Dom Leonardo: “Deus veio pedir morada, casa em que pudesse habitar e pediu licença para morar”

“Às vésperas do nascer do Salvador, a liturgia coloca diante de nossos olhos o mistério da encarnação do Filho de Deus pela concepção da Virgem Maria”, lembrou o Cardeal Leonardo Steiner na homilia do IV Domingo do Advento. “Deus que em Maria assume a nossa humanidade e fragilidade. Deus armou sua morada entre nós!”, frisou o Arcebispo de Manaus. Na primeira leitura, Dom Leonardo destacou que “Davi depois de ter unificado o reino e construído para si uma casa, manifesta o desejo de erguer para Deus um templo, uma casa, pois a arca continuava alojada numa tenda”, algo que considera “um nobre desejo e um propósito digno”, lembrando que “Deus concedera a Davi força, vigor, destreza, inteligência, capacidade, organização, por isso o povo tinha uma terra, uma casa”. O Arcebispo questionou: “Como Davi daria uma casa, uma morada estável a Deus que caminhara como peregrino com o povo no deserto? Como construir uma casa se Deus era o abrigo, a segurança, a casa do povo e de Davi. Como construir uma casa para aquele é a Casa, o cuidador e protetor de todos os povos e de todas as criaturas?”, afirmando que “Deus não se deixa prender num templo, por mais sagrado e amplo que seja, pois nem o céu nem o céu dos céus podem contê-lo! O universo inteiro não é capaz de o conter”. Diante disso, ele questionou novamente: “Como construir uma casa, se Ele não se prende a um lugar, pois o viver e ser de Deus é peregrino, estar no meio de todas as pessoas, povos e nações do mundo inteiro. Como construir uma casa, se Deus é a casa da humanidade?”. O cardeal lembrou que “Deus mesmo é quem daria a Davi uma descendência, uma casa”, mostrado que “hoje o Evangelho nos anuncia que Deus fez da nossa humanidade a sua morada no ventre de Maria. Veio morar em nossa casa! Jesus, é anunciado e irrompe na história da humanidade!”. “O Evangelho nos envia até Nazaré onde ouvimos e vimos o acontecer do anúncio e a aceitação”, afirmou o Presidente do Regional Norte1. Segundo ele, “o anúncio de que Miriam de Nazaré seria a mãe do Salvador e o seu sim à maternidade. Ouvimos e vimos o cumprimento de todas as promessas, de todas as esperas e rogações de todas as gerações do povo de Israel. Lucas nos remete para o encontro entre o céu e a terra, a realização de todas as profecias: Deus veio habitar entre nós, veio morar entre nós, fez da nossa humanidade a sua morada”. “O Arcanjo Gabriel foi enviado a uma virgem, cujo nome era Maria”, recordou o Arcebispo de Manaus. “A primeira palavra de Gabriel que ressoa é: Alegra-te! Alegra-te, agraciada, a cheia de graça, a toda graciosa, o Senhor está contigo. O anúncio que desperta a alegria O anúncio da alegria! A alegria das profundezas da alma que ecoa entre o céu e a terra. O convite do anjo a Maria é de alegria! A alegria que também é anunciada pelos anjos aos pastores: ‘Vos anuncio uma grande alegria’. É a alegria que conduz os pastores pelos caminhos para ver as maravilhas que Deus operou entre nós: fez sua morada em nós. A palavra última e primeira da libertação que vem de Deus não é o ódio, mas alegria; não a desilusão, mas a esperança”, disse o cardeal, pois “Cristo nasce da alegria de Deus, e morre e ressuscita para trazer sua alegria a este mundo contraditório e absurdo”, citando a Jürgen Moltmann. “Somos convidados a deixar emergir em nós a alegria do anúncio: nos tornamos morada de Deus!”, enfatizou. O Cardeal recordou que “para um mestre do espírito a saudação Ave! significa ‘sem dor’, sem ai, sem gemido, sem desilusão. É que a saudação Ave! fala da plenitude da alegria, da alegria plena e do pleno vigor da vida; alguém saudável, transbordando saudação, cheia do Espírito! Aquele que é agraciado por Deus vive a vida sem “ai”, sem lamúria, na plena cordialidade, liberdade, gratuidade de ser”. Nas palavras do místico Mestre Eckhardt: “quando a alma humana se desprende do mundo, do que é criatural, vive a vida sem ai: nela não há sofrimento, nem pena, nem gemido dolorido. Para ela, até mesmo a desventura torna-se alegria”. “Deus desejou habitar a graciosidade de Maria. Aquele que é só graciosidade, a plenitude da graça, só graça, fez morada no ventre de Maria, manifestando o desejo de uma casa para peregrinar com as mulheres e os homens neste mundo. Morada, aquela que tomara a Deus como morada e, por isso, nela tudo era transformado em alegria, mesmo o sofrimento, a pena, a desventura. Nela não havia desventura, pena e sofrimento que a retirasse da habitação da graciosidade de Deus”, destacou. Segundo o Cardeal Steiner, “Deus veio pedir morada, casa em que pudesse habitar e pediu licença para morar”, citando as palavras do Evangelho de Lucas: “Eis que conceberás e darás à luz um filho…”. Ele disse que “ela já tinha concebido o Messias no seu espírito, principalmente através da meditação das grandes promessas messiânicas. Agora, o concebia no corpo, no seu ventre. Ela já o gerava na alma; agora o geraria no seu útero. Ela já estava disposta a dá-lo à luz espiritualmente; agora lhe cabia a incumbência de dá-lo à luz corporalmente. Ela, que estava sempre de prontidão na espera do Deus que vem, agora o traria em seu corpo e o mostraria ao mundo, unido à carne de nossa humanidade. Nela, o Filho de Deus tomaria carne, a carne de nosso ser. Depois do conforto, da elucidação, da aclaração, vem a resposta: ‘Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!’. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!”. “A Serva do Senhor: a humilde, a servidora, a servente, a pronta, a prontidão graciosa e, por isso mesmo, a magnífica, a plena, a gloriosa, graciosa. Na sua humildade concebe, gera e dá à luz o Filho de Deus, que se…
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