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Dia: 15 de novembro de 2023

Dom Zenildo Lima: “Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”

No final de sua ordenação episcopal, Dom Zenildo Lima iniciou suas palavras dizendo que “não poderia compreender este ministério de bispo se não em perspectiva missionária nesta feliz coincidência de encerrar um Congresso Missionário Nacional com a expressão ministerial de uma Igreja Local”. Segundo o bispo auxiliar de Manaus, “ministerialidade e missionariedade são expressões da Igreja profundamente implicadas entre si”, agradecendo as Pontifícias Obras Missionárias por acolherem esta vivência da Igreja de Manaus. É verdade que tu me amas? Lembrando de sua sede como bispo auxiliar, Maraguia, uma Igreja que existiu na Tunísia, Dom Zenildo Lima disse que “os conflitos distantes têm a ver com a vida das nossas Igrejas Locais”, insistindo em que “toda experiência da missão nasce do fecundo encontro com o Senhor, que toma iniciativa como primeiro missionário de nos comunicar o seu amor, ainda que ele mesmo nos interpele: Simão, Filho de João, é verdade que tu me amas?”, lembrando das palavras do Evangelho proclamado na ordenação. Palavras que ele disse ter escutado “em linguagem de missão”, o que o levou a agradecer à paróquia onde foi batizado, a sua família, onde “a fé moldou-se como esperança em tempos tão difíceis e tão desafiadores”, onde “foi se atualizando com gestos de solidariedade e compaixão entre nós e para com os outros”, a sua comunidade de origem no Morro da Liberdade, suas amizades e aqueles que foram lhe educando na fé. Esse foi o chão onde foi surgindo sua vocação. Um caminho vocacional que, segundo o novo bispo, “nasceu do incômodo de um apelo que gostaria, em princípio que não tivesse nada a ver comigo”, lembrando de seu pároco, o reitor do Seminário, de “alguns dos mestres que tanto apostaram em mim”. Um tempo em que ele disse ter sido formado pela Igreja de Manaus, “na pessoa dos seus pastores, do seu dinamismo pastoral, da sua comunhão que hoje chamamos de sinodalidade”, enfatizando que “a Igreja de Manaus sempre foi o espaço privilegiado da minha formação permanente”. A riqueza da Igreja da Amazônia “Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”, ressaltou Dom Zenildo Lima, lembrando dos “seus ministros, a riqueza extraordinária dos cristãos leigos e leigas, as religiosas verdadeiras educadoras e guardiãs para que o ministério por mim exercido não desaguasse em anomalias do clericalismo. Sempre que estivemos todos juntos, nas assembleias, nas solenidades, nas procissões, na Festa de Pentecostes”. Um caminho onde ele contemplou “a riqueza do povo de Deus ali reunido, somente depois eu podia convocar convencido da alegria da comunhão: Canta, canta, canta bonito, povo de Deus”. Fazendo uma leitura do chamado ao episcopado desde a terceira pergunta de Jesus a Pedro, que ele diz ter vivenciado como algo que “me soou constrangedor”, Dom Zenildo disse que “só agora entendi que ele me interpelava exatamente com estas mesmas palavras que chegaram até mim como apelo de totalidade. Totalidade no amor, totalidade no serviço. Só agora entendi que o pedido pela totalidade estava presente desde a primeira vez que ele me interrogou. Agora me pede tudo o que posso oferecer”. Servir como bispo nesta Igreja de Manaus Um “servir como bispo nesta Igreja de Manaus”, que lhe leva voltar seu olhar “para vocês”, “para a pessoa de Dom Leonardo que num insistente gesto de confiança fez escolha teimosa não necessariamente por um indivíduo, mais que isso, por um sujeito local”, ressaltando que “sua insistência não foi somente com minha pessoa, mas com esta Igreja de Manaus”. Um olhar que também se volta para o Seminário São José, dizendo que “minha vida está estreitamente perpassada pelo Seminário”. O novo bispo falou para seus irmãos bispos, dizendo que “para quem vai ser bispo nesta região, que escola privilegiada o episcopado deste Regional Norte 1 de quem sempre me senti próximo e disponível como um servidor e assim continuo oferecendo minha disponibilidade”. Dom Zenildo Lima dirigiu seu olhar para “os agentes que constituem esta Igreja Local”, ressaltando sua proximidade, expressada nas “incontáveis mensagens, surpreendentes manifestações de afeto”, repetindo as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês sou bispo, com vocês sou cristão”! Eu me sinto um pouco diferente, dada a vossa proximidade, “com vocês eu sou bispo!”. Ele insistiu em que “vocês agora fazem parte desta resposta, a voz de vocês ecoa na minha e mesmo fraco e pobre insisto em dizer: Senhor tu sabes tudo, sabes que eu te amo!”