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Dia: 24 de março de 2024

Dom Vanthuy vive sua primeira Semana Santa na diocese mais indígena do Brasil: “Ser solidário com os abandonados deste mundo”

Dom Raimundo Vanthuy Neto chegou em São Gabriel no mês de fevereiro e está vivendo sua primeira Semana Santa como bispo da diocese mais indígena do Brasil. Neste Domingo de Ramos, o bispo de São Gabriel da Cachoeira estacou dois assuntos em sua homilia, que considera muito importantes para os povos do Rio Negro. Em primeiro lugar, contemplando Jesus que é abandonado, o bispo disse que “quem segue Jesus, quem é discípulo dele se faz companhia dos abandonados desta terra“. Contemplando a realidade do Alto Rio Negro, dom Vanthuy disse que “se faz companhia a quem está abandonado na experiência difícil do álcool, da bebida, tão forte no Rio Negro, se faz companhia às famílias que passam por situações difíceis de abandono na cidade pela experiência das políticas públicas que não chegam no interior, de modo especial para os povos indígenas”. Dom Vanthuy disse que “lembrar Jesus abandonado nas mãos do Pai é também nos abandonarmos a Ele também nas horas difíceis da vida, mas experimentarmos, ser solidários com os abandonados deste mundo”. Segundo o bispo, “não é possível seguir Jesus, aquele que se lançou abandonado nas mãos do Pai, sem se colocar do lado dos abandonados”. Em segundo lugar, ele destacou que “Jesus é trocado, a turma pede por Barrabás e manda que Jesus seja Crucificado”. Dom Vanthuy afirmou que “na vida também podemos fazer essas escolhas, tomar caminhos equivocados, trocar aquilo que é de Mistério da vida para aderir aquilo que pode trazer causas de morte para dentro de casa”. Ele denunciou com firmeza “o tema da cachaça, da bebida alcoólica”, que desde as cidades da diocese está avançando para o interior, “fazendo com que os indígenas troquem suas bebidas tradicionais, que revelavam certo sinal de vida, para a experiência fortíssima que conduz à morte. Conduz à morte pessoal, conduz à morte da vida familiar, conduz à morte da comunidade”. Um tema que, segundo o bispo de São Gabriel da Cachoeira, “nos faz lembrar que o mundo também pode equivocado trocar as experiências da vida por experiências de morte”. Finalmente, Dom Vanthuy refletiu sobre “uma experiência bonita, que no Rio Negro se vive tão autenticamente: vós sois todos irmãos. Nos diversos povos, todos somos filhos de um mesmo Pai e nos tornamos corresponsáveis um dos outros”. Ele disse que “Jesus morre para que a humanidade experimente cada vez mais viver como irmãos, é o sonho de Jesus para os homens e as mulheres. Por isso aqueles que acreditam nele, por isso aqueles que professam a fé, que se fazem seus discípulos, todos eles trazem por natureza o ser irmão e não o ser inimigo. O ser irmão, irmã, e não a divisão”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Leonardo: “No grito de Jesus que ainda ressoa em nós, ressoam também os abandonos dos abandonados”

