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Dia: 21 de março de 2024

6ª Semana Social Brasileira: Passar do Brasil que temos ao Brasil que queremos

O Mutirão Final da 6ª Semana Social Brasileira, que está sendo realizado em Brasília de 20 a 22 de março de 2024, com a participação de 150 representantes de todo Brasil, pretende ser um espaço que ajude a definir “o Brasil que queremos”. Para isso se faz necessário conhecer o Brasil que temos, um exercício realizado ao longo dos últimos quatro anos, que tem sido apresentado como elemento decisivo que ajuda na construção coletiva. O Mutirão Final recolhe o trabalho de “uma presença muito bonita da Igreja junto às periferias geográficas e existências que pedem nossa presença como Igreja”, segundo Dom João Justino de Medeiros Silva, arcebispo de Goiânia (GO) e vice-presidente primeiro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Cuidar da terra, teto e trabalho, seguindo o pedido do Papa Francisco, é “um cuidado pastoral da Igreja, por todos os seus membros, pelas pessoas que buscam os seus direitos”. O arcebispo enfatizou que “nós acreditamos que este grande trabalho da Semana Social Brasileira traz para nós ainda com mais clareza os caminhos que nós precisamos percorrer em nossas dioceses, em nossos regionais, para que como cristãos possamos dar a nossa parcela de contribuição para a construção de um Brasil em que a vida é respeitada em todos os níveis, em todos os sentidos”. Os eixos que marcaram a sistematização das propostas de incidência e ações foram a Terra/Território, Teto/Moradia e Trabalho. Com relação ao primeiro item, foi lembrada a histórica concentração fundiária e a monocultura extensiva, o agronegócio no Brasil, um país que segue apresentando um dos maiores índices de desigualdade, que faz aumentar o desmatamento, o uso de agrotóxicos, a exploração dos recursos hídricos. Diante disso, a Reforma Agrária poderia ser um fundamental programa para a superação da fome e das desigualdades. Isso porque os grandes latifúndios continuam sendo beneficiados, aumenta a violência no campo, os grandes projetos hidroelétricos e eólicos, a violência contra as mulheres, submissão aos interesses do capital internacional, mineração, garimpo ilegal. Para superar essa realidade, foram colocadas algumas propostas, dentre elas a formação sobre Direitos Humanos e incidência política, saber reconhecer os conflitos, reconhecimento das comunidades tradicionais, construir estratégias de proteção das comunidades, visibilizar as narrativas frente ao projeto desenvolvimentista, mesas de diálogo, lutar contra os agrotóxicos, os transgênicos e o latifúndio, defender a agroecologia e a agricultura familiar, educação contextualizada, incentivo da luta por direitos dos povos do campo, das águas e das florestas, dos territórios. A Invasão dos territórios tradicionais continua presente na realidade brasileira, explorando os recursos naturais, se perdem empregos, se dão remoções forçadas, faltam consultas livres e informadas. Diante disso, a proposta é um modelo de transição energética popular, apoiar aqueles que lutam frente aos crimes ambientais ou projetos de convivência com os biomas. Com relação ao Teto e Moradia, o Brasil é um país que concentra a população em determinadas regiões, onde as periferias são abandonadas, a população remoçada, com moradias precárias em áreas de risco, população de rua, sem políticas públicas e sem medidas de moradia pelo poder público, com contratos de aluguel abusivos, falta de saneamento básico e tratamento de lixo. Isso demanda articular políticas públicas voltadas para a população de rua, lutar pela aplicação efetiva e eficaz do Estatuto das Cidades, um Programa de financiamento específico para moradias populares. No âmbito do trabalho, foi denunciado a pressão sobre os trabalhadores; a desvalorização e precarização do trabalho, com altos índices de desemprego, especialmente entre os jovens, as mulheres e a população negra; o ataque brutal aos direitos e aos sistemas de proteção social; desigualdades salariais e de condições laborais com relação às mulheres; desemprego, perdas de direitos, baixos salários e fome; precarização do trabalho; informalidade; uberização. Para superar essas situações se faz necessário fomentar políticas nos vários âmbitos; formação sobre os direitos trabalhistas e empreendimentos coletivos, populares e solidários; promoção de cursos profissionalizantes; revogar as reformas trabalhista e previdenciária; fomentar a Economia Popular Solidária; promover o cooperativismo; incentivar a contratação dos egressos do sistema prisional pelos órgãos públicos; denunciar situações de trabalho escravo e infantil. Essas propostas foram refletidas e acrescentadas na discussão em grupos, aprofundando assim numa reflexão que ajude a fazer realidade “o Brasil que a gente quer”. Essa reflexão ajuda a encontrar os desafios com relação a teto, terra e trabalho, que tem a ver com a formação, a articulação, a tecnologia, a exploração, a falta de compromisso e preocupação pelo bem comum, dentre outros elementos. Um projeto popular não exclui ninguém, permite valorizar todos os seus elementos, é capaz de se adaptar às circunstâncias, segundo o padre Dário Bossi. O desafio é encontrar a estrutura fundante que nos permita ajudar a sustentar algo coletivo, destacou o assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB. Um projeto em vista do bem comum, que contempla a sabedoria dos pequeninos, onde o Espírito habita, onde há a participação de todos, onde os pobres são sujeitos de uma revolução. Nesse projeto é importante o diagnóstico de sociedade, que no caso da sociedade brasileira está marcado pela concentração e a hierarquia, que tem como manifestações o extrativismo predatório, a colonialidade, o racismo e o patriarcado. É importante construir o projeto desde os verdadeiros protagonistas; a partir dos territórios, mediante ações multiescalares; a través de um diálogo entre Igreja, pastorais sociais e movimentos populares; um projeto que acredita na democracia participativa e multilateralismo a partir de baixo; um projeto que nasce da escuta e promove a formação permanente e em controle social; um projeto que seja expressão de uma Igreja samaritana, concluiu o padre Bossi. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir ao encontro das necessidades dos descartados é uma necessidade para quem diz ter fé