. O novo bispo mostrou sua gratidão a Nossa Senhora da Conceição, “foi ela quem respirou por mim quando num leito de UTI quase em fase terminal os meus pulmões não davam mais conta sequer de lhe suplicar, respira por mim, Mãe do Céu. Eu experimento sem nenhuma sombra de dúvidas: ‘A Mãe de Deus está Conosco’!” Lembrança dos que deram a vida Falando da missão, Dom Zenildo insistiu em que ela “não nos conduz somente aos confins do mundo, ela nos leva aos confins da história, aos confins dos tempos, ao novo céu e nova terra, a terra sem males. A existência destinada aos que não desistiram, aos nossos mártires desta Amazônia, aos homens e mulheres que ofereceram a própria vida, até mesmo aqueles a quem a vida muito machucou”. Ele lembrou e se uniu “ao meu pai Leonardo Pessoa, ao bispo Jackson Damasceno que inaugurou esta modalidade da presença do ministério episcopal em nossa Igreja, a tantos cristãos leigos e leigas que doaram sua vida pela missão, religiosas exemplares cuja memória ainda alimenta a vida de nossas comunidades, ao meu amigo o Pe. Luis Gonzaga de Souza, ao nosso amado Dom Sérgio Castriani. Um bispo Missionário”, perguntando “o que diria Dom Sérgio de uma ocasião como esta? O que escreveria Dom Sérgio…”. Ele sente que foi de Jesus que “o seu convite amoroso acolhe o que eu tenho para oferecer. Agora que poderíamos fechar este diálogo ele novamente surpreende e faz com o que meu olhar não se limite aos ambientes eclesiais e eclesiásticos, mas se estenda aos pequenos, aos rejeitados, aos feridos, aos pobres, nas expressões mais dramáticas que se…
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Cardeal Steiner: “No episcopado já não vamos para onde conduzem nossos interesses, sonhos, projetos pessoais”

O 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, com o tema: “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” e com o lema o “Corações ardentes, pés a caminho”, foi encerrado com uma ordenação episcopal de um filho da terra, Dom Zenildo Lima, do clero da Arquidiocese de Manaus, que agora será seu bispo auxiliar. Uma celebração, presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, com Dom Gutemberg Freire, bispo emérito de Coari, e Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO), como bispos coordenantes, que contou com a presença de quase 50 bispos, quase 200 padres e diáconos, de tudo o povo de Deus, radiantes de felicidade vendo que um filho da terra, formado na Amazônia, será bispo na Amazônia, com a benção de sua mãe, um momento de grande significado, em que encomendou a Deus o ministério de seu filho. Ungidos e enviados Em sua homilia, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, destacou na primeira leitura (cf. Is. 61,1-3a), o envio: ungidos e enviados para oferecer a boa-nova aos pobres, curar as feridas da alma, pregar a libertação aos cativos e a liberdade aos que estão presos. Discípulas missionárias, discípulos missionários, todos enviados e enviadas aos confins de tantos mundos para proclamar o tempo da graça, para consolar os que choram, para ungir com o óleo da alegria os que sofrem. Assim como Jesus enviado pelo Pai para ser a anúncio do Reino, assim todos, todas, enviados por Jesus para anunciar, proclamar o Reino”. Destacando o fato de sermos proclamadores, proclamadoras, Dom Leonardo disse que “não anunciamos estruturas, não transmitimos normas, não apresentamos moralismos”. Pelo contrário, “no encontro com Jesus, somos enviados para anunciar o Reino da misericórdia, da fraternidade, da esperança, do amor; a transfiguração, a plenificação”. Trata-se da “proclamação e anúncio que deseja chegar aos confins de tantos mundos desconhecidos, culturais, virtuais. Sim os confins, às beiradas, aos beiradões, aos limites, especialmente onde a vida está por perecer pela violência da destruição”. Todas as criaturas fazem parte do Reino O presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fez um chamado a “proclamar a todas as criaturas que elas fazem parte do Reino, que em Cristo todas as criaturas se tornaram irmãs, que vivem na e da mesma casa comum, o Reino. Encontrados e despertados, como os discípulos de Emaús, para a plenitude da vida visível na morte e a ressurreição de Jesus, no morrer para transfigurar, Vida nova. É Ele que faz arder os corações e agiliza, apressa, alegra os passos. A ordenação episcopal torna visível a missão da Igreja, estarmos a caminho na alegria dos passos e corações no ardor missionário”. No Evangelho, o cardeal destacou que “Jesus busca o coração de Pedro por três vezes: Pedro tu me amas?”, chegando Pedro a entender que Jesus lhe pergunta “pelo amor que transcende à própria vontade, um amor sublime, divinizado”, algo que Pedro só entende quando lhe pergunta pela terceira vez: “gostas de mim, és meu amigo, sentes afeto por mim. E na tristeza de Pedro nasce daquele toque sagrado em que percebe que Jesus deseja ser amado com o amor que Pedro pode oferecer, deseja ser amado com sua humanidade, a sua finitude, com a ternura de sua humanidade. Jesus busca a Pedro e lhe manifesta que deseja pouco: a sua humanidade, o seu modo de amar, o amor de sua fraqueza”. Dar a vida gratuitamente Dom Leonardo disse que “Pedro acorda da sua ingenuidade e responde que o ama com o amor que transcende à sua própria vontade, um amor sublime, divinizado. Com o amor que recebeu de Jesus”, o que iluminou com as palavras de Santo Agostinho e Guilherme de