No Domingo de Ramos, o cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “com a benção dos ramos e a procissão ingressamos com Jesus no mistério da doação, do sofrimento, da cruz e da ressurreição. Acompanhamos a Jesus montado num jumentinho ingressando na cidade de Jerusalém aclamado pelos discípulos e pelo povo, como o enviado de Deus”. Segundo o arcebispo de Manaus, “somos hoje recebidos no mistério da fé: Deus que em Jesus nos amou até a morte e morte de cruz e nos ofereceu a vida nova”. “Jesus sobe para o lugar do sacrifício, da entrega, aclamado pelo povo e os discípulos com aclamações, mantos, ramos, júbilo, festa, alegria”, disse o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, recordando o texto evangélico: “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor! … Bendito o reino de nosso pai Davi” (Mc 11,910). Segundo o cardeal, seguindo o comentário de Fernandes e Fassini, “ao seguirmos a Jesus que entra na cidade da dor, da morte e da vida, somos despertados para a Humildade que ingressa levado por um jumentinho, trazendo a paz. Na humildade e na paz, para a humildade e para a paz. Vem montado num jumentinho, símbolo do homem que se submete carregando os fardos de seu senhor. O filho de Davi, o Prometido, o Messias que, pelo seu silêncio doido e sofrido, carregará os fardos e pecados de toda a humanidade. A paixão e morte na cruz que desfaz o ódio, a violência, a soberba, a guerra fratricida; a morte que supera as vinganças, soberbas, a ganância, a religião de si mesmo”. “Na leitura da Paixão acompanhamos silenciosamente todo itinerário do sofrimento e da morte. E o silêncio da narrativa deu-nos a dimensão da entrega, da dor, da redenção, do amor gratuito e livre, sem medida”, disse o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “nos comove e toca na proclamação da Paixão do Senhor as palavras do evangelista: ‘Pelas três horas da tarde, Jesus gritou com voz forte: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?‘” (Mc 14,34). Dom Leonardo refletiu sobre as palavras de Jesus “Porque me abandonaste?”, afirmando que “sente-se abandono por todos e por tudo”, e fazendo vários interrogantes: “Onde estão os discípulos, onde as multidões saciadas de pão, onde os cegos agora com olhos, onde os surdos agora ouvintes, onde os leprosos purificados e reinseridos? Onde os pássaros do céu, os lírios do campo… Onde o Pai?”. Ele respondeu que “Ele está só. Sente-se abandonado pelo Pai. Tudo perdeu. Ele na cruz com todas as cruzes! Desalentado, só, suspenso entre a terra e o céu; quase desesperançado! Sem terra e sem céu!”. Diante disso perguntou de novo: “Pode haver angústia maior, pode haver dor maior que a solidão, o abandono?”, respondendo que “não espinhos, os cravos, a cruz, mas o abandono. O Grito de Jesus quase nos tira o folego, quase nos retira o respiro. Ele é sua Paixão. É um grito que interroga, que busca, todo-ouvido!”. Dom Leonardo citou as palavras do místico Harada sobre o abandono de Jesus: “Tudo isso, esse total abandono e fracasso, na visão da Fé, nos mostra totalmente outra paisagem: tudo de repente se vira pelo avesso: o extremo abandono é, na realidade, plenitude de amor: a profunda solidão se converte em unidade total. No momento em que parece mais desamparado, está mais do que nunca identificado com o querer divino, transparente ao Pai. Nessa fraqueza sem fim, Jesus se acha, sem reserva, ‘entregue’ ao Poder do Pai, totalmente aberto ao ato criador da Ressurreição”. “E no grito de Jesus que ainda ressoa em nós, ressoam também os abandonos dos abandonados”, denunciou o cardeal, explicitando em exemplos concretos: “Quantos abandonados pelo Estado, quantos abandonados pelas guerras, as crianças vageando pela solidão da violência”. Segundo ele, “no grito de Jesus ressoa o silêncio dos abandonados suspensos entre o céu e a terra, pois cortados das relações familiares, com o estomago vazio, com o vazio de um horizonte que se desfez, de um céu que foi coberto e a terra devastada. Sim, irmãos e irmãos no grito de Jesus, está o silêncio dos gritos que sem som; foi se extinguiu na brutalidade de uma guerra. Quanta solidão nas vidas suspensas que apenas ainda sentem o odor da morte. E nelas irmãs e irmãos está presente Deus, pois Jesus nos ensina: ‘Em tuas mãos eu entrego o mesmo espírito!’” O arcebispo de Manaus ressaltou, de novo seguindo o comentário de Fernandes e Fassini, que “a cruz que nos mostra a comunhão entre o abandonado e o seu Deus. Assim a cruz torna-se elo. Revela unidade. É o ponto de salto da nova criação, do novo Céu e da nova Terra. É o vir à luz da unidade primordial entre o Divino e o Humano. A cruz é a fenda, onde tudo se entrecruza e tudo se ilumina. Percussão que percute em todas as coisas, em todas as criaturas mostrando que tudo é Um no amor do Pai e do Filho. Assim, a haste vertical, nascida da terra, sobe até o céu e penetra o íntimo de Deus. A haste horizontal, cruzada e sustentada pela vertical, percorre toda a terra e invade os horizontes de toda a humanidade, de toda a história e de todo o universo, levando a todos e a tudo a salvadora jovialidade do novo Adão.  E depois do grito expirou, entregou o espírito. O grito em forma de pergunta meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? revela, na dor do amor, a vida íntima de Deus em Deus: a relação entre Pai e Filho no Espírito Santo, o Sopro Santo do Amor!”. “Quem grita, suplica, clama é aquele que se sente abandonado. Um clamor que é mais uma súplica, uma intimidade com o Deus que o abandona, a quem ele chama de “meu Deus”. Jesus o abandonado: o grito, nascido das entranhas, das profundezas do coração é um grito de intimidade de confiança; é a revelação da intimidade com o Pai: meu. Não são meras…
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