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Dia: 11 de fevereiro de 2024

Dom Vanthuy inicia sua missão “para que a gente possa enxergar bem melhor o que Deus pede nesta hora, aqui no Alto Rio Negro”

O Rio Negro tem novo bispo, Dom Raimundo Vanthuy Neto chegou em São Gabriel da Cachoeira, onde foi acolhido pelos 23 povos originários da diocese mais indígena e mais extensa do Brasil. Uma diocese onde se concretiza o desejo de Papa Francisco de fazer realidade uma Igreja com rosto amazônico e rosto indígena, sendo mostrados alguns elementos próprios desse modo de viver a fé na Eucaristia de início de ministério do bispo ordenado no dia 04 de fevereiro em Roraima, a diocese onde ele vivenciou seu ministério presbiteral. Os ritmos próprios das culturas e espiritualidades do Alto Rio Negro se fizeram presentes no ginásio da cidade, rostos expectantes, felizes, cheios de esperança com a chegada do sucessor de Dom Edson Damian, que pastoreou esses povos nos últimos 15 anos, que foi quem acolheu Dom Vanthuy, também acolhido pelos representantes do clero, da vida religiosa e do laicato da diocese, que lhe deram as boas-vindas na familiaridade de Jesus e lhe mostraram seu desejo de caminhar juntos na evangelização dos povos do Rio Negro. Uma missa que o novo bispo, depois de receber o báculo de seu predecessor, fez questão de rezar descalço, tirando as sandálias, igual Moises no Êxodo, em sinal de respeito por uma terra sagrada. Uma região, uma diocese, que, segundo o cardeal Leonardo Steiner, foi evangelizada por missionários e missionárias que deram sua vida, lembrando Dom Walter Ivan Azevedo, bispo dessa diocese, falecido no dia 28 de janeiro, agradecendo pelo trabalho que está sendo realizado nas comunidades da diocese, mas também pela família de Dom Vanthuy, os pais e irmãos, presentes na celebração, que lhe transmitiram a fé. Um agradecimento também à diocese de Roraima e a Dom Edson Damian, sempre preocupado com a causa indígena. O novo bispo disse chegar para “em companhia de vocês poder continuar todo o Mistério, com minha pequena vida de discípulo que quer cada vez mais seguir Jesus mais de perto”, e fazê-lo na Igreja do Rio Negro, onde quer aprender de todo o caminho percorrido, mostrando sua gratidão pela acolhida, mas também para com a Igreja de Roraima, para com todos os que rezam por ele, para com os bispos do Regional Norte1, representados na celebração por Dom Edson Damian, seu predecessor em São Gabriel, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e seu bispo auxiliar, Dom Zenildo Lima, Dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima, Dom José Albuquerque, bispo de Parintins, e Dom Adolfo Zon, bispo de Alto Solimões. Um sentimento de gratidão para com o Papa Francisco que lhe escolheu, “esse grande servo do Senhor que está ajudando o mundo inteiro a cada vez mais redescobrir o Evangelho”. Dom Vanthuy disse chegar com sua pequena lamparina “para que a gente possa enxergar bem melhor o que Deus pede neste tempo, nesta hora, aqui no Alto Rio Negro”. Ele insistiu em que “todos somos primeiramente ovelhas do rebanho do Senhor” e junto com isso pequenos pastores e pastorinhas que cuidam e zelam, do mesmo modo que “o Senhor toma conta de nós”, segundo relatado nas leituras que foram proferidas na celebração, pois “nós somos o rebanho do Senhor”, insistiu o bispo. O bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira usou imagens para definir Jesus Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas, pois “só aquele que dá a vida pelos outros sabe o que é viver”, igual um pai e uma mãe que dão a vida pelos seus filhos, lembrando as palavras do Papa Paulo VI, quando ele dizia que “a Igreja está para ajudar os povos a passar de condições menos humanas para mais humanas”, uma missão recebida por todo batizado. Ele denunciou a bebida alcoólica como o grande veneno que destrói a vida das pessoas, das famílias, das comunidades da região, fazendo um chamado a enfrentá-lo. Uma segunda imagem que Dom Vanthuy usou foi a de Jesus que nos conhece a todos pelo nome, chamando a se sentir rebanho e entender que sozinho ninguém consegue, destacando como um dom a vida comunitária dos povos indígenas do Rio Negro, um terreno que ajudou no trabalho evangelizador dos missionários e missionárias que chegaram. Daí a importância de caminhar juntos, de formar comunidade, enfatizou. De fazê-lo nas comunidades indígenas, que acolheram e continuam a acolher a Boa Notícia do Evangelho de Jesus, dizendo entrar como um semeador na escola dos grandes semeadores na diocese de São Gabriel da Cachoeira, os bispos que lhe precederam por mais de 100 anos, em uma terra sempre fértil, onde homens e mulheres anunciaram o jeito novo de viver o Evangelho. Dom Vanthuy pediu ajuda aos missionários e missionárias que trabalham na diocese, agradecendo às congregações religiosas presentes, mas também ao clero diocesano local e de outros lugares. A eles lhes pediu que não tenham medo de corrigi-lo quando errar, quando quiser fazer o que ele fazia em outros lugares. Igual os missionários e missionárias chegados no Alto Rio Negro quer se tornar amigo e irmão dos povos da região, com uma vida sóbria e simples, concretizando seu lema episcopal “Servir na caridade e na esperança”, uma esperança que, lembrando as palavras do cardeal Steiner uma semana atrás em sua ordenação episcopal, tem duas filhas: a indignação e a coragem. O novo bispo encerrou suas palavras apresentando seus pais e irmãos, agradecendo tudo o que fizeram por ele no caminho da fé e a coragem em busca de uma vida melhor para a família. Também apresentou o bispo, os padres, as religiosas e o povo que o acompanhou desde Roraima até sua nova missão. Palavras que foram encerradas com a profissão de fé, momento em que seus pais seguraram a veste e a vela com que Dom Vanthuy foi batizado. No final da celebração, Dom Edson Damian, agora bispo emérito da diocese de São Gabriel da Cachoeira, dirigiu suas palavras de agradecimento pelos15 anos de missão episcopal na Igreja do Alto Rio Negro, com um coração agradecido, pois em seu coração tem lugar para aqueles com quem ele caminhou nesse tempo. Ele…
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Cardeal Steiner: “Jesus toca a quem não pode ser tocado”

Citando o texto evangélico: “Se queres tens poder de curar-me. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: Eu quero: fica curado!”, e lembrando que na Escritura, a palavra “lepra” indica enfermidades que deformam a pele, que causa impureza ritual e recebe forte significado religioso, iniciou Dom Leonardo Steiner o comentário às leituras do 6º Domingo do Tempo Comum. Segundo o arcebispo de Manaus, “Jesus, a mão da compaixão e da misericórdia do Pai, estende, toca e cura, libertando do que corrompe e dilacera a integridade humana, abrindo espaço de reintegração para quem foi descartado”. Ele disse que “Senhor, se queres, podes purificar-me! é o pedido que o leproso dirige a Jesus. Este homem não pede somente para ser curado, isto é, curado integralmente, no corpo e no espírito”. O cardeal destacou que “a lepra e os leprosos eram motivo de medo e segregação entre os povos antigos e, por isso, eram sinal ou símbolo, mais significativo do pecado e dos pecadores. Destruindo o homem em sua integridade e vitalidade física, a lepra era, um sinal expressivo da desintegração interior e religiosa do homem; por isso, todo leproso era considerado como um excomungado por Deus, que devia ser excluído da comunidade”, seguindo o comentário de Fernandes e Fassini. Citando o texto do Levítico, recolhido na primeira leitura, Dom Leonardo disse que “nos fez sentir como os hansenianos, os leprosos, eram segregados e excluídos”. Eles erão vistos como “separados, segregados, descartados, porque fora da sociedade, fora da cidade, distanciados. Um muro de isolamento os separava de tudo e de todos. Além do medo de serem transmissores da doença, eram vistos como pessoas degradadas, religiosamente castigadas. Homens e mulheres que perdiam a sua dignidade e eram tidos como moral e espiritualmente doentes. Leproso é, ainda hoje, figura e símbolo da condição humana, em sua vulnerabilidade não só física, mas também psíquica, moral e espiritual”. O cardeal insistiu em que “diante do distanciamento, da separação, da segregação, do medo, da impureza, da maldição, da quase inumanidade, nos encanta o extraordinário mover-se desse homem tomado pela doença. Não aceita a sua situação, não se acomoda; sente-se um necessitado, um excluído, mas não se exclui. Sente-se abandonado por todos, mas não se sente abandonado por Deus. Porque é necessitado, porque deseja recuperar a sua dignidade no meio de seu povo, porque deseja participar das celebrações, rompe com as normas, transgrede o mandamento, abre espaço no meio da multidão. Pouco importa o que pensam, o que irão dizer, as consequências. Está tomado por uma medida que é de vida ou morte: ser curado, purificado. Tem diante de si, apenas Jesus”. “Nos toca profundamente este homem ferido em sua humanidade, em sua integridade, na sua dignidade, na sua religiosidade”, disse o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Segundo ele, “nós o vemos entrando na cidade com as vestes rasgadas, os cabelos revoltos, barba desalinhada, descalço, chagado: gritando imputo, impuro. E o vemos com os olhos fixos em Jesus e dele se aproximar. Prostrado, por terra, terrificado, feito húmus, humildade e súplica: ‘Se queres tens poder de curar-me’. Reúne todas as forças que a enfermidade lhe concede, deixa-se guiar pela esperança da vida nova, da purificação. Revê a sua busca, o caminho provado pela enfermidade que o distanciava de tudo e de todos. Admirável esse ícone da fragilidade humana que da fraqueza, da miséria, do descarte, faz o caminho da da cura, da purificação, da salvação. Comovente vê-lo prostrado diante de Jesus com sua súplica”. O arcebispo de Manaus sublinhou que “não poderia ser de outro modo: Jesus é tocado nas suas entranhas por este homem das dores”. Citando o texto: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: Eu quero: fica curado!”, o cardeal disse que “sentir compaixão, padecer, sofrer, ser atingido por; um apaixonado, um compadecido com a liberdade, com o desejo da cura. O leproso com a sua súplica atinge o coração, as entranhas de Jesus”. Ele lembrou que “André Chouraqui, atento à sensibilidade da língua hebraica, traduz: ‘foi pego nas entranhas’. Ele sofre o padecimento desse servo sofredor. Compaixão é próprio de quem sofre, padece em si o sofrer do outro. Atingido na sua intimidade se volta para o sofrido com compadecimento misericordioso”. “Tão compadecido que se aproxima de quem deveria permanecer à distância. Se aproxima ainda mais e estende a mão a quem fora excluído do convívio; toca a quem não pode ser tocado”, destacou o arcebispo de Manaus. Segundo Dom Leonardo, “o movimento da aproximação do leproso nos pega nas entranhas, a mão de Jesus que se move, se estende e toca, silencia todo o nosso ser e respiramos a compaixão de Deus. Um encontro: toda a fraqueza e desumanidade que se faz imploração “úmica” e inclinar-se compadecido de Deus a curar, purificar”. “Tomado, pego, pela afeição das entranhas diz: ‘Eu quero: fica curado!’”, lembrou o cardeal. Ele destacou que “o querer de Jesus ressoa como amor-misericórdia, com-paixão-cordial. É esse olhar, essa afeição, essa boa vontade do amor, que torna puro todo e por inteiro. A cura, a transformação: a lepra desapareceu e ele ficou curado! Na receptividade amorosa, no toque do sopro do Espírito, na vontade da doação gratuita, aquele leproso se apercebe livre do corpo chagado e do descarte em que vivia. Tudo volta à sua mais ancestral, primeva e prístina pureza. Como o amanhecer de todas as coisas emergindo do nada da Palavra criadora: quero; faça-se!”. “Talvez, desintegrado também na sua interioridade, havia rompido com sua origem. Ingressara em um processo de ruptura com Deus, corrupção e desintegração consigo mesmo, com sua comunidade, seu povo e com todas as demais criaturas. A ruptura é primeira e mais agressiva de todas as lepras, causa e origem de todas as demais lepras ou doenças espirituais, morais e físicas”, enfatizou o presidente do Regional Norte1. “Este homem quase feito desumanidade ousa olhar a sua desintegração e ruptura”, disse o arcebispo. Ele ressaltou que “em Jesus o olhar se estende para…
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