Acreditamos num Deus encarnado, que se faz gente, que faz opção preferencial pelos pobres, por aqueles que a sociedade descarta, por aqueles que não contam. Diante duma sociedade que nega os direitos fundamentais a boa parte da população, temos que nos questionar o que estamos dispostos fazer, também como homens e mulheres de fé. Lutar por direitos, lutar por terra, teto e trabalho, um chamado do Papa Francisco, assumido pela 6ª Semana Social Brasileira, que está realizando de 20 a 22 de março em Brasília seu Mutirão Nacional, tem que ser uma preocupação, uma situação diante da qual não podemos virar a cara, não podemos olhar para o outro lado. Na medida em que o compromisso é comum, os frutos são mais abundantes. Diante do empenho de se fechar dentro dos templos, de ignorar os problemas que fazem parte da vida do povo, a Igreja nos oferece instrumentos que nos ajudam a tomarmos consciência de nos encarnarmos na realidade. A Campanha da Fraternidade é um claro exemplo, procurando ano após ano fazer realidade uma Igreja em saída, que vai ao encontro de problemáticas que precisam ser refletidas, enfrentadas, combatidas, superadas. Quem se posiciona contra essas tentativas deve refletir sobre sua fé no Deus encarnado, que não podemos esquecer é fundamento do Deus cristão. Um Deus que em Jesus Cristo se faz companheiro de caminho e que nos desafia a acompanhar a caminhada daqueles que mais sofrem, daqueles que são privados dos direitos fundamentais, uma atitude sempre presente na vida de Jesus, aqueles de quem nos dizemos discípulos e discípulas. Somos chamados, segundo o Papa Francisco disse aos participantes do Encontro Nacional da 6ª Semana Social Brasileira, a um compromisso que nos leve a “derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho”. Um argumento mais do que válido para ir além daquilo que acontece dentro do templo, para não ficarmos numa Igreja de sacristia. O cristianismo se concretiza quando nos comprometemos em vista de uma nova economia, quando fomentamos os valores democráticos que permitam fazer realidade uma sociedade onde todos e todas têm voz e vez, onde as decisões são tomadas com a verdadeira participação popular”. Sejamos gente que em seu compromisso vai ao encontro dos outros, pessoas que não ficam indiferentes, que abrem os olhos para enxergar Jesus naqueles que são vítimas das injustiças sociais. Um compromisso a ser assumido por todos aqueles que se dizem gente, ainda mais por quem diz ter fé no Deus que em Jesus Cristo se faz carne. Nisso também temos que nos converter, pessoalmente e como Igreja, e a Quaresma é uma boa oportunidade para avançar nesse caminho de conversão. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar