“Em oração com Jesus, no caminho da cruz”: Meditações do Papa Francisco na Via-Sacra no Coliseu
Foto: Vatican Media O Bollettino da Sala Stampa da Santa Sede publicou as meditações da Via Sacra que será realizada na Sexta-feira Santa às 21:15 horas, no horário de Roma (17:15 no horário de Brasília, 16:15 no horário de Manaus). Pela primeira vez em 11 anos de pontificado, as meditações foram escritas pelo Papa Francisco, propondo, no Ano da Oração em preparação ao Jubileu de 2025, uma conversa face a face com Jesus Uma oportunidade para cada um olhar para si mesmo, para sua consciência, mas também para o mundo atual e suas distorções. VIA SACRA 2024 Introdução Senhor Jesus, olhamos para a vossa cruz e compreendemos que destes tudo por nós. Dedicamo-Vos este tempo. Queremos passá-lo ao pé de Vós, que rezastes desde o Getsémani até ao Calvário. No Ano de Oração, unimo-nos ao vosso caminho de oração. Evangelho segundo São Marcos (14, 32-37) Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani (…). Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. E disse-lhes: «(…) Ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou (…): «Abbá, Pai! Tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres». Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «(…) Nem uma hora pudeste vigiar!» Senhor, preparastes com a oração cada uma das vossas jornadas e agora, no Getsémani, preparais a Páscoa. Abbá, Pai! Tudo Te é possível – dizeis Vós –, porque a oração é antes de tudo diálogo e intimidade; mas é também luta e súplica: afasta de Mim este cálice! E é abandono e oferta: mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres. Assim, em oração, entrastes pela porta estreita do nosso sofrimento e atravessaste-la profundamente. Sentistes medo e angústia (cf. Mc 14, 33): medo diante da morte, angústia sob o peso do nosso pecado que experimentastes sobre Vós, enquanto Vos invadia uma amargura infinita. Mas, no apogeu da luta, rezastes «mais instantemente» (Lc 22, 44): assim transformastes a veemência do sofrimento em oferta de amor. Uma coisa apenas nos pedistes: ficar convosco, vigiar. Não nos pedis o impossível, mas a proximidade. No entanto, quantas vezes me distanciei de Vós! Quantas vezes, como os discípulos, em vez de vigiar dormi, quantas vezes não tive tempo ou vontade de rezar porque cansado, anestesiado pelas comodidades, ensonado na alma. Jesus, repeti novamente para mim, para nós, vossa Igreja: «Levantai-vos e orai» (Lc 22, 46). Acordai-nos, Senhor, despertai-nos do torpor do coração, porque também hoje, sobretudo hoje, precisais da nossa oração. 1. Jesus é condenado à morte O Sumo Sacerdote ergueu-se no meio da assembleia e interrogou Jesus: «Não respondes nada ao que estes testemunham contra Ti?» Mas Ele continuava em silêncio e nada respondia. (…) Pilatos interrogou-o de novo, dizendo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas és acusado!» Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos estava estupefacto (Mc 14, 60-61; 15, 4-5). Jesus, sois a vida, e acabais condenado à morte; sois a verdade, e suportastes um processo cheio de falsidades. Mas por que não reclamais? Por que não levantais a voz e explicais as vossas razões? Por que não refutais os eruditos e os poderosos, como sempre fizestes com tanto sucesso? A vossa reação é surpreendente, Jesus: no momento decisivo, não falais; calais-Vos. Porque, quanto mais forte é o mal, mais radical é a vossa resposta. E a vossa resposta é o silêncio. Mas o vosso silêncio é fecundo: é oração, é mansidão, é perdão, é o caminho para redimir do mal, para converter o que sofreis num dom que ofereceis. Jesus, dou-me conta de Vos conhecer pouco, porque não conheço suficientemente o vosso silêncio; porque no frenesim de correr e fazer, absorvido pelas coisas, tomado pelo medo de não continuar a figurar ou pela mania de me pôr no centro, não encontro tempo para parar e ficar convosco: para Vos deixar agir a Vós, Palavra do Pai que trabalhais no silêncio. Jesus, o vosso silêncio mexe comigo: ensina-me que a oração não nasce dos lábios que se movem, mas dum coração que sabe permanecer à escuta: porque rezar é fazer-se dócil à vossa Palavra, é adorar a vossa presença. Rezemos dizendo: Falai ao meu coração, Jesus Vós que respondeis ao mal com o bem Falai ao meu coração, Jesus Vós que extinguis o clamor com a mansidão Falai ao meu coração, Jesus Vós que detestais a crítica e as lamentações Falai ao meu coração, Jesus Vós que me conheceis intimamente Falai ao meu coração, Jesus Vós que me tendes mais amor do que me amo eu próprio Falai ao meu coração, Jesus 2. Jesus carrega a cruz Subindo ao madeiro, Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados (1 Ped 2, 24). Jesus, também nós carregamos cruzes, às vezes muito pesadas: uma doença, um acidente, a morte dum ente querido, uma desilusão afetiva, um filho que anda perdido, o emprego que falta, uma ferida interior que não cura, o fracasso dum projeto, a milésima expetativa para nada… Jesus, como se faz então para rezar? Como fazer quando me sinto esmagado pela vida, quando um fardo me pesa no coração, quando estou sob pressão e já não tenho força para reagir? A vossa resposta reside numa proposta: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Vir a Vós… mas eu fecho-me em mim: passo e repasso, sinto pena de mim mesmo, afundo na condição de vítima, um campeão de negatividade. Vinde a Mim: dizê-lo, não foi suficiente! Então vindes ao nosso encontro e carregais aos ombros a nossa cruz, para nos tirar de cima o seu peso. Desejais que lancemos sobre Vós fadigas e preocupações, pois quereis que nos sintamos livres e amados em Vós. Obrigado, Jesus! Uno a minha cruz à vossa, trago-Vos o meu cansaço e as minhas misérias, lanço sobre Vós todos os pesos do meu coração. Rezemos dizendo: Venho a Vós, Senhor…
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