Saint-Thierry. Jesus desejava despertar a Pedro, enfatizou o arcebispo de Manaus: “a tua humanidade és capaz de dar a tua vida, é capaz de divinizar-te e dar a vida gratuitamente? És capaz de morrer por mim?”, descobrindo nas palavras de Pedro que “pedes apenas que na minha fraqueza possa dar minha vida por ti; eu darei a minha vida por ti, servindo os irmãos e irmãs”. Palavras que disse aquele que seria ordenado: “Zenildo, se assim é: segue-me! Segue-me sem resistência, com todo o teu coração, com todo o teu afeto, com toda a tua mente, com toda a tua pessoa; inteiro, por inteiro, todo inteiro, de corpo e alma, dos pés à cabeça; segue-me na liberdade do teu amor que de mim recebeste, cuidando dos meus irmãos e irmãs, apascentando as minhas ovelhas”. Segundo o presidente do Regional Norte1, “o chamado, o envio, a missão, pede a resposta sagrada: sabes que te amo. O chamado, o envio e a missão do bispo se fundamenta, cresce, amadurece e plenifica na participação no amor de Cristo que deu a sua vida pela salvação do mundo. É uma participação no amor de Jesus e, por isso, no serviço que o amor oferece”. Ele lhe fez ver a Dom Zenildo que “partícipe da vida em Cristo revestido de Cristo pelo batismo e ungido pelo Espírito na crisma, o Senhor também te perguntou por duas vezes: Zenildo tu me amas? Sim, Senhor tu sabes que te amo, então segue-me”, recordando a ordenação diaconal e presbiteral e seu serviço “animando os irmãos e as irmãos nas Comunidades de nossa Arquidiocese”. Eu darei a minha vida por ti Diante da pergunta pela terceira vez, desde a “humanidade frágil e com o desejo de ser tomado pelo amor divino redentor, salvador, libertador, tornando visível e audível que Ele deseja ser amado com tua humanidade, a tua finitude, com a ternura de tua humanidade”, Dom Leonardo disse: “eu darei a minha vida por ti, servindo os irmãos e irmãs. Senhor que me sondas e me conheces, tens a minha fragilidade, a minha humanidade, inclusive minha fragilidade física, o amor que de ti recebi para oferecer e ofertar aos irmãos e irmãs que me forem confiados”. Ele fez um convite ao ordenando: “Segue-me sem resistência, com todo o teu coração, com todo o…
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Carta do 5º Congresso Missionário Nacional: Que o Ressuscitado impulsione para a missão permanente

Em uma carta aos missionários e missionárias das Igrejas locais, o 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023, começou recordando a grave estiagem na Amazônia e a acolhida da Igreja local. Um Congresso expresivo do “ardor e o testemunho missionário da Igreja no Brasil”, com aproximadamente 800 participantes, “para fomentar um novo impulso, novas luzes e novas motivações na caminhada missionária para além de todas as fronteiras”. A missão é o paradigma Lembrando o tema, “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo”, e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho”, o texto recordou o chamado de Papa Francisco “a responder com alegria ao Evangelho que recebemos”. Uma carta que afirma que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja. Uma missão fundamentada no diálogo recíproco, que possibilita incluir o estranho, as periferias, entrar na casa dos pobres, escutar seus clamores, sem preconceito, crítica, arrogância ou rejeição, desde a lógica diferente de Deus. Uma missão que inclui a todos, e que gera espaços de escuta e comunhão”. “Uma Igreja sinodal em missão até os confins do mundo que cruza fronteiras e vive a ministerialidade e a corresponsabilidade, superando o clericalismo. Uma Igreja samaritana que se concretiza no amor a aqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais. Uma Igreja para todos e todas. Uma Igreja encarnada, não colonial, não de conquista, mas pautada por uma missão de encontro e sem medo do diferente”, destacou o texto.  Pistas para as quatro prioridades A carta reafirma a relevância e a atualidade do Programa Missionário Nacional (PMN), e indica algumas pistas para a ampliação e a dinamização das quatro prioridades do Programa Missionário Nacional: formação missionária, animação missionária, missão ad gentes, compromisso profético-social, colocando em destaque alguns elementos para uma das prioridades. Diante disso, o texto afirma que “queremos, como os discípulos de Emaús, continuar tecendo caminhos de busca, de escuta e de transformação para que o Ressuscitado abra os nossos olhos, converta os nossos corações e nos impulsione para a missão permanente. Somos inspirados a reconhecer sua presença no cotidiano dos povos, em suas sabedorias, suas culturas, seus ritos, seus territórios e suas histórias”. Para isso é pedido “a força da Divina Ruah para sairmos ao encontro dos pobres e dos outros, servindo ao Reino de Deus com coração sem fronteiras e pés a caminho”, e a companhia de Maria, Mãe da Amazônia, “em nossa saída missionária das Igrejas locais até os confins do mundo”. Leia na íntegra a Carta Compromisso do 5º Congresso Missionário Nacional Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1