. Regina, as obras existem “para intensificar a animação, a formação e a cooperação missionária em todo o mundo”. Durante sua exposição, ir. Regina apresentou a história das quatro Obras Pontifícias: Pontifícia Obra para a Propagação da Fé, Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM), Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo e a Pontifícia União Missionária. “Elas não nasceram juntas e nem nasceram pontifícias”, ressaltou. A identidade e o carisma das POM A Diretora seguiu apresentando a identidade e o carisma das POM, pontuando que nasceram do povo de Deus, que suscitam oração e caridade em todo o mundo e que são pontifícias, ou seja, instrumentos de serviço à Igreja. Radicadas na realidade de cada Igreja local, as Pontifícias Obras refletem o mistério da diversidade e da unidade da Igreja, constituída em 130 países. Sobre o carisma, ir. Regina destacou que é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus para despertar ainda mais a consciência de que a missão ad gentes é o paradigma da ação evangelizadora de todas as comunidades cristãs. “É um movimento espiritual na Igreja inteira e a serviço da Igreja inteira”, ressaltou e concluiu: “Este carisma compromete as POM e, por meio dela toda a Igreja, a deixar-se guiar pelo Espírito”. “Uma pessoa encarregada para as POM, não necessariamente um sacerdote” Na conferência, ir. Regina alertou para a necessidade de uma reestruturação das Pontifícias Obras Missionárias, em todo o mundo e inclusive no Brasil. “Esta necessidade é ainda mais urgente após a reforma da Cúria Romana”, pontuou. Ela relatou a sua alegria pelo documento que orienta a reforma mundial das POM, que prevê a nomeação de “uma pessoa encarregada para cuidar das missões e, em particular das POM” – não necessariamente um sacerdote. Pontualmente, entre as reformas mais necessárias estão a constituição de uma instância intermediária para implantação, animação e coordenação, entre as POM e as dioceses. Além disso, as POM Brasil também refletem a constituição da Obra de São Pedro Apóstolo, ainda não consolidada no país. Ainda sobre as mudanças que precisam acontecer, ir. Regina destacou a falta de organização das POM em muitas dioceses do Brasil e explicou que essa responsabilidade cabe especialmente aos bispos e aos Conselhos Missionários nas diversas instâncias – Nacional, Regional, Diocesano e Paroquial. O 5º Congresso Missionária Nacional A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias concluiu sua exposição partilhando os frutos que espera colher deste 5CMN: Que ele contribua na revitalização do Programa Missionário Nacional, ajudando a gerar diretrizes missionárias para a Igreja no Brasil. Que ele ofereça pistas para que as POM possam realizar seu serviço de ajudar cada Igreja local a ser missão a partir do seu território e até os confins da terra. Ela finalizou confiando estes sonhos “à ação criadora e recriadora do Espírito e à intercessão de Maria, Mãe Missionária, para que se tornem realidade na caminhada de conversão missionária da Igreja peregrina em terras brasileiras”. Painel Temático A Conferência foi seguida pelo painel temático com os Secretários das Obras no Brasil: ir. Antonia Vania de Sousa (Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária), pe. Genilson Sousa (Pontifícia Obra para a Propagação da Fé) e pe. Antônio Niemiec (Pontifícia União Missionária). Victória Holzbach, assessora de comunicação CNBB Sul 3

Estevão Raschietti: Missão não é um processo de conquista, é acolhida e abertura aos outros

A missão ad gentes além-fronteiras está sendo um pano de fundo do 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro. Uma ideia presente na reflexão do padre Estevão Raschietti, tomada do Livro dos Atos dos Apóstolos. Segundo o missiólogo, “o título da novela dos Atos dos Apóstolos seria Até os Confins do Mundo”, e o subtítulo, “Quem quiser salvar a sua identidade cultural, vai perdê-la; mas, quem perder a sua identidade cultural por causa de mim, vai encontrá-la”. A Missão em Lucas O padre xaveriano iniciou suas palavras analisando a missão em Lucas partindo do texto de Atos e do texto evangélico. Uma missão que em Lucas, a diferença de Mateus, é Testemunho. Não é fazer, é ser; não é envio, e atração. Ele apontou três significados dos confins da terra, mostrando a progressão de uma saída, manifestando uma ideia de totalidade e apontando para um compromisso eclesial. É uma caminhada sofrida e titubeante da primeira comunidade em se abrir aos não-judeus. Os pagãos podem ser também merecedores das promessas de Deus ao seu povo, sem se converter ao judaísmo. Não é um processo de conquista e sim de acolhida e de abertura aos outros. Esses confins do mundo causaram muitos problemas. A Missão torna Igreja o movimento de Jesus Na medida que adere a missão, o movimento de Jesus se torna “Igreja”. “Essa missão, na sua origem, não foi de conquista e nem de ruptura, mas de profundo e sofrido desprendimento, de exílio, de abertura, de proximidade, de progressiva acolhida dos outros”, segundo Raschietti. Confins que também significa os últimos, que tem um sentido de finalidade e de totalidade espaço-temporal. Segundo o xaveriano, “a Igreja não é a luz das nações!”, ela “reflete a luz de Cristo”, o que faz com que a missão seja descentrada. “É Cristo e seu Evangelho que é luz das nações”, afirmou Raschietti. Ele insistiu em não engaiolar Jesus “em qualquer de nossas estruturas, cuja função é fazer com que as pessoas possam encontrar o Senhor”. A missão tem que passar de ser vista como “expansão” da Igreja para uma missão como “encontro” com as pessoas. Horizontes, fronteiras e periferias Hoje os confins da terra, em um mundo globalizado, têm a ver com horizontes, a Igreja a serviço de uma humanidade a caminho sempre mais além; fronteiras, também linhas de demarcação, de separação, de comunicação e de travessia, marcadas pelo colonialismo e dominação, o que demanda cruzar as fronteiras, aprender e desaprender, descalçar-se; e margens, periferias, uma Igreja que entra na casa dos pobres, como peregrina, para aprender do pobre, que habita as periferias, tecendo vínculos de amizade. Periferias que “não são um lugar fácil de se viver”. Estevão Raschietti destacou que “a missão até os confins da terra representa ao mesmo tempo a origem, a meta e o conteúdo de toda identidade e atividade eclesial. Representa o único mandato de Jesus a seus discípulos: não há outros”. Ele falou de três saídas: a Igreja saiu de seus templos para ir ao encontro dos pobres nas periferias (opção pelos pobres); de suas fronteiras para ir ao encontro dos outros, os indígenas e os afrodescendentes, suas culturas, seus projetos de vida; ao encontro dos pobres e dos outros em outros continentes, como cooperação intereclesial. Uma missão além-fronteiras, que a Igreja latino-americana e caribenha é chamada a assumir, mas “será que o Espírito nos dará a graça dessa ousadia?”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos: Victória Holzbach

Padre Yerisco Marcelino: “A Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé”

O padre Yerisco Marcelino é Missionário Xaveriano. Nascido na Indonésia, depois de cinco anos no México, mora no Brasil há dois anos. Em Belém (PA), ele trabalha na animação vocacional e na animação missionária. Ele nos fala sobre a Missão ad Gentes e sobre como promover essa missão além fronteiras. O que significa para o senhor a Missão ad Gentes? Missão ad Gentes significa ir além fronteiras, ir ao encontros dos outros. Esse espírito nasce da nossa congregação, o espírito xaveriano. Nosso fundador, São Guido Maria Conforti, ele sonhava que seus filhos, os xaverianos, efetivem a Missão ad Gentes, que é levar a Palavra àqueles que ainda não a conhecem. Uma Missão ad Gentes que segundo está sendo debatido no 5º Congresso Missionário Nacional quer ser assumida cada vez com mais força pela Igreja do Brasil. A Igreja do Brasil durante muitos anos recebeu missionários e missionárias de outros países, e aos poucos vai enviando presbíteros, religiosos, religiosas, leigos e leigas para a Missão ad Gentes. Como fomentar ainda essa Missão ad Gentes na Igreja do Brasil? Uma das falas deste Congresso que me chama muito a atenção é que a Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé. Estou muito feliz que acompanhando os jovens na nossa casa de formação em Belém, tem muitos jovens que estão interessados e querem assumir a missão além fronteiras. Sair da sua cultura, do seu território geográfico, mas também sair para encontrar nas periferias pessoas que estão precisando. Recentemente a Igreja universal realizou a primeira sessão da Assembleia Sinodal, onde foi aparecendo a riqueza da diversidade. O senhor nasceu na Indonésia, passou pelo México, agora no Brasil, realidades muito diversas e realidades eclesiais muito diferentes. O que o senhor foi aprendendo, descobrindo, nesses diversos modos de vivenciar a fé, nessas diferentes culturas que ao longo da sua vida foi descobrindo? Eu nasci na Indonésia, cresci e realizei minha formação de base na Indonésia, continuei minha formação no México, e agora no Brasil. São três realidades diferentes na Igreja, na Indonésia, no México, no Brasil, mas temos só um Cristo que nos mostra onde queremos chegar. Para mim um ponto chave é a humildade. A humildade é um ponto chave para entrar na diversidade, seja cultural, seja na maneira de pensar, a humildade me ajuda bastante a entrar, a me adaptar a novas realidades. Lembro que quando quis aprender espanhol no México, se eu não tivesse humildade, eu não teria aprendido espanhol. Eu aprendi falar com as crianças, e a partir dessa experiência, eu refleti bastante que a humildade é uma janela para entrar na diversidade. Minha adaptação com a comida brasileira, a Igreja do Brasil, clima, comida, isso me ajudou bastante. O senhor fala da formação dos jovens da sua Congregação, sair da realidade, da própria cultura, sair da zona de conforto para ir a outros lugares. Sentem os jovens, os formandos, esse chamado de Deus para sair para a Missão ad Gentes? Não é fácil hoje encontrar jovens que tenham esse desejo cem por cento. Mas eu estou na casa de formação e essa é uma maneira para ajudar a impulsioná-los a sentir esse espírito de Missão ad Gentes. Esses jovens, temos três ou quatro jovens lá que se estão interessando com a Missão ad Gentes, com testemunhos onde eles dizem, padre, eu quero ir a servir as pessoas fora da minha realidade, eu quero ir a África, eu quero ir a Ásia, e esses jovens estão se interessando. Meu trabalho é animar e dar uma formação de verdade através do meu testemunho de vida, do que eu experimentei através da minha caminhada de vida. De tudo o que foi aprendendo, na Indonésia, no México, na partilha de diferentes realidades culturais e eclesiais, o que ainda carrega em sua bagagem e tenta partilhar em seu trabalho no Brasil? Aqui meu principal trabalho é como animador vocacional da nossa província Brasil Norte. Meu trabalho é de animação missionária e animação missionária vocacional. São dois trabalhos que parecem diferentes, mas são o mesmo caminho, ajudar os jovens a sentir esse chamado de ser missionários ad gentes. Também faço parte da Escola Missionária Vocacional, que a gente criou na arquidiocese de Belém e a diocese de Abaetetuba. Com o Comité Missionário Regional Norte 2 (COMIRE Norte 2), estamos criando essa Escola Vocacional Missionária que já temos realizado dois módulos neste ano. O objetivo desta Escola Missionária Vocacional é incentivar as lideranças, os jovens, que querem sentir e abraçar esse espírito missionário. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1